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Contos-->A menina que não queria sorrir -- 09/02/2002 - 13:47 (Carlos Alberto Alvares da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Ela ouvia àquela música e ficava parada na frente do velho rádio, isso a menina fazia há anos. Todos os dias ela ia lá e ouvia a mesma música, e ninguém sabia o motivo.
Já era hora de se investigar, porque a garota tinha uma vida praticamente normal: Colégio , amigos, revistas e namoradinho. Só aquilo estragava ela, incomodava todo mundo, o fato de ficar estática diante de um rádio que pra nada mais servia, a não ser pra ouvir exclusivamente aquele tango.
Isso mesmo...Tango! Eu sei, é estranho uma adolescente querer ouvir tango, mas ela ouvia e sempre do mesmo jeito, o mesmo ritmo argentino, a mesma letra, a mesma melodia.
Passaram-se dias, e a família desesperada, resolve sumir com o maldito aparelho que só soltava o mesmo som. O pai coloca o aparelho dentro do carro, e depois de quilômetros percorridos atira o rádio na estrada, como se estivesse se livrando de um problema.
E lá vem ela! A pobre, chega do colégio e vai correndo para o quarto ouvir o seu tango, e quando percebe que seu companheiro não está mais lá, chora como criança. Em lágrimas ajoelha-se, e começa então a sussurrar aqueles versinhos do Bandeira, porque naquele momento só se podia dançar um tango argentino.
Então a coitada da mãe, também em lágrimas, aproximou-se e perguntou:

- Por que chora minha filha?
- Porque nunca sorri mamãe.
- O quê?
- Sim, porque nunca sorri.
- Como assim?
- É mamãe, vocês pensam que eu sempre fui feliz, mas nunca fui. Eu nunca sorri.
- Como não menina?
- Você já me viu sorrindo alguma vez?
- Não me lembro.
- Está vendo, eu nunca sorri.
- Mas pra sorrir você tem motivos de sobra, é uma moça que tem tudo.
- Tudo, menos alegria.

A mãe, não sabia o que fazer. Todos naquela casa choravam enquanto a menina ainda persistia com os versos do Bandeira.
O pai exclamava em urros:
- É o fim! Tenho uma maluca dentro de casa! Temos que interná-la.
O irmão ria muito, pensando que tudo não passava de uma brincadeira.
Até agora, ninguém tinha explicação para toda aquela história do rádio, com o fato da menina não sorrir. Não havia nexo, explicação nenhuma vinha de forma clara e concisa.
Levaram até à casa uma vidente, um pai de santo, um padre e um pastor...Fizeram muitos esforços para poderem entender a cabeça da menina, nem as bênçãos, nem os trabalhos, ou as vozes do além ajudaram.
E a menina não ia mais pra escola, nem pra lugar nenhum, só recitava versos ajoelhada diante do lugar que estava o velho rádio. Não comia, não dormia, não bebia, só tinha em seu pensamento o velho rádio com o tango. Alimentava-se de versos, assim como os poetas fazem.
Um poeta foi até lá e perguntou o motivo dela não sorrir, o motivo dela não comer, não beber e não sorrir. A mocinha só respondeu:
- Eu não quero.
- Por que não quer?
- Porque não quero ser feliz. O rádio me deixava pra baixo, eu ouvia àquela música e ficava triste. Comecei a sentir um pouco de felicidade ao não ouvir o tango, e isso me deixa arrasada. Quero ser infeliz, ficar velha e acabada como um aparelho daqueles que estava aqui.

Não teve mais jeito, e internaram a infeliz no hospício. Motivo: Quem não quer sorrir e ser feliz, só pode ser louco.
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