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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->MEDUZA -- 17/08/2002 - 21:10 (COELHO DE MORAES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MEDUZA

CENA 1
Mulher saindo da Igreja. Mulher chega em casa. Família faz surpresa com bolo e velhinhas. Cantam parabéns. Ela saca de um revolver e atira em todos.
CENA 2
Fiéis se preparam para a comunhão. Fazem a fila. O padre dá as hóstias. Acompanha-se três deles à casa. Deitam e morrem.
CENA 3
Grupo em farra noturna. A brincadeira vira coisa violenta. Afogamentos, marteladas nos dedos, tesouras cortando órgãos.
CENA 4
Mulher sobre um sujeito. Dormiram juntos. Ela se levanta mas não se vê o rosto. Vai ao espelho. Toma um celular e fala: “ Quero você a sessenta metros”. O sujeito deitado fala: “Quero mais”. Ela: “Toma”. E atira friamente. Fecha na arma fumegante, eleva-se pelo corpo até fechar nos olhos.
ABERTURA
Música tema. Mulher que anda. O corpo da mulher. Saia justa ao corpo. Cabelos negros que balançam. Na mão uma arma. Créditos rolando. No momento final, como se ela viesse por um corredor e se mostra a meio corpo.
A palavra MEDUZA surge ao final da música. Congela-se a imagem.(fade)
CENA 5
Repórter de TV: Casos muito estranhos de assassinatos e brutalidade atingiram nossa cidade. A polícia está desnorteada. Os agentes dos terríveis atos são pessoas comuns que nunca tiveram nenhum envolvimento com o crime. Outros, hoje mortos, eram pessoas pacatas e sem problemas aparentes. E nessa casa, como fechamento dos acontecimentos da noite, foi encontrado morto um empresário da cidade. A polícia não revelou suspeitos.
(enquanto a imagem da TV se afasta a mão de um homem, aparece se contraindo nervosa).
CENA 6
(Na delegacia)
_ Essa morte desvirtuou nossas pistas.
_ Ele era o principal suspeito?
_ Não! É que a história tinha uma linha única. Todo mundo meio religioso. Com a morte do empresário, que todo mundo sabe que era um tremendo galinha, a investigação andará a passo de tartaruga.
_ E aí?
_ O que as testemunhas disseram?
_ Não muito. Só que ele foi visto com a sua namorada na noite do assassinato.
_ Então ela o matou?
_ É possível. Mas não sabemos nada sobre ela. Está desaparecida.
_ Nem deve ser da cidade.
_ Com certeza. Pelo jeito não é daqui e nem da região.
_ Talvez seja do inferno.
_ Esquece esse papo de inferno.
_ Afinal ela matou as pessoas que eram religiosas e se a moda pega?
_ Calma... ela quem? Não temos nada certo ainda. Pode ser um homem e não essa mulher que todo mundo resolveu culpar.
_ Tá certo. Pode ser qualquer um .
_ Depois, se for mulher... sozinha é que não fez tudo.
CENA 7
U’a mão de padre. Fiel vem beijar e acaba mordendo. Padre dá um tapa na cara do fiel. Ele cai sobre os bancos da igreja.
CENA 8
(delegacia)
_ Algumas provas chegaram. A única coisa em comum entre as mortes é o fato de terem vindo de alguma coisa ou qualquer coisa relacionada com as festas e assuntos de Igreja. Menos uma.
_ Qual?
_ O cara que morreu depois de trepar. Esse não tem nada a ver com o caso, mesmo.
_ Por que aparentemente foi só isso. Trepou e morreu. Estava até sorrindo. Aí sim eu tenho que concordar que a culpada até pode ser a tal mulher.
_ Isso se ele não tiver outro tipo de gosto...
_ É... tem isso também.
_ Qual é o comando, então?
_ A polícia civil fica com esse caso do empresário. Pedimos ajuda à PM para autuar um pessoalzinho aí e ver se há ligação com as outras mortes. Mas as investigações continuam e eu quero que você se empenhe mais na questão das Igrejas.
_ Pode deixar. É só Igreja católica?
_ É! Por enquanto...
_ O cara que morreu é daqui?
