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Artigos-->PC, OU A ARAPUCA DA SUB LITERATURA -- 28/03/2005 - 22:37 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PC, OU A ARAPUCA DA SUBLITERATURA



Francisco Miguel de Moura*



Nós, os brasileiros, não precisamos mais de ler os best-sellers (bestas de sela, na expressão popular) americanos e de outros países que infestam as livrarias. Já temos o PC: Paulo Coelho. Deixemos, pois, de lado os Dan Brown, os John Grishan, os Sidney Sheldon et caterva. Basta o PC. É fraqueza demais num só “reescritor” lendas árabes e de auto-ajuda. Muitos escreveram-nas em linguagem mais cuidada. Olhem que falei linguagem, não estilo.

Esta matéria é uma concessão a meu público, pois a grande maioria dos escritores e críticos brasileiros simplesmente ignoram o bom escritor de letras de músicas do Raul Seixas mas não querem falar no prosador, “romancista” ou o que seja mais. Eu também o ignoro como escritor. Não estou fazendo um artigo ou ensaio sobre os livros de Paulo Coelho. Estas linhas são muito mais um aviso desesperado aos leitores desavisados do que nos querem meter de goela a dentro como se fosse literatura. Há algum tempo li “O Alquimista”, por insistência de um amigo, portanto não preciso de ler mais nenhum livro dele, nem mesmo esse “Zadir, que, segundo a mídia – revistas “Veja”, “Época”, “Isto É”, entre outros órgãos repetitivos – terá 8 milhões de cópias para distribuição em todo o mundo. A edição em português para o Brasil, de 320 mil exemplares, escreveram. Você acredita, leitor? Sinceramente eu também não creio.

E poucos sabem como se fazem os “best-sellers” no Brasil (e acredito que no mundo): A editora lança um livro, o autor e seus promotores pagam boa importância a quem quiser ir às livrarias comprá-lo, naturalmente uma importância bem maior que a de comprar o livro. Já não se fala nos parentes, estes vão disfarçados, um de cada vez, e sutilmente compram seus exemplares, muitas vezes para dar de presente. Daí a um mês, o livro está na cabeça da lista de um dos dez mais vendidos de “Folha de São Paulo”, do “Jornal do Brasil”, da revista “Veja”. E em poucos meses não fica um só na editora e esta já anuncia a segunda edição. Quem tem mais dinheiro, quem tem mais lábia, etc. etc. vende mais. Do valor, do mérito da obra ninguém quer saber. Aparecem os tradutores e traduções e editores noutros países. É assim no mundo globalizado.

Mas voltando ao que dissemos antes, da leitura do primeiro livro de Paulo Coelho tirei algumas conclusões. A primeira foi que o homem tem um escrita mais frouxa do roupa de palhaço, comparar mal. Conseqüentemente não tem estilo, não sabe escrever como deve um escritor que se preza e preza a inteligência dos leitores. Por isto e por muitos outros motivos não passará para o cânon da literatura brasileira, muito menos para a universal, por mais que venda. E vende muito, embora não tanto quanto arrota através da mídia. Hoje, tem fama, sim. Adquirir fama é fácil, basta ser ousado, “marqueteiro” e não perder oportunidade por mais suja que seja. Difícil é assegurá-la para a posteridade como desejam as melhores cabeças pensantes, os melhores escritores, pois uma das funções da Arte (e a Literatura é Arte) é a ânsia, o desejo de imortalidade. Os participantes do “Big Brother Brasil” também ganham fama, por dias, meses... Que pobre fama! Daqui a pouco ninguém sabe quem foram, o que fizeram, os que traíram, os que foram traídos, ou para “o paredão”, e os que deixaram de ir.

O tempo dirá que assim acabarão os escritores como PC, tal como aconteceu com Eugene Sue e muitos outros, famosos em sua época, que hoje não figuram nos dicionários literários nem nas citações de artigos de jornais e pasquins. Embora o futuro a Deus pertença como diz o populacho, e ninguém possa adivinhá-lo, não se trata de adivinhação. Sobre PC, por sua idade e pelo que já publicou, faço uma afirmação e por ela meto a minha mão no fogo: a mídia deixa-lo-á em paz tão logo ele se vá para o “outro lado do mistério”. E quem pensa que assim digo é porque se trata de um meu inimigo (não se fala dos inimigos, a eles esquecemos, é a ética nos meios literários), está muito enganado. Ele é inimigo da Literatura, não meu.

Em reforço a tudo isto, pergunto: Por que será que Paulo Coelho tem medo de escrever sobre a realidade brasileira, das almas de seu país, dos nossos problemas, defeitos e qualidades, como fizeram Machado de Assis, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Guimarães Rosa e tantos outros?

