Usina de Letras
Usina de Letras
274 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62152 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13567)

Frases (50554)

Humor (20023)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140788)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6177)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->ALMAS COMUNS -- 27/02/2005 - 16:18 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER





















ALMAS COMUNS







Grupo do Reforço II























Edição da CASA DO MÉDIUM



Rua Cinco de Julho, 1184

Indaiatuba — SP











ÍNDICE





Nota explicativa ....................................

Prefácio ............................................

1. Confissão ............................................

Comentário .....................................

2. O merceeiro enriquecido ..............................

3. Queixoso arrependido .................................

4. A caminho da salvação ................................

5. Trapalhão em apuros ..................................

6. Em pleno trabalho de regeneração .....................

7. Quebra-cabeça ........................................

Observações ....................................

Explicação .....................................

8. Desmascarando-se .....................................

9. Desempenhos inesperados ..............................

10. Lactente .............................................

11. Disfarce retórico ....................................

12. Importantes questões doutrinárias ....................

13. Aprendendo a rezar ...................................

14. Aprendizado espírita de além-túmulo ..................

15. Sob o prisma da religiosidade ........................

16. Um pai mais ou menos .................................

17. Aprendizado em desenvolvimento .......................

18. Quem quiser ser ajudado ajude! .......................

19. O sentimento da justiça ..............................

20. Quem avisa amigo é ...................................

21. Aprendendo a eliminar a preguiça .....................

22. Curiosidade mórbida ..................................

23. Voluntariosa e inconseqüente .........................

24. A luta continua ......................................

25. Uma senhora da sociedade .............................

Explicação .....................................

26. Caso comum ...........................................

27. Arrastão retórico ....................................

28. Crítica temerosa .....................................

29. Para quando o cansaço apertar ........................

30. Ano novo: vida nova? .................................

31. Propaganda e espiritismo .............................

32. As palavras de Jesus .................................

Posfácio .......................................















NOTA EXPLICATIVA











O Grupo do Reforço II, diferentemente da turma homônima, que elaborou e ditou textos próprios (ver Novas Gotículas de Amor), trouxe consigo pessoal mais carente de conhecimentos, a quem ministraram instruções, para que dessem comunicações a respeito de suas condições espirituais, como reflexo da conduta, na derradeira encarnação. É o exercício do ensino, sob a supervisão dos mentores da Escolinha de Evangelização.

Ao contrário das equipes anteriores, esta não forneceu muitas explicações, mas é possível seguir a linha de trabalho, a partir dos depoimentos. Assim, os primeiros autores dedicaram-se, preponderantemente, ao relato das causas e efeitos, desenvolvendo-se, num crescendo, os aspectos teóricos, terminando por explanações do grupo de professores-alunos, inteiramente dedicadas aos aspectos doutrinários espíritas. Claro que a inferência é do médium, podendo as reais diretrizes estar ainda por descobrirem-se.

Justifica o título da obra, Almas Comuns, o fato de os relatos terem sido feitos por entidades espirituais muito endividadas ao se afastarem do corpo carnal, mas resgatadas das trevas, após sofrimentos pungentes, em atual fase de preparação para os primeiros trabalhos socorristas.

Quanto ao estilo e à linguagem, deliberou-se que houvesse policiamento moral e doutrinário, quer pelos integrantes do grupo, quer pelo mediador, o que redundou em escritos muito semelhantes nesses aspectos. Há explicações para o fato.



Estenderam-se as sessões de psicografia de 8.11.92 a 6.1.93. Foi mantida a ordem cronológica.

Seja-me permitido augurar ao trabalho feliz trajetória editorial, dado que o equilibrado esforço dos amigos da espiritualidade foi dirigido a pessoas como todos nós: Almas Comuns.















PREFÁCIO











Esta turma, cujo nome pode ser Grupo do Reforço II, terá por objetivo trazer à mesa de transmissões mediúnicas certos espíritos dotados de alguma lucidez, mas entregues ainda às falácias do egoísmo.

Sendo assim, não temos recomendações a fazer quanto ao estilo ou à linguagem, simplesmente solicitando ao escrevente que mantenha a dignidade das palavras, rejeitando aquelas que possam ferir os princípios da urbanidade ou do decoro.

Para este primeiro dia, não trouxemos outras informações, pois não queremos estabelecer regras nem delimitar freqüências.

Fiquemos nas mãos do Senhor!















1



CONFISSÃO











Jamais poderia imaginar um dia estar aqui dando o meu recado aos seres humanos. Não vou empenhar-me a fundo para o evento, mas fico imensamente orgulhoso por poder merecer dos amigos a confiança de que terei conhecimentos suficientes para deixar algum aviso importante.

Estão a me informar que tudo não passará de mero relato dos fatos que ocorreram em minha vida, de modo que posso começar a narrá-los, segundo a ordem que melhor julgar, para demonstrar que estou bem compenetrado das falhas que cometi.

Pois bem, não vou cansar o pessoal tentando disfarçar a verdade, mesmo porque serei prejudicado se assim proceder, pois posso espantar justamente quem está tão interessado em me deixar um pouquinho melhor, tanto que para cá me trouxeram.

Fui, outrora, um bon vivant. Sabia que poderia dispensar-me do trabalho e nada fiz nas duas últimas encarnações, que são aquelas de que me recordo. Não fui propriamente um ser mau, mas pouco fiz que se pudesse denominar de coisas boas. Não matei nem roubei, diretamente, mas tais coisas têm chegado à minha consciência, como se eu tivesse colaborado para que isso acontecesse na sociedade.

Li, um dia, O Mandarim, de Eça de Queirós, e lá percebi que seres deste lado do mundo poderiam ser culpados pela morte de milhares de chineses. Pouco mais me lembro do livro, mas a verdade é que na hora até fiquei impressionado, não com o fato de que alguém morresse por culpa de outros tão distantes, mas porque fui capaz de perceber que existem consciências tão profundamente suscetíveis de comoção, que até se põem a culpar-se por atos tão sem fundamento.

Foi o que pensei na hora. Hoje, temo estar decifrando os mistérios da consciência, tanto que estou julgando-me culpado, por não ter contribuído com minha parcela de ajuda, para que a humanidade pudesse ter evoluído um pouco mais, nem que fosse no sentido de se minorarem as dores de algumas pessoas, que bem poderiam ter sido assistidas por mim.

Sinto-me, portanto, frustrado comigo mesmo e dependente das explicações que os mentores estão tentando passar para o nosso grupo, já que bem poucos aqui têm a possibilidade de compreender o que se passa dentro da cabeça das pessoas estudadas, menos ainda quando se trata de pessoas justas, boas e honestas.

Se depender de mim, podem os amigos contar com a boa vontade de todos os do grupo, pois estamos vivamente interessados em entender os mecanismos que levam umas pessoas a serem tão boas, tão perfeitas, e outras, tão más, tão depravadas, a ponto de não sentirem qualquer remorso quando praticam os crimes, mesmo quando se trata de despachar os irmãos para este outro lado, até sem extrema-unção, em estado de pecado mortal.

Digo isso porque fiquei muito tempo dentro da igreja católica, papando hóstias e refazendo as promessas de arrependimento, para sacerdotes desconhecidos, que se escondiam na escuridão do confessionário.

Aos poucos, as lembranças vão surgindo e isso me deixa bastante temeroso, pois estou a perceber que tive certas regalias intelectuais, só que preferia ir levando a vida numa boa, sem compromissos sérios com a comunidade, de onde extraía tudo o que podia para o meu conforto, sem dar ouvidos às censuras que, agora percebo, estavam sufocadas dentro da consciência.

Vou resumir as apreciações, para não me tornar excessivamente cansativo, já que é preciosíssimo o tempo de todos, especialmente dos futuros leitores, pois percebo que as idéias servirão para serem impressas, para poderem transmitir aos encarnados os péssimos exemplos em que se devem mirar, para julgarem o próprio procedimento.

Nesta altura da mensagem, devo agradecer profusamente a ajuda dos que tornaram viável esta apresentação, dando força ao ambiente e capacidade ao médium de traduzir as idéias que jorram de dentro de mim, como em catadupas ou enxurradas.

Devo esclarecer que, apesar de tudo, não tive pouco estudo, pois, enquanto jovem, os meus pais capricharam para me fazerem entender que era preciso ter um pouco de sabedoria, para não ser iludido pelos semelhantes. Foi após os trinta anos de idade que desandei completamente, mercê das facilidades monetárias que meu pai me proporcionava, dono de fábrica de queijos finos que era.

Nesse particular, devo dizer que nunca me interessei pelas técnicas da produção dos melhores queijos, pois tudo ia ficando nas mãos dos irmãos mais velhos, que se limitavam a me pedir que não gastasse tudo que me davam, como direito que tinha à minha parcela da herança de minha mãe, morta bem cedo, quando era eu menor de idade.

Por muito tempo, senti aguda falta daquela criatura, tendo, inclusive, buscado compreender por que Deus a tirou tão cedo da companhia da família, mui especialmente da minha, quando ainda necessitava muito de seus carinhos e de sua atenção.

Minha maior revolta na vida aconteceu quando meu pai contraiu segundas núpcias, trazendo para casa, de uma vez, quatro enteados, que ameaçavam apropriar-se de grande parte das empresas e dos lucros. Na verdade, eu e meus irmãos impedimos que tal sucedesse, principalmente afastando completamente qualquer deles dos setores da administração. Quando queriam algo importante, que demandasse grandes quantias, favorecíamos a aquisição da propriedade, sem entrar jamais nas questões de distribuição dos bens.

Com a morte de papai, tivemos o cuidado de boicotar a parte que deveria caber à nossa madrasta, por força de casamento com comunhão de bens, buscando anular algumas cláusulas que davam direito de participação a meu pai nas empresas, como se tudo pertencesse aos três irmãos, seus filhos legítimos.

Houve guerra entre nós por causa disso, mas nada ficou para legado dos adventícios, precisando minha madrasta recorrer a longo processo judicial para obter alguma coisa.

Venço agora a tentação de dizer que fui bonzinho a ponto de me manter eqüidistante dos problemas. Sinto muito, mas vou ter de dizer que cheguei às vias de fato com meus irmãos comborços, entregando um deles às mãos de delinqüente profissional, para que o eliminasse.

Não quero ultrapassar este ponto das recordações, pois tudo se encontra meio apagado nas amarelecidas folhas do passado, estando todos nós de bem. Separados, mas de bem, após termos perseguido uns aos outros, por longos anos, dentro das trevas do Umbral.

Pobre mãezinha, que tudo fez para que nos reconciliássemos, precisando recorrer à ajuda de vários familiares, protetores da família, o que só bem tarde pude compreender!

Eis por que me sinto bastante mal aqui na companhia de parceiros tão distintos, conquanto a maioria tenha histórias semelhantes à minha, como se verá. É diante dos professores que temos muita vergonha, por mais digam que já passaram por suas meias-horas, precisando muito lutar para superar as dificuldades de suas personalidades. Eis que eles querem dizer que todos poderemos chegar a evoluir. Mas que é duro estar na presença de seres mais avançados moralmente, isso é! Não é à toa que se diz que os homens preferem, às vezes, continuar em suas vidas de crimes a terem de enfrentar juízes e advogados, os quais costumam despejar na cara da gente as falhas de comportamento.

Estão a me dizer que ter vergonha é já indício de que algo de bom está acontecendo em nosso íntimo, podendo o coração ganhar muito com o arrependimento e o remorso.

Vou rezar muito para que tal ocorra comigo e com os outros.

Antes de partir, peço desculpas por ter falado tanto. Penso que esteja revigorando-me, pois sinto-me bastante aliviado e quase feliz por ter superado a crise que antecedeu este sagrado momento de psicografia.

Pedem-me os amigos para que esclareça que já tivemos um curso inicial de procedimento ético, tendo aprendido a como seguir as regras da Escolinha, no sentido de fazer por merecer prosseguir sob a assistência de seus responsáveis. Graças a Deus que possa ser assim, pois, se voltássemos para as correrias da escuridão, não sei quando iria começar a compreender o que venha a ser a felicidade prescrita nos Evangelhos!

Perdoem-me as falhas de português e aceitem com boa vontade o meu desejo de que tudo possa acontecer de melhor para todos vocês. Que Deus os abençoe! Fiquem em paz!









Comentário







Só para dizer que todos os membros do grupo irão ter de trazer o seu depoimento, procurando dar aos dizeres a conotação exata da verdade, tal qual a entendem neste preciso momento, inclusive quanto à interpretação dos atos pregressos causadores do atual mal-estar.

Por outro lado, não pretendemos aduzir explicações relativamente aos procedimentos em descompasso com as normas evangélicas, pois demarcaríamos muito profundamente o terreno que julgamos estar de posse dos caros leitores. Que os julgamentos, entretanto, se dêem no sentido da avaliação dos atos e dos fatos, para posterior aplicação aos próprios encadeamentos de suas vidas. Eis o poder da exemplificação denunciada pelo amigo relator, cujo nome preferimos não declarar, conforme acordo firmado entre professores e alunos.

Saibamos controlar as ânsias de adiantamento material e orientemo-nos moralmente pelos ensinos de Jesus. Eis a lição final que vamos trazer para a meditação dos amigos, o que, aliás, é muito pouco diante da grande sabedoria de quem se põe a decifrar os textos mediúnicos. Se estivermos, segundo seus pontos de vista, estimulando a vaidade e o orgulho, então suprimam a observação e fiquem à vontade para a crítica aos trabalhos, sempre no sentido de irem aperfeiçoando-se para, quando chegar a sua vez, estarem bem melhor preparados para enfrentar os estudos nas organizações espirituais em que se agasalharem.

Oremos para que o Senhor nos abençoe a todos.















2



O MERCEEIRO ENRIQUECIDO











Cá estivemos, há algum tempo atrás, apenas para observar os trabalhos. Na ocasião, fizemos a promessa de que, assim que pudéssemos, compareceríamos para efetuar os exercícios determinados pelos mestres, pois julgávamos que este acontecimento iria demarcar, definitivamente, a nossa existência, de modo que consideraríamos o tempo antes e o tempo depois.

Agora, no entanto, quando aqui estamos, sob o vigoroso amparo das forças administrativas da Escolinha, parece-nos que tudo está adquirindo tonalidade bastante desconfortável, uma vez que os princípios são por demais rígidos, para que consigamos executar a transmissão dos sentimentos e idéias.

É bem verdade que estamos somente obrigados a contar as venturas ou desventuras na face do globo, mas, como disse acima, em virtude de ter observado entidades produzirem mensagens de muita sabedoria, com todo o amor e ternura de que eram capazes, a nós está parecendo dificultoso demais cumprir o nosso desejo mais elevado.

Vamos, então, limitar-nos a atender aos programas estabelecidos pelos mentores, deixando para o fim algo que possamos dar na qualidade de conselho ou advertência, pois recomendações outras, mais adiantadas no plano da moral evangélica, estamos impedidos de ministrar, devido ao atraso de nossa personalidade.

Em casa, durante o último encarne, sofri os piores vexames, pois sempre fui cotejado com meus irmãos mais velhos, sendo impossível seguir-lhes os passos, pois eram muito inteligentes e tiveram bastante estímulo de meus pais para desenvolverem suas habilidades. Eu tinha algumas deficiências, de modo que fui cristalizando atitudes de rebeldia e de defesa, impedindo que os conhecimentos se vertessem para a memória com facilidade. Era realmente duro de cabeça, tendo repetido diversas vezes as séries do curso ginasial.

Foi assim que me retiraram da escola e me empregaram em casa de comércio, insistindo para que o patrão não facilitasse demais as coisas, caso contrário iria encostar o corpo, idéia errônea, pois o meu desejo mais íntimo era o de seguir os passos de meus irmãos.

De início, não fiquei contente com a situação, mas, aos poucos, fui adaptando-me às tarefas rotineiras da mercearia, de sorte que pude ir percebendo como é que alguém podia ganhar dinheiro nesse ramo do comércio.

Sei agora explicar o fenômeno que se passou comigo. Tendo baixado o ideal para patamar em que me encontrava mais confortável, pude afeiçoar-me aos misteres que compensavam as debilidades da aprendizagem, impregnando-me dos recursos próprios da nova situação.

Foi assim que pude dar extraordinário passo na vida, em caminho totalmente diferenciado daqueles seguidos pelos manos. Enquanto eles cursaram faculdades, conseguindo conhecimentos que lhes deram amparo no campo profissional escolhido (Medicina, Advocacia e Magistério), eu ia aproximando-me da matreirice de quem sabia medir as doses de aguardente para facultar maior lucro em cada garrafa. Além do mais, não foi pouca a água que adicionei às bebidas, para gáudio do patrão, que via em mim futuro administrador de suas lojas, pois crescia-lhe na mente que não poderia limitar-se a possuir tão-somente a mercearia da esquina.

De fato, desonesto diante da freguesia, estando de olho aceso no crescimento da fortuna do patrão, tudo fazia para demonstrar que meu desempenho era o melhor possível, para que confiasse em mim.

Não demorou muito para que me fossem dadas atribuições de responsabilidade, tendo manifestado pendores insuspeitados para os deveres, que cumpria com extrema responsabilidade e prontidão.

Para avançar de vez este relato, como, por certo, os amigos leitores terão reparado através da desenvoltura que demonstro ao escrever, posso dizer que, aos trinta e cinco anos de idade, era sócio minoritário da firma, tendo ingressado na família do antigo patrão pelas portas de casamento de conveniência, tanto minha quanto dele, pois fui aproximado de uma de suas sobrinhas mais velhusca, não tendo perdido a oportunidade, sempre objetivando o enriquecimento, o que, finalmente, se deu.

Não herdei as posses totais do sócio, porque tinha ele descendentes habilitados para a recepção dos bens, mas, como não eram do ramo, pude convencê-los a irem transferindo para mim a maior parte dos interesses das diversas casas de negócio, sem burlar a ninguém, mas escondendo de fato a féria diária, sempre minimizando os lucros, para efeito da avaliação.

Em suma, não demorou muito para me ver de posse de muito mais do que seria lógico imaginar, dadas as minhas naturais limitações. Aliás, descontente com a condição de marginalidade perante o grupo familiar, convenci-me e à cara esposa de que era hora de me ilustrar, tendo ingressado em escola supletiva, onde tudo era enormemente facilitado para a conquista do diploma. Fiz o mesmo com os cursos subseqüentes, mas, para surpresa minha, fui conseguindo superar as deficiências, já que não havia qualquer pressão familiar. Tudo que aprendia contabilizava na coluna dos lucros, de forma que fui amealhando boa fortuna intelectual ou cultural, podendo transferir-me para o etéreo, felizmente, com as condições com que fui despachado para a carne bastante melhoradas.

Não obstante, nem tudo correu como deveria no campo dos sucessos cármicos, de forma que até hoje me ressinto de graves deficiências no campo da honestidade, tanto que, até aqui, algo tento esconder de mim mesmo e do público, disfarçando com palavras emperladas, fazendo com que as cintilações do estilo obumbrem a visão sagaz dos menos evoluídos, de sorte a passar por alguém que ainda não sou, absolutamente.

Mas tal defeito faço questão de demonstrar, não só para que os instrutores e os amigos do grupo possam auxiliar-me, como também para diminuir, o mais que possa, as vantagens de possuir facilidade no campo das frases e dos pensamentos desviados da rigidez inflexível da verdade. Sinto-me bem executando o discurso com estes laivos de luminosidade intelectual, pois estou bem certo de que, assim, irão definir-se, nitidamente, os pontos que deverão ser atacados para aperfeiçoamento moral, de forma a tornar a frase menos empolada, mais simples e sincera, já que o verdadeiro valor semântico sou bem capaz de compreender, conquanto nem sempre atine, exatamente, com o correspondente significado no plano da sensibilidade.

Tudo ocorre como se houvesse uma divisão de setores entre a inteligência e o sentimento, pois, onde fiz frutificar árvores de extraordinária produção, a minha consciência me reprime violentamente, alegando que estou defasado em relação aos ódios que não destruí e ao amor que não dediquei a ninguém.

Caberia agora desenvolver a parte da minha vida relativa aos descendentes, que me estimularam para o seu progresso no campo da intelectualidade, pois tudo fiz para passar-lhes os falsos valores que via na ordem do dia na casa de meus pais, não permitindo a qualquer dos quatro filhos que falhasse nos estudos clássicos, impedindo-os do gerenciamento de minhas empresas comerciais.

Sendo assim, verdadeiramente, dei-lhes profissões rendosas, e não lhes possibilitei acesso às malandragens através das quais obtive sucesso na vida. Durante certo tempo, pensei estar agindo efetivamente bem, pois tudo me levava a crer em que meus filhos não iriam desenvolver as más tendências hereditárias que lhes havia passado, juntamente com minha esposa, tão deficiente quanto eu no campo dos conhecimentos. Aliás mais, embora tivesse criado os filhos com muita felicidade, quando já começava a imaginar que iria definitivamente quedar para titia.

Cito, de forma especial, a minha cara-metade, para dizer que tive a desagradável surpresa de vê-la do outro lado, na guerra que sofri assim que aportei nestas plagas, particularmente por ter sabido que as minhas malícias em enganar haviam sofrido transferência para o plano conjugal.

Foram anos de muita luta, até que, definitivamente, a perdi para os cursos de evangelização, tendo, em seguida, recebido a ventura de volver ao plano terrestre, em reencarne de dor.

Voltando aos filhos, a minha atitude com relação a eles, no fim, se revelou como a compensação dos maus tratos que recebera jovenzinho, de forma que não houve qualquer prova de amor nas orientações que lhes dava. Em lugar de deixar-me envolver afetivamente pelas doces criaturas, ia levando a vida, interessado em ver o progresso financeiro das firmas, dando por desculpa que o campo era por demais vasto para deixar de atender às diversas solicitações.

Em suma, era uma grande e formosa família, que se reunia constantemente em casa, mas à qual não dava qualquer importância, medindo tão-só os gastos que me proporcionavam, enquanto não iam ganhar a vida por conta própria.

Sinto estar a desenrolar um conto de fadas moderno, onde o príncipe deixou de salvar a princesa da virtude, tendo dado preferência ao sapo do egoísmo, na lagoa da vaidade.

Ponho-me à disposição dos mestres e companheiros para as recomendações de praxe, não sem antes deixar comovido agradecimento aos professores, que me sustentaram energeticamente, mantendo imantado o aparelho, para que o escrevente pudesse receber ditado escorreito e sem falhas. Se não fui melhor, é porque tenho fraca a imaginação e mui limitados os dotes literários. Perdoem-me, pois, os leitores, a quem irei agora efetuar a recomendação prometida.

Se alguém julgar que irá ter muitas vantagens, porque sabe exprimir-se com correção, fluência e certa elegância, vá tirando os cavalinhos da chuva, pois irão resfriar-se de tanta água que lhes cairá sobre o lombo. Antes, é preciso verificar se a maior facilidade em dizer as idéias não está a mascarar a hipocrisia e a necessidade sempre adiada das reformas morais. Em suma, embora não sejamos nós a pessoa mais categorizada para aconselhar, que se mirem os amigos em nosso espelho, para ver se não está aí o reflexo de personalidade parecida com a nossa.