_ O único que não tinha vindo de Igreja alguma. A única relação é que ele tinha uma fábrica de hóstias e fornecia material para cultos e liturgias. Uma confecção. Periodicamente restaurava Igrejas do interior.
_ Rico?
_ Tinha muito dinheiro. Mas, manda bala nisso que eu quero resolver esse caso antes das férias. Se não o chefe me come o rabo. Vai lá, vai.
CENA 9
(confessionário, dois padres conversam como se confessassem um com o outro. Conversa entrecortada de suspiros)
_ Ele não tem culpa nenhuma...
_ Nunca têm.
_ Não, é sério. A coisa é muito mais complexa. Há outros envolvidos. Escalões mais altos.
_ Ele não tinha nenhuma informação?
_ Não... no entanto recebeu um bilhete anônimo dizendo para ele ficar longe de tudo... inclusive da mulher...
_ Ele precisava ficar vivo para continuar a movimentar o negócio... Se ele mentiu... não poderia durar muito, mesmo...
_ É tudo muito pior e extrapola os poderes da nossa paróquia.
_ Também... quem mandou que fizessem essa experiência justo aqui. Uma cidade pequena...provinciana...
_ Bom... fica calado. É hora da missa. Depois a gente se fala.
CENA 10
Mulher em casa catando alguma coisa no chão. Criança chora na sua cadeirinha, atrás dela. Mulher se volta rapidamente. Olhar desesperado. Armada de uma faca. Parte pra cima.
CENA 11
É dia. Estrada movimentada. Trevo ou rotatória. O carro ao longe se aproxima na estrada. Tem motorista. De trás sai uma mulher – MEDUZA. Close, retira os óculos escuros. Observa a cidade. Um sorriso sacana.
CENA 12
(Soco na mesa. O monsenhor está furioso)
_ Não quero saber. As minhas ordens bastante claras.
_ Mas, monsenhor. Parece que tudo saiu do nosso controle. Agora tem a polícia civil, a polícia militar, sem contar uma série de detetives particulares...
_ Chega de desculpas. Ação, padre. Eu quero ação e resultados. Até agora só tenho ouvido desculpas.
_ Mas, já disse... perdeu-se o controle. Onde estão os químicos?
_ Não sei nada de químicos. Cedemos as paróquias para essas primeiras experiências. Convoque os pastores das outras Igrejas... convoque os bispos...
_ Das seitas, o senhor quer dizer...
_ Você bem sabe o que eu quero dizer... mas tem coisas que não se fala em voz alta... chame os pastores, os bispos, os anciãos... o nome que quiserem.. o título deles não me interessa.... quero apoio geral nesse momento. Não responderemos a isso sozinhos.
(o outro sai)
CENA 13
Meduza se instala num hotel. Roupas menores. Toma o telefone: Quero você a quarenta metros. Desmonta sua mala. Carrega sua arma e sai.
CENA 14
Jovem correndo pela estrada, despreocupado. Quando chega a meio corpo na tela, som de tiro, e cai.
CENA 15
(Repórter entrevista delegados)
_ As mortes se avolumam... o que está faltando, delegado?
_ Não temos pistas.
_ A mulher que matou o filho, o padre que atacou o fiel... o rapaz assassinado na estrada... são coisas normais?
_ Não... não são... Por isso convocamos alguns especialistas para acompanhar o caso. Gente que estuda essa coisa de psicologia e comportamento.
_ Quanto tempo ainda o cidadão ficará inseguro?
_ Juro que não sei. Estamos fazendo de tudo. E são só dois dias.
_ Dois dias e uma dezena de mortes ( o repórter se livra do delegado, deixando-o de lado falando sozinho e se vira para a câmera. Corte para a mão crispada) Não percam dentro de instantes mais notícias sobre as mortes que abalam a cidade. (a mão desliga a TV com o controle remoto).
CENA 16
(MEDUZA investigando. Ruas. Conversa à distância. Às vezes alguma brutalidade. Uma idéia de que suas ações passam durante um dia de manhã até a noite. Ela chega com seu carro ao hotel. Fala ao motorista).
_ Você está liberado. Quero você de volta à uma da manhã.
