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Artigos-->TUDO NA VOZ DE LU HORTA -- 05/03/2005 - 09:35 (LUIZ ALBERTO MACHADO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TUDO NA VOZ DE LU HORTA



“Abro os meus ouvidos, que são como asas de borboleta, e vôo captando timbres, melodias, ruídos, batidas, harmonias... E agora peço licença pra abrir também a minha boca, o meu coração e cantar pra vocês!” Lu Horta.



Luiz Alberto Machado



Tudo: um aleph na voz, um caleidoscópio no canto. “Tudo na voz pra dizer, tudo por prazer...”.A voz: nudez que rodopia pro encanto de quem contempla a maravilha: tão cristalina, imprimindo paisagens, brisas, céus, pedidos, entregas. O canto: anel de música e poesia que de tão natural se faz goteira que pinga enquanto o trâmite do cabelo a crescer.

Tudo. “(...) Quando menos se espera tudo é assim: do jeito que está agora. (...) Quando vem, vem com tudo, tudo, tudo, to do”.

Tudo como em “Pálpebras”: “(...) por detrás das minhas pálpebras entreabertas uma fresta com vista para o mar”. Ou em “O anel”: “(...) bota o dedo no sol e vai ver o anel queimar o dia”.

Tudo em “Noites latinas”. E também no “O poço”: “(...) tá girando um mundo aqui bem no fundo tudo dentro e fora”. Tudo em “Fiorina”: “(...) a menina fiorina, um grande amor de fogo e aço / se casou com o palhaço e descansou seu coração / a mesma saia turmalina, sapatinho de algodão”.

Tudo: um enorme prazer. Tudo de Lu Horta: cantora, compositora e percussionista corporal formada em 1993 pelo curso de Música Popular da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Com esta formação fez uma série de incursões no meio musical, desde a participação na gravação de cds de outros artistas, participando de um grupo de percussão vocal e corporal, realizando shows no Brasil e no exterior, enfim, gravando seu primeiro cd que, por sinal, assevero sem a menor dúvida, um dos melhores que já ouvi nos últimos tempos.

Nesse seu primeiro disco solo, ela traz o resultado de muitos anos de estudo e pesquisa, me surpreendendo ao encontrar uma cantora, uma compositora e uma artista que evidencia suas habilidades, expressando um misto de encantamento e exuberância.

No álbum inaugural da sua carreira, ela traz um repertório com composições próprias muito bem expressas em diversas faixas, bem como canções inéditas de Arnaldo Antunes e Chico César, dentre outros compositores como Caetano Veloso, Vicente Barreto, Pedro Luis, Péricles Cavalcanti e Edu Pedrasse.

Com isso, vê-se claramente que Lu Horta vem desenvolvendo há anos diversos trabalhos no circuito musical paulistano, merecendo, portanto, uma maior amplitude do seu trabalho.

Por causa disso, muita gente de peso já manifestou sobre o seu trabalho, a exemplo do que fez o Arnaldo Antunes e Chico César.

Encantado com o seu trabalho, não resisti e saí correndo para contatá-la. E, por se tratar de uma pessoa especial e atenciosa, além de uma artista invejável, gentilmente me concedeu esta entrevista exclusiva, inicialmente publicada no meu blog “Música, Teatro & Cia”.



LAM: Lu, vamos para a pergunta de praxe: como foi que você chegou na música?



Comecei a tocar violão com 8 anos de idade. Aos dez anos entrei no coral infantil da Unicamp. Aos 14 anos já fazia aulas de canto e cantava em corais universitários em Campinas: Coral Latex, Madrigal in Casa e Algodão N Oreia. Foi muito importante passar pela experiência de cantar em coro.

Até o segundo ano da faculdade eu ainda cantava no Madrigal in Casa que é um coral que existe até hoje, já tem dois cds gravados e é regido pela Bia Dok.

Aos dez anos de idade a Bia me dava aulas de percepção e quando eu entrei no Látex (aos 14 anos) eu tive a honra e o orgulho de conhecer o Gramani que mais tarde foi meu professor de rítmica na Unicamp, um músico maravilhoso, infelizmente já falecido, e que influenciou profundamente o trabalho do Barbatuques e deixou uma legião de amigos, fãs e seguidores do seu método de rítmica pelo Brasil afora.

