Então basta seu filhinho tossir um pouco, ficar com uma febrinha, e lá vai você entupir o garoto com antibióticos e outras drogas anunciadas na TV. Basta o inverno apontar no horizonte, e lá vêm as propagandas dos complexos contra gripe, como se doença fosse oportunidade de mercado. E você cai feito patinho.
O chá de ervas, por sinal, sempre pesquisadas pelos grandes laboratórios, o simples deixar o corpo lutar contra a doença, o diminuir a febre com banhos, tudo isso deixado de lado, tendo a modernidade como justificativa - o nível de brochadas de seu avô era bem menor que o seu, boiola enrustido.
Criam-se crianças fracotes, mirradas, ou com músculos forjados às custas de anabolizantes, e vitaminas enlatadas. Consumidores do lixo que se produz.
Você tem casa, automóvel, eletrodomésticos, etc. E a propaganda sobre bem-sucedidos executivos o convence a trocar de carro, neuroticamente, a cada um ou dois anos. Você precisa manter o status, pois assim pregam as agências de propaganda. Juntando dinheiro para um MBA? Orgulhoso pela coleção de cartões de crédito que exibe na carteira? Grande idiota!
E ainda se sente obrigado a vestir roupas caríssimas, às vezes ridículas, porque, afinal, você precisa manter seu nível.
Precisa morar em apartamentos hermeticamente isolados, sem um pingo de terra onde pisar. Não pode sequer sujar a sola dos sapatos, pois o carpete, ou o piso, custaram muito caro. Talvez ache que terra seja sujeira. Lampião chamaria isso de birra de xibungo.
Convive com colegas de trabalho, onde a vaidade, a ganância, imperam hipocritamente. Digladiam-se entre sorrisos, todos querendo vencer na vida. Vencer?
Tudo asséptico, limpo, automático. Só pisa na terra quando sai de férias, e ainda assim, cheio de fricotes com as pedrinhas que pinicam seus delicados pezinhos. Tudo empacotado, dentro da validade.
Fica que nem bobo, pilotando máquinas endiabradas nas academias, a pretexto de ter saúde. Ou caminha no Ibirapuera, contabilizando a pulsação, e sequer olha a paisagem.
Precisa de servos remunerados para limpar sua própria casa, a lixeira com seu papel higiênico sujo, fazer sua comida, e a dos seus filhos. Tem dois guarda-roupas abarrotados, joga roupa fora, com a desculpa da moda.
Transformou-se num parasita, que precisa de um batalhão de pessoas para viver. É um completo incompetente.
Vive em torno do comércio. Tudo é comércio. Derruba-se o muro da vergonha por um comércio desavergonhado. Pula-se a grande muralha, com a volúpia dos bilhões de consumidores.
Passa horas em consultórios de analistas, porque sequer é capaz de resolver os próprios problemas. Mais uma vez incompetente, e fracote. Gerador de rebentos enjoados, malcriados, preguiçosos, birrentos.
O que se pode aproveitar de gente assim? Para que servem? Que utilidade têm?
Se for solto sozinho no meio do mundo, o que faria, indolente fresco?
Enquanto isso, nos subterrâneos, crescem a revolta e os vermes, que vão apodrecer sua vida idiota.
A elite é pequena, e antropofágica. Os miseráveis vão perturbar tanto sua vida acomodada, que vai rezar para que tenham o que comer. A globalização é a forma mais rápida de reverter valores.É o golpe final, auto-aplicado, o suicídio dos avarentos. Que seja bem-vinda, rápida como um aspirador de pó.
Prever o que vem pela frente não é lá muito difícil. Depois da tempestade, vem a bonança. Mas só fica quem pode. A faxina é geral, lenta, e implacável. Está escrito.
Maktub! Carpe Diem! Shalom! Viva! Amém! Gol!
Que admirável mundo novo, habitado por verdadeiros homens e mulheres, e não por esquálidos pobres de espírito, a quem faltou uma boa surra...
|