( O motorista cumprimenta servil).
CENA 17
(alguns homens. Dois padres e dois outros. Uma secretária. Mesa com bebidas)
_ Assim está a questão. A experiência deu um bom resultado. Mas, se transformou em algo muito público. Não há mais controle sobre o que se desenvolveu e o que vai se desenvolver daqui por diante.
_ Não era essa a meta a ser alcançada?
_ Uma parte dela sim. Mas, as autoridades estão se metendo, fazendo perguntas. Alguns dos fiéis estão desorientados. Preocupa a mim a ação de determinados detetives... Principalmente dois detetives... honestos.
_Eu pensei que isso fosse lenda. (risadas)
_ Só esses dois?
_ É claro que há uma milícia de ministros e fiéis que se organizam para um mutirão de justiça... não sei aonde isso vai levar...
_ Pensei que vocês soubessem o que faziam...
_ E sabemos... Tudo foi muito bem planejado... Caminha corretamente. Mas, não contávamos que a comunidade fosse reagir dessa forma. As comunidades são sempre muito covardes. Se não fosse assim não precisariam de nós para protege-los, não é mesmo?
_ O que o monsenhor deseja de nós?
_ Nossas igrejas estão com certos limites para agir, agora que a polícia está por toda parte. Quero que vocês estimulem seus membros a denunciar uma ação demoníaca... um distúrbio diabólico que está tomando conta da cidade... inventem uma história qualquer... você são mestres nesses assuntos...
_ Assim... sem mais nem menos?
_ Vocês são mestres em ver demônios por toda parte. Deve ser fácil. Somos inimigos mesmo.
_ Sim, mas... estamos desprotegidos...
_ A massa de trabalho que vocês têm é muito mais fácil de manejar do que a nossa. Os fiéis de suas Igrejas são mais carentes e mais crédulos que os nossos. Depois...
_ Depois o quê?
_ Estamos fazendo o que nos cabe... o resultado está por toda parte. Basta olhar.
( os outros pastores se entreolham)
_ Está bem. Vamos encomendar uma espécie de ação pela santidade. Vamos botar a culpa em vocês pelo que vem acontecendo, usando a oportunidade de que os mortos e desesperados são quase todos de suas Igrejas.
_ Muito bem. Ficamos assim. Mas, tem que ser rápido.
(os homens se levantam, se despedem e saem. Fica o monsenhor e fica a secretária que tomava notas. Olham-se. Ela abre as pernas, convidando ).
CENA 18
Escoteiros em volta da fogueira. Cantando. De repente um grande grupo se olha. Pega um dos escoteiros e joga na fogueira.
CENA 19
Os detetives arrombam uma casa. Lá encontram homens jogando baralho, completamente alheios e inocentes.
_ Pista falsa!_ Saem envergonhados.
CENA 20
Os detetives entram em um clube e chegam ao vestiário. Grande tensão. Tem ninguém lá dentro. Um olha pro outro, decepcionados.
CENA21
Os detetives invadem uma sacristia. Encontram duas madres abraçadas de modo suspeito. O 1.o detetive fica furioso e sai para a rua.
CENA 22
(tomadas da igreja. Carro de MEDUZA. Ela desce e entra)
_ Monsenhor! O senhor tem visita. (para MEDUZA) Pode entrar, por favor.
( MEDUZA entra na sala. Cumprimentos)
_ Quem é você?
_ Se não se importa... por enquanto devo ficar incógnita.
_ Se você não pode dizer seu nome... saia e não me perturbe mais. Eu tenho o que fazer.
_ Desde quando o monsenhor deixa de lado uma mulher como eu.
_ Desde quando você sabe o que o monsenhor deixa de lado ou não? Devo chamar o segurança?
_ Um amigo comum... passou-me essa informação.
_ Esse... amigo comum...
_ Está morto....
_ ( pausa e um certo interesse) Devo entender que você veio se confessar, então... Você o matou... está com remorsos e veio à procura de ajuda espiritual...
_ Quem vai precisar de ajuda espiritual é o monsenhor.
