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cronicas-->A noite do escritor -- 27/11/2001 - 23:29 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O tema é meio óbvio. Então será fácil de escrever. Basta dizer que não consigo dormir. Pronto. Está pronto o texto. Não consigo dormir. E amanhã tenho um compromisso logo cedo. Seis e meia tenho de estar em pé. Levantar, escovar os dentes, tomar um banho morno. Esperar o café. Um dia como outro qualquer. Só não sou capaz de maquiar meu rosto para esconder as olheiras. Sou um macho fundamentalista. E preservo isso, custe o que custar. Tá muito fácil escrever sobre insónia. Convivo com ela, quase todas as noites. Assisto até o programa da Monique Evans. Sobra pouco, desde que cancelei a tv por assinatura. O "Fala que eu te escuto" aborda temas legais, mas só sob um prisma. E isto me emputece. Então prefiro ver os strips da Rede TV. Jesus! Tá muito fácil escrever sobre a insónia. Quantas e quantas noites não fiquei perambulando pela casa toda, à procura de algo para fazer. Normalmente vou para o computador e fico a procurar algum site que eu não conheça. Navego, bato papo virtual, dou uma olhadela nas musas da internet. Nada funciona, contudo. Fisgo um livro. Há seis deles que eu tentei chegar ao quinto capítulo. Vou variando e não termino nenhum deles. Leio jornal. E adoro ler horóscopo, principalmente o do dia anterior. Só para conferir se algo coincidiu. Puta que pariu, nada coincide! Vou à geladeira e pego um copo de água. Se tiver cerveja, um tanto melhor. Mas nem sempre tem. Recorro a qualquer líquido gelado. Menos suco de uva, porque é muito ruim. Minha mãe acorda, quase sempre. Pergunta-me o quê há de errado. Respondo que está tudo bem. Imploro para a velha ficar tranquila. Ela pergunta se eu quero que faça um caldo. "Mãe... vai se f..." é a vontade que sinto. Mas simplesmente falo para ela ir se deitar. Não conseguir dormir nas noites de verão pode ser simplesmente uma questão social. Se eu morasse em Alphaville teria um ar condicionado central e não me preocuparia com racionamento nem com consumo. O condomínio arrumaria um jeito de os moradores continuarem usufruindo de suas mordomias sem que algum órgão do governo os incomodassem. O problema é que não moro em Alphaville. Nem em Barueri, que poderia ser um consolo. Vizinho dos ricos. Dos ricos que se afastaram da capital em busca de paz e tranquilidade. Deus existe. Deu a eles um bairro sofisticado, elegante, lindo, arborizado. Mas também deu a Castelo e seu congestionamento monumental. Isso não tem nada a ver com insónia, você pode concluir. É provável que esteja certo. Mesmo morando em Alphaville e tendo que conviver com a Castelo, sobrar-me-ia a opção de me locomover com o táxi aéreo.

- Não é amanhã que você tem aquela entrevista de emprego, filho?

Mamãe sempre se preocupa com isso. Quando eu era mais jovem, seu sonho era me ver trabalhando de gravata. Arrumei um emprego de vendedor das Lojas Pernambucanas, mas ela não se satisfez. Seu desejo, de verdade, era que eu fosse gerente de banco. Pra quê? - eu perguntava. Ela achava que era chique. De fato, já foi símbolo do bom garoto ser gerente de banco. Deixa mamãe e seus planos para o meu futuro pra lá! O assunto hoje é minha insónia quase crónica. Não gosto de dormir - acho uma perda de tempo. Devíamos viver 24 horas por dia antenados. Diretores de tv deviam pensar no martírio dos insones durante a madrugada. Obteriam um Ibope fenomenal. Hoje já há supermercados que atravessam a noite. Boates. Puteiros. Trailers com cachorro quente. O problema é que há tribos, e nem sempre a gente se encaixa nelas. Creio que a vida devia ser ininterrupta. A culpada é a escuridão. A rotação da Terra fode os insones. Se fosse tudo claro, sempre, talvez as pessoas não sentissem sono. Hoje estou com sono e preciso entregar esta crónica - sob o risco de ela não ser publicada. Pelo menos duzentas noites passadas em claro e, justo hoje, o sono me envolve. Deve ser por causa das complicações que passei durante o dia. Estou atrasado. E a inspiração - que já é pouca - está prestes a se entregar aos braços de Orfeu. Não vai sair nada estupendo nesta noite. O relógio aponta para a meia-noite, e quase nunca durmo antes das três da matina. Mas minhas pálpebras insistem em descansar. Definitivamente hoje não é um dia adequado para eu escrever. Há uma cama atrás de mim. O colchão me parece macio. O travesseiro confortável. Eu queria escrever mais três parágrafos. Vou tentar, vou até o fim. Zzzzzz.
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