Vale a pena conhecer o trabalho do Gramani, ele também tocava violino e rabeca, tem vários cds gravados e fez uma pesquisa sobre rabequeiros que está no livro "Rabeca, o som inesperado". Enfim, eu tive a sorte de desde muito cedo poder conviver com excelentes músicos e aprendi muito.



LAM Que referências legitimam a identidade da voz de Lu Horta?

Vejamos, em primeiro lugar a música brasileira de um modo geral porque eu cresci ouvindo a Gal, Chico Buarque, Caetano, Gil, Egberto Gismonti, Milton, Tavinho Moura, Beto Guedes, João Gilberto, Clara Nunes, enfim toda a legião de músicos do nosso maravilhoso cancioneiro, desde a Carmem Miranda ou Vicente Celestino até a Mônica Salmaso ou o Lenine.



Obviamente eu não ouço só música brasileira, ou cantores brasileiros, mas por ter o português como língua nativa e gostar muuuito de cantar em português, naturalmente eu herdei um sotaque e uma inflexão bem típicas das cantoras brasileiras. Foi um processo natural que eu não fiz e nem faço o menor esforço pra buscar ou controlar o tempo inteiro conscientemente. Melhorar eu tento melhorar sempre, é claro.

É importante chamar a atenção para o fato de que eu estudo canto lírico há dez anos e sem dúvida, se hoje eu sou capaz de cantar com tranqüilidade eu devo isso às horas e horas de vocalizes aliadas à inabalável paciência e sabedoria do meu professor, o Maurício Martinazzo.

E com o tempo eu fui também desenvolvendo muita cara-de-pau, coisa essencial pra quem se atreve a soltar a voz nas orelhas alheias.

Pode-se dizer uma mistura de canto-lírico com voz de cantora de chuveiro, razão versus intuição, qualquer coisa assim.



LAM: Como se deu a experiência com as "Legítimas, só as baianas"?



Foi a minha primeira experiência com uma banda de formação mais pesada: bateria, baixo e guitarra.

Até então eu normalmente era acompanhada por um músico apenas, de um modo geral violão (trabalhei em duo com o Chico Saraiva, e também com o Remo Pellegrini e Frederico Grassano).

Quando eu me formei, senti a necessidade de buscar outros timbres e eu também sabia que se eu não exigisse da minha voz o esforço de ser "empurrada" pelo peso de uma bateria, eu estaria fadada a cantar sempre suave e ia ficar difícil pra mim desenvolver outras nuances.

Eu adoro a Marisa Monte, a Sade ou a Erykah Badu, só pra citar alguns exemplos bem diferentes de cantoras que são acompanhadas por bandas de peso.

Tenho certeza que foi um incrível começo e que "O Legítimas" me deu bastante experiência pra eu saber que rumo tomar atualmente.

Foi muito importante trabalhar com aqueles músicos (o André, o Buja e o Sérgio) que eu sempre admirei e que são referências até hoje.

O André Hosoi (que está no Barbatuques também) é um excelente compositor e bandolinista, além de guitarrista.

O Buja é um músico muito bem humorado com quem eu estou iniciando algumas parcerias autorais, e o Sérgio Reze é um baterista bastante requisitado e autêntico.

Estou compilando todo o nosso repertório, quem sabe em breve a gente lança ou disponibiliza alguma coisa do "Legítimas"...



LAM: Vamos para a sua formação: você é formada em Música, pela Unicamp. Fez um curso na França em áudio-psico-fonoaudiologia. Além disso, você estuda canto há 10 anos e leciona canto, musicalização e percussão corporal. De que forma tudo isso contribuiu e contribui na personalidade vocal de Lu Horta?



Ao contrário de muitos músicos, eu sou uma cantora popular de formação erudita.

Não que eu entenda de música erudita, (infelizmente, porque ainda não deu tempo), meu foco sempre foi a música popular.