_ Naturalmente para tudo isso encontraremos uma explicação. Principalmente para esse seu Aldo tresloucado. Parece que a morte desse amigo comum trouxe problemas para a sua consciência...
_ Não para a minha consciência! Você é quem o matou... (ele ri, meio debochado)
_ Nada disso... eu sou um santo homem.
_ E é justamente isso que o levará para o inferno...
_ Sou um monsenhor. Mesmo se fosse verdade, quem desconfiaria de mim? Passarei pelas portas do céu tranqüilamente.
_ Sendo um monsenhor faz o que quiser e nunca será o suspeito.
_ Nunca...nunca... é muito tempo.
_ Estaremos falando de eternidade?
_ Ou estaremos falando de pecado mortal?
(olham-se)
_ O tal amigo comum tinha um desenho tatuado no seu peito, à altura do coração.
_ E o que era?
_ (ela desenha num papel à mão) Um círculo com um A escrito por dentro.
_ E você acha que esse sujeito era membro de alguma Igreja satânica, por acaso? Por acaso você acha que esse pessoal fica se manifestando tão abertamente assim?
_ Enquanto dormia ele sonhou e disse o seu nome.
(olham-se)
_ Provavelmente ele gostava bastante de mim, então. Talvez participássemos do mesmo clube. Talvez ainda eu o tivesse como afilhado.
CENA 23
Ao por do sol ou nascer da manhã um grupo em volta de um latão, cozinhando um churrasco em conversa tranqüila. Levantando um espeto se vê o braço de alguém como churrasco.
CENA 24
(cenário de uma assembléia ou câmara, quem preside fala)
_ Peço a votação dessa emenda. Não mantenha-se sentado, Sim se levante. (observa) Aprovada! (alguém chega por trás e dá um recado) A partir de agora o primeiro secretário assumirá a presidência dessa Casa. (ele se retira e pelo corredor se dirige a um gabinete, os detetives estão lá).
_ A que devo a honra de recebe-los.
_ Pedimos perdão por ser a uma hora dessas, atrapalhando a sessão...
_ Nada disso... estou aqui para servir... e como andam as investigações sobre esses casos horrendos...
_ Muito ruins, devo dizer...
_ Até agora não conseguimos nada. Não é um caso difícil, mas faltam algumas peças.
_ Como assim? Não há suspeito? Não há alguma boa pista?
_ Há. Mas, parece que as pistas caem sempre sobre os ilustres membros dessa cidade. E aí é que mora o perigo. Pode ser uma armadilha.
_ Entendo.
_ Vimos aqui para dizer ao senhor que precisamos de suas impressões sobre o caso. O senhor deve ir à delegacia para um inquérito.
_ Eu?
_ Foi o que eu disse. Os ilustres da cidade estão ficando em evidência nesse caso. Pode ser uma armadilha, como já disse.
_ Pode ser?!
_ O senhor sabe. Ser um notável pode ser bom, mas quando o castelo de cartas desmonta...
_ ... o que é que acontece...?
_ Não falte, por favor. Aqui está a intimação. O secretário já assinou.
_ Claro, claro.
_ É só isso. Não queremos atrapalhar mais o seu trabalho ( se despedem e saem. O parlamentar reflete , senta-se na beirada da mesa, e toma do telefone ).
_ Eu quero falar com o Monsenhor.
CENA 25
MEDUZA correndo e atirando para trás. Pula uma cerca. Pula sobre um carro. Rola no chão para se esconder. Três ou quatro pessoas em seu encalço. Quando ela entra em um beco, uma sombra aparece para barrar seu caminho.
CENA 26
Por do sol em vários ângulos, lentos e calmos.
O detetive recosta em sua cadeira a pensar.
O monsenhor com seu terço, senta-se ao lado da secretária e passa a mão nas pernas dela. Ela recosta a cabeça.
O repórter se recosta em sua mesa e pensa olhando para o computador. Digita.
O parlamentar olha a janela e encosta a cabeça no vidro. Amassa papéis e os queima.
O outro detetive pega um leite da geladeira, bebe e medita.
MEDUZA, que estava correndo, é surpreendida pelo vulto, que é o seu motorista e de encontro a ele ela fica protegida. Os perseguidores passam correndo pelo beco.
