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Humor-->A Brasília do meu pai -- 16/05/2002 - 23:20 (Maurilio Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

No final de 1973, depois de ter acertado um prognóstico da "Loteria esportiva", meu pai, conseguiu realizar um sonho antigo: comprar um carro zero KM. Depois de ter saneado as suas dívidas com a bolada, que não tinha sido ganha sozinha, lá fomos nós , eu e meu pai, até uma concessionária da Volks, e então o velho arrematou uma Brasília 1973, azul piscina, novinha em folha.

Naquela época, devido a grande procura, só saía dirigindo o veículo da agência, quem pagasse o valor do carro à vista, os demais deveriam amargar uma fila de espera de um mês.


O amor do meu pai por aquele carro foi fulminante , estilo "olhou–gamou".

Minha mãe , depois daquela aquisição foi relegada à condição de " A outra" na vida do meu pai, tal era a atenção dispensada ao tão "paparicado" veículo.

Aos poucos a Brasília foi ganhando um "Lay-out" todo especial, um bibelô aqui , um penduricalho ali, acessórios inusitados, trancas e alarmes diversos.

O carro conseguiu atravessar décadas, sem sofrer o desgaste previsto pelos fabricantes. Também, pudera! O "velho" estabeleceu rígidas regras para a utilização do veículo, como por exemplo : O manual do fabricante dizia que a Brasília comportava cinco passageiros. Bem, isso é o que dizia a Volks, para ele, a lotação máxima permitida eram (hoje não sei mais) três pessoas, e mesmo assim magras.


O carro está prestes a completar trinta anos de idade, e sua pintura ainda é a original de fábrica, sem arranhões, e reluzente. Eu costumo dizer para os amigos que, se faz sol, meu pai não sai com o carro para não pegar poeira, e se chove , não sai para não pegar lama.

Pedir o carro emprestado, nem pensar, pois há cerca de vinte sete anos atrás, quando peguei o carro pela última vez, levei um tremendo cartão vermelho, tudo porque depois de uma noitada de farra, meu pai encontrou o cinzeiro do carro com restos de cinzas e pontas de cigarros . Fumar dentro da Brasília para meu pai, é um crime hediondo, inafiançável. Para complicar mais a minha situação, alguém havia roído as unhas dentro do carro e deixado cair umas lascas no assoalho. Tudo isso associado a um panfleto de um samba-enredo do Bloco "Embalo do Morro do Urubu", deixado inadvertidamente no banco traseiro, por um amigo compositor, quase fizeram meu pai enfartar.


Depois desse episódio, nunca mais consegui botar a mão na bendita Brasília.

Hoje em dia, só consigo dirigi-la, ao lado dele, mesmo assim, recebendo um monte de recomendações para armar seta, puxar freio de mão, colocar cinto de segurança e outros procedimentos operacionais. Haja saco!

Ao receber um convite , ou tendo necessidade de sair, meu pai primeiro se certifica do roteiro a ser feito, e caso o local não tenha calçamento, o programa é imediatamente cancelado , ou feito de ônibus.


Mesmo que ele decida me emprestar tal relíquia, não tenho coragem de expor a minha figura em tão exótico veículo.

Não há carro que chame mais a atenção do público . A Brasília do "velho" só perde em originalidade para o carro do Corpo de Bombeiros. Senão vejamos: as portas e toda a lataria possui um friso em aço inox, saias na dianteira e na traseira, antena de PX e rodas de magnésio. Internamente, a forração está toda renovada, como se fosse um carro zero.

Ninguém convence meu pai a retirar os três ventiladores instalados , um no console, direcionado para o motorista, e dois à ré, direcionados para vante.

O painel possui uma placa com a imagem de N. Sra. da Aparecida, escudo do Flamengo e outros "bottons". Sobre a tampa do porta malas, na traseira, elegantemente forrada em veludo amarelo, há um boneco sentado com uma camisa do Flamengo. Um escudo enorme do Fla e outro da Associação dos ex-combatentes do Brasil, completam a decoração do pára-brisa traseiro. Nas duas janelas traseiras , um urso de pelúcia em cada lado faz a diferença.


Em matéria de segurança, o carro possui dois alarmes eletrônicos e uma barra de ferro como tranca de direção.

Confesso que poucos teriam coragem de circular por aí, dirigindo um "OVNI" desses. Talvez ,seja por isso que ninguém se atreveu até hoje a roubá-la. É praticamente impossível manter-se no anonimato num "carro alegórico" desse quilate.

Como ela só sai da garagem , em situações "especialíssimas", será muito difícil alguém encontrá-la em alguma rua do Rio de janeiro.


No próximo ano, o adorado veículo estará completando trinta anos de idade e creio que a "Divina" merece uma festa, com bolo , champanhe e queima de fogos.

Quem hoje em dia consegue manter uma relação de amor, por quase trinta anos, com um veículo, mantendo-o sempre em estado de novo?

Como presente de aniversário, pretendo mandar colocar um sistema de alarme com monitoramento por satélite.







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