Saibamos todos reconhecer que Deus é pai de misericórdia, pondo-nos confiantemente em suas mãos, para que possamos receber dos amigos da espiritualidade os dons das melhores vibrações.

Como palavra final, devo registrar que muito estou relutante em não deixar consignado o meu nome. Pensem neste tipo de sentimento.















3



QUEIXOSO ARREPENDIDO











De novo estamos diante do trabalho. Não se pense que somos tão inoperantes que não saibamos distinguir a forma pela qual estamos apresentando-nos agora, das demais que se davam perante os irmãos da Escolinha, em treinamento para a psicografia. É que temos sido tão atrasados e nossas respostas têm despertado tanta indiferença, que acreditamos que as mentiras que já contamos ou que já intentamos passar, melhor dizendo, estão a prejudicar-nos enormemente.

Que o bom médium não veja, em nós, um qualquer que deseje enovelá-lo em patranhas. Antes, que saiba que para aqui fomos conduzidos pelos mentores da Escolinha, os quais estão depositando em nós imensa confiança. Façamos por cumprir bem o nosso papel, para merecê-la.

Como obrigação precípua, recebemos a incumbência de falar um pouquinho a respeito da forma pela qual as idéias vão sendo passadas para a mente do escrevente e de como faz ele para traduzi-las para o vernáculo.

As nossas vibrações são muito tênues para os padrões do aparelho (não do instrumento). Por isso, a primeira providência dos mestres é fazer com que cheguem à área do inconsciente do mediador, transformando-se aí em impulsos eletromagnéticos, se é que tal nome possa ser dado para a implantação do impulso telepático ou intuitivo.

Em seguida, o médium decifra, inconscientemente, os pensamentos e passa para o consciente, como se fora ele mesmo quem estivesse a ter tais idéias. Por isso, muitos se confundem e pensam que estão produzindo, animicamente, as mensagens.

Uma vez feita a tradução, é preciso passar para a linguagem, segundo momento importante para que o texto ganhe razoáveis dimensões de comunicabilidade. Nem sempre as palavras são aquelas que desejaríamos ver escritas, de forma que emitimos seguidas vibrações, quando o médium ou escreve dois ou três sinônimos, ou percebe que não estamos inteiramente satisfeitos com o primeiro vocábulo, esperando que emitamos outras vibrações inteiramente direcionadas. Nem sempre a fala está padronizada pelos meios disponíveis do mediador, de modo que, nesse caso, sempre lamentamos não podermos estar diante de alguém que pudesse transmitir, para o papel ou de viva voz, a reprodução exata do que estamos comunicando, mecanicamente. Aí não haveria necessidade desta segunda etapa do trabalho.

Em último lugar, vem a reforma textual, quase sempre realizada um ou dois dias depois, sob a assistência do mensageiro e de seus orientadores, no caso das turmas da Escolinha.

Nesse momento, fazemos questão de assinalar algumas substituições de caráter fundamental, cujo sentido se alterará, sem que promovamos as referidas modificações. (Pedimos que o texto atual se mantenha íntegro e em seguida se coloque a forma definitiva que houvermos por bem ditar na hora da correção.) [É quando fazemos questão de promover alterações que visem a restabelecer o sentido primitivo da mensagem.]

Não se pense que tenhamos qualquer mérito nesta confecção. É que nos foi dado um texto para que reproduzíssemos como exercício, uma vez que, se mantivermos só os nossos testemunhos das escorregadelas dos diferentes encarnes, iremos deixar de fornecer aos encarnados algumas pistas concretas da espiritualidade que bem poderão vir a fazer-lhes falta no momento de aqui se reintegrarem aos amigos e protetores.

Por outro lado, não estamos importando-nos muito com a forma estilística deste texto, pois sabemos tratar-se de mero exercício escolar. O importante, para nós, será o documento que iremos trazer a respeito de nossa conduta, para o que rogamos dos irmãos leitores que mantenham atitude de profundo respeito, como se diante estivessem das narrativas de parentes ou amigos desencarnados. Para isso, rogamos que, antecipadamente, se dirijam aos protetores, pedindo para serem orientados em como fazer para virem a ser úteis aos que sofrem e se obrigam, como parte do resgate, a mostrar suas faces de horror.

A par disso, suplicamos que rezem por nós, pela nossa tranqüilidade e recuperação, crendo, firmemente, em que, dia virá, estaremos, por nossa vez, ao seu lado, buscando amenizar-lhes as dores e os sofrimentos da recondução ao etéreo. Caso assim não seja, será por que tenhamos a felicidade de constatar que os irmãos estão em excelentes condições cármicas, tendo superado com proficiência todas as provas.



Eu sou, de há muito, sofredor impenitente. Durante largo tempo, errei pela espiritualidade, sem grandes desejos de regeneração, após ter-me livrado dos diversos perseguidores que, desde a última encarnação, se julgavam no direito de desforra de alguns malefícios que lhes fiz. Após haver compreendido os meus erros, quando já obtivera o perdão dos algozes, fiquei perplexo com a maldade que se embutira em minha consciência, desnorteando-me completamente, recusando sistematicamente a assistência dos protetores, desejando tornar-me autodidata. Foi assim que preferi percorrer o mundo, para observar o que se passa na face do globo. Pude avaliar, então, o quanto de falhas existem nas cabeças dos encarnados e nas intenções dos que os perseguem, na qualidade de espíritos obsessores.

Não sei se bem pude aproveitar esse período, mas a verdade é que, finalmente, o meu julgamento das mazelas alheias me fez convencido de que muito deveria ter para aprender com aqueles que estão um passo avante na estrada evolutiva, sabendo evitar os erros mais grosseiros, por força de praticarem as virtudes. Chorei com amargor as estrepolias que cometi e virei-me totalmente para a benemerência, favorecendo que os amigos pudessem aprochegar-se, para os trabalhos socorristas que desde há muito estavam preparados para mim.

Foi momento de grandiosidade inesquecível. Foi como que a salvação prometida por Jesus. Era como se todos os ideais do cristianismo se condensassem em meu cérebro, esquecendo-me até da existência de um ser que estivera eu carregando pelos descaminhos das trevas conscienciais. Agora, aquela euforia amenizou bastante, diante da realidade das minhas fraquezas e da necessidade do aprendizado da moralidade superior dos evangelhos.



Neste ponto da narrativa, deveria parar um pouco para comentar a facilidade que todos temos para o entendimento dos vocábulos que formam os dizeres evangélicos e o quanto é difícil de nos compenetrarmos de que tudo aquilo se refere diretamente a nós. Sempre que lia as parábolas e ensinos de Jesus, pensava que tudo eram historinhas preparadas para as explanações catequéticas dos sacerdotes. Não me importava com a verdade escondida em cada menção de atitude das personagens ou dos pensamentos que se expunham. Tudo me parecia feito adrede para o convencimento dos descrentes, com a finalidade de se aumentar o rebanho dos crentes, como se tudo mais não fora do que uma grande mascherata.

Quão dolorido tem sido retornar aos bancos escolares para reaprender o alfabeto da moralidade cristã, completamente não absorvido das primeiras vezes em que me dei ao trabalho de ouvir as pregações dos que, mais sábios do que eu, intentavam trazer aos semelhantes uma palavrinha de amor, mesmo que de empréstimo!

Agora, eis-me aqui exercendo o mesmo papel, no palco da existência, descrente até da força dos argumentos, exercitando-me como se nunca mais fora sair da escola, para efetuar digno trabalho socorrista junto aos que, necessitados de auxílio, clamarem pelas forças universais. Como gostaria de poder passar forte confiança em que Deus é justo e em que tudo o que ocorre no Universo tem finalidade bem estabelecida, diante de nossa inteligência e poder de assimilação!

Finalmente, recomendo aos prezados amigos que tenham muita paciência para com todos os que se apresentarem como dignos enviados do etéreo, mesmo que não digam coisas muito profundas, mesmo que não tenham outra intenção senão a de desviá-los dos caminhos do dever. Aí, mais do que nunca, deverão estabelecer amoroso elo de vinculação entre os planos, para que sua tenacidade e seu descortino achem o caminho da redenção, para as criaturas que se perderam neste emaranhado mundo de crimes.



Sei que fugi o tempo todo do tema principal, que deveria nortear a comunicação, qual seja o relato de minhas desventuras terrenas. Mas acho que saber que muito padeci no etéreo, ou, melhor dizendo, no Umbral, também há de ser importante para os amigos que se julgam infelizes, por não terem com que fazer valer os seus direitos de cidadania, perante as injustiças da sociedade, o que foi o meu principal defeito, tanto que procedi a diversas vinditas, completamente inconsciente das repercussões espirituais que viriam a ter.

Peço ao Senhor que tenha a mesma comiseração que teve para comigo, para com todos os amigos revestidos de carne, conquanto muitos descreiam até da própria capacidade de regeneração, tanto que não se importam em repetir os piores crimes, com a desculpa de que são maus por natureza, atribuindo a Deus todas as péssimas tendências. Saibamos pedir por todos, para podermos também nós usufruir alguma assistência, para que nos formemos nas virtudes evangélicas e possamos ocupar cargos de responsabilidade junto às organizações espirituais.

Reconhecemos que não fomos inteiramente mal na manifestação. Receberemos bem todos os informes não abonatórios que o mestre escrevente houver por bem apontar, bem como os que os mentores do grupo irão proporcionar-nos, do ponto de vista curricular. Se nos for permitido, voltaremos qualquer dia para, melhor organizado, poder passar aos leitores alguma mensagem mais de acordo com suas expectativas.















4



A CAMINHO DA SALVAÇÃO











Deus nos proteja e abençoe a todos! Amém, Jesus!

Cá estamos, em nome do grupo, para fazer desfilar, perante os leitores e amigos do etéreo, curta história de alguém muito apegado aos valores terrenos, incapaz de grandes arremessos no campo da espiritualidade e da moralidade.

De fato, desde há algum tempo, tenho estado meditando a respeito de minhas atitudes e cheguei à conclusão de que bem pouco saí ganhando dos últimos encarnes, apesar de muito ter sofrido. É que não tolerei ser depreciado pelos que pensei que fossem protetores, tendo sido encaminhado, com certa violência para o Umbral, mundo de trevas e de sofrimento, onde curti diversas mágoas, principalmente porque me julgava absolutamente injustiçado. Por estranha coincidência, fui parar exatamente onde se encontrava grande leva de seres de mesmo teor vibratório, de forma que me juntei de pronto a eles, tornando as infectas paredes do báratro em muro das lamentações.

Que fiz durante a última vida para merecer tão dramática pena? Simplesmente, fui o mais egoísta dos mortais. Vejam que até agora ainda não perdi o vezo, já que tenho sempre de ser o mais em alguma coisa, mesmo que seja na desgraça, no vício ou nos crimes.

Mas a verdade é que, por causa da falência moral, fui relegado a péssimos papéis na ordem dos encarnados, ocupando, na escala social, a vil condição de pária, pois não me submetia a quem quer que fosse, mesmo que tivesse de passar fome e de viver maltrapilho. Na verdade, foi isso o que ocorreu comigo, pois não admiti, em momento algum, ficar à disposição de outras pessoas. Mesmo quando estive servindo o Exército, mais passei na prisão o tempo, do que entre os colegas de farda, tendo dado baixa, finalmente, com desonra, incapaz de aceitar as ordens de comando mais simples.

Evidentemente, muitos passaram a temer a minha extremada opinião, de sorte que já não era consultado para nada. Aos poucos, fui afastando-me da família e, incapaz de arrumar emprego em que parasse, fui ficando cada vez mais introspectivo e cada vez mais desconfiado do mundo. Tal desconfiança passei a generalizar tanto, que cheguei a desconfiar de que o Criador fora o culpado das circunstâncias tão deprimentes em que me encontrava.

Mas a vida deu algumas voltas e, de repente, me vi na posse de alguns bens, mercê da herança recebida, já que era filho único de pais abonados. Na realidade, eu havia desprezado os velhos, mas não me rebaixei a ponto de me desculpar. No fundo, tinha a esperança de que, um dia ou outro, iria mesmo receber todo aquele dinheiro, se não fossem loucos de me deserdarem. Assim mesmo, perdi boa parte, entregue a algumas instituições de benemerência.

Foi desse modo que pude mandar em algumas pessoas, tendo criado coragem para me casar com jovem que conheci no seio de família que me tratava com muito respeito. Muito cedo, contudo, vim a perceber que almejavam introduzir-se em minha intimidade, para poderem receber, por meio de minha esposa, alguma parte da fortuna que lhe viesse a caber.

Mas esperteza era comigo mesmo, de sorte que me casei com separação de bens, para evitar qualquer laivo de preponderância moral que me viesse a submeter, em relação a quem quer que fosse. Isto, no fim, acabou ocorrendo, para sorte minha, em relação à minha filha, que soube amar-me de modo bastante terno e carinhoso, não dando qualquer importância ao fato de eu me lamentar muito de que houvesse dinheiro envolvido em nossa relação sentimental.

Só fui descobrir quem era, realmente, esse anjo de bondade, quando parti para este lado. Foi aí que percebi que se tratava de ser de minhas íntimas relações de vários encarnes, com quem estava em débito por muitos malfeitos que lhe causei. Mas a criatura era muito bondosa e levou a peito a empresa de me regenerar para a existência evangélica.

Já em vida, devi-lhe a assistência espiritual espírita, que conseguiu infiltrar através de minha forte carapaça de imoralidades e de vícios, já que não abria mão do poder de mandar em mim mesmo, de forma que me proporcionava as regalias próprias que o dinheiro pode oferecer, talvez como revide do tempo em que percorri as ruas em desgraça pública e notória.

Mas a coitada sofreu vida de solidão, tudo realizando para conquistar-me a confiança, fazendo com que perdoasse a mãe e família, por não terem agido com inteira sinceridade para comigo.

Quanto à minha esposa, devo reconhecer que chegou de fato a me amar, tendo aceitado as insinuações dos familiares por coincidirem com seus desejos afetivos. Mas sua hesitação foi paga com muita lágrima e algum sangue, já que, por diversas vezes, chegamos às vias de fato, e, sendo eu bem mais forte, consegui aplicar-lhe alguns golpes ferozes, magoando-a duplamente: física e moralmente.

Mas o amor venceu em seu espírito, tendo chegado a me perdoar incondicionalmente, quando me aproximei dela com a diretriz definida por nossa filha, para o estabelecimento da definitiva reconciliação determinada pelo Cristo, para quem deseja salvar-se. Nessa altura da catequização, já havia compreendido que Deus age certo por linhas tortas, de forma que havia alto interesse em cumprir os ensinamentos evangélicos.

Não me foi difícil, no etéreo, perceber o quanto de malícia e de hipocrisia infiltrei em todas as intenções, sendo esta mais uma das causas de ter ido vagar pelas escuridões umbráticas.

Sei que muitos já definiram os textos que para aqui trouxeram como produtos de época recente, de forma que a dor está esquecida no instante da transmissão. Quanto a mim, estou muito envergonhado de estar a revelar a condição moral do encarne e as penalidades que tive de sofrer, em decorrência de não me ter comprometido seriamente com a verdade das palavras de Jesus.

Se estou aqui a relatar tudo isto, é porque espero que venha a se constituir em algo de bom para a prevenção dos incautos que, como fiz eu, não respeitam os companheiros de encarne, desejando que tudo se faça em proveito próprio, para satisfação pessoal, até mesmo quando há claro prejuízo para as pessoas do relacionamento familiar.

Vamos compenetrar-nos de que deveres existem para com os que nos ajudam a caminhar pelo orbe, se não por causa de débitos atuais, pelo menos como conseqüência de anteriores compromissos rompidos ou mal executados.

Não gostaríamos de prosseguir sem fazer menção ao fato de que estamos cumprindo simples missão acadêmica, mas com a consciência exata de que tudo pode transformar-se responsavelmente para mensagem de apoio às decisões de melhoria que alguns leitores possam almejar. Para isso, sejamos sinceros em tudo que façamos, para dar azo a que os mentores e demais instrutores e amigos da espiritualidade possam entrar em contacto efetivo conosco, para nos orientarem a respeito dos exames de consciência e da análise dos procedimentos e das intenções que sejam capazes de executar.

Não nos percamos em desconfianças inúteis de que estejamos sendo iludidos por falsidades provindas de seres inferiores, como se existisse a maldade integral de belzebus ou demônios, sempre voltados para a perdição dos homens. Mesmo que nos sintamos assediados por irmãos obsessores, haverá meios de os instruir, com afeto, com amor, com carinho, no sentido de que vejam a verdade dos fatos que estão praticando, ou seja, que tudo não passa de falácias vingativas, pois o que mais se incrementa com tudo isso é o peso da consciência e o volume dos débitos.

Se tivermos boa vontade em relação a todos, se estimarmos os inimigos — afirmação que pomos na conta do divino mestre Jesus —, se tudo fizermos para compreender o que leva as pessoas a exorbitarem de seus poderes, em inócua tentativa de se sobreporem aos demais, se tivermos a capacidade de perdoar, seremos atendidos pelos protetores das boas almas, pelo exército dos companheiros socorristas, que saberão dar andamento ao processo de auxílio àqueles que nos atenazavam a paciência.

Será que estamos a solicitar muito dos amigos leitores? Mas isto deve ser tido como o mínimo necessário para o progresso espiritual, conforme nos ensinam os professores, nas aulas a respeito da recaptura dos ideais evangélicos, uma vez que não houve ninguém que, um dia, não tenha prometido, em êxtase místico, seguir as pegadas de Jesus, para poder adentrar com ele o reino do Pai.

Não viemos aqui para pregar, senão para expor os temores pelos que se deixam envolver pelas ilusões das grandiosidades terrenas. Volvamos a atenção para o eterno, para que possamos reavivar, definitivamente, a verdade existencial de que somos portadores.

Saibamos agradecer a Deus esta oportunidade de encontro e oremos fervorosos, para que tudo realizemos em prol da melhoria dos relacionamentos com os demais seres, encarnados ou não, pois dessa fraternal união é que dependemos verdadeiramente para progredir.

Que a paz do Senhor esteja conosco!















5



TRAPALHÃO EM APUROS











Pretendo não sonegar nenhuma informação, mas é preciso que convenhamos que, se tudo disser, não sairei tão cedo desta mesa. Terei, pois, de resumir os pontos principais, de forma que, se algo ficar obscuro, eu lhes peço que me repreendam, para poder envolver os tópicos de maiores explicações, para que tudo fique bem elucidado. Estou a dizer isto porque tenho a impressão de que nem sempre os amigos da espiritualidade conseguem deixar, nas mentes dos encarnados, a noção exata das lições estudadas no campo vibratório de seu plano.

Se me acusarem de prolixo, portanto, estarão falseando a verdade, esquecidos das explicações iniciais. Mas terão plena razão, se eu não avançar desta introdução, já que busco contornar os primeiros problemas das apresentações, através de forte impulso para a escrita.

Por outro lado, é também intenção minha decifrar as possibilidades de aceitação deste tipo de ditado da parte do mediador, para saber até que ponto cumpre ele o compromisso de tudo assinalar conforme lhe chega à consciência. Neste aspecto, sinto-me bastante satisfeito, pois não encontrei resistência alguma, a não ser certa compreensível demora em registrar os impulsos eletromagnéticos. Sei que, se perguntarem ao escrevente, irá dizer que o ditado foi dos mais rápidos, não havendo um instante sequer de sossego para que pudesse respirar.

Pois cá estou preparado para os primeiros relatos de caráter pessoal.

Sem mais delongas, vou informando que não surgi do nada para esta Escolinha, pois para cá vim trazido por colaboradores das turmas, seres espertos que sabem distinguir quem, no meio do báratro, está no ponto de ascender à crosta para as devidas reparações perispirituais.

Vou dar de barato que lá estive internado por longo tempo, tanto que, outro dia, quando volvi o olhar para a sociedade dos encarnados, quase não reconheci o mundo, tantas foram as transformações importantes. Agora, mais afeito, já consigo admitir a idéia da televisão e do automóvel, sem dizer nada a respeito de alguns sucessos técnico-científicos pelos quais me interessei, mercê de minhas contribuições para a descoberta de algumas drogas, no campo da restauração da saúde.

É preciso esclarecer que, durante os últimos encarnes, não fui ninguém de importância. Quando digo que contribuí para avanços da Medicina, estou fazendo referência ao fato de que fui voluntário em diversas experiências, havendo até, em uma delas, abandonado a carcaça, não tendo havido proveito para os cientistas encarregados das análises dos diversos medicamentos em processo de descoberta.

Mas isso não se constituiu em mérito algum para me aliviar dos sofrimentos provocados por consciência extremamente culpada. Se fui voluntário, era porque aspirava ao encurtamento da pena que cumpria em presídio estatal.

Mas não vou perder o precioso tempo do leitor, esmiuçando os crimes que pratiquei. Bastar-lhe-á saber que não fui boa bisca e que cheguei a assassinar bom número de indivíduos, na presunção de que poderia fazê-lo, para aliviar a sociedade de pessoas absolutamente inúteis, improdutivas e deletérias.

Lamento que tão péssima criatura venha ocupar este lugar sagrado de transmissões de conhecimentos superiores dos Evangelhos e de sua aplicação. Mas faz tanto tempo que os fatos ocorreram comigo, que bem poderia fazer menção a eles, como se estivesse a relatar a vida de algum outro ser.

Como tenho alguma noção da lei de causa e efeito, devo dizer que tudo o que está ocorrendo comigo, neste instante, foi provocado por colocações anteriores, da mesma forma que o resultado da leitura deste texto poderá propiciar aos amigos diversos tipos de reações, segundo as experiências anteriores de suas vivências.

Mais tarde, caso não se tenham compenetrado ainda do valor deste tipo de observação, irão refletir a respeito de todas as leituras e terão liberdade para estabelecer nexos de valor entre elas e os demais acontecimentos da vida, como se tudo pudesse ter o mesmo brilho de importância perante a realidade.

É exatamente essa a noção que estou tentando passar. Se eu, nos tempos das alucinações corpóreas, realizei diversos atos de que muito me arrependi, também pude, depois, compreender que, dificilmente, deixaria de realizar tudo o que fiz, uma vez que meu espírito estava, lamentavelmente, voltado para as dissipações cármicas. Neste preciso instante, se, em lugar de deixar alguns conceitos propícios aos desenvolvimentos filosóficos dos amigos, usufruindo o direito do livre-arbítrio, só fizer péssimas recomendações, como, por exemplo, que se joguem ao fogo todas as obras mediúnicas, terei procedido a uma violência em relação à disposição moral de meu estado psíquico ou espiritual da atualidade.

Assim, mesmo que o indivíduo queira livrar-se de certas reações perniciosas, não conseguirá, sem que se tenha deixado influenciar positivamente pelos ideais cristãos, evangélicos ou messiânicos. Não existe determinismo puro, mas é preciso dizer que a natureza (incluindo-se a humana) segue o princípio da normalidade, sendo exato o axioma segundo o qual natura non facit saltus (a natureza não dá saltos). Isto nos levará, irresistivelmente, à compreensão do por que Jesus não se pôs a reformular os usos e costumes hebreus, limitando-se sua atuação ao campo do ministério religioso, para o esclarecimento das razões que fundamentarão o envio dos justos e dos bons para esferas de bem-aventurança, enquanto os maus, os impuros, os perversos, os malvados, serão arremessados nas profundezas eternais do báratro, segundo a mais lídima expressão bíblica.