_ Achei que se ficasse a trinta metros estaria muito longe.
CENA 27
( No quarto o motorista fala com MEDUZA. Ela está no sofá, sentada, com as mãos sobre a perna, e pernas elegantemente cruzadas.)
_ Tenho umas novidades que podem ajudar.
_ ( ela só olha)
_ Os caminhões de lixo depositaram vários corpos no aterro. Alguns corpos foram levados para reciclagem. Eles reciclam os corpos e transformam em alimento.
_ Vi isso em um filme.
_ É! Os filmes trazem boas idéias.
_ Que mais.
_ A empresa de coleta de lixo é daquele empresário que tinha o símbolo pintado no peito. Lembra? O que você despachou.
_ Lembro, mas essa associação ainda me escapa, por enquanto. Sabemos que há alguma coisa entre eles todos. Como provar a coisa é que está sendo o mais difícil.
_ Desde quando você precisa provar alguma coisa para agir, MEDUZA?
_ Na verdade... não preciso.
_ Se você já pressente que há um problema é melhor acabar logo com isso. O seu tempo curto. Você tem muitas missões a cumprir. E essa canalha se multiplica a todo momento.
_ Algo me diz que esse grupo é muito forte e tem proteções... secretas.
_ A Cobertura deles parece ser muito boa. E agora, você está sendo perseguida, o que reforça o negócio de que você está no caminho certo e de que deve acabar logo com isso.
_ Tem razão. Deixei rolar muito leve. Preciso agir com maior cautela e mais força.
_ Maior cautela? Não é de seu estilo. Além disso temos que levar em conta os detetives da cidade. Normalmente estão no bolso de alguma gente importante.
_Você tem razão.
_ Bom. Era isso. Precisa de mim para alguma coisa?
_ Estou muito tensa. Fica aqui essa noite. Vou tomar banho.
( ele começa a tirar o paletó).
CENA 28
Ao longe algumas crianças jogando bola. Aproximando-se, vê-se que jogam com uma cabeça humana.
MEDUZA pula a parede do cemitério. Sai em busca de túmulos.
CENA 29
Os detetives, ao entrarem em uma residência são atacados, há luta, e quando já apanharam bastante, um atacante, com um machado corta a mão do segundo detetive.
MEDUZA continua vasculhando no cemitério. Às vezes um ou outro ruído e ela se põe em alerta.
CENA 30
O Monsenhor reza a missa. Hora da comunhão. Fiéis em fila. Close da mão dando a hóstia. A boca tomando a hóstia.
MEDUZA termina sua busca e sai pela frente. O porteiro desmaia lá atrás.
CENA 31
( Cena rápida com massa de pessoas e barulho de automóveis. Pode ser uma cena ao vivo nas ruas, com público real)
Repórter: Mais um surto de mortes inexplicáveis e violência inimagináveis.
A polícia está sem rumos. O desespero e a insegurança tomam conta da população. Vamos falar com o povo: Aqui senhor... por favor... O que é que o senhor está achando dessa situação?
_ Eu não sei mais de nada. Vou é embora daqui o mais rápido que puder.
_ E a senhora?
_ Minha família já partiu para outra cidade. Aqui não dá mais. Está um horror.
_ E você, jovem? O que tem a dizer?
_ Nada... nada a dizer. Só sei que você é um desses engraçadinhos... ( o jovem, que tomava sorvete, joga o sorvete na cara do repórter e o esfaqueia. Foge. Tumulto em fade ).
CENA 32
MEDUZA entra na sacristia. É noite. Procura e acha. Uma caixinha de hóstias. Cheira e guarda algumas. Barulho. Portas. Passadas. Alguém chega.
CENA 33
(Hospital. Primeiro delegado chega para visitar o segundo)
_ E aí, seu maneta!
_ Você está feliz por que não posso mais ganhar na “purrinha”.
_ Ué! Joga com a mão esquerda. Vai perder mesmo. Quando é que sai daqui?
_ Sei lá. Vou ficar de molho por alguns meses. E então? Alguma novidade?
_ Não vamos falar de trabalho. Você precisa descansar.
