De repente você acorda numa bela manhã de primavera e decide ir consultar um médico. Porque afinal de contas é tchic no úrtimo consultar um médico. A vida não seria a mesma, sem esses pequenos detalhes nos moldes da casa. Tipo assim: cada um tem o seu e os cosméticos agradecem.
Mas você está super de bem com a vida. Gozando de ótimas condições físicas. Naquele ótimo momento para visitar um médico é ouvir aquele gracioso elogio: — Você está ótima, querida!
Nesse clima você liga para marcar a bendita consulta. Do outro lado da linha uma voz de menina mimada daquela do tipo bebê chorão; não consegue lhe dar o endereço exato do tal consultório médico. Mas, e daí? Você tá di boa pra quê esquentar?
Uma hora antes da tal consulta você já está na estrada procurando o bendito local. Saco! Qualquer um perderia a paciência. Menos você. Está até contente. Afinal de contas é uma consulta de rotina. Quem pode?, pode. Com certeza vai ser muito interessante.
Pronto! Até que enfim o local. Caramba! Quanta gente. Parece que todo mundo resolveu consultar nesse mesmo dia. Não tem problema você espera. O médico está atrasado? Nossa! Deve ser o trânsito.
Meia hora depois lá vem o sêu Dotô fumando. Passa entremeio a fila de espera como um escapamento daqueles rabecões funerários. Nada a ver. O cara é humano, têm seus vícios, suas fraquezas, mas é um bom profissional e é isso o que importa.
Duas horas depois você está diante do fulano de tal. O sorriso dele é fantástico depois de quinze consultas consecutivas. O cara é bom! Valeu a pena. O cara começa aqueles toques e retoques que a ocasião permite. Você começa a imaginar o que vai fazer?, para preencher o restante do dia. O exame com certeza será breve.
O Sêu Dotô com um sorriso maroto diz: — Você vai ter que ficar uns dias aqui para a gente cuidar desse tumor. Certo?
Mas, Dotô...
Enquanto você é empurrada pelo corredor sombrio do hospital você imagina: o cara fuma, chega atrasado, é irresponsável e eu que acabo doente? Realmente esse mundo é uma grande mentira.