Evidentemente, estamos convictos de que os amigos leitores estão sabendo que a eternidade dessas penas se refere à impressão psicológica que fica nos espíritos, durante o cumprimento delas, impedindo-os de raciocinar pelo melhor, pois não há esperança para quem está sob o jugo das dores e sofrimentos. É como se houvesse tido razão Dante, ao inscrever, à porta do Inferno, a célebre advertência: Lasciate ogni speranza, voi ch entrate (Deixai toda esperança, vós que entrais).

Mas Deus é eternamente bom e justo, de forma que não há de permitir que alguém carregue carga mais pesada do que possa suportar, ainda mais sabendo-se que Jesus nos prometeu fardo leve, se o invocássemos em auxílio.

Assim, resta-me recomendar que ninguém se deixe envolver demais pelas ganâncias terrenas, ficando extasiado com as momentâneas conquistas carnais, que podem ser mui prazerosas, mas que são efêmeras e se desfazem ao sopro imperceptível do tempo. Ganhemos a eternidade, tudo fazendo em prol dos irmãos menos abonados. Deixemos rastro de amor por onde passarmos, que não seremos nunca arremessados nos umbrais da dor e do desespero. Saibamos argüir a consciência, para que o arrependimento não venha a ser a marca registrada de nossa personalidade. Se é verdade que todo arrependimento um dia cessa, também é certo que os remorsos são sofrimentos morais de difícil compreensão, tanto que os poderosos dos infernos buscam, a todo preço, manter-se íntegros na maldade, para não resvalarem pelos abismos das dores.

Sentimos muito que estes dizeres não se constituíram em apanhado vigoroso de receitas propícias a que os amigos consigam fugir dos castigos através da benemerência. Mas, através da leitura atenta deles, poder-se-á ver que procuramos fazer um resumo, o mais sábio possível, em função daquela orientação. Saiba ver aquele que tem olhos, conforme a magistral observação de Jesus.

Para os irmãos menos apaniguados de qualidades, fica a recomendação final de que orem com muita fé em que o Pai irá dar-lhes todas as oportunidades de regeneração e de adiantamento, em todos os campos morais e espirituais, aguardando somente que se unam a ele, através dos ensinos de Jesus.

Em relação aos que não terão oportunidade de entrar em contacto com esta dissertações, pelos motivo mais diversos, rogamos aos irmãos leitores que estabeleçam vínculos espirituais ou fluídicos, por meio de prece comovida de enredamento e de arrastamento para o bem e para a felicidade. Bastar-nos-á repetir, amorosamente, em sua intenção, o pai-nosso, oração sublime de divino teor.

Pai nosso, que estais...



Eis que testei minha capacidade de verbalização e julguei bastante bom o rendimento apresentado, muito embora não tenha exprimido com coerência e elegância os pontos principais. Digo isto para esclarecer a proposição inicial, já que inúmeros irmãos que me assistem não compreenderam bem o porquê de me ter determinado um fim e de não ter sequer chegado a resvalar ao lado dele, pairando bem distante dos objetivos.

Na verdade, está sendo muito mais interessante compreender como se dá a influenciação mediúnica, de maneira que já posso dizer que terei graves problemas para resolver, em conjunto com os irmãos da equipe, uma vez que a ajuda que estamos recebendo dos companheiros orientadores, colegas mais antigos da Escolinha, está sendo essencial para que se leve a cabo a transmissão, sem grandes transtornos.

Pedimos que nos perdoem o atrevimento deste tipo de comunicação e que a inutilizem, se não se vir nela qualquer exemplificação positiva para possíveis leitores interessados em conhecer todo tipo de mensagens e de mensageiros. O que não queremos é constituir-nos em peso morto neste rol de boas apresentações. Como estamos satisfeitíssimos com o resultado, não nos importaremos com o destino trágico que se der ao texto, ele mesmo condizente com o negrume das profundezas do cesto de lixo, da mesma forma que fomos nós arremessado na escuridão do báratro, por não termos prestado para nada.

Como é bom ser desprendido, quando se tem todo o tempo do mundo e quando somos aceitos e compreendidos pelo irmãozinho escrevente! Eis que temos de repetir, agora com muito mais propriedade, que tem ele paciência de Jó ao apanhar este tipo de manifestação, destinada pelo próprio autor às chamas e às cinzas do nada mais absoluto.

Por isso, caro irmãozinho, saiba que, se o nosso texto não tiver produzido qualquer outro fruto, pelo menos evidenciou que temos de agradecer-lhe o treinamento, tanto fez para nos seguir os pensamentos e algumas emoções. Aliás, se houver interesse em perlustrar os meandros de nossa psique, que se siga o rastilho que deixamos no campo das friezas sentimentais, para verificar se não está aí realmente a nossa mais atual preocupação.

Finalmente, para encerrar em definitivo esta confusa manifestação, que se veja se não está nesta mesma confusão a personalidade deste autor, incapaz de, no momento, oferecer nada mais edificante ou proveitoso.

Muito obrigado a todos e fiquem com Deus!















6



EM PLENO TRABALHO DE REGENERAÇÃO











Quando aqui estive pela primeira vez, não consegui manifestar-me. Julgava que o problema não fosse meu, que seriam os companheiros incapacitados para os trabalhos de mediunização ou que se seria o médium muito pobre para poder apanhar ditados tão avançados, como os que tinha para realizar.

Mas a verdade era bem outra, pois eu mesmo é que não podia suportar a idéia de que minhas frases sem sentido viessem a propiciar motivo de risotas e de sarcasmo da parte de alguns seres inferiores que me acompanhavam.

Depois que me afastei, após ter sido auxiliado por bons amigos da antiga turma de socorristas que se formava, é que pude perceber o quão injusto fora em relação ao pessoal desta casa. Agora, tendo feito questão de me apresentar para as devidas desculpas, vejo-me mais uma vez em situação esquerda, pois acabo de compreender que nada fiquei devendo a ninguém, uma vez que o pessoal daqui trabalha por amor, por solidariedade, de forma que nada do que se possa constituir em guerra que se lhes faça irá perturbá-los emotivamente, pois o maior sentimento já nos dedicaram, com o espírito benfazejo com que recebem a todos os necessitados de ajuda.

De qualquer modo, desejo ao pessoal a maior realização de suas existências, para que possam evoluir diretamente para as esferas seguintes, lugares aprazíveis, onde o temor dos deslizes deve estar tremendamente atenuado.

Que sirva de intróito o que acima expusemos, para que direcionemos a fala aos crimes e respectivos castigos a que todos os homens perversos estão sujeitos. Se a pessoa for boa, ao contrário, só irá receber agradecimentos dos que lhe são inferiores e incentivo dos superiores, o que deveria ocorrer sempre entre os encarnados, para que as recompensas se endereçassem só às almas boas, para que todos tivessem sempre o desejo de melhorar.

Na verdade, os valores humanos estão tão misturados, que bem poucos são os capazes de distinguir o falso do verdadeiro, o mau do bom, a hipocrisia do despojamento evangélico. Se estivéssemos um pouco mais afeitos à pregação cármica, no sentido de fazer com que os leitores possam compreender o que realmente lhes pesa nas costas a impedi-los de progredir, iríamos desenvolver tal aspecto da personalidade. Mas somos tão pobres que nós mesmos estamos tateando na escuridão da mente, ainda obscurecida por crimes mal resolvidos e por culpas não totalmente definidas.

— E que vem fazer aqui ser tão despreparado? — deverão estar perguntando os amigos, desejosos de ver algo de bom chegar-lhes por meio do contacto mediúnico.

A esses devo responder que a paciência é um dos apanágios superiores dos mais evoluídos, tanto que se diz que não existe santo que não tenha desenvolvido em alto grau tal virtude. Evidentemente, será preciso bem mais do que paciência para prosseguir lendo estas linhas pretensiosas, mas contamos com a boa vontade do mediador, para tornar tudo bem mais digerível intelectualmente, já que nos falham as premissas dos bons raciocínios, capazes de propiciar aos leitores um pouco de tranqüilidade, caso se vejam tão pouco desenvolvidos quanto este que lhes escreve.

Eis que demos grande volta, quando poderíamos, diretamente, dizer:

— Bons amigos, abstenham-se de julgar os outros, conforme a recomendação de Jesus, mas não deixem de avaliar o próprio procedimento, à luz da razão evangélica.

E teríamos dito tudo? Absolutamente, não. Teríamos somente evidenciado que estamos tão atrasados que não adiantamos um passo relativamente a quem tenha um pouquinho de boa vontade, que é o mínimo que se pede a quem se dispôs a levar até o fim esta leitura, na expectativa de que, ao final, alguma luz se faça, pela qual se orientar nos descaminhos do mundo.

Outros irmãos devem estar preocupados com este chove não molha, tendo em vista que nem só a pobres leitores estamos dirigindo-nos. Aos mais experientes, pedimos, humildemente, que nos perdoem a ousadia de tê-los trazido até aqui, inutilmente. Ou, por outra, que procurem ver nas entrelinhas o que não fomos capazes de elucidar diretamente, tão frementes estamos com tudo o que nos vem sendo explicado nas aulas da Escolinha de Evangelização. E como saber o que vem a ser isso? Simplesmente lendo as obras editadas, as quais contêm, substanciosamente, todas as orientações necessárias para um bom proceder diante dos colegas de encarne, bem como perante os amigos e inimigos da espiritualidade.

Estou saindo pela tangente, porque não desejo revelar quem exatamente fui na derradeira encarnação e quais os compromissos que adquiri, por não ter realizado de forma perfeita os relacionamentos que me cabiam respeitar e aprofundar. Mesmo dentro do âmbito familiar, fui por demais oneroso, deixando pais e irmãos furiosos comigo, desde os tempos do encarne até bem depois que vim parar nas sombrias vielas do Umbral.

Se fui perseguido, também me dispus a perseguir, de modo que as minhas razões compreendiam direitos e deveres na mesma proporção, julgando justo fazer aos outros o que faziam a mim e, ao mesmo tempo, dando-lhes inteira razão ao revide, uma vez que não os perdoava de minha parte. Esse círculo vicioso só foi totalmente desfeito, como acima disse, quando, por diversos motivos, me senti arrependido, talvez por ter presenciado quão calmos e serenos são os que não se agitam com tão penosos problemas morais. Ao tentar segurar meus impulsos de desforra, tive a necessidade de pedir o apoio dos seres que via conduzindo os irmãos para o alto, libertando-os do pesado jugo dos obsessores.

Não se pense que isso ocorreu de um momento para outro. Minha cabeça dura demorou muito para apreender o sentido das palavras de Jesus na oração ao Pai, de maneira que me senti, durante muito tempo, indeciso quanto à deliberação de rogar a ajuda dos bons. Bobagem minha! Grande bobagem, principalmente porque não fui logo capaz de entender que a felicidade, para os socorristas, é propiciar conforto e consolação aos que se encontram perdidos nos meandros obscuros das consciências culpadas ou reivindicadoras!

Estou aprendendo, finalmente, como proceder em relação a todos os outros seres, tentando diferenciá-los, segundo critérios de avanços evolutivos bem definidos, para que possa dar-lhes a correspondente força e luz, conforme os próprios méritos, uma vez que já cheguei a entender que ninguém consegue progredir sem que sofra, estude e trabalhe, segundo as prescrições superiores das leis cármicas.

Pelo menos um pouco consigo dominar os termos, de forma que estou ampliando em muito os conceitos. Qualquer dia receberei incumbências mais graves e poderei até voltar a este tugúrio, para refazer a presente manifestação, excluindo o que sobejou em inutilidades e reforçando os principais ensinos extraídos dos compêndios, que recebemos com a ordem de reproduzir de cor, como primeiro procedimento sério, a demonstrar que estamos verdadeiramente desejosos de melhorar.

Pedem os instrutores para que os amigos não coloquem malícia nestes dizeres, buscando conclusões sem fundamento na realidade, mas com o único apoio nas expressões infelizes de espírito tão atrasado. Em suma, que não se levem a ferro e fogo as assertivas, pois aqui estou na qualidade de aluninho muito precário, com a só facilidade das palavras, a maioria de empréstimo do escrevente ou de alguns outros elementos do grupo, os quais se esforçam para que eu não deixe cair a transmissão, como se fosse possível fazer extinguir-se este élan, sem que os orientadores da classe venham a fazer qualquer coisa para o restabelecimento dos vínculos mediúnicos.

Eis que estou chegando ao fim da tarefa a mim confiada, crente de que esteja concluindo com chave de ouro o que nem sempre se situou sequer próximo da regularidade, quanto menos da perfeição. Atendendo a pedido que lhe fiz intuitivamente, o médium não me deu trégua, obrigando-me a escrever sem meditar, para que eu não possa mistificar pensamentos ou sentimentos. Talvez seja por isso que tudo tenha transcorrido em pouco mais de meia hora de trabalho, a ponto de tornar até os dedos do irmãos um pouco doloridos.

Outra informação que os instrutores me pedem para passar é relativa à possibilidade que têm os emissores de sentir o estado físico e intelectual dos médiuns, pois estão de posse de suas reações psíquicas concernentes aos aspectos orgânicos e mentais, embora impedidos de adentrar os campos moral, filosófico, científico ou consciencial, motivo pelo qual só conseguimos apanhar as informações que nos cedem, para a complementação dos escritos nos aspectos circunstanciais, para que não caiamos no indefinido vazio das lamentações improdutivas.

Que bom que tenham os amigos orientadores dado algumas contribuições com que pudéssemos tornar a mensagem um pouco menos oca, pois, a se confiar unicamente em nós, já não estaríamos aqui desenvolvendo estas idéias e oferecendo estes rascunhos às considerações de todos os amigos!

Sejamos conseqüentes em tudo o que fizermos, é a recomendação final que temos, para que a nossa palavra não venha a perder-se no vácuo das boas intenções. Saibamos reconhecer os erros e defeitos onde estiverem, sejamos capazes de perceber quais são os motivos que os geraram e conseqüentes em procurar eliminar-lhes as causas, para que não mais venham a pressionar a vontade, no rumo da imperfeição. Sejamos bons e justos, sejamos amigos de todos, oremos por todos e façamos por todos exatamente da mesma forma que lhes rogamos que ajam para conosco.

Eis os princípios essenciais do bom conviver, que é o que mais se pede a todos, embora, nos dias que passam, estejam os humanos mais tendentes ao prejuízo dos semelhantes, tantos são os crimes e os criminosos, o que gera total insegurança emocional, a provocar grande onda de medo e de suspeitas, a prevenirem-se todos contra todos, sem que ninguém consiga escapar das desconfianças.

Seremos retardados em generalizar tanto? Que nos respondam os amigos, buscando, no íntimo da mente, as reações que se estão incrustando como forma de prevenção ou de defesa contra os maus elementos. Não é verdade que mais gostaríamos de ver a perdição dos maus do que sua salvação para os braços de Jesus? Respondam com o coração na mão e avaliem se a resposta não está eivada de preconceitos adquiridos junto a esta sociedade depravada de nossos dias.

Para não chegarmos ao fim com uma série de tormentosas intuições de caráter pessimista, vamos encerrar com chave de ouro, afirmando, peremptoriamente, que Deus é pai de misericórdia e que não haverá, de seu rebanho, nenhuma ovelha tresmalhada.















7



QUEBRA-CABEÇA











Habilmente, vão os amigos comandando as energias que envolvem o escrevente, de molde que podemos começar o estabelecimento dos contactos, nesta tarde primaveril de novembro.

Sinto muito não ser poeta, senão traria palavras de muito sentimento, cheias de amoroso carinho, para que todos os amigos pudessem diminuir a tensão em que se encontram, devido ao trabalho pesado que são, para nós, a mediunização e a psicografia, desabituados que estamos a tal mister.

Sabemos ser importante e séria esta fase do aprendizado, mas não queremos ver ninguém sofrendo, quando o que se tem é pura manifestação a romper os bloqueios da matéria, de forma que tudo deveria constituir-se em grata alegria e emoção do mais alto teor.

No entanto, as criaturas, na maioria, se enchem de responsabilidade e o mais que conseguem, ao final, quando estão já aliviadas da penosa carga, é agradecer ao Pai a misericordiosa assistência que proporcionou, impedindo que as comunicações e seus agentes pudessem resvalar para as perigosas escarpas dos piores vícios de caráter. Mesmo assim, se tudo viesse a demonstrar um pouco mais a felicidade íntima do romper das barreiras, todos nós iríamos sentir-nos bem melhor durante os trabalhos.

Eu sou um pobre coitado, que estou tremendo só em pensar em que os meus dizeres estejam recebendo a atenção de tanta gente. Mas a minha intuição se deu naquele sentido, de forma que peço aos companheiros que estejam mais contentes com estas mensagens de muito amor e consideração, até mesmo quando a descrição dos problemas possa evocar situações cármicas semelhantes, vividas pelos próprios leitores. Havemos de acreditar em que a compreensão dos dramas e a revelação dos processos de cura seja motivo suficiente para trazermos o coração mais leve e a mente desanuviada, propiciando-nos instantes de profunda emoção mística, ao reconhecer que Jesus está presente nos pensamentos e o Pai, na existência de cada qual.

Sinto que tenha de narrar alguns fatos terríveis de minha derradeira encarnação, para o que fui solicitado pelos orientadores. Antes, porém, de principiar, devo afirmar, a pedido dos mentores, que os relatos são bastante livres e que cada um irá escolher os aspectos mais significativos, ou seja, aqueles que julgarem os mais relevantes para a explicação que se pede da atual situação moral ou espiritual dos alunos.

Sendo assim, preferi vir com algumas apreciações preliminares a respeito do tônus emocional que deveria prevalecer, para que o bom amigo leitor se prepare, da melhor forma, para receber o impacto da notícia de que o que me parece mais grave em minha existência foi o fato de ter matado minha família, em acesso furioso de ciúme e de total impotência perante os acontecimentos, impossíveis de serem revertidos pela vontade de quem se sentiu traído.

Na verdade, após ter vagado em dor durante muitos anos, cheguei à conclusão de que tudo o que recebi como traição não era mais do que vingança, em que se somavam ocorrências de diversos encarnes, onde submeti, tiranicamente, diversas criaturas, até explodir de vez em crime absolutamente inócuo e inconseqüente.

Precisei reaver a confiança de todos os familiares, pois até os protetores, à medida que me afastei para cair nas mãos de diversos obsessores e de outros tantos amigos indesejáveis, se puseram de sobreaviso, no caso de se verem às voltas com personalidade tão forte, em algum encarne de resgate ou prova.

Mas havia em mim um resquício de pundonor, de forma que não demorei para entender toda a extensão dos males que havia provocado, naquele momento de extremada paixão. Se tivesse refletido um dia ou dois, provavelmente a reação teria sido bem mais cordata. Acontece, porém, que fui surpreendido em momento de extraordinária felicidade carnal, quando estava sob os efeitos etílicos de diversas bebidas, festejando carinhosamente a data natalícia de um dos pequenos.

Parece que as coisas não custam a acontecer nas festas, como se fora o contraste necessário para o reequilíbrio do carma existencial.

Os professores estão pedindo para que não provoque tantas reflexões a respeito da vida, principalmente porque não tenho cabedal moral para isso. Se tenho liberdade, está ela relacionada ao fato de poder narrar livremente os acontecimentos. Os comentários devem correr por conta dos leitores, capacitados que estão pelo poder de meditação que o tempo e a calma proporcionam às disposições intelectuais.

Junto, aos argumentos dos mentores, mais o fato de que meu vocabulário está jungido às características ainda medíocres de quem não tem outro lustro que não seja pequena escolaridade adquirida nos tempos da juventude. Se, pelo menos, estivesse diplomado por alguma entidade socorrista, talvez as apreciações contivessem os ensinamentos extraídos diretamente das leis, sob os auspícios das noções evangélicas.

Eis que o médium apanha um pouquinho para decifrar as minhas intenções, toda vez que desejo explanar dissertativamente, como se os argumentos que emprego não lhe tenham repercussão na mente afeita ao reto raciocinar dos orientadores e demais instrutores da Escolinha. Pobres figuras como eu já obtiveram alvará junto a ele, mas está a parecer que nos campos de suas simples vivências e de seus humildes pensamentos. Atrever-se quem não tem competência, fá-lo lembrar-se da célebre advertência: — Não vá o sapateiro além da chinela!

Muito me congratulo, entretanto, com o amigo médium, pois está a vencer galhardamente as dificuldades, redigindo com propriedade adequada os pensamentos, proporcionando-lhes até certa elegância, que características não trazem dos textos fadados ao sucesso, pela fraqueza da terminologia e pela frouxidão dos conceitos. De qualquer forma, contudo, alegro-me sobremodo com seu desempenho e fico na expectativa de que venha também a demonstrar agrado pelo trabalho pronto.

Caberia agora decifrar o mistério da dor que senti ao regressar para o mundo dos mortais, na qualidade de observador de diversos crimes de sangue e morte a que fui obrigado, como parte da regeneração. O que mais me impressionou foi a luta inglória dos protetores familiares, incapazes de sustar os braços assassinos, sofrendo ainda a desdita da presença de seres abomináveis, que se assenhoreavam das infelizes criaturas, em ato de loucura, mesmo quando percebíamos que os assassinos agiam sob extraordinário sangue-frio, em virtude da insensibilidade causada pelos sucessivos crimes.

Ao adentrar a psique das vítimas, compreendemos exatamente a revolta contra as injustiças e a conclamação do Senhor para que se explicasse perante a falência de todas as normas da moralidade cristã. Poucos foram os que se deixaram envolver em halo de santidade e de purificação pelo sacrifício de suas vidas. A mais extraordinária prova de compreensão que presenciamos foi durante um assalto, quando uma família espírita se viu às voltas com bando de assassinos sanguinários, que mais assanhados se viram quando perceberam que as vítimas não iriam rogar pragas nem estimulá-los negativamente para o exercícios das nefandas intenções. Foram perversos até o fim, mas não lograram assustar ninguém, além da dor física e do sofrimento de estarem a presenciar o corte dos fios das vidas dos companheiros.

Juntamo-nos em comovida prece a tais elementos e, à medida que vinham despertando ao nosso lado, pudemos contemplar a transformação quase instantânea para a luz da benemerência do perdão, pois sabiam que os pobres infelizes que patrocinaram tão repelentes e ignominiosos atos de vandalismo, literalmente, não sabiam o que faziam.

Eis as lições que nos foram ministradas de forma prática. Foram acontecimentos inesquecíveis, que levaremos profundamente incrustados na consciência, como inerentes à formação de socorristas, apesar de ainda não completamente assimilados em todas as vibrações e repercussões.