É claro que o fato de estudar canto lírico há dez anos ajuda a ter um pseudo crédito. Mas acima de tudo, eu tenho uma curiosidade sem tamanho e uma necessidade de saber como as coisas se dão.

As habilidades musicais que são necessárias para qualquer músico, (independente do estilo ou do instrumento), sempre foram um foco interessante pra mim. E eu acho que o cantor tem que ter o mesmo conhecimento musical de solfejo, harmonia e ritmo que o pianista ou o baterista e etc. Porque música é uma linguagem e na hora do "vamos ver" todo mundo tem que estar junto falando a mesma "língua".

Então eu sou uma cantora que toca violão, percussão corporal e faz arranjo, totalmente envolvida com o "fazer musical". Isso só contribui com a minha formação vocal porque melhora a minha percepção musical, e tudo o que melhora o meu ouvido interfere diretamente na minha voz.

Quanto mais sons eu puder ouvir e compreender, melhores notas eu poderei reproduzir com a minha voz e com o meu corpo.

A Luciana Souza, que foi minha professora de canto na Unicamp, sempre chamava muito a nossa atenção para este fato: antes de mais nada procure se tornar um bom músico. No curso de psico-audio-fonaudiologia eu aprendi a lei Tomatis: "A voz só contém o que o ouvido ouve". E de fato é assim.



LAM: Você canta, toca, faz arranjos vocais e ainda compõe. Como você articula e concilia tais expressões?



Articulando mesmo: os braços, as mãos, a voz, o cérebro. Parece piada, né? Mas é assim.

Às vezes eu fico exausta fisicamente, mas é como eu expliquei na questão anterior, acho que eu faço parte de uma geração de músicos que são filhos do Hermeto Pascoal.

A minha música pode não ter nada a ver com a do Hermeto, mas o princípio da sensibilidade musical é o mesmo.

Veja bem, não estou me comparando ao Hermeto porque não tem a menor condição, eu sou um "nenê" musicalmente falando, certo? Mas é uma idéia de desenvolver uma percepção global da linguagem musical.

Atualmente eu voltei a estudar harmonia com o Ricardo Breim pra poder estimular a minha aptidão como compositora... Isso não tem fim. E como eu também dou muitas aulas, não dá pra ficar parado esperando a inspiração chegar.

Eu gosto de pensar que eu sou uma fazedora de música, eu faço isso, faço aquilo...



LAM: Agora vamos falar de você como autora. É flagrante a poesia nas suas letras e a múltipla expressão musical, incorporando vários gêneros, apresentando um vasto cardápio para os mais variados paladares. Nesse meio todo, há uma nítida personalidade originalíssima na sua expressão. Como se dá essa múltipla e rica expressão: poesia e música?



Olha, compor é um mistério, é quando a gente enxerga o invisível...putz, não sei explicar. Não deve ser meu. A gente brinca dizendo "rolou um Allan Kardec", um efeito mediúnico. Aliado é claro ao fato de que eu estou o tempo inteiro lidando com música e sempre gostei muito de poesia.

Minha mãe me contou que quando ela se casou com o meu pai, não sabia cozinhar nem sequer um arroz com ovo frito. Só pra esclarecer, ela é uma cozinheira profissional, entende?

A composição surgiu pra mim como conseqüência e eu estou me dedicando para melhorar essa habilidade, tanto na letra quanto na música.

Você vai me ajudar a responder essa pergunta quando o meu próximo disco ficar pronto, espero que até o final deste ano.



LAM: Como se deu todo trabalho de concepção do seu primeiro álbum?



A decisão mais importante foi a escolha dos músicos Edu Pedrasse, Pedro Macedo e do Marcelo Effori, que além de percussionista foi um aliado inseparável na produção.

Gravamos cinco músicas produzidas em parceria com o Rodrigo Fonseca no estúdio Baticum e depois o resto do disco foi gravado na minha casa.

De um modo geral eu gravava a voz e o violão e os músicos vinham e gravavam as suas linhas que depois eram lapidadas e editadas pelo Marcelo (comigo do lado dando palpites).

