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Artigos-->MESA É REFÉM DO CAOS BOLIVIANO -- 19/03/2005 - 22:56 (Vitor Gomes Pinto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MESA É REFÉM DO CAOS BOLIVIANO







Vitor Gomes Pinto



Escritor, especialista em relações internacionais



Autor de “Guerra nos Andes”











A tolerância e o espírito democrático do presidente Mesa não servem de solução para o caos político e econômico instalado na Bolívia. Carlos Mesa Gisbert, hoje sem partido, jornalista eleito vice-presidente na chapa do neoliberal Sánchez de Lozada, herdou-lhe o posto quando um movimento popular fez com que renunciasse fugindo para Miami. Após dezoito meses enfrenta um adversário populista – Evo Morales do MAS, Movimiento Al Socialismo - que sistematicamente aposta no “quanto pior, melhor”, seguindo o exemplo do venezuelano Hugo Chávez (deu um golpe fracassado e mesmo assim foi eleito presidente) que o apóia. Avesso a medidas de força e diante de bloqueios de estradas que partiram o país em dois impedindo o escoamento da produção, Mesa tentou soluções políticas, oferecendo primeiro a sua renúncia e em seguida a antecipação de eleições, ambas não aceitas pelo Congresso boliviano que, profundamente dividido e confuso, não consegue firmar um pacto social que faça os partidos se calarem.



Quem já viu as greves e bloqueios nos países andinos sabe o que significam. Dessa feita, comandos do MAS chefiados por Evo interromperam acessos e saídas no vale do Chapare em Cochabamba, a segunda cidade do país. Árvores cheias de formigas (os chamados “palos santos”), toras enormes, cacos de vidro, pedras, pneus queimados, crateras cavadas no que antes era o asfalto, tábuas cravadas de pregos, formam barreiras pelas quais nem de bicicleta é possível passar. Desempregados e cocaleros, que entrevistados declaram não saber porque estão ali (o MAS pedia 50% de impostos sobre a produção petrolífera que é irrelevante na Bolívia), vigiam dia e noite enquanto as mulheres preparam atiradeiras para usar como armas caso o exército decida intervir. Após uma semana, os caminhoneiros, muitos com crianças na boléia, impedidos de se movimentarem, ficaram sem comida e água, e os moradores das cidades sitiadas viram escassear seus suprimentos. Então, Evo ordenou levantar os bloqueios, satisfeito por ter demonstrado uma vez mais sua capacidade de parar o país. A alternativa seria a intervenção militar, com o costumeiro banho de sangue ou, afinal, uma guerra entre bloqueadores e bloqueados.



Os dois lados não têm força ou representatividade suficientes: o MAS para vencer e se apoderar do governo, e este para impor-se submetendo ao império da lei os revoltosos. É uma característica da política boliviana a divisão quase igualitária, como ocorreu nas eleições em 2002, entre as quatro grandes forças políticas tradicionais (liberais do MNR e MIR, conservadores da NFR e socialistas do MAS), ficaram cada uma com cerca de um quinto dos votos. Na Câmara dos Deputados, o partido de Evo Morales tem 27 das 130 cadeiras, mas no pleito municipal do ano passado foi o que maior número de vereadores elegeu e isto fez com que resolvesse forçar as portas do governo, tentando derrubá-las, esquecido de que o povo lhe dera apenas um mandato como líder legislativo. Mostrando a debilidade da jovem democracia boliviana, as Agrupações Cidadãs e os Povos Indígenas, organizações de representação popular direta recém criadas e que em 2004 receberam 30% dos votos, não tiveram qualquer participação na atual crise nacional. Submetido a intensa pressão por parte de Mesa, o Congresso atravessou madrugadas discutindo sem querer assumir responsabilidades concretas, optando por considerar o presidente um fraco e pedir-lhe que governe sem lhe dar os instrumentos para tanto, ou seja, um acordo que pacifique a nação. No auge da incompreensão, um dos deputados arrancou risos dos colegas ao comentar: “só falta que o presidente venha ao Legislativo para que resolvamos seus problemas conjugais”. Mesa não consegue ir embora nem governar. Os Estados Unidos começam a pressionar, assustados com a crescente movimentação de Chávez que busca um sócio na região depois de não ter tido sucesso nas aproximações com o equatoriano Gutiérrez e com lideranças das Farc. Diante de uma situação potencialmente explosiva, o governo brasileiro envia emissários aos Andes a cada nova crise, mas também evita comprometer-se, acendendo velas para santos de todos os lados.

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