Como parte da tarefa de regeneração a que nos submetemos, temos de vir trazer estes testemunhos de nossa constituição moral e espiritual, fundamentando tudo com propriedade, em argumentos extraídos dos sentimentos e dos poderes intelectuais. Ir além na complexidade das intenções dos mestres não podemos, por falta completa de capacidade e de competência. Esperamos que os amigos saibam explorar as informações com maior agudeza de espírito, para seu próprio bem, uma vez que não irá demorar para que se vejam, provavelmente, diante de situações, se não tão dramáticas, pelo menos semelhantes, todas em correlação exata com os próprios débitos e sentimentos de culpa.

Não vamos extrair outras conseqüências cármicas dos atos que praticamos e das ações que testemunhamos, mas não podemos deixar de dizer que tudo está excedendo em muito qualquer lucubração que nossa imaginação foi capaz de criar durante os momentos de crise, em que nos desesperávamos do assédio dos malvados, e dos pensamentos vingativos que nos oprimiam.

Voltando à recomendação inicial, se tivermos a pachorra e a serenidade de confrontar a situação atual com as desgraças que promovemos e as retaliações que sofremos, só podemos julgar de extraordinária felicidade a hora presente, motivo pelo qual estamos sorrindo, ainda mais pela satisfação de estarmos desfazendo este nó terrível da comunicação entre os planos.

O que não queremos, em, absoluto, é perder a lembrança destes instantes de vitória, que compensam todas as ânsias e temores que deixamos infiltrarem-se na mente.

Salve Nosso Senhor Jesus Cristo, mestre e amigo de todos!









Observações







Para encerrarmos esta longa peroração, devemos agradecer a boa vontade do médium e solicitar-lhe que aceite a influenciação por ocasião das correções, pois queremos aproveitar algumas sugestões dos mestres para aperfeiçoamento textual. Não se acanhe em fazer as transformações que surgirem em seu cérebro e não se arreceie de estar ferindo o texto com intromissões indevidas. Saiba que o momento da análise é sagrado e que temos muito empenho em que tudo se realize da forma o mais próxima possível das intenções e do roteiro que estabelecemos junto aos mentores.

Não se limite a observar as falhas datilográficas e gramaticais, mas faça alterações vocabulares, conforme lhe forem ocorrendo as idéias que lhe iremos passar. Faça como no presente momento, com a diferença de que aqui o texto está em construção e, mais tarde, estará com as diretrizes definidas, necessitando somente de uns poucos reparos.

Eis que estas recomendações devem ocupar-lhe a atenção, pois servem para todas as mensagens deste grupo, podendo até fornecer seguro roteiro para outras equipes.

Fique, pois, em paz com sua consciência, pois nada do que lhe sugerirmos representará qualquer interferência de sua parte. Não acredite que estejamos gracejando, pois, de outra sorte, não iríamos correr o risco de deixá-lo em maus lençóis.

Veja que a frase anterior precisa ser consertada. Se quiser, conforme lhe foi proposto em comunicação anterior, pode formular o novo texto entre colchetes, mantendo a redação original, com a finalidade de demonstrar aos leitores como é que se deram as alterações. [Basta eliminar a expressão de outra sorte.]

Deixemo-nos estar nas suaves mãos do Senhor!









Explicação







Por dever de ofício, cumpre o médium a obrigação de esclarecer que não efetuou qualquer alteração de vulto, nem neste, nem em nenhum outro texto. Tão-somente, tivemos a preocupação de eliminar o sobrepeso de alguns especificadores, como os possessivos meu e nosso, tendo ainda evitado algumas repetições vocabulares, utilizando-nos de sinonímia conveniente.

Por outro lado, não nos falta assistência espiritual durante os trabalhos de revisão, de forma que sentimos a presença dos companheiros que nos proporcionaram as comunicações, os quais buscam influenciar-nos as decisões.

Por princípio, não nos autorizamos a realizar profundas modificações, pois acreditamos que iríamos descaracterizar as mensagens, no mínimo, psicologicamente. Desse modo, só nos predispomos a respeitar as sugestões no quadro das alterações, quando existe evidente contradição conceitual, a indicar que a deficiência esteve na captação do ditado, sendo a falha, portanto, da responsabilidade do médium, uma vez que, quando ocorrem deslizes promovidos pelo espírito emissor, logo os orientadores comparecem para os devidos comentários.

Foram raras, portanto, as ocasiões em que tivemos de reformular trechos, conforme a orientação do autor da mensagem acima, orientação que reputamos de muito valor, quando se trata de ajuizar dos méritos das informações transmitidas, para estabelecer-lhes a verdade evangélica.















8



DESMASCARANDO-SE











Eis-me aqui, pedindo para ser atendido em meus penares. Sei que nada se pode fazer de imediato em relação aos dramas que carrego pela existência, mas posso muito bem avaliar que algo de bom irá suceder, se conseguir contar um pouco dos desatinos que se constituíram no peso que me verga as costas.

Preciso dizer que muitas expressões minhas estão sendo cortadas, devidamente, pelo escrevente, conforme as apreciações que me vai fazendo relativamente à contextura da mensagem, para que não fique demasiado sobrecarregada de informações dispensáveis. Muito agradeço a ele esta ajuda.

O maior desafio será suplantar a desdita de ter perdido grande parte da família, por envolvimentos em crimes diversos. Quando aqui cheguei de volta do encarne, procurei por todos, mas só encontrei alguns, e, ainda assim, sofrendo barbaridade, por não poderem congregar a comunidade familiar, como outrora, na face da Terra

Devo dizer que o encontro não foi súbito, assim que me desembaracei dos liames carnais. Foi preciso peregrinar pela escuridão durante bom tempo, até que chegou a minha vez de encontrar-me com os amigos que restaram em condições de ajudar aos demais.

Preciso ainda dizer que espíritos superiores não vimos ao redor, apenas gente como a gente, sofredores e impenitentes sem parada, pois havia como que uma espécie de pressão moral ou consciencial, para que fizéssemos pelos nossos alguma benfeitoria.

Perlustramos a escuridão durante muitos anos e, aos poucos, fomos encontrando os menos perversos. Mesmo com relação a estes, sofremos muito em suas mãos, pois, ao invés de nos receberem como benfeitores, amaldiçoavam-nos, dizendo que éramos a causa das atrocidades que vinham padecendo, mercê de termos feito muito mal a eles, aconselhando-os de forma absolutamente contrária às determinações da sabedoria evangélica.

É necessário dizer que punham em nossas costas todas as responsabilidades de seus atos e não apenas a verdadeira parte que nos cabia. Eram injustos conosco e não atinavam que estavam sendo cegos para as tais verdades que gostariam de ver aplicadas por nós em sua educação e descortino da realidade.

Mas a vida me havia treinado na perseverança e na serenidade, pois cheguei a ficar bastante avançado em idade, o que acarretou estar à procura do pessoal, que partiu bem antes de mim. Na crosta, deixei família bem constituída, apesar de não inteiramente perfeita. Crentes do evangelho espírita, puderam suportar as minhas mazelas, com a esperança de que algo de bom pudesse assimilar das palavras que iam deixando ditas pela estrada da vida, como quem não tem objetivo algum com elas.

Para mim, isso foi muito proveitoso, pois foi o que me valeu nos transes mais penosos, durante o perambular pela escuridão. Era só lembrar-me dos dizeres evangélicos, para suspeitar de que a fase pela qual passava se referia a esta ou aquela qualidade em falta. Caracterizada a virtude, era um amargo reconhecimento de que estava verdadeiramente defasado em relação ao adiantamento de muitos outros seres, que sabia estarem no caminho certo, desde que os conhecera no mundo corpóreo.

Essa expectativa de que poderia ascender um dia, por força de ajudar os sofredores, foi motivo mais do que ponderável para que fosse ouvido pelos amigos que haviam despertado para o trabalho. Fui resgatado em dia inesquecível, aliviando-se completamente as dores físicas, preponderando, então, vigorosamente, as tenazes morais que me faziam arrependido e remoído de remorsos.

Mas voltemos ao resgate dos mais infelizes, a principiar pelos que perpassavam por momentos menos dolorosos, embora pungentes, até alguns que se situavam em profundezas abissais consideráveis. Devo, a bem da verdade, dizer que dois deles não conseguimos alcançar, de sorte que ainda se encontram perdidos nas trevas.

Mas as acusações não tiveram o condão de nos afastar dos serviços socorristas, que empreendíamos por necessidade cármica, tendo em vista que compreendíamos que estávamos em débito para com aquelas criaturas. Por outro lado, mesmo que não fôssemos acicatados por tão tenaz impulso da vontade, iríamos, da mesma forma, atrás daqueles seres, que se constituíam para nós em motivo de amor, tanto nos afeiçoamos a eles, por força da íntima convivência nos dois planos.

A respeito das lembranças dos relacionamentos anteriores ao último encarne, só recentemente fui capaz de compreender exatamente no que se constituíram, quando capacitado a entender as razões dos desajustes que vieram a repercutir durante todo o tempo em que lutamos por agruparmo-nos de novo.

O trabalho de agora está sendo o resgate das dívidas pessoais no campo dos processos cármicos familiares, o que não está sendo fácil. Foi por isso que, de início, apresentei-me como carente de auxílio, pois ignoro, quase completamente, o que mais posso fazer para reconciliar-me com cada um dos amigos.

Eis que pintei, mais ou menos, a situação atual, para dar aos leitores a idéia dos sofrimentos morais que podem atormentar os espíritos não totalmente maus, mas que não primaram por agir conforme as recomendações de Jesus, principalmente não cuidando de educar os mais chegados, filhos e netos, segundo os mandamentos do Senhor.

Em matéria de ensino, como expus acima, eu mais aprendi com os mais jovens do que lhes ensinei a proceder honestamente em relação aos deveres e obrigações determinadas pelas diretrizes evangélicas.



(Muito agradeço ao médium o empréstimo de alguns termos. Ele não queria assinalar isto, mas obriguei-o, pois considero muito importante, para que se entenda a minha maneira de ser, que se separem certas expressões mais pertinentes — como toda esta nota está demonstrando — daquilo que exprime com realidade a minha maneira de pensar e de sentir. É preciso passar por cima das formulações lingüísticas, para encontrar o ser rude que sou. Está o médium querendo que eu assinale que nem tudo está sendo intermediado por ele, pois há os auxiliares do etéreo que dão forte mão para que a mensagem se faça íntegra, uma vez que não dispõe de tempo suficiente para repensar os vocábulos e muito menos as estruturas frásicas. Pois aí está a observação, conforme o que me recomendaram os amigos orientadores, tal qual.)



Mas, voltando à vaca fria, devo dizer que muito tenho peregrinado por seca e meca, sem encontrar grupo tão coeso, pronto para me ajudar. Foi aqui que recebi convite para juntar-me à turma dos assistidos do Grupo do Reforço II, com quem me comprometi a realizar os primeiros trabalhos de restabelecimento moral ou espiritual, dentre os quais avulta em importância este relato, o qual, conforme outros componentes já disseram, pode ser executado com ampla liberdade, desde que não se firam o decoro evangélico nem as susceptibilidades dos que estão reunidos, para as tarefas que lhes darão condições de superar o estado de perplexidade moral.

Conquanto tenha muitos reparos a fazer em relação aos métodos aplicados para o soerguimento, devo dizer que me sinto bem mais disposto, de forma que já consigo aceitar os desplantes daqueles que me acusaram de tê-los encaminhado para a perdição.

Quando voltar ao seio da família, o que espero não vá demorar, estarei em condições de traduzir os principais pontos doutrinários do espiritismo, de forma a demonstrar onde se encontram os principais erros deles no tratamento dos demais. Se puder, irei convencê-los a se matricularem na Escolinha de Evangelização, pois o trabalho maior irá ser feito por pessoal habilitado e afável no trato com os pacientes infestados de moléstias espirituais.

Pedem-me para ser mais positivo, em relação a um dos fatos da última permanência na Terra.

Estava evitando tocar, especificamente, em algo que pudesse fazer os leitores vibrarem contra mim, pois iriam antipatizar-se, ao invés de se compenetrarem de que se trata de ser frágil moralmente e que merece toda consideração por também ser filho de Deus.

Dizem-me para evitar os comentários e que diga logo que desencaminhei algumas meninas da família, molestando-as sexualmente. Isto foi fatal para o relacionamento posterior, em todos os campos em que nos encontramos. Já lhes pedi perdão por ter sido tão indigno, quando era dever meu encaminhá-las para a vida, com confiança, esperança e amor.

Sinto-me profundamente envergonhado, particularmente porque faço questão de manter a aparência respeitável de ancião, talvez para que não possam suspeitar de que, por trás de tanta imponência, possa esconder-se ser tão asqueroso.

Eis que as palavras vão brotando de minha cabeça, impedindo que está o médium por mim de manifestar-se a respeito deste tema.

Neste preciso instante, estou recebendo fluidos revitalizadores dos que comandam a sessão, mas normalmente tenho suportado bem as acusações conscienciais, pois me compenetrei do fato de que, se nada fizer para desmanchar o ódio que está sendo devotado a mim, não será para logo que irei me livrar desta tremenda carga de arrependimento e de remorso.

Dizem-me os amigos para abandonar o posto, pois o recado foi dado conforme o que havia sido combinado. Mas não desejo sair, sem antes dizer algumas palavras de esperança aos pecadores.

Certamente, não há ser humano que não tenha ajustes de contas para fazer com alguns indivíduos que foram por ele prejudicados. É impossível que haja anjos perlustrando a crosta terrestre. Mas não fiquem tolamente preocupados em esconder os malfeitos da consciência. Saibam enfrentar as acusações e mantenham a calma o mais possível, caso contrário, tal como eu, irão parar nas profundezas do báratro, sem condições de volver atrás nas intenções, para poderem perceber toda a extensão dos males praticados.

O arrependimento é arma eficaz para combater os estigmas da maldade, mas será preciso muita oração aos protetores espirituais, para que venham em socorro, com os argumentos mais poderosos para o enfrentamento dos desafetos, especialmente quando estão sobremodo feridos. Após algum tempo, irá ficando claro que eles também têm contas para ajustar, até com nós mesmos, o que faz com que tenham de remar nas galés do mesmo barco. Por isso, muita fé em que Deus é pai de misericórdia, o qual nos dá condições de nos compenetrarmos de que o perdão que soubermos distribuir irá ser aquele mesmo que iremos receber.

Orem conosco a prece dominical e suspendam a leitura por alguns instantes, para profunda meditação a respeito de como acham que irá ser a recepção no plano da espiritualidade. Se os adversários estiverem vivos, nada mais lógico, evangelicamente falando, do que ir correndo entender-se com eles, para que, desde logo, os mistérios cármicos vão sendo interpretados à luz da orientação de Jesus.

Perdoem-me não ter apresentado texto conciso, claro e elegante. Fiz só o que me era possível, em estado de profunda comoção sentimental, apesar de todo o apoio das vibrações energéticas dos amigos do grupo. Ao médium, humilde pedido de desculpas, por tê-lo envolvido na mensagem. Saberá bem entender as razões que me levaram a isso. Aos mentores e demais elementos do grupo, sinceros agradecimentos. Ao Senhor, a prece derradeira.















9



DESEMPENHOS INESPERADOS











Venho carregado de culpas e, tal como os mensageiros anteriores desta turma, devo ministrar alguns ensinamentos, com base nas desventuras que promovi na última encarnação.

Vou principiar afirmando que não fui grande criminoso, do ponto de vista do sangue derramado, nem das sevícias que teria propiciado aos seres sob meu domínio. Não fui escravocrata nem deliberei espoliar os bens de quem quer que seja. Na verdade, tais ocorrências puderam ser imputadas a mim indiretamente, pois a minha ganância gerava a necessidade de que as pessoas promovessem certos crimes, para que se desse o equilíbrio necessário para a manutenção de extensa fortuna.

Dono de muitas terras, não tomava conhecimento do que os feitores faziam para que tudo andasse de acordo com as normas dos lucros para os poderosos. Se era preciso conversar com os governantes, agraciando-os com propinas vultosas, lá ia eu estimulá-los às diversas concessões que me fariam mais rico e mais influente.

Devo dizer que até hoje a família tem nome e mantém muito da riqueza primitiva, a qual, de resto, não fui eu mesmo quem construí a partir das primeiras conquistas, mas recebi em franco desenvolvimento; eram bens de raiz que provinham da época do descobrimento.

Pode parecer estranho que me mantivesse por mais de cem anos sem reencarnar-me, mas a verdade é que tive de perpassar por agruras sem número, devido às perseguições de que fui vítima por multidões inteiras de seres incompreensivos, que eram incapazes de perceber que todos deveriam tornar-se uma só e grande família, com alguns sofrendo as desditas das misérias, enquanto outros seriam testados por meios das provas pungentes da riqueza imensurável.

Só pude ascender das trevas quando me ative ao fato de que poderia influenciar os protetores familiares, para oferecerem posições de destaque a alguns dos perseguidores, de forma que me empenhei para facilitar-lhes o ingresso na carne, em condições financeiras vantajosas. Tudo deu certo desde o princípio, porque fui obrigado a submeter-me ao trabalho da assistência aos antigos adversários, impedindo-os de caírem em desgraças, por imprevidência e desenvolvimento do orgulho e da ganância.

Como nos velhos cortejos do triunfo romano, cabia-me a tarefa de soprar-lhes aos ouvidos a célebre advertência:

— Quia pulvis es! (Porque és pó!)

E tudo tive de fazer com extrema pureza de intenções e de sentimentos, como se tais indivíduos, realmente, se constituíssem em elementos integrados no rol dos familiares ou que assim deveriam considerar-se dali por diante. Era o clã que crescia, por meio de minha influenciação e por aceitação dos maiores.

Devo dizer que, de início, pensei em que tudo daria em água de barrela, tanto não acreditava que pudessem meus desafetos exercer o direito à vida com proficiência. Mas os malvados se puseram de sobreaviso, de sorte que puderam executar muitos dos projetos que tinham em mente, favorecendo que as provas se tornassem proveitosas.

Invejoso, sentia-me diminuído, até que meus protetores me fizeram ver que o crescimento dos inimigos iria eliminar tal condição, transformando aqueles seres em pessoas em quem se poderia confiar dali para frente, tanto empenho tivemos no auxílio e na benignidade.

Deveras, ao retornarem ao campo espiritual, vieram bem menos incultos, mais amenos nos relacionamentos, pondo crédito em que as pessoas não exercem somente papéis miseráveis nas diferentes encarnações. Tornaram-se, de fato, seres plenamente integrados no grupo familiar, passando a exercer funções de socorrismo junto aos que não tinham tido oportunidade de mesmo progresso.

Eis que está chegando a hora do meu retorno à crosta, tendo de escolher sob que vestes financeiras e sociais estarei agasalhado. Por isso, ofereci-me como aluno deste grupo, pois pretendo preparar-me convenientemente para tal regresso, pois não quero passar o vexame de ter oferecido oportunidade aos antigos desafetos que eu mesmo não consiga aproveitar.

Eis que terminei o meu testemunho, simplesinho, muito fácil de ler, mas talvez de profunda dificuldade de interpretação, pois pode o pessoal estar perguntando-se como é que os trabalhos que executei junto aos encarnados em fase de ascensão moral não deram também a mim, condições de elevar-me perante os orientadores familiares.

Na verdade, tenho traquejo para discursar, durante longo tempo, a respeito das atitudes mais sublimes da vida, aquelas que dão condições aos seres de progresso imediato. Sei quais são os sacrifícios todos que elevam a alma diante de Deus, mas fico a me perguntar se tal conhecimento, diante das vicissitudes da carne, teria como transparecer em gestos de desprendimento sadio, em prol do favorecimento dos irmãos em penúria.

Eis que tenho medo, pois não me sinto seguro dos sentimentos. O pensamento é firme e transcorre fácil, tanto que minha dissertação se impõe como peça de boa aparência e lavor. Entretanto, chego a tremer de medo de não estar preparado para as emoções, pois sei como reagia durante o último encarne, quando pretendia influenciar as pessoas e obrigar os homens a cumprirem as determinações que baixava majestaticamente.

Não lamento as vidas que passei em desbarato das forças morais, a não ser no sentido desta insegurança que hoje enfrento, por força de saber o que deverei e o que não poderei fazer.

Querem saber por que não lamento? É que me foi possível, apesar de tudo, acolher, em minha prole, muitos amigos da espiritualidade necessitados de novas oportunidades no campo das provas, tendo ministrado a eles profundos ensinamentos, para que não maltratassem os subalternos. Se eu mesmo não tive coragem de ferir pessoalmente a ninguém, conquanto fechasse os olhos em relação aos comandantes de ordens, no que se referiu aos filhos, netos e sobrinhos, pude passar-lhes noções de justiça mais condizentes com os ideais republicanos, livre-pensador que era à época de minhas realizações carnais.

Como estão vendo, realmente, não fui o criminoso que viram em mim, tanto que não me importei com a morte, nem lamentei qualquer perda material, preocupando-me muito com as acusações, que não queria ver justas, pois tinha vocação libertária. Se passei longo período nas trevas, foi mais por orgulho exacerbado do que por algo que conscientemente tenha provocado em prejuízo dos semelhantes. Não aceitei o evangelho de Jesus, mas não repudiava os princípios morais da honradez e da seriedade de propósitos. O que realmente não fiz foi estender as mãos, deliberadamente, para o auxílio dos sofredores, tendo refletido sobre isso durante o exílio no Umbral, tanto que foi causa de minha saída a proposta que fiz de que os perseguidores se vissem encarnados no seio familiar.

Não sei se tais lembranças e as conseqüentes ilações morais a respeito possam vir a oferecer algum apoio aos parcos leitores que vejo folheando estas páginas. Em todo caso, vou acreditar que as barreiras venham a ser derruídas, para que as minhas dores e ansiedades se transformem naquela lição de vida pretendida pelos mentores da Escolinha de Evangelização.



Pedem-me para referir-me ao fato de que estou exercendo o papel de redator, de acordo com as vibrações que consigo transmitir, sem a influenciação dos demais integrantes do grupo, os quais resumem as atividades na impregnação magnética, para a produção da freqüência mais correta, para que o médium possa apanhar o ditado bem satisfatoriamente, muito próximo de meu desejo.

Evidentemente, alguns tiques da escrita se produzem conforme o hábito do mediador, sugerindo-se que o estilo seja mais dele do que meu. Não obstante, diante das várias opções terminológicas que me propõe, posso também afirmar que, rigorosamente, as frases se constituíram segundo pude comandar, pondo de lado as imperfeições que requereram correções imediatas da parte do escrevente, tendo em vista que nem tudo consegui fazer passar, consoante minha compreensão dos fatos lingüísticos. De qualquer modo, que sirva a lição para outros amigos que se aprestam para trazer suas manifestações, e também para outros médiuns, temerosos de que tudo o que compõem tem mais que ver com sua maneira de ser do que com a personalidade do espírito comunicante.

Pedem-me os mentores para afirmar que são bem poucos os espíritos capazes de marcar indelevelmente o estilo, quando se trata de médium consciente, como é o caso de nosso irmão. Vamos, todavia, imprimindo os dizeres que desejamos ver consignados, embora sem o balanço frásico que daríamos, se pudéssemos comandar diretamente a escrita.



