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Artigos-->Sartre-Simone-Dolores -- 24/03/2005 - 10:55 (Felipe de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Nos primeiros encontros entre Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir no Jardim de Luxemburgo, o pai do existencialismo vai logo explicando a sua maneira de ver as coisas num relacionamento amoroso: “Nunca serei fiel a uma mulher, nem quero que ela seja comigo. Isto para mim não tem a menor importância. Essa é a primeira condição que imponho para quem deseja viver comigo.”



Simone de Beauvoir aceita a condição e anos depois dirá : “Quando nos separamos, depois daquele encontro no começo do mês de agosto de 1929, eu sabia que ele jamais sairia da minha vida.” Para Simone o relacionamento com Sartre era algo essencial, um amor necessário, permanente, a união dos dois intelectuais vai durar toda a vida, embora, cada um do seu lado terá amores paralelos.



Sartre parte em 1945 para os EUA como enviado especial do jornal Le Figaró e Combat, lá ele encontra uma jovem chamada Dolores Vanetti. Os dois vão se conhecer e deste encontro nasce uma grande paixão. Numa entrevista, anos mais tarde, Dolores diz : “Ele era de uma alegria efervescente, contava um bocado de histórias somente para me divertir e me fazer entrar dentro da sua vida.” Sartre e Dolores aproveitam o que existe de melhor nestes anos em New York. Em 1974, aos 70 anos ele confessa numa série de entrevistas a Simone de Beauvoir : “Dolores me deu a América.”



Sartre é obrigado a retornar a Paris e a sua rotina continua : escritos, livros, artigos, encontros, festas em Saint-Germain-des-Près. Essa rotina intelectual parace não ser suficiente. Falta qualquer coisa. Seis meses depois ele planeja uma nova viagem a N.Y e retorna para nos EUA para se encontrar novamente com Dolores. A Simone ele escreve quase pedindo desculpas : “Vou parar essa história estúpida que não tem nem rima nem razão.” Sartre não era homem de se deixar dominar pelos remorsos. Era dolores que ele queria, ela era o centro das atrações, e somente ela estimulava a sua imaginação. “Ele tinha, diz Dolores, um modo de amar que era único. Sempre colocava toda sua energia, inteligência e talento em me escutar, compreender, em amar; tudo isto acabava criando em você uma irresistível atração.”



Sartre ama essa vida nova iorquina e vive dois meses e meio com Dolores : dividindo sua vida, frequentando os seus amigos e os lugares favoritos dela. Numa carta ele confessa a Simone : “Aqui a vida é doce e sem histórias.” Sartre se integra completamente a N.Y e adia ao máximo o seu retorno. Inventa desculpas para si mesmo, mentiras, promessas, jogo duplo, presentes, sedução, viagens amorosas. Seu talento e sua imaginação serão cada vez mais aprimorados para sair deste emaranhado de emoções. Ao explicar a Simone as suas razões ele prometia a Dolores : “Venha para Paris e eu caso com você.”



De retorno a Paris o grande sujeito de conversa entre Sartre e Simone será o “dossier Dolores.” Simone vai ter que usar todas as suas forças e artimanhas para convencer Sartre : “Ao seu retorno dos EUA ele fala muito de Dolores. Eles tinham projetos de passar três ou quatro meses por ano juntos. As separações não me assustavam, mas ele evocava com tanta alegria as semanas passadas em N.Y que eu ficava inquieta. Eu me perguntava se ele não estaria mais apaixonada por ela do que por mim.”



Diante de tal situação Simone impõe a Sartre a eterna questão burguesa da esposa traída : “Você tem que escolher : ela ou eu ?” E Sartre da a sua famosa resposta de ambigüidade : “Eu gosto enormente de Dolores, mas é com você que eu sou.”



Numa viagem pela América Central com Dolores em 1949, eles finalmente vão terminar o romance. A situação começava a ficar confusa entre os três. A história de amor deles termina como tantas outras histórias banais. Sartre propõe a Dolores não terminar completamente e lhe oferece um apartamento e encontros regulares. Um contrato de amizade para a vida e o posto de amante oficial na vida do escritor. Dolores recusa. A distância e o tempo deixam Dolores magoada, ela chega mesmo a falar de uma “crueldade monótona” que se instalou entre ambos. Nunca acusa Sartre diretamente, mas deixa a entender a destruição de inúmeras vidas.



Em 1974 Simone confessa : “Dolores foi a única que me fez realmente medo.” Sartre morreu em 1980, aos 75 anos, provocando uma das maiores manifestações intelectuais do secúlo XX. O pequeno homem solitário, o anarquista, o pai de existencialismo, entra dentro de uma espécie de legenda literária. Em Nova Iorque, o consulado da França, neste mesmo dia, organiza uma homenagem a Sartre. No meio do público, uma pequena mulher, sozinha, triste, anônima, olha melancólica as últimas imagens do escritor. Era Dolores Vanetti.





obs. 100 anos do nascimento de JP.Sartre
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