Ele sabe muito bem é ser “marqueteiro”. Errou de profissão. Como escritor não é rico nem jamais vendeu 65 milhões de livros. Essa é uma história para a própria mídia, que o eudeusa, desvendar no amanhã. Embora diga que tenha pago um jantar em Paris para os escritores brasileiros que o ignoraram lá, numa certa festa de cultura internacional.

Mago, ele gostava de dizer que fez chover. Fez chover sim, mas dinheiro no prato dele, caído das mãos ingênuos dos que o vão ler, para ficarem na mesma ou pior, além de perderem seu precioso tempo.

Você acredita, caro leitor, naquela história de que Bill Clinton é seu leitor? Vai ver que ele se deixou fotografar com um exemplar de “O Alquimista”, porque sua filha pediu-lhe, sendo como é uma das jovens fãs do PC, como outros jovens por aí afora. E assim, através da Chelsea – filha do Bill Clinton – que não é nada famosa, Paulo Coelho se enche de orgulho e tem a oportunidade de dizer que Bill Clinton, o ex-presidente americano, se tornou seu leitor. Não acho nisto vantagem nenhuma, pois se o americano comum já é culturalmente fraco pois que envenenado pela mídia, imagine-se a cultura de um político, que por mais que leia, lê apenas as palavras e frases assinaladas nos jornais por suas secretárias.

O jornalista Will Smith, entrevistador do escritor (vide “Páginas Amarelas” de uma edição de“Veja” recente e programa do entrevistador americano David Letterman), gosta de citar a frase “todo o universo está contido num grão de areia”, que, na verdade, é uma citação do poeta britânico William Blake (1757 – 1827), conforme anotou a própria “Veja” (23-3-2005). Isto prova o quê? Ou que não há outra frase melhor no livro do “Mago” ou que seus leitores (Madona, Sharon Stone, Will Smith, Clinton, Chelsea e outros) não o leram como deviam.

E por falar na atriz Sharon Stone, ninguém me fará acreditar que ela teria confundido a data de um encontro com o PC, num bar de hotel e que ali fora e esperara muito por ele. Depois de tanto esperar foi embora e mandou-lhe um breve e-mail: “Senti sua falta. Love. Sharon.” Alguma coisa pode ter havido porque “onde há fumaça há fogo”, mas muita coisa foi acrescentada ou escondida nesse episódio todo, em favor do próprio interessado. Tudo para que a mídia tenha o que falar sobre ele.

As personalidades importantes que lêem Paulo Coelho são vocês, meus ingênuos leitores. Mas seríamos muito mais importantes se não perdêssem os tempo nessa subliteratura e passássemos a ler os grandes escritores, patrimônios da humanidade (perssonalidades e obras), a começar pelos nossos Euclides da Cunha (de “Os Sertões”), Machado de Assis (de “D. Casmurro”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “Memorial de Aires” e “Quincas Borba”), Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Raquel de Queirós e Érico Veríssimo, entre tantos outros. Dos estrangeiros, recomenda-se de imediato Balzac, Flaubert, Dostoiévski, Faulkner, Heminguey, Tolstói (de quem estou lendo “Ana Karênina), Proust, Sartre e Albert Camus, entre tantos mais, e peço perdão aos vivos daqui e de além mar por não os ter citado.

Sobre o artigo de Oston Lustosa “O Código da Vinci e a minha insignificante indiferença”, no “Diário do Povo” (24-3-2005), quero acreditar que é uma das melhores manifestações em desagrado aos “best-sellers”, aparecidas recentemente na imprensa. No importante artigo, Oston Lustosa – que é um romancista de grandes recursos e conhecedor profundo da língua e da nossa realidade, já dono de um estilo que bem se pode adivinhar o sucesso que fará no futuro – há citações de escritores atuais. Sobre estes também foi publicado o estudo “Brasilidade: Teresina, Piauí”, de Wanderson Lima (revista “Discutindo Literatura”, nº 2), focalizando especialmente as duas mais jovens gerações de escritores do Piauí, como que integradas no contexto nacional os quais suprem, pelo menos em parte, a minha falta de espaço (mas não de interesse) para falar sobre os nossos escritores, inclusive os da província (mas não provincianos). Mas creio que não faltarei noutra oportunidade.

Agora, com relação aos best-selleres, garanto a meus leitores que demorarei muito ou talvez nunca volte. Porque eles não merecem. É gastar muita vela com defuntos ruins. Mesmo que a boa, a verdadeira literatura venha a morrer no mundo por falta de leitores, não pretendo mais nenhuma concessão.





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*Francisco Miguel de Moura é escritor brasileiro, mora em Teresina e tem endereço virtual: e-mail – franciscomigueldemoura@superig.com.br



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