Muito agradecemos a todos a boa vontade da leitura e ficamos no aguardo de que haja manifestações a respeito dos textos, para que nós também possamos extrair alguns ensinamentos dos julgamentos críticos que se fizerem. Quanto a este ponto, devemos ressaltar que não temos a ilusão de cair nas mãos de seres muito experientes. Mas qualquer vibração em nosso favor, mesmo que seja para pôr reparos em defeitos gritantes, será bem-vinda, de forma que nos alvoroçamos desde já com a possibilidade dessas contra-informações, se é que assim podemos dizer.

Agradecemos também aos colegas de grupo e aos mestres, bem como ao mediador. Especialmente queremos enviar o nosso muito obrigado aos amigos recentemente liberados dos liames carnais, que enviaram apoio fluídico quando souberam que estaríamos à disposição dos professores, para o relato das pendências que mantivemos um dia.

Sentimos tudo isto como um real banho de amor, que só poderia ser proporcionado pelas bênçãos carinhosas do Pai.















10



LACTENTE











Minha visita a esta residência não tem outro objetivo senão proporcionar aos mentores alguns esclarecimentos quanto ao meu desempenho na última jornada pela Terra. Mas não pretendo ser exaustivo, senão contar sucintamente os principais tópicos, para evidenciar os pontos principais a serem atacados para melhoramento da personalidade, já que muito estou dependendo do grupo para manter-me equilibrado e lúcido.

Ainda agora, se fosse entregue aos malvados da escuridão, iria com eles, absolutamente inconsciente das prerrogativas de luz que me foram concedidas pela bondosa bênção do Cristo. É que necessito de constante sustentação fluídica, por causa das dores de minhas culpas, uma vez que fui extremamente perverso em relação aos irmãos que comigo conviveram.

Estar aqui hoje, nestas condições, é prêmio que devo agradecer, sem entender bem o porquê de tanta consideração. Mas não quero desfalecer perante o grupo, em ocasião de tanta importância. Vou levando o texto da melhor maneira possível, realizando algumas incursões pelo mundo das idéias, para poder criar coragem para dizer que roubei e matei, como forma de sobrevivência habitual.

Não precisava ter feito, pois não era difícil arranjar emprego honesto e conseqüente, contudo, o fiz. É que recebi forte golpe, no início da vida, tendo, daí por diante, o que julgava excelente desculpa para desforrar os sofrimentos da falta que me fez minha mãe, bem cedo surrupiada de mim pelo destino, pois foi assaltada, violentada e morta, quando era eu ainda bebê.

Fui mal criado por uma tia, que não tinha — coitada! — onde cair morta. Foi quem me ensinou a fazer todas as maldades, incentivando-me o ódio contra as pessoas, não se esquecendo jamais de lamentar-se por ter perdido a irmã, apoio de todos os momentos. O pior é que foi o próprio marido, meu tio, quem executou minha pobre mãezinha, de modo que o ódio de minha tia também se voltava contra ela, afirmando que fora quem dera trela a que o marido fizesse o que fez.

Cresci, pois, sem saber e não tendo a quem amar, já que até a tutora batia em mim, toda vez que deixava de fazer o que mandava.

Não quero prosseguir nesse sentido, pois irão pensar que estou tentando justificar os desatinos. Mas a verdade é que não obtive da vida nada que pudesse pensar que fosse momentinho de alegria.

Nem preciso dizer que voltei para cá devidamente despachado por turma de malfeitores que se diziam justiceiros, mas o que mais faziam era matar certos marginais que atormentavam o bairro e os comerciantes, fazendo-o por dinheiro grosso.

Eu também comecei assim a série de crimes de sangue, até que encontrei o meu tio bem situado na vida. Como era comerciante, o fato de tê-lo atacado fez com que se despertasse contra mim o temor da população pacata, o que fez com que fosse condenado à morte. Fugi do lugar, mas, depois de alguns anos, fui alcançado pelas mãos vingativas de assassino especialmente contratado para me eliminar, especialmente porque cometi o erro de saber muito a respeito dos contratos que se faziam.

Eu não queria falar muito a respeito, mas meus superiores disseram que seria útil, pois, ainda hoje, muitos criminosos dessa espécie existem, podendo ocorrer que algum venha a ler descuidoso estas páginas e poderá sustar o braço criminoso, por medo de vir a sofrer nas mãos das vítimas na erraticidade, onde o remorso e o arrependimento muitas vezes andam juntos com os processos de vingança que o sofrimento moral possibilita aos perseguidores.

Ninguém, assim, está livre dos obsessores, mesmo no Umbral, onde se torna bem mais difícil para os protetores exercerem o carinhoso mister.

Eis que dei volta bem grande para, de novo, estar aqui a dizer que não quero jamais volver às penumbras infernais, onde o sofrimento se acentua e as dores se concentram.



Pedem-me para tirar algumas conclusões relativamente ao fato de ter tão completamente desfiado os piores aspectos da personalidade.

Não me sinto aliviado, se é isso que querem saber. Pode parecer aos incautos que só o fato de vir narrar as mazelas do procedimento é meio caminho andado para a regeneração. Ao contrário, parece que se incrementam as dores, pela vergonha de tornar pública a descompostura.

A única coisa que parece aliviar é o fato de se ter ultrapassado certa tarefa obrigatória, coisa por demais simples, principalmente quando sabemos que deveremos, mais tarde, perante o grupo, esmiuçar cada relacionamento, precisando reconhecer, para cada fato, como foi que se aplicou a lei de causa e efeito, para restabelecimento de todos os fios condutores da personalidade. Aí, sim, após a compreensão de cada ferida, poderemos ministrar-lhe os remédios indicados para tratamento, tendo em vista o diagnóstico que será possível fazer-se, mediante o exame sério e aplicado que se realizou.

Agora, sentimo-nos bem melhor quando estamos expendendo estas considerações, pois parece que a carga fica tremendamente aliviada, tendo em vista o esquecimento momentâneo das dores e sofrimentos. É como se descalçássemos os sapatos que nos feriam os pés, embora sabendo que voltaremos a calçá-los em seguida. Como diziam os antigos: "Enquanto a chibata sobe e desce, folgam as costas..."

Poderia estender-me bem mais, pois assim ficaria mais tempo folgando as costas, entretanto, não tenho o que dizer que possa oferecer subsídios para as meditações dos leitores, conquanto se empenhem os mentores em orientar-me, para que possa desenvolver alguns temas relativos aos procedimentos de ensino concernentes a esta turma, especialmente.

Por exemplo, dar esta possibilidade de sossego por instantes, é método assaz eficiente para muitos que se encontram extremamente agitados, temerosos de estarem em mãos inábeis. Ao se sentirem melhores, mesmo que por pouquíssimo tempo, passam a estimar os novos companheiros como seres muito fortes e poderosos. Talvez seja meio de atrair para a evangelização, mesmo no campo dos encarnados. Mas não me atreverei a afirmar, pois não sou a pessoa indicada para comentários tão profundos.

Outro ponto de interesse seria o fato de ter-me despertado, para a possibilidade de escapar dos labirintos abissais, o desejo incontido, que, a partir de certa ocasião, passei a ter, de reencontrar-me com os desafetos, para pedir-lhes perdão pelos malfeitos. Não fui feliz em nenhum desses encontros, que foram bem mais litigiosos do que a fantasia tinha podido imaginar, tendo em vista alguns vislumbres de reconciliação. Não desejando bater, muito apanhei. No começo, achava tudo profundamente injusto, mas, aos poucos, fui oferecendo, por assim dizer, a outra face, pois fazia questão de dizer que me encontrava arrependido e que, apesar de merecer as injúrias, iria tudo fazer ao meu alcance para aliviar as dores que provocara.

Talvez seja por isso que me encontro amparado fluidicamente pelo pessoal, para dar curso a esse plano que engendrei no báratro, por força de algumas inspirações que os protetores conseguiram, com dificuldade, infiltrar em meu pensamento. Apesar de não ter ninguém por mim no último encarne, alguns seres da espiritualidade ainda se sentem responsáveis pelo fracasso da minha vida, tanto que trabalham afincadamente para me manterem com a idéia firme em meu objetivo primordial.

Outro ponto interessante é que estou muito contente por estar entre estes amigos, já que não me sinto muito inferiorizado com relação a eles, todos culpados perante a divina justiça, conforme suas públicas declarações. Somos, pejorativamente, farinha do mesmo saco, com a qual não se poderá fabricar pão que preste, pois, se levedarmos, cresceremos em crimes e vícios.

Eis que o bom médium me permitiu executar o texto, favorecendo-me até algumas expressões que reputo extraordinariamente felizes, tanto que alguns termos deixaram o látego suspenso por alguns instantes mais, quem sabe por ter-se o amigo condoído com a minha sorte. Mas não se aflija por mim, pois, se descair no negrume do Hades, certamente terei feito por merecer, tão justas e sábias são as determinações do Pai.

Agradeço profundamente a todos os que me auxiliam e me consolam. Apesar, contudo, desta descrição tão lúgubre de minha psique, não quero passar a idéia de coitadinho, de miserável, de pobrezinho das trevas. Fui mau e mereci ter perpassado por tão graves crises. É só na Terra que adquirimos o hábito de exigir dos demais que nos perdoem, incondicionalmente. Aqui, onde estamos agora, reconhecemos a necessidade do perdão, desde que se faça acompanhar das prescrições das necessárias tarefas de recondução às veredas que nos encaminham para as terras da salvação.

Não sei se consegui deixar registrados os principais problemas que deverão resolver-se, para que possa dar continuidade ao processo de regeneração, com a finalidade de vir a reintegrar-me ao plano carnal, para nova aventura, objetivando resgatar inúmeras dívidas. Como o amigo anterior, também eu gostaria de melhorar bastante na aprendizagem das normas evangélicas, para chegar bem mais fortalecido ao campo material. Enfim, tomo a mais sábia decisão, qual seja, a de deixar tudo nas bondosas mãos do Senhor.

Fiquem em paz!















11



MEU DISFARCE RETÓRICO











Resta-me agradecer aos bondosos amigos que, desde cedo, colaboraram para que meu desempenho pudesse servir de amostragem para os irmãos encarnados.

Fiquem todos na paz do Senhor!



Pode parecer esquisito este início de comunicação, mas eu o fiz para demonstrar que minha personalidade se habituou a apresentar tudo de pernas para o ar, como se o avesso das coisas fosse o mais importante para mim.

Está claro que tive objetivo bastante simplório: o de saber se o escrevente iria aceitar, por início de ditado, aquilo que seria o fim. Que pensaria ele de tal atrevimento? Teria, desde logo, a percepção de que havia interesse do emissor em testá-lo?

Pois foi com agradável surpresa que o vimos escrevendo, sem muita repulsa, os dizeres estranhos. Pensou que talvez estivesse diante de encerramento da mensagem do dia de ontem, e aguardou, com paciência, que surgisse a explicação. O que não atinou, deveras, foi com a nossa propositura, tornando-se ela, para ele, forte surpresa.



Vencida esta etapa do contacto, com a firmeza que obtivemos de que o trabalho irá decorrer com vigor e sem interferências, vamos principiar demonstrando quem somos, na realidade, pois é obrigação nossa fazer chegar ao conhecimento do grupo, em forma de equilibrada composição textual, os males que cometi e suas repercussões nos campos sentimental e intelectual.

Sei que muitos aqui estiveram com a intenção de camuflar um pouco as mazelas do último encarne, pois lhes foi afirmado que a exposição era livre. Eu mesmo estou tendo forte tendência para mistificar a dura realidade de minhas necessidades morais, buscando estender a introdução para além da paciência dos leitores, de sorte a não provocar-lhes muito o interesse pelos eventos que patrocinei. Tudo é disfarce, quando a vergonha das apreciações nos põe de sobreaviso para possíveis revides fluídico-energéticos da parte de quem não tiver boa formação, tal como eu.

Mas, por mais que intentemos procrastinar as informações, sempre haveremos de fazer o nó chegar ao pente, de sorte que não haverá remediar os males que se postam diante da consciência, soberanos, augustos, sobranceiros, como se fossem o que de mais importante possa existir.

Eis que, como todos os que me antecederam, também cometi alguns atos contrários à boa convivência entre os seres, os quais afetaram sobremodo vários dispositivos dos mandamentos das leis do Senhor.

Não matei quem fosse da família, não estuprei parente algum, não roubei qualquer familiar. Quanto às outras pessoas, não posso dizer o mesmo. Se quiserem que seja mais específico, hão de me perdoar a falta de tato e ouvir que minha maldade foi tamanha que consegui enviar para cá, antes do tempo, bem mais de uma vintena de pessoas.

Apesar de tudo, não fui rico nem usufruí qualquer regalia por ter agido com tanta desconsideração pelo Criador, pois agredi as suas criaturas, sem dó nem piedade.

É estranho que, ao me desnudar, não estremeci o quanto temia que fosse fazê-lo, talvez porque esteja fortemente protegido pelas vibrações magnéticas do pessoal, mas não tenho nenhuma vontade de encará-los por enquanto, pois me parece que estão a esforçar-se para manter o tônus energético propício a que continue oferecendo minha contribuição, para o relacionamento que se pretende entre os planos.

Lembram-me a importância deste momento cármico para os socorristas, de molde que prossiga impávido a realizar minha parte dos trabalhos, conforme a programação estabelecida, com a qual concordei plenamente.

Mas não tenho muito ânimo de efetuar comentários paralelos, uma vez que estou profundamente diminuído perante os parceiros, pois não me sinto capaz de minimizar os malfeitos, já que nem todos os conhecimentos evangélicos se fixaram na consciência, para que possa compenetrar-me de que existe, verdadeiramente, perdão para os agressores, quando os agredidos estão vociferando, às portas da instituição.

Eis que um tema surge para que possa discorrer, impedindo-me de ficar a voltear a lamparina, como fascinada mariposa. Bondosos amigos, que deixam transparecer salvadora claridade exterior, para que o inseto possa voar livre, para dar curso à existência!

Como afirmei de início, a minha palavra irá, ainda por muito tempo, sofrer destes reveses da incoerência, pois estou por demais premido de culpas, para poder concentrar a atenção em fatos outros. O mais que consigo fazer é burilar as frases, para preocupar-me com a forma, pois o conteúdo demonstrei com algumas cruas expressões, conquanto, na última hora, ainda pretendesse desviar a atenção dos amigos para a circunstância frásica, como o que estou fazendo neste justo instante, pois não tenho cabedal algum de conhecimento de interesse para os exigentes leitores das obras espíritas.

Será que algum dia irei julgar hilariante esta dissertação tão desencontrada, conforme sugeriram os instrutores, os quais nos trouxeram vários discursos da época em que estavam sob o amparo de seus orientadores, quando se debatiam contra as agudas acusações conscienciais?

Os amigos bem que tentam trazer à baila assuntos que possam constituir-se em derivativo para a dor, mas estou por demais compenetrado das faltas que cometi, tão recente foi a descoberta de que minhas ações foram totalmente erradas e minha vida, completamente falida.

Lembram-me as observações do amigo da comunicação anterior, que exigia dos leitores que não tivessem pena dele, pois seu sofrimento era justo. Do jeito que estou desenvolvendo o meu escrito, dá a impressão de que não compreendi a lição do irmãozinho, pois o que venho fazendo nada mais é do que condoer-me com meu sofrimento, o que pode sugerir aos leitores que a consciência não esteja assim tão pejada de culpas, preocupando-me eu muito mais com as conseqüência dos crimes para mim, do que pelas profundas feridas que provoquei.

Evidentemente, sei bem que devo perdoar os que me perseguem e que devo pedir-lhes perdão, oferecendo-me para o alívio das dores. Mas tal vontade ainda não se formulou plenamente, uma vez que sinto enorme temor de enfrentar os desafetos, não tanto por não julgá-los merecedores de conforto, mas porque acho que terão sua vez de se pronunciarem perante os protetores familiares, de forma que irão obter da existência as mesmas oportunidades que estou tendo.

Dizem-me que minha atitude não está ajudando-me a recompor-me espiritualmente, pois continuo mais preocupado com os efeitos do que em eliminar as causas das vicissitudes. Pedem-me para trabalhar positivamente no aprendizado evangélico, pois minha descrição psicológica não condiz com as normas dos anteriores mensageiros. Pode ter a forma de texto preparado, mas muitos cacos estou fazendo questão de infiltrar, de forma que se está descaracterizando o pronunciamento como rigorosamente conforme às premissas da Escolinha de Evangelização.

Pelo menos, soube reproduzir as primeiras censuras que me estão chegando da parte dos irmãos superiores, de molde a demonstrar aos leitores como se dão as lições em nosso educandário. Se não fui bem no texto, pelo menos não reproduzi integralmente os esquemas vigentes, dando-me a oportunidade de falar bem livremente, de acordo com o combinado. Penso não ter ofendido nenhum princípio evangélico, mas, se o fiz, peço humildemente desculpas, pois não foi essa a intenção. De qualquer forma, deixei claramente expostas as dificuldades e a inferioridade, de sorte que, se alguém achar que tenham sido justas as observações, estará agindo de má fé, para justificar, talvez, as próprias mazelas e maus pensamentos.

Sei que não deveria ter armado semelhante arapuca, pois o pobre pássaro que se aprisionou fui eu mesmo; mas, de qualquer modo, peço para que se mantenha a composição, para evidenciar aos amigos da Terra como são terríveis as penas morais que sofrem os que, pusilanimemente, vergastaram os semelhantes, inconscientes e inconseqüentes para as maldades de que se utilizavam para o efeito dos crimes.

Peço, também, que se respeitem as frases tais quais foram redigidas, uma vez que demonstram eficazmente o desequilíbrio deste ser que, finalmente, começa a reconhecer que não agiu direito em momento algum, procurando, inclusive durante este momento sagrado de psicografia, contornar os deveres, mantendo muitos dos tiques que me obrigaram a permanecer recluso na escuridão por mais de sessenta anos.



Parei para reler o que escrevi e afirmo, com convicção, que bem pouco se salva. Talvez devesse ter-me limitado à abertura, quando agradeci a atenção dos irmãos e lhes desejei a paz de Deus. Que seja este então o lamentável desfecho desta suavíssima tarde mediúnica, quando tantos bons amigos conseguiram executar suas tarefas, ainda mais por terem estado premidos pelas minhas incompreensões e minha voluntariedade.

Que de contrastes está formado o meu espírito!



Pedem-me os orientadores para prosseguir mais um pouco, para não deixar os irmãos suspeitosos de que tenha realmente realizado trabalho tão perverso, pois, na realidade, o texto se apresentou incoerente de propósito, uma vez que era meu objetivo essencial dar noção bastante próxima da intimidade da consciência, sem que, na aparência, esteja tão necessitado de apoio assim.

Querem os amigos que, de certa forma, me retrate perante os companheiros, pois podem ficar extremamente preocupados com tanta insegurança moral, quando os dizeres se compuseram com propriedade e fluência.

É verdade. Utilizei-me de alguns recursos oratórios para evidenciar realidade moral e consciencial de caráter íntimo, pois estou absolutamente seguro de mim e de minhas reações em sociedade. Mas não intentei lograr ninguém. Tenham o relato como peça composta com a finalidade de transmitir conhecimentos e emoções, como se fora eu simplesmente escritor a lidar com determinada matéria. A diferença é que o tônus que impregnei no texto tem o dom de ser verdadeiro, bem diferente destes comentários tão frios e tão racionais, como se eu não fora aquele mas este.



(Não me furto à tentação de ainda agora imiscuir nas apreciações um pouco daquele ser imponderável, psicologicamente descrito na mensagem. Afinal de contas, sou eu ou não que estou a escrever isto?)



Falando absolutamente sério, agradeço ao irmão médium que se atreveu a dar continuidade ao ditado, mesmo após ter percebido que o trabalho não se apresentava nos estritos limites do combinado com a equipe, e envio forte abraço a todos os leitores que se estimularem para a análise e a crítica desta comunicação.

Aos mestres, o meu obrigado por me terem permitido efetuar experimentação que, espero, vá servir-me para entender melhor como se passam os relacionamentos entre os planos. Aos amigos do grupo, desejo que me perdoem o fato de ter realizado algo que lhes irá dar um pouco mais de trabalho, assegurando-lhes total solidariedade, em todos os projetos que vierem a propor em caráter de novidade.

Aproveito o ensejo para pedir-lhes que reiniciem a leitura do texto, a partir deste ponto, voltando tópico a tópico até as primeiras linhas. Quem sabe se poderá descobrir algo mais a respeito deste que lhes dirigiu a palavra.

Fiquem todos na paz de Deus!















12



IMPORTANTES QUESTÕES DOUTRINÁRIAS











Às vezes, enviamos aos médiuns certas noções bastante difíceis de interpretar à luz da razão. Por exemplo, quando chega a hora de sair para os serviços mediúnicos nos centros, freqüentemente os trabalhadores sentem extremo desejo de permanecer em casa, como se houvesse indisposição mental, moral ou espiritual a perturbá-los. É forte a tendência à inação, como se não fora importante ou responsável predispor-se ao auxílio aos irmãos da espiritualidade.

Evidentemente, quando dizemos enviamos, estamos referindo-nos a quem não deseja ver o trabalho ser realizado, não aos componentes destes grupos de estudo, que, algumas vezes, têm testado o mediador, permitindo que tais insólitos desejos de descanso lhe sejam insuflados na alma.

Por outro lado, muitos fazem confusão entre a magnetização, que leva a estado de sonolência sonambúlica, com a involuntária vontade de descansar ou de dormir. Mas é só se acostumar com esse fator do envolvimento mediúnico, para saber que a hora não é adequada para o abandono das tarefas.

Estamos elucidando estes pontos, pois nos parece que é oportuno falar justamente naquilo que o médium está sentindo neste preciso instante. Cumpramos, contudo, o dever de esclarecer que nosso psicógrafo conhece o problema, sendo capaz de distinguir um fenômeno do outro, não se tendo perturbado jamais, a ponto de abandonar o posto, a não ser por expressa recomendação dos protetores. É o que deveria fazer agora, se lhe ditássemos texto pedindo-lhe que durma, para receber informações diretamente, em estado sonambúlico.



Mas não viemos para dissertar a respeito das técnicas e dos problemas que envolvem os fatos mediúnicos. Viemos para demonstrar o nosso valor, para dizer de nossos problemas e para cumprir sagrado compromisso assumido perante o grupo.

Eis que criamos coragem para dizer que hemos feito muitas incursões no âmbito da Terra, para atormentar antigos desafetos, que se encontram fortemente assediados por diversos espíritos. Sabemos que trouxemos da última encarnação várias dívidas, mas, teimosamente, insistimos em só avaliar o que nos pareceu formar grande volume de débitos a nosso favor. Assim, quando fomos recolhidos a esta instituição, para as devidas informações a respeito das leis essenciais da existência, estávamos em pleno exercício de maldade.



Sente o médium forte sonolência, estando a escrever o que lhe ditamos com rapidez, para desvencilhar-se o mais breve possível da influenciação, conquanto os mentores estejam ministrando-lhe os fluídos revigorantes capazes de desfazer qualquer magnetização prejudicial.

