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Artigos-->Renda Injusta -- 06/03/2005 - 21:40 (Jeovah de Moura Nunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Renda injusta





A economia sempre foi o estudo sistemático da administração dos recursos materiais e humanos e do tempo de trabalho de uma comunidade, objetivando especificamente a conquista do bem-estar de todos.



Esta definição vale para a macro e a microeconomia. Tanto faz no gabinete do ministro da economia, (Fazenda, no caso brasileiro), como dentro dos mais humildes lares. A diferença está apenas no número de zeros à direita, usado na macroeconomia. O bem estar de todos vai depender de uma distribuição justa da renda. É claro que, numa economia capitalista, a renda é por natureza heterogênea e de difícil estabilização. Mas, quando se trata de salário, a renda pode ser nivelada a um ponto pelo menos próximo do justo.



Em nosso país a distribuição mais igualitária da renda, nivelando-a a um ajuste máximo possível é providência tão urgente que, até alguns economistas, geralmente frios em suas deduções, concordam nesta necessidade urgente da redução dessa enorme desigualdade, sob pena de chegarmos ao caos. Não se sabe como nem quando. O acirramento da violência já deve apontar para os sombrios horizontes desse caos. Contudo, essa providência não irá acontecer tão cedo. A explicação pode estar na cultura escravagista, a qual consumiu quase quatrocentos anos de nossa história. Tudo era produzido em cima da agonia de um povo. Assim, os hábitos das classes elevadas ainda são os mesmos de 150 anos atrás e não pretendem mudar.



A célula de um país é a família. Rui Barbosa chamou a pátria de “família amplificada”. A família, esta humilde e fiel parceira de uma nação é a mesma em todos os lugares do mundo. Ela produz, consome e pratica o melhor de todos os investimentos: a educação das crianças. Quem altera essa programação natural das coisas são os governos omissos, hipócritas e que fazem da economia de seu país um penduricalho de seus interesses, transformando a família humilde e de objetivos francos e honestos, numa decadente, perversa e infernal célula, de um corpo que ameaça adoecer. Essa decadência é traduzida pela péssima renda, pelo desemprego, pela fome, pelas crianças sem escola, pela intimidade com as drogas e com os traficantes e pela aglomeração no desespero das favelas. Neste cenário emerge, como um monstro franksteniano, o jovem rebelde, bandido e com o coração trespassado pelo ódio, consumindo a si próprio. Ódio ao seu criador: a sociedade empinada em seus carrões, em suas jóias, em suas mansões. Sabe que tudo está perdido para ele e sua família. Então passa a agir criminosamente. As vítimas? Não têm rosto. É todo o sistema. O cidadão anônimo e comum. De preferência endinheirado. Do próprio crime para a obstinação não será mais que um degrau.



Alguns cidadãos costumam dizer que “quem é honesto o será até o fim”. É fácil dizer isto com a barriga cheia, com o emprego garantido, com boa casa de alvenaria, com boa aposentadoria e outras vantagens, quase sempre ilícitas. Muitos dos que assim falam não recusam os empregos públicos facilitados, sem concursos. São as famosas “cunhas políticas” a proliferarem pelo país religiosamente. Já praticam aí um ato que, se não for criminoso será no mínimo imoral. Tais indivíduos, apesar da exacerbada religiosidade, são incapazes de se colocarem na pele de quem pratica um ato de desespero. E qualquer jovem iniciante do crime está praticando um ato de desespero. As conseqüências tanto para ele, quanto para as vítimas serão terríveis. Às vezes, neste caso, ele apenas pede socorro. Socorro incompreensível para a sociedade orgulhosa, manietada em suas felizes distrações. Boa parcela da juventude brasileira pede socorro. Finalmente, entram no tráfico e destroem o que restou de suas miseráveis vidas, além de destruir vidas alheias.



A violência deve ser condenada sim. Porém, mais condenada deve ser a renda injusta da maioria da população. E a renda no Brasil, até que me provem o contrário, é acintosa e premeditadamente injusta. Só não é injusta quando a economia vai mal. Todavia, não é o que se divulga pela mídia. Tudo, segundo os informes diários vai muito bem no país. Por que então essa renda fajuta e discriminada para a maioria da população humilde? Eles não têm acesso ao conhecimento? E por que uma minoria tem esse acesso? Muitos têm uma ótima renda e não sabem sequer assinar o nome corretamente. Mas, têm um sobrenome pomposo, procedente de pomposa família.



A verdade é que as classes dominantes provocam uma miserável escravidão, com um processo de desestabilização da economia dos mais pobres e ainda querem viver numa ilha de fantasia, com a melhor comida, a melhor bebida e repleta de paz.



Eles até conseguem, se não fosse pela voz meio rouca, com tosse, de um garoto que, sempre teve vergonha de pedir, mas hoje só consegue dar a ordem:



-Isto é um assalto!



Jeovah de Moura Nunes

poeta, escritor e jornalista

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