_ Que nada. Minha mulher já me viu e saiu daqui desesperada. Prometi pra ela que você vai pegar esses canalhas.
_ Pode deixar comigo. Não se exalte. Descanse que ainda é o melhor para você.
_ Já estão pensando em me aposentar, por causa disso.
_Eu vou pegar essa cachorrada em seu nome, velho.
_Vá com calma. Parece gente da pesada.
_E nós somos o quê?
(o maneta se debruça e pega a gola do paletós do amigo) _Nós somos o tipo de detetive que não deveria existir.
_ Se acalma. Eu to na luta.
_ Jura que vai pegar os caras!
_ Pode deixar. Deixa comigo. To sabendo que aquela mulher está na cidade. Vou ficar na cola dela.
CENA 34
(MEDUZA se prepara para sair. Encontra guardas. Há luta. Ela vence com habilidade e violência. Ouve vozes. Se esconde. Ela vê de longe o parlamentar e o monsenhor.Eles discutem. Chega um guarda e avisa algo para os dois. Sai cada um para um lugar. Ela dá a volta e encontra o tal guarda)
_ Quero saber o que você contou para eles.
(Pega o cara. Quebra os dedos dele. Corta a boca do cara).
_ Fala!
_ Não! Não!
(mais violência.)
_ Fala de uma vez.
(cena á distancia, dando entender que o guarda está falando. No fim ela atira).
CENA 35
(De dia. MEDUZA e o motorista conversam. Ele tira um envelope do bolso e entrega para ela)
_ É isso. O empresário e o monsenhor e o parlamentar eram sócios na companhia de reciclagem. Pastores de outras Igrejas são sócios minoritários.
_ E a tal empresa recicla o que?
_ Corpos humanos.
_ Transforma em que? Adubo?
_ Alimento. Bolachinhas. Algumas bolachinhas recheadas e outras no formato de waffers.
(enquanto isso ela abre o envelope).
_ É isso. Tem que ser isso.
_ Fechou o caso?
_ Preciso de uma última constatação. Se for o que estou...
_ Só resta exterminá-los.
_ E ninguém deve permanecer vivo.
CENA 36
O Detetive verifica dados no computador e encontra um e-mail. MEDUZA.
O Parlamentar recebe um fax. MEDUZA.
O Monsenhor recebe uma anotação da secretária. Informes sobre MEDUZA.
CENA 37
(a secretária do monsenhor chega em casa. No escuro, ao fundo se percebe outra pessoa na sala, quando ela acende a luz toma um susto. É MEDUZA.)
_ Quieta. Não se movimente.
_ O que você quer de mim?
_ Quero ouvir coisas.
_ Em que é que eu posso ser útil?
_ Fale das mortes. Fale do monsenhor. Fale dos aliados. Fale dos sócios.
_ Não sei do que é que você está falando? (ela está meio desesperada)
_ Não enrola e abre a boca, garota. O que você tinha que ganhar já ganhou.
_ Olha... eu estou nervosa. Deixa beber alguma coisa?
_ Larga de besteira, garota.
( a secretária vai atrás da bebida. MEDUZA toma o copo da mão dela e cheira, tentando achar algum tipo de veneno. Não acha e entrega de volta).
_ Vai logo com isso.
( rapidamente a secretária abre a gaveta e enfia mão lá dentro)
CENA 38
(O detetive lança para dentro da sala o jovem que esfaqueou o repórter)
_ Vai abrindo o bico, velho.
_ Não sei de nada. Não tô sabendo de nada.
_ Deixa de brincadeira e vai falando. O que é que o repórter tinha a ver com tudo.
_ Que repórter? De que é que você está falando, meu chapa.
_ Dobra a língua mané. Aqui não tem você coisíssima nenhuma. Aqui é todo mundo doutor. E não sou teu chapa. É melhor falar logo antes que eu chame o pessoal da linha dura.
( nisso entra outro detetive e entrega um papel pro primeiro)
_ Taquí, bicho. Resultado do seu exame de sangue. Substancia alcalóide desconhecida. Suspeita de forte e potente e estimulador nervoso e muscular de efeito rápido.