Sinto-me bem à vontade para falar a respeito, pois considero-me exímio na arte de desviar médiuns dos compromissos, o que está proporcionando ao grupo excelente exercício de análise do poder de perturbação que podem exercer os maus espíritos, em relação a trabalhadores da seara espírita não totalmente protegidos pelos mentores, em virtude de se desviarem do puro caminho evangélico, para darem curso a alguns sentimentos mais baixos, como sejam os da vaidade, do egoísmo, do orgulho e da presunção de que sejam insubstituíveis no quadro dos auxiliares com que contam os espíritos.

Outra fórmula eficaz para que se desviem os médiuns é dar-lhes ensejo de considerarem o texto anímico ou fraudulento, pois não gostam de saber que estão nas mãos de obsessores, preferindo abandonar o posto, sem atribuírem aos mentores o papel ativo de guardiães dos trabalhos. Esse esquecimento de que existe proteção para os trabalhadores gera distúrbios íntimos, pois os médiuns se sentem ao desamparo, quando, na verdade, são eles mesmos que provocam esse estado de depressão e de desconfiança de que estejam sendo ludibriados, ou mesmo de que estejam favorecendo o acréscimo dos crimes, pois os obsessores estão logrando êxito nas iniciativas.

Se nosso mediador ficasse extremamente preso aos dizeres que vai reproduzindo, talvez até se desestimulasse do serviço que presta, uma vez que iria ter de avaliar cada trecho ditado, perdendo a inspiração, desmagnetizando-se gradativamente, até que viesse a estar paralisado, sem saber mais o que escrever. Felizmente, o irmão está isento dessa atitude, já que se deixa dominar quase inteiramente, oferecendo os seus préstimos de forma quase integral, conformando as vibrações recebidas às idéias que se arquitetam, buscando dar-lhes contextura frásica.

Às vezes, como no presente texto, a terminologia se complica muito, de modo que a nossa influenciação procura ser bastante específica, proporcionando ao irmão condições de escrever bem rápido, para não deteriorar os impulsos que recebe. Imaginem-se os leitores em trabalho mediúnico, a redigir o presente texto, lendo no cérebro os palavras e as frases, que se formam instantaneamente. Não é verdade que teriam um pouco de dificuldade para conceber vocábulos tão precisos, alguns mais raros, outros perto da faceirice literária, a maioria a exprimir com segurança pensamentos que não lhes são do quotidiano?!



Pois aqui está nossa contribuição para os amigos do outro lado da realidade, sempre prontos a assimilar os conhecimentos que lhes são passados deste plano, mas também arredios ao extremo para tudo quanto não esteja conforme às noções codificadas por Kardec, apesar de ter o Mestre Lionês afirmado que o Espiritismo evoluiria, por força do avanço das ciências, o que significa que também pelo melhor desempenho dos médiuns e dos amigos da espiritualidade, já que não seria crível que houvesse avanços ponderáveis em determinados setores, sem que nos demais se progredisse equivalentemente.

Eis que partimos decisivamente para a sugestão de que se façam as leituras mais importantes da codificação, sem esquecer de se dedicarem esforços para o aprendizado das noções mais avançadas dos luminares espíritas deste século, em excelente preparação para os eventos que se seguirão após o desencarne, já que os estudiosos da Terra serão guindados, desde cedo, a protetores e auxiliares dos mentores familiares, para demonstrarem que houve aproveitamento nos estudos realizados. Dessa forma, unirão as duas pontas da corda da vida: a instrução e o amor dedicado à salvação dos companheiros.

Para os que conhecem as diferentes obras das turmas da Escolinha de Evangelização, deve ter ficado bem claro que nos coube a tarefa de insistir junto aos leitores que se empenhem no conhecimento da doutrina, como manifestação dos espíritos e como exploração científica adequada à compreensão da verdade material e da verdade espiritual, na trilha aberta pelo Espírito de Verdade, em O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Cumprida a missão, tendo dado alguma orientação aos médiuns, cujas explicações se encontram desenvolvidas n O Livro dos Médiuns, tendo sugerido que se principiem os estudos pel O Livro dos Espíritos, e tendo deixado bem copiado os nomes das principais obras, para que ninguém se confunda com o direcionamento doutrinário impresso às mensagens pelos orientadores da turma, vamos encerrar a manifestação, agradecendo muito a boa vontade dos companheiros de perseguirem estes dizeres até o fim, cansando-se com os períodos demasiado extensos, os quais fazemos questão de manter assim, para impedir que o mediador possa sofrear os impulsos em meio a alguma importante noção.

Somos muito atrevidos nas colocações e não respeitamos o conceito segundo o qual os dizeres devam ser os mais simples possíveis? Então, sugerimos que os amigos leiam as obras dos confrades Emmanuel e André Luís, para indicarmos as mais importantes transmitidas neste século. Quem sabe ali os termos sejam de fácil compreensão e os pensamentos de rápida assimilação.

É claro que estamos ironizando, pois os autores citados, excelsos espíritos de luminescência extraordinária, embora tragam obras de extrema facilidade quanto à interpretação, também têm manifestações de superior procedência intelectual, as quais, por mais tenham recebido tratamento didático, ainda obrigam os leitores a verdadeiros malabarismos interpretativos, uma vez que trazem conceitos complexíssimos, principalmente para os que não estão habituados ao manuseio das obras clássicas da literatura terrestre.

Haverá quem esteja perguntando se os incultos, se os ignorantes das letras, se os analfabetos, se os pobres e humildes possam ter acesso às esferas seguintes da evolução, sem se dedicarem a estudos tão profundos, mas tendo o coração boníssimo, sempre favorecendo o crescimento e a regeneração dos companheiros? Pois incluam-nos nesse rol de perquiridores, pois não nos atrevemos a desafiar qualquer rodeio argumentativo que nos queira provar que os estudos não sejam necessários ao progresso.

Para encerrar, devo dizer que, de todos os encarnes de que me lembre, somente avancei naqueles em que parei para refletir a respeito da vida, inquirindo as verdades diretamente da natureza ou integrando-me a grupos de estudiosos, para a facilitação das pesquisas e das discussões a respeito das conclusões. Nos outros, apesar de muito haver feito por amor de determinados seres, somente consegui amealhar mais força de vontade para prosseguir dedicando-me à compreensão da existência, o que não obtive senão quando me pus a examinar detidamente os fatos da vida, à luz dos conhecimentos das leis superiores, que ia conseguindo decifrar a custo.

Haverá, pois, maior facilidade para uns, quando para outros as coisas decorrem com extrema lentidão e à custa de tantos esforços?

Eis que, como último argumento, apresento a leitura deste texto, que deverá estar sendo descodificado com rapidez por alguns, enquanto outros quebram a cabeça para perceber as intenções ocultas, como se para tudo pudesse haver duplo sentido. Entrementes, grande cópia da população sequer se move no sentido desta leitura.

E assim a vida vai tendo o seu curso, independentemente das opiniões e das certezas, pois as convicções são íntimas e a experiência jamais foi ou será transferível. Valha-nos esta última reflexão, para colocarmos mais um problema diante dos leitores. Mas oremos, para que nem tudo na vida seja enigmático, nem que os sentidos ocultos nos levem às tragédias da percepção de que não agimos de acordo com as leis, segundo a lição da dramaturgia helênica clássica.

Foi intenção nossa complicar bastante o texto, para o que pedimos desculparem-nos. Foi uma injunção que estabelecemos, para possibilitar que se espelhassem aqui os problemas existenciais. Se fomos ou não bem sucedidos, irá depender exclusivamente da opinião dos amigos, aos quais agradecemos, desde já, a boa vontade da leitura.

Neste instante, cumprimos o dever de dizer que o médium se encontra quase inteiramente acordado, estando a redigir estas últimas frases quase por impulso lúcido da consciência. Eis como se fecha o círculo das observações.

Fiquemos todos nas sábias mãos do Senhor!















13



APRENDENDO A REZAR











Fiquemos quietos perante o Senhor. Embora tenhamos muita vontade de dizer tudo o que se nos acumulou na alma, mantenhamos a confiança em que o Pai saberá ver nos refolhos mais íntimos da consciência. Ao contrário, se intentarmos falar algo, talvez não expressemos convenientemente as virtudes que gostaríamos de apresentar como inerentes à personalidade, acabando por dar inequívoca demonstração de falsidade, de malignidade ou de hipocrisia. É preferível, portanto, manter-nos quietos, aguardando que brote intensa alegria interior, de forma que, quando percebermos que estamos adentrando estado de êxtase ou de felicidade perante a existência, aí saberemos estar sendo abençoados com as divinas graças.

Eis o nódulo em que se enroscam quantos desejam exprimir os sentimentos através das palavras. Haverá, muitas vezes, necessidade de que exaltemos a Divindade, pelo muito que nos proporciona a todo momento, mesmo porque existem momentos em que a prece coletiva ou os cantos corais devem fazer-se ouvir, para que as vibrações se juntem, fortalecendo as iniciativas tímidas dos pobres seres humanos, ainda tão apagadinhos diante da refulgência dos espíritos superiores. Então, que os poetas e os compositores mais inspirados se unam, para a elaboração do pedido em prece e em música, para que se possa sair desta vida material exalçando a espiritualidade, mesmo correndo o risco de alguns não conseguirem jungir-se à maioria, dada a sublimidade do momento.

Estamos isolados, não temos templo nem santuário. O lar é humílimo e a capacidade se vê obumbrada de séria ignorância. Mas temos a convicção de que Deus é pai e de que precisamos externar os agradecimentos pela compaixão que sentimos pela nossa inferioridade. Quantas vezes não estamos desesperados com as doenças e, de repente, sentimos o ânimo rejuvenescido, acreditando que estejamos passando por difíceis momentos por termos necessidade disso! Quantas vezes nos vemos nas mãos dos inimigos, sem possibilidade de reação, e conhecemos a intemperança deles nas injustiças que nos causam, mas sabemos que, se assim agem, certamente será em revide de atitudes nossas em seu prejuízo, ficando na expectativa de que os males venham a ser sanados, perdoando os que estão a cometer contra nós, para que venhamos a ser perdoados por nosso turno! Quantas vezes sentimos a presença de Deus, quando nos atrevemos a dirigir pensamentos em favor dos irmãos em débito para com a divina justiça, clamando por eles, para que venham a ser auxiliados na vitória sobre os males, para que venham a poder penetrar em glória o reino do amor e da verdade! Quantas vezes desfalecemos inoperantes diante da miséria e dos crimes, mas convictos de que, mais dia, menos dia, tudo se ajustará maravilhosamente às leis sagradas que equilibram o universo, apesar de nos vermos vencidos pelas circunstâncias! Quantas vezes pomo-nos diante do Pai para rogar-lhe clemência por atos falhos, até quando apaniguados somos por lucidez acima do comum, o que nos dá a facilidade de aprender os mandamentos das leis e as fórmulas invioláveis das virtudes, por nos sabermos humanos e falíveis, mas com aquela centelha de divindade que nos põe ativa a consciência e que nos fala do bem e da existência ao lado de Jesus!

Pois aí estão momentos em que olhamos para o céu em busca de alguma claridade, de pequeno raio de luz que nos oriente, para que saiamos à luta revigorados, plenos de amor e de felicidade, conhecendo as limitações dos encarnados e dos espíritos amigos que nos protegem e ajudam. Se tivermos palavras para traduzir expressivamente os sentimentos, digamo-las com o coração na mão, trêmulos de medo, porque o erro é quase fatal, já que não somos perfeitos. Se, porém, julgarmos que os dizeres poderão estar eivados de orgulho, de vaidade, de egoísmo ou de qualquer outro sentimento menos digno, aí é preferível que nos calemos e quedemos genuflexos perante o Senhor, rememorando os pontos que nos prostraram perante o Pai, para exaltá-lo, para agradecer-lhe os favores, para solicitar-lhe o perdão dos malfeitos ou a cura dos doentes, para receber dele os avisos que nos comporão perante as divinas leis, fazendo-nos compreensivos e afáveis.

Eis que este pobre espírito teve de explanar, de forma tão desarrazoada, a respeito do tema da prece, talvez porque tenha sido exatamente essa a principal falha de meu caráter, neste último e nos anteriores encarnes.

Era religioso, mas não tinha verdadeira fé. Rezava, mas não pedia: exigia. As palavras diziam uma coisa; os sentimentos demonstravam outra. Queria ser humilde, mas era prepotente. Queria ser simples, mas era arrogante. Queria dizer diretamente, mas corria a volta toda dos pensamentos sem referir-me ao principal, com certeza porque não gostasse de me ver despido e sujo perante as forças da espiritualidade. Aceitava os favores dos santos, mas não refletia a respeito dos exemplos extraordinários de vida. Enfim, desejava aparentar-me bom, mas era simplesmente horroroso.

Cheguei a pedir pela falência dos inimigos, como se tal solicitação fosse resultar em crescimento espiritual para mim. Conhecia a letra da lei, mas não lhe compreendia o espírito. Jamais cheguei a ter qualquer arrepio de vergonha ou de arrependimento. Confessava os pecados, solicitava o perdão de Deus, mas acreditava que deveria recebê-lo até quando não me referisse a algumas mazelas que me diminuiriam diante do confessor. Em suma, fazia justamente o oposto do que estou a revelar agora, apesar de me sentir muito mal, baixando muito a qualidade da freqüência vibratória, a qual só se mantém pelo ferrenho trabalho dos irmãos que me sustentam magnetizado.

Pois, neste estado de inferioridade, ouso soerguer o olhar para o Alto, em busca do Senhor, para agradecer-lhe este dia, em que me senti, finalmente, com coragem suficiente para vir demonstrar minha necessidade de crescimento. E para rogar pelos irmãos que se debatem nas trevas da ignorância e da dor, onde os sofrimentos se fazem obsessivos, a ponto de obscurecer a visão da existência, cegando para a bondade e para a misericórdia infinitas do Pai. E para exaltar a criação deste mundo maravilhoso, onde é possível entrever que o progresso se dá para todos os que se dedicam ao estudo e ao auxílio dos sofredores.

Muito obrigado, Senhor!

Que a pequeníssima prece consiga convencer os irmãozinhos a que se deixem envolver pelas sublimes informações que retransmitimos, a partir de determinada aula que ouvimos de palestrante de esfera superior, especialmente evocado para demonstrar ao grupo que o bem existe e que se encontra justamente no local em que o pomos, quando, por amor a Deus, abraçamos carinhosamente os que estão ao lado, a precisar de nosso ombro para se conformarem às vicissitudes, por força da compreensão das veneráveis leis do amor, da caridade, da benignidade, da benemerência, da justiça, do perdão...

Caberia deixar escrita longa prece em que os sentimentos pudessem expressar-se condignamente, mas resumiremos todas as verdades morais, sentimentais, intelectuais e espirituais, simplesmente recomendando que se realize a prece dominical, empenhando-nos por demonstrar total gratidão pelo trabalho que nos é atribuído, pelo amor dos familiares, pelo progresso que a cada momento estamos vivenciando. Recolhamo-nos para a saudável prece, concentrando as vibrações em algum nobre objetivo, para que a energização do ambiente atinja os irmãos lembrados por nós, para que se sintam bem e saibam que estão sendo agraciados pelas bênçãos do Senhor.

— Pai nosso, que estais...















14



APRENDIZADO ESPÍRITA NO ALÉM-TÚMULO











Desde que deixei o plano terreno, senti-me abandonado, tantos foram os laços que me prenderam a inúmeros seres na Terra. Aqui, encontrei alguns amigos, mas todos extremamente ocupados com suas tarefas, a ponto de até suspenderem os contactos que eu intentava, dando por desculpa a falta de tempo. Alguns me aconselharam a procurar este pessoal, de sorte que aqui estou, dando cumprimento aos trabalhos determinados, sem estar totalmente convicto de que seja isto o que melhor corresponde aos meus anseios.

Já me disseram que será preciso dar tempo ao tempo, pois não irá ser de um momento para outro que os companheiros virão ter a mim, principalmente porque parti muito cedo, com pouco menos de vinte e nove anos de idade.

O mais interessante da partida foi que não reclamei de ter deixado os parentes e amigos, mas sim o fato de não ter encontrado aqui quem os substituísse, uma vez que tinha formação espírita e sabia que, pelo menos, alguns tios mais antigos deveriam entreter-se com o aprimoramento de minhas disposições mentais, por força do socorrismo familiar, que sempre vi pregado nas sessões de estudo e até por muitos doutrinadores e doutrinados, que via manifestarem-se nas noites de mediunidade.

Como estou muito cru neste aspecto, vão informando-me que, a partir de novas amizades e de novas responsabilidades, irei montando forte quadro de relacionamentos, o que não me atemoriza nem um pouco, dado que tenho facilidade em prender as pessoas bem juntinho a mim, tanto que sofri muito com o desespero dos que deixei, sem, contudo, sentir-lhes profundamente a dor, como se tudo fosse sepultado pelo tempo, da mesma forma que meu cadáver havia ficado sob a fria lápide.

Não desejei voltar a reencontrar-me com os encarnados, pois me parecia que bem pouco tinha a oferecer-lhes, evidentemente por serem espiritistas ferrenhos, conscientes de que tudo de bom estivesse acontecendo comigo. Talvez por isso, nunca tivessem evocado a minha presença nos centros espíritas, o que me deixou intrigado, a princípio. Finalmente, acabei rejeitando a idéia do esquecimento, tendo em vista o quanto de lágrimas deixaram derramar, por causa de meu trespasse.

O médium deseja saber se fiz algum estágio nas trevas do Umbral.

Não sei dizer se onde estive era o que os antigos chamavam de Inferno, mas a verdade é que precisei purgar algumas desconsiderações que tive em relação ao Pai, pois não julgava justas muitas das condições de sofrimento em que via imersos vários companheiros mais pobres do centro, principalmente porque não tinham sequer instrução para entender a mínima leitura que fazíamos para eles. Eu me deixava desesperar e promovia muitos cursos, para ver se se integravam na doutrina, pois tudo o que recebiam de nós deveriam saber como agradecer, ou seja, comportando-se de acordo com as recomendações dos mentores e dos dirigentes, bem como trazendo os parceiros de vida e demais familiares, para a confraternização em torno da mesa mediúnica.

Entretanto, ficava furioso com o descaso que faziam dos nossos auxílios espirituais, ficando por ali somente enquanto iam tirando proveito dos presentes que lhes dávamos. Quando viam que nos íamos desinteressando, porque não conseguiam progredir, procuravam outro centro, dizendo-se enviados pela nossa turma, pois já repetiam alguns conhecimentos de cor, sem que tivessem qualquer noção que, da aplicação deles, é que tirariam o melhor proveito.

Quando percebi que minhas atitudes não haviam sido exatamente as recomendadas pelo Cristo em seu evangelho de amor, pus as mãos na cabeça. Foi aí que notei que estivera durante muito tempo sozinho, sem assistência alguma. É claro que agora consigo perceber que muitos amigos me enviaram fluidos regeneradores, para que pudesse atinar com meus desavisados argumentos. Contudo, ao retornar para este pouco de luz consciencial que estou recompondo, não encontrei o pessoal tão interessado em homenagear-me as condições cármicas, conquanto me mantivesse íntegro discípulo dos mensageiros da Luz.

Sempre desejei atenção especial. Talvez tenha sido por isso que os responsáveis pela minha recondução ao caminho da redenção se tenham afastado quase completamente, limitando a uns poucos conselhos a conversação comigo. A bem da verdade, devo dizer que, durante vários anos, me recusei a aceitar tais sugestões, tão compenetrado estava dos estudos realizados durante o encarne.

Somente aceitei participar deste grupo, quando percebi que estava afastando-me dos companheiros que me poderiam amparar, apesar de não dispostos a me elogiarem o desempenho na última jornada. O que me deixou mais sentido, é bom que informe, foi o fato de ter voltado para este plano crente de ter feito o melhor possível. Estou até aguardando que outros membros daquela diretoria deixem a carcaça e entreguem a alma aos cuidados do Senhor, para com eles conversar a respeito das frustrações que sentirão, talvez até com o intuito de reformular a nossa posição diante do movimento espírita brasileiro.

Vejam que não estou habilitado a criticar nem o que, nem a quem quer que seja. Pelo que descrevi, deve ter ficado evidenciado que o culpado das incompreensões relativas ao trabalho que desempenhei fui eu mesmo, e ninguém mais, pois nos encontrávamos inteiramente imbuídos de que o melhor para todos era fornecer alimentos e agasalhos aos que viessem solicitar. Algumas vezes, estivemos em visita a orfanatos e a hospitais, mas, tendo em vista termos sido muito mal recebidos, desistimos desse tipo de assistência, resumindo a atuação a pungidas preces em favor desses pobres coitadinhos, sempre no sentido da compreensão que os protetores deveriam levar-lhes à consciência, para melhor se afeiçoarem às provas e expiações que lhes dariam salvo-conduto para o regresso às paragens espirituais, de forma que poderiam, desde logo, freqüentar os educandários, para avaliarem com justeza o quanto haviam progredido e o que deveriam providenciar para continuarem evoluindo.

Vejam o quanto de amor deveria haver em todas as atividades. No entanto, parece que não alcançamos tornar os sentimentos despojados de certa vaidade, de certo orgulho, de certo egoísmo (as três palavras chaves de todas as desgraças humanas). Sabíamos o que nos era pedido e fazíamos por cumprir as obrigações, mas sem aquele entrosamento afetivo entre os seres, que deveriam, antes e acima de tudo, considerar-se iguais perante a Divindade, por justiça da criação.

Estou fazendo questão de mencionar exaustivamente o ponto em que errei (quase colocava erramos, tendo em vista que vários parceiros presentes confirmam que também incidiram nas mesmas falhas), porque acho que alguém deve ter a coragem de pressionar um pouco mais os companheiros integrados ao movimento espírita, especialmente porque muitos vão especializando os atendimentos (iniciativa louvabilíssima), sem o correspondente emprego das normas do amor, da caridade, da comiseração, como produtos originados das fontes perenais da consciência elevada pelos padrões evangélicos.

Fazer por desencargo de consciência, dando um pouco do muito que se tem, na ilusão de que a recompensa virá aleatória, sem a devida ponderação dos mentores a respeito dos verdadeiros interesses, será, certamente, atitude que refletirá muito mal no pensamento de quantos se sentirem frustrados no momento do retorno. Assim, talvez seja até preferível não participar de todos os trabalhos do centro, limitando a atuação àqueles que verdadeiramente trouxerem a satisfação íntima do dever cumprido.

Em suma, que minha autoridade de ser em grande aflição tenha algum valor perante os amigos espíritas que estiverem lendo estas muito mal formuladas concepções. Entretanto, podem ficar sabendo os que estão ameaçando vislumbrar incúria na maioria dos que participam desse movimento de caráter universal que, se não tivéssemos realizado os inúmeros auxílios mediúnicos e materiais, talvez ainda agora estivéssemos revoluteando a mente, para descobrir o que nos deixou abandonado nas profundezas tenebrosas do báratro, sem atinar que teria sido a falta completa da caridade, do amor e da boa vontade. Sempre haveremos de exaltar os que se movimentam em prol dos semelhantes, mesmo que sem a felicidade de total adesão da parte destes aos princípios espíritas, pois os que nada fazem também não encontram ninguém a fazer por eles, no plano da espiritualidade, não tanto pela falta dos protetores, mas pela necessidade da purgação em sofrimento da ausência de tirocínio existencial, já que o que se deu foi imenso desprezo pelas regras que institucionalizam o encarne junto aos grupos familiares.

