A VITÓRIA DA DOÇURA
Tanta doçura enjoa!
Disse o homem de coroa,
Julgando-se um grande rei
E o próprio dono da Lei.
Prefiro o Sal,
Não me levem a mal.
Um bom prato salgado,
Com coentro misturado!
Assim foi feita a vontade,
De sua suprema majestade.
O cozinheiro muito leal,
Obedeceu a vontade real.
Mas, quem diz tudo o que quer,
Deve suportar o que lhe vier.
O pobre cozinheiro apaixonou-se
E todo o seu equilíbrio foi-se.
Suas mãos trêmulas de paixão,
A mente em caos de furacão,
Fez uma comida tão salgada
Que deixou a rainha adoentada.
E o rei com a língua em tortura,
Sentiu até uma tontura.
Gritou como se louco fosse:
Pelo amor da Santinha, um doce!
Uma velhinha que vendia rapadura,
E abominava o rei e sua salgada ditadura,
Foi logo a sua porta se apresentando.
Com muita coragem entrou e foi falando:
Para quê, ó rei desalmado
Fazer o povo viver neste salgado ?
Não sabe que a gente precisa de doçura,
Da carinhosa proteção que cura?
O rei confuso e abismado,
Ficou em choque e traumatizado.
Como podia a frágil velhinha enfrentá-lo?
E com tanta fibra criticá-lo ?
Caiu em si e muito envergonhado,
Não se sentiu injuriado.
E prometeu ser um rei justo e fiel
Ao povo, para quem havia sido tão cruel.
Mas, implorando pediu piedade,
Precisava um doce a toda velocidade.
Por favor, boa velhinha, uma rapadura
Para livrar minha língua desta agrura!
Só quando assinar o documento, o papel
Com registro e carimbo de seu anel!
Disse a velhinha-cidadã, toda empertigada.
Pois, pelo mau-rei temia ser enganada.
Muito rápido, chamou o ministro e falou,
Que com a anciã tão sábia,se impressionou.
Assinaria logo um decreto,
Para todos verem, nada secreto.
Assim, a soberba foi vencida pela valentia
De uma pobre velhinha, que só queria
Vender honestamente, as suas rapaduras
E com doçura vencer todas as amarguras.
Vera Linden - 17 de janeiro de 2009
Domingo, após uma baita tempestade no sábado.
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