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Artigos-->DEUS, ESSE DESCONHECIDO -- 20/03/2005 - 15:55 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DEUS, ESSE DESCONHECIDO



Francisco Miguel de Moura

Escritor





Há pessoas que só procuram seu Deus quando estão nas agonias. Eu sou uma dessas pessoas. Descuido, descrença, irresponsabilidade, o que seja. E quando o procuram é para importunar, pedir, pedir. Outros, quando o querem como fiador de algum negócio. Até de uma maldade. Por Deus! E há ainda os que o renegam por brincadeira, quando ele é vida, amor, doçura, saúde, poesia, verdade, imaginação, criatividade, razão e sentimento, mais do que poder propriamente dito. Pois seu poder é mais oculto no homem do que explícito em algum outro fenômeno.

Sendo tudo a um só tempo, deve a criatura reverenciá-lo humildemente, sem fomalidades, se for possível. E a melhor maneira é fazer-lhe uma oração espontânea, sem querer dobrar sua vontade. Ao contrário, agradecer e, no máximo, solicitar um futuro diferente do presente, assim ou assado, porém conforme sua vontade. Porque, se o homem tem liberdade, Deus deve ser muito mais livre. Aliás, sabemos que ele é a própria liberdade. Não para desfazer o que já fez. Mais para confirmar, explicar, sugerir e apontar-nos os verdadeiros caminhos.

A melhor oração que encontrei foi a do poeta Michel Quoist, um verdadeiro salmo de sabedoria e grandeza:

«É maravilhoso, Senhor, ter braços perfeitos, quando há tantos mutilados!

Meus olhos perfeitos, quando há tantos sem luz!

Minha voz que fala, quando tantos emudecem!

Minhas mãos que trabalham, quando tantos mendigam!

É maravilhoso voltar para casa, quando tantos não têm para onde ir!

Amar, viver, sorrir, sonhar, quando há tantos que choram, odeiam, revolvem-se em pesadelos, morrem antes de nascer!

É maravilhoso ter um Deus para crer, quando há tantos que não têm o consolo de uma crença!

É maravilhoso, Senhor, sobretudo, ter tão pouco a pedir e tanto a agredecer.

Obrigado, Senhor.»

Evidente que esta é uma oração das pessoas felizes. Mas onde estão os infelizes? Os infelizes são a negação de Deus, perderam a paz há muito tempo, estão desesperados, profundamente confundidos. Não são os pobres, não são os doentes - estes têm alguma esperança. Os infelizes não são os mortos, porém os mortos-vivos. Morto não é nada, nem homem nem anjo. Morto é lembrança e a péssima lembrança dos vivos, se se apresentam a nós com a cara da morte. Eu, particularmente, quando penso nos meus mortos, tenho-os como vivíssimos, falo com eles olhando na cara que tiveram nos momentos mais felizes. E os amo, ora, ora!

Se tudo isto vem a pelo, é que, com a passagem do dia dos mortos, não há quem não reflita sobre o próprio fim. Mas no 2 de Novembro não fui ao cemitério, não quis ver onde me enterrarão nem acender vela a ninguém. Eu sou tão fraco! E não admiro a morte nem invejo os mortos, nenhum deles. Dia dos Finados - dos desafinados com a vida, dos afinados com a terra! Eu estou afinado com a terra mas de outra forma, afinado com a terra nos pés. Não quero-a nos olhos, detesto a posição horizontal. Por isto durmo pouco. Afino-me com o amor à terra, jamais com sua submissão.

Não detesto homem algum pelos seus defeitos nem pelos seus deuses. Ao contrário, todos nós temos os nossos deuses, ou o nosso Deus. Religião não é ciência nem arte, não se discute. É crença, fé, bondade - quando é. Porque há certas religiões, meu Deus, que são desumanas. Por isto não são divinas. Não citarei nenhuma, mas existem as que mandam matar ou sagram a guerra e a morte. Não. Religião deve ligar vida com vida. Religar. E nosso Deus, repito, é muito humano. Sempre. Tanto quanto divino.

Minha mulher, ontem, queixava-se de não haver acendido nenhuma vela para os seus mortos, este ano. E que é possível que ninguém venha acender uma vela para sua alma, quando for falecida. E que provavelmente os filhos a esquecerão. E que isto e mais aquilo.

E eu quase lhe dizia que, provavelmente, daqui a alguns anos, seremos todos esquecidos. Como Deus é esquecido. Vela é para os que estão na escuridão. Como acredito que todos os meus mortos estão à luz de Deus, também não acendi velha nenhuma. É uma questão de costume. E os nossos costumes estão mudando rapidamente. Dentro em breve está-se mandando mensagens ao céu pela INTERNET.

O que importa é a boa lembrança, a boa memória. «Quando eu morrer, não quero choro nem vela...» , tal como na canção. Quero respeito, música ou silêncio. As almas precisam de silêncio. Os homens é que precisam de tanta zoada, tanto burburinho. Quem sabe, no fundo, para não pensarem que vão morrer, mais hoje, mais amanhã.

Diante da morte, precisamos não contestar. Apenas confiar em Deus, o eterno esquecido, o eterno desconhecido, como disse um cientista. Sabedoria é mudar o que está ao nosso alcance e conformar-se com aquilo que não se pode mudar - alguém mais sábio do eu já disse. E está dito.

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*Francisco Miguel de Moura é escritor, mora em Teresina.









































































































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