Fora da caridade não há salvação.

Fazemos questão de destacar o iluminado dístico kardequiano, para que se venha a refletir mais profundamente a respeito do que existe por trás de tal axioma.

— Que é caridade? — eis a pergunta que estamos propondo, enfim, com todo este arrazoado em torno de nossos dissabores, de nossos sofrimentos, de nossos desajustes. — Como exercê-la condignamente? — eis o corolário imprescindível, para que haja perfeita compreensão da melhor realização de vida.

— Mas — perguntarão os amigos — para se cumprir tal mandamento, haveremos de estudar os princípios morais subjacentes? Será que não é suficiente amparar os que sofrem? Não estaremos fazendo o tempo passar, enquanto nos dedicamos a tal compreensão, dando oportunidade a que as doenças e as misérias se acumulem?

Era tal a afirmação que fazíamos, tanto que somos capazes de reproduzir a dúvida com muita sagacidade. Contudo, haveremos todos de concordar com que o trabalho deve ser lúcido, executado segundo os padrões estabelecidos pelos princípios evangélicos e de acordo com as orientações dos mentores e demais protetores espirituais, os quais, a partir de Jesus, não se cansam de repetir-nos que não sejamos mesquinhos, que não tenhamos segundas intenções, que não nos espojemos na hipocrisia de quem maliciosamente pretende ganhar o céu, administrando os bens terrenos.

Se obtivermos dos irmãos que recebem os alimentos e agasalhos anuência para ouvirem as pregações, saibamos perdoar-lhes as fraquezas de entendimento das verdades que estamos a lhes reproduzir, muitas vezes até inconscientes para o fato de que não terão elementos com que confrontar os conhecimentos, estando nós a jogar as sementes por sobre os espinheiros, por sobre as pedras, debaixo de forte insolação. Se a semeadura deve fazer-se, que se faça de maneira que os frutos resultantes possam servir a todos, inclusive aos semeadores, que não devem aguardar dos demais que sejam perfeitos, sendo eles mesmos bastante desqualificados. Enfim, que o primeiro elemento formador da personalidade espírita se estabeleça firmemente sobre o rochedo do perdão, para que possamos aprender a ouvir as lições do Senhor.

Mas não nos queiram mal por estarmos a repetir o que a voz da consciência não se cansa de repetir a nós mesmos. Aceitem o argumento de que estamos cumprindo simples missão escolar, e não queiram sentir as orelhas puxadas, pois o que menos desejamos é repetir a falta de tato com que ministramos os parcos conhecimentos evangélicos aos forçados ouvintes que arrebanhávamos pela contingência das necessidades. Entretanto, se servir-lhes a carapuça, ajoelhemo-nos perante o Pai e agradeçamos-lhe a ventura de termos despertado bem a tempo para a reflexão essencial que estávamos deixando de lado. Façamos um pouquinho também por nós, sacrificando algumas das concepções mais arraigadas no espírito, na busca de verdade mais íntima, aquela que está na base da consciência profunda.

Mas não sejamos demasiado ingênuos, acreditando que o movimento resultante da meditação, por si só, venha a oferecer todos os subsídios para a melhoria. Desconfiemos continuamente de que estejamos sendo um tanto esquerdos, pois é dessa humildade que estive necessitado durante todo o transcurso do encarne e durante o período em que passei matutando a respeito das atitudes.

Para encerrar, oremos aos protetores, para que nos auxiliem na busca de nós mesmos e clamemos ao Pai mais luz para os trabalhos socorristas.

Agradeço profusamente ao mediador e peço-lhe perdão por ocupá-lo durante tanto tempo. Façamos de conta que este trabalho tenha algum mérito e que vá alcançar algum amigo necessitado destas palavras.

Aos mentores, meu abraço mais comovido, pois termino esta manifestação bem mais animado do que quando principiei, mais convencido dos dizeres que me foram soprados ao nível da consciência, crente de que estou integrando-me neste grupo de seres de mesmo ponto evolutivo, conforme as promessas que ouvi no ato de matrícula.

Agradeço ao Senhor as oportunidades que me tem proporcionado de refletir a respeito da verdade cármica, e humildemente me despeço, rogando ao pai que nos abençoe a todos.















15



SOB O PRISMA DA RELIGIOSIDADE











— Bem feito! Bem feito! Bem feito!... — repetia eu, execrando a mim mesma, por ter sido teimosa em não observar, no último encarne, as leis maiores da religião.

Era da Igreja Católica Romana, devota de São Crispim, mas não me compunha com o santo. Antes, preferia invocá-lo, muitas vezes em nome até das pessoas que eu ia como que massacrando com minha volúpia de preponderância.

Mas, na igreja, deixava as espórtulas bem gordas, sempre pronta para auxiliar nas campanhas em prol das ampliações do santuário, para as reformas e para as benemerências. E não só dava do muito que me sobrava, como também trabalhava com denodo, tanto que era tida como mulher do padre, respeitosamente, pois todos conheciam minha família e a honradez de minha casa.

Mas o confessionário aceitava os meus balbucios, com medo de ter de revelar os pequeninos crimes conjugais que me atrevia a realizar com meu marido. Sabia do rigor das leis que controlavam o sexo pelos religiosos e tinha verdadeiro pavor de estar em pecado mortal, quando me desviava um pouco da linha tradicional estabelecida pela igreja. Na verdade, ainda não sei se existem regras oficiais, pois o que me era passado se dava no confessionário, quando era advertida pelos sacerdotes a respeito da conduta, a qual era tida como viciosa e castigada com intermináveis rosários, à guisa de penitência.

Bem cedo, no etéreo, percebi as falácias e os engodos em que caíra, tanto que os padres que me antecederam estavam em condições bem inferiores às minhas. Por isso, até precisei acudir a alguns deles, já que entendia muito bem o sentido de suas pregações, no vazio das prisões em que se mantinham reclusos, por força de não admitirem estar relegados a condições de absoluto desprestígio, perante as forças espirituais que pensavam imperar no Paraíso. Viam-se no purgatório e se conservavam esperançosos de, uma hora ou outra, merecerem a salvação, diretamente para a graça do Senhor, sem se esforçarem em nada para o arrependimento das falhas interpretativas da realidade.

Eu mesma permaneci encarcerada durante longo tempo, mas fui assistida por alguns bondosos anjos de Deus, que assim apareciam naquela ocasião, com certeza para se imporem com autoridade diante de mim. Tão logo fui trazida para este campo de melhor luz, revelaram-se espíritos até que bem comuns, muito parecidos comigo, só que sem estarem revestidos dos andrajos em que me via.

Aos poucos, fui meditando a respeito das verdades que me ensinavam a respeito da existência, até que admiti, finalmente, ser só um espírito em busca da felicidade de luz que me reconfortasse, para voltar a empreender a caminhada rumo à casa do Pai.

Mas os primeiros cuidados foram relativos aos pecados que confessava aos padres e que não me deixaram jamais tranqüila, porque não me arrependi nunca do que fazia, repetindo os mesmos dizeres, buscando trocar de confessores, sempre que possível, para não incidir em sua fúria.

Talvez isso me deixasse insegura quanto aos relacionamentos familiares e mesmo sociais, de forma que tentava impor-me perante todas as outras pessoas com extrema força de caráter, como se estivesse imaculada diante do Pai. Criei, assim, espessa couraça e soube decorar certas expressões carolas, com as quais enfrentava todos os adversários da religião, mesmo que fossem pequenos pecadores impenitentes, que via mendigarem de Deus um pouquinho de conforto material e espiritual.

Foi assim que dei de Virgem Imaculada, de Filho de Deus, de Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, de Deus dos Exércitos e quejandas expressões que soem desnortear os que não estão firmes religiosamente. Mas esta fase das recordações são menores, diante do que considerava o grande pecado da existência. Isto, na carne.

Estranhamente, durante a estadia na escuridão, não pensava muito nessas coisas do sexo, mas nas pessoas e nos acontecimentos em que nos envolvemos em discussões e querelas sem muito sentido, exigindo eu que todos agissem consoante as normas mais elevadas das leis morais, que via serem desvirtuadas a cada momento.

Não admitia, por exemplo, que as mulheres viessem confabular comigo a respeito de temas de comadres, puras fofocas a revelar pequenas mazelas de infelizes pecadoras, quando mal haviam terminado de comungar, recebendo a hóstia consagrada como corpo do Cristo. Ficava furiosa e atacava as pobres irmãs, como se representante fosse dos terríveis inquisidores.

Mas tudo foi apagando-se lentamente da memória, de forma que as preces acabaram por vencer as resistências contra o fato de estar debatendo-me em dores e sofrimentos. Acabei ajuizando que Deus é misericordioso e que tem o perdão supremo para os filhos arrependidos. A partir de então, fui purificando os pensamentos, a ponto de só me lembrar da alegria de que era tomada quando via o prédio do templo recebendo as melhorias pelas quais me empenhara de coração.

Sou capaz de perceber agora que muitos serviços que prestei se tornaram absolutamente inoperantes para o progresso da alma, mas devo ressaltar que, se não melhorei, também não piorei, pois fui levando em conta que nem tudo estava em mim perceber de errado nos ensinamentos que recebia do púlpito e no confessionário. Se houve malícia, no sentido de que trabalhava pela salvação de minha alma, também intuí que fui direcionada para isso, dentro de casa e na escola e pelo resto da longa jornada.

Quando tive as primeiras entrevistas com o orientador nesta Escolinha, fiquei sabendo que poderia contestar os dogmas que outrora entendia perfeitamente verdadeiros. Mas isso para mim era sinceramente tido como pecado capital, a me arremessar, eternamente, no inferno. Quando alguma idéia de rebelião doutrinária sequer se formulava na mente, corria para o confessionário, para contar ao padre e dele receber a competente bênção absolutória. Não havia, portanto, como me deixar envolver pela lucidez das idéias correntes na doutrina espírita.

Aliás, fugia dos irmãos que freqüentavam os centros, como o diabo foge da cruz. Tinha tanto medo deles, que nem me atrevia a lançar qualquer palavra de desconsideração pela sua fé, ao contrário do que fazia em relação aos evangélicos e demais seguidores de outras religiões. Justamente no que se referia aos irmãos mais corretamente informados, é que não tinha ânimo de refletir sobre a possibilidade de estarem certos.

Lamentavelmente, venho desenvolvendo estas idéias um tanto fora de propósito, diante do muito de sabedoria real que fui capaz de absorver ultimamente. Talvez este discurso não revele inteiramente os problemas que fiel devota de São Crispim possa desenvolver. Mas, certamente, ficará bem mais fácil de entender o quanto pode representar em benefício do crente o fato de se atrever a um forte envolvimento com a benemerência, mesmo quando não exercida cem por cento com o sentido do amor aos semelhantes.

Tento agarrar-me neste aspecto, pois estou infeliz com as providências que tomei em relação aos filhos, já que todos estão caminhando de acordo com o mais obtuso catolicismo, aquele que só vê as exterioridades da religião, pois se dão integralmente aos aspectos materiais da vida, não exercendo sequer a mesma caridade, porquanto não se estimulam às generosas doações que fiz. Aliás, tais doações feriram as consciências de meus descendentes, que lamentaram profundamente o desperdício de verdadeira fortuna aplicada nas paredes frias de dois templos que subsidiei, por força de me ver livre daqueles pecados declarados de início.

Houve época, no báratro, que desconfiei de haver estado nas mãos de alguns sacerdotes gananciosos, tanto que os procurei para avaliar se os instintos estavam corretos. Foi o período mais penoso, pois eles sentiam as minhas expressões como acusações e reagiam violentamente contra mim, procurando defender-se como podiam. Essas decepções tiveram muito a ver com as reflexões a respeito das verdades religiosas incrustadas na mente.

Mas não quero deixar a impressão de que ainda agora esteja muito infeliz, sem saber exatamente o que fazer relativamente aos sofrimentos que a dedicação à igreja involuntariamente me proporcionou. Estou muito bem, compreendo os serviços que me são determinados, já visitei os meus descendentes e o marido — que contraiu novas núpcias após meu desencarne, já que era vinte anos mais novo que eu — e estou aprendendo o sentido exato do verbo perdoar.

Aqui no etéreo, consegui restabelecer os contactos com a maioria dos familiares, mas não tenho permissão de desenvolver este aspecto das aventuras, já que me foi determinado o tema da influência religiosa sobre o desenvolvimento espiritual.

Quero pedir perdão por não ter oferecido nada substancioso, apesar da grande ajuda recebida do grupo e do mediador, principalmente deste último, que traduziu as vibrações em palavras que eu, com certeza, não diria. Contudo, nem mesmo assim fui capaz de elaborar bom relato, que contivesse, com rigor, o desencadeamento da lei de causa e efeito, pois muitas explicações ficaram no ar, precisando os amigos leitores quebrar a cabeça para perceberem o que, na verdade, me levou a este ou aquele procedimento. Principalmente, não deixei muito claro em como fiquei prejudicada pela tentativa de ascendência sobre as demais pessoas da família, embora tivesse determinado o quanto estive obsidiada por idéias de revolta contra mim.

Neste aspecto, procuro justificar as reações dos descendentes à luz dos ensinos que recebi neste educandário, mas não consigo alinhavar os pensamentos, quando vejo os familiares aceitando ganhar o céu através do pagamento dos dízimos, conforme eles mesmos se atrevem a declarar. Ah!, como é bem mais fácil de avaliar as pessoas do lado de cá!

Que este último aviso possa servir para algum leitor que tenha tomado a mensagem para espairecer o espírito!

Não me deixam despedir-me, sem que agradeça a todos pelo esforço que vêm fazendo em atender-me nas necessidades. Muito obrigado aos irmãos do grupo, ao médium e, principalmente, aos mentores e professores da Escolinha de Evangelização.

Oremos para que recebamos as bênçãos sacratíssimas do amor do Pai.















16



UM PAI MAIS OU MENOS











Nem bem havia chegado de volta da Terra, quando fui chamado a presenciar sério litígio entre meus descendentes, a respeito da herança que deixei sem repartir.

Pode parecer esquisito que esse tenha sido chamamento cármico, mas, na verdade, foi um dos meios que os protetores acharam para me demonstrar que havia sido culpado pela péssima formação dos filhos.

Claro está que não me envolvi nos conflitos, a não ser para dissuadi-los das ásperas represálias que estavam programando. E isto não porque eu estivesse lúcido a respeito das responsabilidades, mas porque achava que meus sofrimentos atenuariam se conseguisse harmonizar as partes.

Nunca, entretanto, houve reconciliação. Mesmo agora, que já me afastei da face da Terra, tendo curtido a dor das culpas, os coitados estão querelando por propriedades que não propiciaram distribuição eqüitativa. Há acusações mútuas, mas estou sendo cada vez mais inocentado, pois vão tomando consciência de que, se eu houvesse feito a partilha, haveriam de se julgar igualmente injustiçados.

Mas a minha vida não foi só formada de maldades e crimes. Aliás, só fui ficar convencido das atitudes errôneas, quando me inteirei dos males que causei aos outros seres. Na minha opinião enquanto encarnado, jamais admiti qualquer deslize de procedimento, considerando-me até superior à maioria, que via envolta em ignorância, em crimes e em vícios.

Mas não quero estender-me demasiado em torno de ponderações sobre os efeitos maléficos de determinadas posturas sociais, produzidas como os automóveis, ou seja, em série, como se fossem todas estampadas na mesma forma.

Quero, sim, referir-me ao bondoso ministério dos socorristas que, alheios às minhas péssimas qualidades, envidaram esforços magnânimos para me situarem bem perante a espiritualidade. Não fui arremessado ao báratro, pois dei oportunidade a treze criaturas de viverem às minhas expensas, sendo algumas órfãos que criei com o máximo carinho. Aliás, a maior divergência entre os filhos se deu na distribuição dos bens aos que acolhi, sem deixar papéis passados, mas a quem dei condições de sobrevivência tranqüila, através de profissões nobres e rendosas.



Não queria falar da vida e aqui estou retornando inconscientemente.

O pessoal me informa que não devo ficar preocupado com a formulação deste texto; que devo, sim, dar vazão aos pensamentos, mesmo que fiquem até certo ponto incompreensíveis.



Pois fui atendido nesta Escolinha com muito carinho. Desde que cheguei, pude notar o alto interesse de todos em que me sentisse o melhor possível.

Fiz, de início, breve estágio em câmara de recondicionamento perispiritual, para sanar algumas deficiências, onde fiquei sabendo que estava — tendo em vista meu assentimento — comprometendo-me com a turma, no sentido de tornar-me um deles, ou seja, que tudo o que estava recebendo deveria devolver a novos elementos necessitados, não forçosamente ao pessoal da família.

Achei justo que houvesse este tipo de instituição e me propus a trabalhar desde logo. Recebi de pronto a informação de que não me habilitara ao socorrismo tão-só por me achar bem psíquica e fisicamente. Foi aí que me fizeram compreender que deveria vir dar lustro nos bancos escolares, por um bom tempo.

Cumpro a tarefa da descrição do ego, como se viesse treinar humildade, através da humilhação deste testemunho de inferioridade.

Não se pense que, no parágrafo anterior, haja qualquer recriminação ao sistema. Mas acho que poderia ter merecido um pouquinho mais de treinamento, já que estou passando por instantes de muita vergonha.

Dizem-me que sairei daqui bem melhor, pois serei instruído a respeito de todas as reflexões que estiver em condições de fazer.

Como primeira evidência do fato, já posso entrever como estou sendo amparado na reprodução das idéias e nas observações que me estão passando os instrutores.

Isto é bem verdade. Sendo assim, pretendo prosseguir mais um pouco, comentando a escrita em si, pois me parece que alguns de meus sentimentos também vão ficando mais ou menos expressos, não totalmente, porque não preparei o discurso antecipadamente, tendo recebido a orientação de que iria psicografar a respeito dos primeiros problemas que tive de enfrentar, logo que retornei.

Considero, porém, de muita responsabilidade esta mensagem, pois temo que, da nebulosidade de meus pensamentos, possam extrair os leitores ilações de hipocrisia, mentiras ou meias verdades, na melhor das hipóteses.

A propósito, devo afirmar que existem muitas limitações, a maior de todas a impossibilidade de relato minucioso, não só por impossibilidade física do escrevente, como por ser absolutamente impróprio para o extrato que se pretende. Assim, a condensação corre o risco de não traduzir todos os aspectos relevantes de minha existência, mesmo porque não acredito possuir discernimento suficiente para expor os fatos realmente mais importantes, senão aqueles que as dores e sofrimentos apontaram no primeiro instante.

O que estou querendo dizer é que, talvez, venha a descobrir, através de análise mais eficiente, mais inteligente, mais adequada e cientificamente formulada, outros mecanismos intelectuais ou morais que tenham desencadeado as iniciativas dolorosas que tomei em relação aos semelhantes.

Pedem-me para reproduzir comentário a respeito do tema, segundo o qual haverá necessidade de se precatar quanto às informações colhidas dos demais elementos da turma, pois não há que se acreditar em que tenham sido precisos em seus relatos de dor.

Fico contente por estar sendo instrumento destas informações, uma vez que estou compenetrando-me do valor deste tipo de tarefa que o grupo de assistidos está desenvolvendo. Cada vez fica mais claro para todos que estamos em boas mãos, apesar de, muitas vezes, não atinarmos logo com os superiores desígnios dos orientadores.

O que mais lamento, nesta altura da manifestação, é não ter percebido de pronto que o improviso foi estimulado em determinado sentido, estando preparados os professores para as observações que me fariam. Para mim, estava evidente que as coisas aconteceriam aleatoriamente, como está ocorrendo também com o médium, que se surpreende com a direção que vem tomando a escrita. No entanto, percebo que o roteiro dos mestres incluía até estes aspectos, para nos darem mais segurança por ocasião das conclusões, como as que estou formulando.

Deus os abençoe, queridos, por se terem dedicado com tanta atenção a cada um de nós!

Se me permitirem formular um desejo, gostaria que me acompanhassem em rápida incursão pela crosta, para que se possam configurar os aspectos da formação dos meus filhos que não soube encaminhar segundo o modelo evangélico. Muito ficaria agradecido, pois acho que iria perceber de maneira correta quais os defeitos que deverei sanar mais rapidamente.

Aliás, se não for abuso, gostaria de pedir também que me auxiliassem nas laboriosas reflexões que deverei proceder, para não enganar-me quanto às misérias de caráter.

Dizem-me que levarão o pedido em conta, propondo aos mentores da entidade que se dê curso às atividades por mim propostas.

Cabe-me esclarecer de novo que a turma que a nós assiste (Grupo do Reforço II) não está pedagogicamente formada, embora esteja em patamar evolutivo mais elevado em relação a nós. Apesar disso, não tem liberdade de decisão, precisando orientar-se pelos mentores, pois seus integrantes também se colocam na condição de alunos.

Aos poucos, cada elemento faz algumas pequenas revelações dos métodos didáticos empregados em nossa formação de socorristas, para que se instruam os leitores e não cheguem a nós em êxtase admirativo, surpreendidos pelas novidades. Pode ser que não acreditem até no que vimos revelando, mas a verdade é que terão condições de reconhecer os locais para onde se dirigirem, pela lembrança que lhes tiver ficado das leituras.

Agradecemos ao Senhor tanta consideração para conosco, pobres seres despojados de qualquer brilho. Eis a humildade que todos devemos ter diante do Pai.















17



APRENDIZADO EM DESENVOLVIMENTO











Tendo-me preparado convenientemente, estou apresentando-me para o trabalho do dia, confiante em que terei sucesso, uma vez que me encontro tremendamente amparado pelos instrutores do grupo.

Pediram-me que desenvolvesse alguns tópicos importantes do último encarne (conforme expressão usual entre os componentes da Escolinha) e escolhi falar a respeito de alguns crimes, que cometi de forma aparentemente consciente do que fazia, sem ter, contudo, conhecimento algum das conseqüências. Aliás, bem pensando, até que não me importava com o que viesse a acontecer comigo após a morte, pois não acreditava em que pudesse existir qualquer coisa.

Todos os meus atos ofensivos em relação aos outros seres se fundamentaram na necessidade psicológica que criei de me desforrar de certos ataques que sofri.

Desde criança, apanhei de meus pais e irmãos, terminando por não sentir prazer em nada que fazia. Foi assim que principiei a vida, procurando espicaçar os coleguinhas, fomentando a discórdia onde quer me encontrasse.