_ Não sei de nada. Eu nem uso droga, meu... ( o detetive o olha) ...doutor.
_ Está aqui, cara. Não tem como negar.
_ Eu sou da comunidade... da comunidade de jovens da Igreja...
_ Mas, agora,( bate a mão na mesa) o que eu quero mesmo saber é se você estava com aquela mulher.
( o jovem o olha, assustado e chora)
CENA 39
A secretária tira a mão da gaveta com um monte de hóstias e enfia na boca. MEDUZA olha.
CENA 40
Monsenhor sai de sua casa. Toma o carro.
Parlamentar sai de sua casa. Toma o carro.
Detetive toma seu carro e sai.
Motorista chega em algum lugar e sai do carro.
CENA 41
(A secretária mastiga e engole o bolo de hóstias. Vira-se para MEDUZA. Salta pra cima dela. MEDUZA atira. Pega no ombro da mulher que sofre um pequeno abalo. Luta. A mulher está fortalecida. MEDUZA leva a pior sendo jogada para todo lado. A luta termina quando MEDUZA tem acesso a martelos e pregos e prega a mulher no chão, que está espumando).
_ Agora você vai falar, santinha.
CENA 42
(Praça. À tarde. Surgem monsenhor, parlamentar, o motorista e o detetive. Todos armados. Chegam ao mesmo tempo. Um de cada ponto. Postam-se como que num duelo daqueles. Se estudam. Câmara em traveling circular. MEDUZA surge atrás do monsenhor. Ela fala:
_ A prestação de contas. (ela anda circulando em volta dos quatro. Motorista levanta a arma e aponta para o monsenhor, MEDUZA aponta para o parlamentar... Apreensão geral).
Par: O que você quer? Dinheiro?
ME: Não! Estamos aqui para prestar contas.
Det: (levanta arma e aponta para o motorista). Quem é você?
ME: Vamos acertar logo essas contas. O Monsenhor e o Parlamentar estão reciclando corpos humanos...
MOT: Que transformam em alimentos.
ME: E cada vez precisam de mais e mais... matéria prima, podemos dizer.
(parlamentar e monsenhor se olham)
ME: Tiveram uma idéia. Aumentar o fornecimento com mortes que pudessem parecer acidentais.
Mot: Por isso, as hóstias envenenadas. Os fiéis recebiam as hóstias, iam para casa e matavam e também morriam.
ME: Só que houve efeito colateral. Muita gente morreu com ataques cardíacos, auto-mutilações e suicídios... mas outros, enlouqueceram ou tiveram crises mentais de violência... incontroláveis.
Mot: Todo mundo ficava mais forte. Todo mundo extrapolava nos atos de vingança.
Det: Por que os padres? Por que os pastores das outras Igrejas?

ME: Apenas mais um negócio. As Igrejas pagas funcionam como as TVs a cabo. Querem ampliar a rede.
Mot: E como elas funcionam na base do medo e da carência, essa situação de crise social era boa para os pastores e seus dízimos, também.
ME: Lucro total. Inclusive para o coletor de lixo... mas esse eu já havia pego uns tempos atrás.
Par: Vocês querem dinheiro? Temos muito! Vamos conversar. Tenho certeza que acertaremos tudo isso, não é, monsenhor?
(pausa. Um olhando para o outro)
Par: Não é monsenhor? Não é? ( e começa a gritar, repetidamente. Nisso ele se movimenta bruscamente e MEDUZA, o motorista e o delegado atiram nele, que cai para traz.Nisso o monsenhor levanta arma e aponta para o delegado, que está na frente dele. Aperta o gatilho mas a arma pica. Fica um impasse. Um olha para o outro. MEDUZA, lentamente se aproxima e atira nele).
_ Acabou. ( e sai na direção do carro. O detetive fica abismado e quer falar)
_ Acabou? Acabou o que, vem aqui... ( o motorista que passa por ele faz sinal de” psiu” para ele, e segue na direção do carro. Partem. Tomada aérea…O detetive fica olhando para o corpos e não sabe direito o que fazer. Tomada aérea do carro partindo e do detetive olhando em torno enquanto rola a música tema.

FIM







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