Durante aqueles breves momentos
Em que, em meio à multidão, nos (re)conhecemos
Tu não me beijaste como beijaria uma namorada,
Não me esperaste como esperaria uma noiva,
Não te entregaste a mim como se entregaria uma amante,
Não concebeste-me um filho como conceberia uma mulher,
Nem me acompanhaste pela velhice como acompanharia uma alma gêmea.
Entretanto, naquele instante sublime,
O universo tornou-se-me tão pequeno
e a eternidade demasiamente curta
Para suportar a efemeridade da minha existência.
Por isso desdobrei-me em múltiplas existências,
Propiciando-me, a um só instante, uma amplitude de gozos, ad infinitum:
Como se tua boca beijasse-me,
Como se no altar esperaste-me,
Como se no leito a mim te entregaste,
Como se, à luz, concebeste-me um filho,
Como se, ao ocaso, acompanhaste-me pela velhice...
E após!
Salvador, 03 de Março de 2002
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