Este é um disco independente, ou seja, todos os recursos para a gravação saíram do meu bolso, por isso demoramos quase três anos até que ele estivesse pronto para ir para as lojas.

A vantagem foi ter o disco em casa e a qualquer momento poder lapidar as idéias, gravar na hora que a gente quisesse e do jeito que a gente quisesse. E o melhor de tudo é saber que eu acompanhei todos os detalhes desde gravação e mixagem até a produção do encarte. Dá trabalho, mas vale a pena porque legitima. Não tem nada ali que não tenha um significado especial e verdadeiro.

Agora isso já não importa porque eu espero que esse disco seja cada vez menos meu e mais das pessoas que gostam de ouvi-lo.



LAM: Além de seus trabalhos, você traz Caetano Veloso, Arnaldo Antunes, Chico César, Péricles Cavalcante, Pedro Luís, dentre outros. Como é a sua relação com a música brasileira?



Eu amo a música brasileira.



LAM: Como você vê o panorama da música hoje no Brasil?



O mundo está muito confuso. E o mestre Itamar Assumpção disse tudo: "Culturalmente confuso o brasileiro é aculturado, líbio, libanês, árabe, turco, acha farinha do mesmo saco..." (do disco "Naná Vasconcelos e Itamar Assumpção - Isso Vai Dar Repercussão"). Ou como a canção "Bái" do Chico César, a última do meu disco: "Deixo o Brasil para os mais brasileiros que eu...".

Não temos um panorama. A segmentação é um processo saudável que está começando a engatinhar no Brasil.

Os independentes sofrem, mas estão ganhando força na proporção não muito exata da queda da indústria fonográfica. Um processo lento, dolorido e inevitável.

Sugiro que você (ou qualquer pessoa interessada) dê uma olhada no site da Tratore www.tratore.com.br, e tenho certeza que vai se surpreender com a quantidade de artistas de excelente qualidade que a grande mídia não se refere... por enquanto.



LAM: Fala um pouco do seu trabalho com Barbatuques.



Atualmente estamos finalizando o nosso segundo cd que está incrível.

Em março viajamos para a Europa e depois estaremos totalmente concentrados no show de lançamento deste próximo cd que vai acontecer provavelmente em agosto aqui em São Paulo e depois em outras capitais, se tudo der certo.

Eu sou integrante do Barbatuques desde a formação do grupo em 1996.

Conheci o Barba (diretor do grupo) e o André Hosoi (um dos 13 integrantes) na faculdade.

Sempre gostei de praticar e desenvolver a linguagem da percussão corporal , que é uma aliada do canto, e fazem dois anos que eu estou responsável pela preparação vocal do grupo.



LAM: Fala um pouco do trabalho que você desenvolve lecionando canto, musicalização e percussão corporal?



Procuro transmitir para os meus alunos, de acordo com o interesse e nível de cada um, o meu conhecimento e experiência.

Minha maior preocupação é que a pessoa desenvolva através da voz ou da percussão corporal uma percepção do seu corpo, das suas possibilidades e habilidades para poder responder a todas as nuances que um bom desempenho musical exigem no que se refere ao ritmo, afinação, memória, concentração, coordenação motora, sensibilidade emocional, criatividade, flexibilidade vocal e corporal, etc...



LAM: Quais as perspectivas com esse trabalho lançado e quais os seus projetos a partir de agora?



Prefiro não alimentar muitas expectativas. Estou feliz com a receptividade do público tanto nos shows quanto com relação ao cd. Já esgotamos a primeira tiragem e temos uma segunda tiragem chegando nas lojas.

A Tratore está iniciando a distribuição no mercado estrangeiro, este cd está sendo vendido na Europa, Japão, China e nos Estados Unidos.

Atualmente estou trabalhando as músicas do próximo cd, e... coisa pra fazer é o que não falta!!!



Está é a Lu Horta: com tudo! E eu aplaudo de pé.



OBS: E para conhecer melhor o seu trabalho, visite: http://www.luhorta.com/.



© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.



Para ver mais dicas de música, visite semanalmente: http://musicateatrocia.weblogger.terra.com.br/



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