Durante o período da adolescência, instituí para mim mesmo que deveria ofender a todos os seres com quem mantivesse contacto. Em dado momento, porém, conheci jovenzinha pela qual me interessei de forma alucinante, se é que posso utilizar-me de tal adjetivo, pois tudo passei a fazer em favor dela. Mas a matreira só desejava aproveitar-se dos meus favores, pois exigia de mim certas coisas que, para conseguir, precisava assaltar os transeuntes ou furtar das casas de comércio.

Um dia, peguei-a com outro e terminei de vez com minha aventura amorosa, furando-lhe os intestinos com aguçada lâmina de aço. Ela não morreu, mas precisei desaparecer da região, tornando-me vagabundo na cidade grande. Mas não me apertei, pois já estava escolado na vida de crimes.

Mais tarde, precisei revidar a certo desaforo que um dos comparsas lançou contra mim, tornando-me criminoso de crime de morte pela primeira vez.

Faço questão de contar estes dolorosos sucessos da melhor forma que consigo, para demonstrar aos leitores que a pessoa pode ser a mais indigna para a sociedade que encontrará, perante Deus e seus representantes no espaço espiritual, tratamento ao nível de criatura igual a qualquer outra.

O difícil é superar as lembranças terríveis que carregamos. A princípio, as coisas acontecem exatamente como quando estamos na Terra, pois somos assediados pelos oponentes da mesmíssima forma, muitos acreditando estar sob as vestes da matéria densa da crosta, agindo em correspondência aos primitivos instintos.

Quando chegamos ao ponto de avaliar que as pessoas não mais chegam a morrer, por mais se esvaiam em sangue pelas sarjetas do Umbral, aí começamos a desconfiar de que algo não está de acordo com os conhecimentos que dávamos por seguros e fiéis.

É nesse instante que começa a se instalar grave desconforto moral, pois as acusações começam a repercutir mais no fundo da consciência, tendo o coração certos estremecimentos, como se fosse possível o despertar para a realidade moral.

Imaginem só o meu estado nesse ponto, sabendo que havia menosprezado a vida dos irmãos, arrebatando-as como se não existisse, verdadeiramente, qualquer justiça que não fosse aquela que os atos de rebeldia e de vingança determinavam.

Durante muito tempo, fiquei a matutar a respeito das coisas que fiz, achando que tudo se devia à formação que obtivera de meus pais e irmãos (dois dos quais encaminhei antecipadamente para o etéreo, tendo recebido deles forte perseguição). Mais tarde, fui compreendendo que as coisas não deviam ser exatamente como as colocava, principalmente porque via que os seres eram tão diferentes uns dos outros, pois com alguns conseguia relacionar-me, enquanto a maioria transmudava o aspecto à minha presença, das maneiras mais horrendas ou sublimes que minha compreensão podia admitir.

Ao conhecer todo o horror das atitudes, por formulação ideológica, como se fossem quadros sucessivos que se formavam perante minha vista, iniciei sagrada caminhada ascencional, altamente desejoso de safar-me daquela situação desagradabilíssima. Mas tudo que fazia era em vão, pois existia subjacente, nas atitudes, espécie de padrão de comportamento alienado da Divindade, contra quem investia sub-repticiamente, já que via os maiores sofredores acusarem declaradamente, em altos brados, o Senhor de os ter lançado em tão desgraçadas situações.

Não achava certas tais atitudes, mas só recriminava a exteriorização da revolta, pois, no fundo, não via nada de bom em existir de maneira tão penosa, tão inferior.

Pedem-me para encurtar o relato desses trezentos anos de escuridão, do contrário não sairemos desta casa tão cedo. Concordo plenamente, só que devo dizer que o tempo material não foi exatamente esse. Sofri durante tempo indefinido para mim, que, ao final, contei como se fossem trezentos anos. Na verdade, não se haviam passado mais do cinqüenta anos para a humanidade.

Apenas para citar fato que pode ter relevância perante os leitores, devo dizer que, ao despertar para um pouquinho de luz, aliviado do estado mais desesperador, ainda lancei um grito íntimo — verdadeira voz do silêncio — contra o Pai, pois julgava extremamente injusto ter-me deixado tanto tempo sem oportunidade de resgatar os débitos, através de novas encarnações. Quando verifiquei que me havia enganado nos cálculos, foi motivo para compreender que Deus é pai de misericórdia até nas pequeninas impressões morais que se tenha, tanto que me fez ver que a injustiça era toda minha. Foi mais uma profunda lição que precisei assimilar, dentre tantas que aprendi, por força da desesperação angustiosa carreada pelo desejo de superar todos os problemas que me pressionavam o ser, a me lembrar, repetidamente, o quanto fraco fui e o quanto precisava fazer para compor-me com os demais seres.

Felizmente, houve série imensa de pequeninos incidentes não correspondentes à programação de minha existência na carne, de forma que fui indultado para poder freqüentar outros meios menos tenebrosos.

Resumindo, depois de muito ter batido a cabeça atrás do perdão dos elementos que havia prejudicado, suplicando-lhes até que me dessem trégua na perseguição que empreendiam, fui guindado a este verdadeiro paraíso consciencial, onde os problemas são tratados com toda a consideração, caso demonstrem as criaturas força de vontade e honestidade.

Pedem-me para não esmiuçar as providências assistenciais, bastando-me evidenciar o fato de estar agora muitíssimo bem, pronto para executar pequenas tarefas em favor dos assistidos, dentre os quais se encontram familiares meus, desde há algum tempo trazidos para cá em estado de choque, permanecendo internados nas alas hospitalares da instituição, onde o aprendizado se assemelha muito com o dos hospitais-escola da Terra, conforme pude presenciar durante longo internamento que sofri nos dois planos.

Solicitam-me esclarecer que meus conhecimentos se encontram atualizados, por força de ter ido visitar alguns doentes encarcerados na matéria, momento em que pude avaliar as semelhanças e diferenças no atendimento médico e hospitalar entre os planos.

Aí está o esclarecimento necessário para manter o equilíbrio das informações, pois não podemos deixar passar falhas que induzam os leitores à desconfiança de que estejamos mistificando ou simplesmente buscando confundi-los. Haveremos sempre de formular as idéias com toda a clareza, assegurando a transmissão dos dados mais homogêneos e sinceros, para que não se venha a acusar o grupo de infeliz ou maldoso, possibilitando a rejeição das mensagens e desconsiderando todo o trabalho que os abnegados mentores se empenham por realizar.

Eis simples revelação, para que os amigos possam refletir a respeito do que assistem na crosta, nesta época de profundas viciações e de tremendas falsidades, quando a palavra de amor de Jesus fica desbotada e sem vida, perante a voluntariedade do livre-arbítrio mal direcionado pela maior parte das pessoas. Mal comparando, se formos aplainar as arestas, arredondando as bordas dos acontecimentos, poderemos dizer que as criaturas que se encarnam atualmente começam as labutas de suas vidas da mesmíssima maneira pela qual comecei as minhas, por força de sofrerem toda espécie de vexames, não somente por parte dos familiares mas de toda a sociedade, que, em lugar de procurar educar para a consideração, a virtude e o amor, só traz à consciência da juventude os maiores descalabros que ocorrem com os seres desequilibrados.

Não vejam no que estamos colocando como ponto de partida para a educação dos seres humanos nada de profundamente pessimista. Ao contrário, julguem a posição como de esperança e de fé em que os amigos leitores estejam subtraindo-se das influenciações deletérias do meio ambiente, buscando dar aos filhos e demais entidades sob sua responsabilidade formação moral condizente com os ideais cristãos.

Eis que reproduzimos o principal discurso dos mentores, preparado especialmente para enfeixar as idéias que se poderiam expor à guisa de conclusão a estas considerações, a partir de minhas experiências.

Eu, pessoalmente, gostaria de fazer referência aos processos da justiça oficial entre os encarnados, a principiar pelas ações da polícia. Mas estou tendo as mãos atadas, pois iria ultrapassar os limites estabelecidos para esta participação. Apesar de tudo, gostaria de dizer, de passagem, que muito existe de farsa na conduta policial e judiciária, por tudo o que pude presenciar durante o encarne. Pensem nisso!

Dizem-me que não faltará oportunidade para que algum outro componente da turma venha avivar a discussão a respeito do tema, sendo preferível ater-nos aos aspectos da moralidade cristã que devem impregnar as lições de vida a serem passadas para a juventude. Como o tema é muito profundo e envolve considerações filosóficas de alto coturno, que fique bem claro o quanto estou ainda carente de aperfeiçoamento, tendo em vista certas investidas em campos absolutamente estranhos. Que se limitem os leitores a configurar o quanto consegui evoluir nos aspectos intelectivos das mensagens de Jesus, restando muito que aprender na área sentimental.

Finalmente, que não se iludam os amigos com as expressões que utilizei, quase todas de empréstimo, embora reflitam algumas nuanças perceptivas de minha capacidade intelectual. Como será bom quando puder voltar a este tugúrio, para transmitir mensagem totalmente elaborada por mim mesmo, evidenciando ter feito jus à dedicação dos mestres! Aí irei agradecer a todos por tudo, pois, no dia de hoje, a minha palavra está envolta em muito janotismo e melífluas susceptibilidades.

De qualquer forma, que o Pai se condoa de nossas imperfeições e mesmo assim nos abençoe as iniciativas de trabalho!

Graças a Deus, estamos chegando ao fim, restando rogar que nos perdoem os atrevimentos temáticos, tomando a iniciativa de rezarem pela paz dos amigos deste grupo de sofredores. Por nosso turno, prometemos correr em auxílio de quantos estiverem em perigo moral, não tanto para trabalhos sérios de resgate, mas para que nos transformemos nos pombos-correio da dor, buscando suprir as deficiências, com muito carinho e abnegação. Mais do que isso, não estamos em condições de prometer, por enquanto.

Fiquemos nas mãos do Senhor!















18



QUEM QUISER SER AJUDADO AJUDE!











Aconteceu de repente o meu regresso ao plano imaterial. Não desejava ficar para guardião dos menores, pois me conformava com ter a vida bem mais curta, mas suportei velhice duradoura, tanto que vim para este lado com mais de noventa primaveras vividíssimas. Mas, ao morrer, foi como se desabasse a casa sobre a minha cabeça.

Na verdade, foi devido a uma avalancha que sucumbi, acidente feroz que trouxe para este lado milhares de outras pessoas. Mas não pude presenciar os momentos angustiosos de ninguém, pois fui socorrido e imediatamente hospitalizado, sem condições de ajudar a quem quer que fosse.

Benditos os amigos que souberam confortar-me devido ao trespasse de alguns netos e bisnetos. Até aquele instante, por força de atroz negativismo permanentemente instalado na mente, não soubera bem o que era ficar com a responsabilidade do compromisso de velar pelas jovens criaturas. Não desejava tal mister, de modo que sempre fui quem estive auxiliado pelos outros. Essa foi a história de minha vida.

No internamento, isolado das demais criaturas, ouvia a voz de alguns seres a pregar-me, com compunção, a necessidade de me afeiçoar ao trabalho socorrista, ou me veria de novo cambiado para o plano da matéria, em condições precaríssimas, tendo em vista não ter desempenhado a contento o meu papel na jornada sobre a crosta.

Antes, porém, de me convencer de que estavam aquelas vozes com a razão, precisei reavivar na memória todas as facetas do encarne, pretendendo evidenciar que nem tudo o que se passara ao meu derredor estivera sob a direta influenciação de minha personalidade. De fato, muitas coisas havia de que não participara com nenhuma palavra de apoio ou de rejeição. Isso me foi fatal para o progresso do espírito, já que não tinha impedido que muitos deslizes se procedessem, até mesmo relativamente ao desastre final para tantos indivíduos.

Mas estas são histórias muito antigas, pois faz bastante tempo que estou livre do peso do encaminhamento dos familiares, tendo logrado muitos êxitos nas missões, apesar de não ter tido o treinamento adequado que pretendo agora absorver dos ensinamentos destes amigos da Escolinha de Evangelização. Fiz o que pude, com a melhor das boas vontades, especialmente porque desejava furtar-me de ter de volver à Terra em condições de inferioridade cármica.

O mais que fiz em prol do avanço dos amigos foi aconselhá-los, propondo-lhes os exemplos que eu mesmo havia vivenciado. Não era difícil de fazê-los ver onde me havia enganado, pois conheciam muito bem os meus vezos, em função de terem convivido longo tempo comigo. Até mesmo os bisnetos me ouviam atentos, pois eram criaturas melhor postadas na existência, tendo recebido o tratamento de choque, evidentemente, por estarem em melhores condições de enfrentar, com inteligência e coragem, a passagem para este lado. Eu é que, apesar do cansaço físico e mental, não soube receber com dignidade a morte, tendo sofrido bastante, já que não me preparara convenientemente.

Pedem-me para não ficar volteando em torno da personalidade, mas que fale um pouco a respeito das tarefas que desempenhei sem a assistência do pessoal especializado.

Estou desconfiado que muito fui ajudado pelos entes familiares mais avançados no campo evolutivo, pois foram raras as oportunidades em que me vi em palpos de aranha. Assim mesmo, quando me atrapalhava, mantinha o contacto com as forças superiores, por meio de preces revigoradoras da intuição, de forma que ia levando os aconselhamentos para todas as áreas, tendo sido pouquíssimas as reclamações e, portanto, os desvios de conduta dos familiares.

Só descansei mesmo quando todos estavam de novo sob assistência de lares na Terra, todos escolhidos por determinação dos conselhos familiares e sob a anuência de cada ser reingressante na matéria.

Se é sobre isso que devo discorrer, então está no campo das atividades que conheço bem, pois me coube entabular negociações com os casais e devidos instrutores, para que viessem a aceitar os espíritos cuja responsabilidade assumira de enviar para novas programações cármicas progressistas.

O trabalho não é dos mais complexos ou difíceis, pois os casais que desejam filhos e não têm perspectivas de compromissos, no âmbito das próprias organizações familiares, emitem vibrações específicas, para ver se atraem a atenção dos procuradores das demais famílias. Aí são estabelecidas as características familiares que devem ser mantidas e quais os desvios considerados necessários para o desafio ao crescimento de todos.

Procedidas as primeiras confabulações, os amigos que estiverem dispostos a conhecer os futuros rebentos familiares são arrebatados para o etéreo, em estado sonambúlico, e tratam pessoalmente com o grupo encarregado das providências de reencarnação. Dessa fase dos trabalhos, eu participava na qualidade de informante, estando impedido de formular conceitos que pudessem transmitir opiniões pessoais, pois o meu trabalho terminava no momento em que respondia às questões que se iam pondo durante as entrevistas.

Evidentemente, para esclarecimento dos amigos leitores, devo dizer que nem todos os reencarnantes têm condições de decidir a respeito da própria reintegração na carne, bem como muitos pais também não têm como oferecer resistência a esta ou àquela criatura, já que suas necessidades morais ou espirituais estão sob a responsabilidade de grupos muito melhor aparelhados intelectualmente, conhecedores dos problemas e das diretrizes evangélicas e cármicas para sua resolução.

Mas este não era o caso do meu pessoal, tanto que estou apto a vir declarar as minhas atividades no auxílio aos processos de reencarnação.

Pois foi assim que consegui liberar-me dos traumas do último encarne, fazendo jus a escolher educandário onde pudesse vir aperfeiçoar-me neste maravilhoso campo da assistência socorrista, já que, dentro de alguns anos, deverei volver ao plano da carne, na qualidade de espírito protetor dos antigos companheiros, para ajudá-los no que for preciso, para que venham a se despojar dos fardos mais penosos das malévolas tendências.

Dizendo por essa forma, podem ter os amigos a falsa idéia de que os meus parentes sejam indivíduos fortemente apenados pelas leis cármicas. Não é bem assim. São pessoas normais, que têm alguns defeitos que as estão impedindo de progredir no ritmo acelerado que se prescreve para quem aceita as mensagens evangélicas como roteiros certos para a vida.

Mas não serei eu quem irá evidenciar os procedimentos mais corretos, para que tudo se faça da melhor maneira possível, porque estou iniciando os primeiros contactos com estes pontos básicos da formação dos socorristas. Talvez, mais tarde, possa voltar para fazer algumas demonstrações bem seguras do que existe de real nesse setor, através da evidência testemunhal de alguns casos concretos que poderei levantar e estar autorizado a revelar.

Ponto essencial desta mensagem, determinado pelos mentores para que pusesse claro perante a inteligência dos leitores, são os avisados procedimentos da turma, sempre absolutamente coerentes com os postulados emanados dos espíritos de luz. É o princípio da obediência, a ser aplicado com todo o rigor dos mandamentos superiores, contra que ninguém jamais se interpôs, pois dele é que provém a segurança de que todos os exercícios de consolação e soerguimento terão sucesso.

A prudência com que venho colocando os termos não é propriamente aquela que minha iniciativa determinaria. Estou sendo contido pela freqüência vibratória dos mentores, de forma que só posso concretizar, para transmissão ao cérebro do médium, certos pensamentos em conformidade com os ensinos que estamos recebendo nas aulas. Quando deixo passar alguma idéia pessoal, referem-se elas a opiniões que assim se assinalam, conforme imediata intervenção do grupo, pois agora não é a melhor hora de se elaborarem teses particulares, com o fito da discussão. O que temos de executar é determinado plano de redação, o qual se deixa acrescer de alguns tópicos que nos são sugeridos neste mesmo momento pelos instrutores, como parte de seu projeto para esta tarde psicográfica.

Finalmente, devo dizer que se espanta muito o mediador com a clareza com que os dizeres se registram, o que está impedido de perceber no justo momento da escrita, ficando a admiração para ocorrer quando da correção das falhas de datilografia e dos demais aspectos lingüísticos.

Tal revelação me está sendo solicitada pelos instrutores, também interessados em divulgar que, para bem da verdade, o mediador vai sendo solicitado à medida que escreve, não sendo preparado previamente para os ditados, como aconteceu com diversos outros grupos, que lhe passavam algumas idéias sobre as quais iam discursar.

Mas nós não estamos desejosos de revelar tudo, pois muitos procedimentos são por demais técnicos, a exigir dos companheiros mais adiantados conhecimentos especializados até de recursos científicos não correntes entre os encarnados, mesmo porque apropriados para o campo vibratório do plano da espiritualidade.

A respeito de tal tema, respondendo a solicitação do mediador, devo informar, autorizado pelos mentores, que muitos mortais ficam por demais excitados para conhecer minuciosamente o que se passa na espiritualidade, sem terem muito interesse em desvendar os mistérios da matéria. Isto se configura como mera curiosidade, pois o que está falhando, na maioria das vezes, é a certeza de que existe realmente um plano diferente daquele em que se encontra mergulhado, na desconfiança de que a falta de vinculação sensorial possa constituir-se em sério empecilho para a confirmação das orientações mediúnicas. Melhor fariam esses indivíduos se se preocupassem com os aspectos morais e espirituais dos procedimentos, deixando para o futuro a perquirição dos dados relativos ao campo de atuação perispiritual. Não se trata de puxão de orelhas, mas de meigo aconselhamento, para que não se percam os impulsos cármicos em prol do crescimento jungido aos quefazeres orientados pela moralidade messiânica.

Em outras palavras, é preciso entender a prudência das revelações, para poder supor qual deva ser a prudência das interrogações e demais implicações do vão desejo de conhecer algo para o que os sensores do corpo não estão adequadamente preparados. Que se processe, então, através da inteligência, quando impossível for testemunhar ou receber informações não passíveis de averiguação e comprovação. Não se queira que os amigos da espiritualidade façam descrições ininteligíveis, que reverteriam em sérios problemas de supersticiosa crença, a fomentar acréscimos de dados inverídicos, pela imaginação dos leitores ou pela influenciação deletéria de alguns espíritos maldosos, sempre prontos para se infiltrarem nas áreas de percepção extra-sensorial dos encarnados.

Fiquemos por aqui nestas cogitações tão fora de propósito para quem está apenas iniciando sua busca no campo do conhecimento superior dos eventos evangélicos. Agradeço muito o apoio dos amigos instrutores e o paciente atendimento do escrevente. Dou meu abraço aos leitores e me dirijo às forças misericordiosas que nos assistem a todos, rogando-lhes perdão para estes atrevimentos em zonas de conhecimento tão pouco exploradas por todos nós.

Que a paz de Deus seja o apanágio de nossas realizações!















19



O SENTIMENTO DA JUSTIÇA











Parecia-me evidente que, quando chegasse a minha vez de escrever, iria ter sérios aborrecimentos, por não conseguir coordenar os impulsos do mestre escrevente, refugando ele a escrita. Agora que aqui estou, todo o temor se desvanece e isto não estou transcrevendo segundo texto preparado, senão que estou com plena liberdade de ditar através dos sentimentos de que estou possuída.

Mas não falemos desta maravilhosa e ensolarada tarde primaveril, pois as sombras que vemos estender-se pelo horizonte moral da humanidade estão pondo grande medo nos corações. Afastemos de nós a taça das iniqüidades, para podermos permanecer incólumes para o martírio das trágicas visões do desespero e da dor que vêm ameaçando os homens.

Não havia como falar de mim mesma sem fazer referência aos problemas que estão no dealbar desta nova era.

Quando viva, ouvi muito dizer que o terceiro milênio seria propício para ingressarem na carne os espíritos superiores, os melhor dotados de virtudes, os que estivessem próximos da angelitude. Neste final de noventa e dois, contudo, tenho percorrido as terras do orbe e o mais que tenho visto são pobres seres infelizes, cada vez mais miseráveis, cada vez mais ignorantes, cada vez mais infestados de doenças físicas e mentais.

Se alguns avanços tecnológicos descrevem futuro de aparelhagens sofisticadíssimas, a propiciar muito conforto e bem-estar a muitos, por outro lado, os sistemas de justiça social e econômica vêm depositando nos corações dos seres inferiores tremendas revoltas contra os semelhantes. Dessa forma, a sacratíssima lei do amai-vos uns aos outros como eu vos amei, que nos foi legada por Jesus, com toda a pureza de sua sublime preponderância moral e espiritual, irá ficar nos livros de história, como lembrança de um fisósofo-taumaturgo que há muitos séculos passou pela Terra, com ideais de benemerência transcendental.

Essa foi a herança que recebi dos terráqueos, durante os quarenta anos que passei convivendo com os seres humanos, na última encarnação. Enquanto ia dando à luz um filho atrás do outro, não via nenhum vislumbre de felicidade futura para ninguém. Cada vez que um deles partia, infante mesmo, ainda lactente, conquanto sugasse os meus seios ressequidos, ficava eu mais contente por não ter de acompanhar os grandes sofrimentos dos que iriam adquirir a compreensão, a consciência dos males promovidos pelos mais fortes politicamente e mais poderosos economicamente.

É certo que não colocava palavras nas minhas idéias. O teor da revolta era surdo, calado, íntimo. Até meu marido sabia de meus pensamentos, pois acabou abandonando-me, tanto eu vinha dando-lhe idéias de transgressão das leis. Veio para a cidade grande, no sul do país, e não mais voltou nem deu sequer notícia. Vim a encontrá-lo à minha espera, moço ainda, para cá enviado por peixeira, que o atingiu no baixo ventre.

Eu mesma não tinha mais do que quarenta anos, mas aparentava mais de sessenta. Quando tentei transformar o aspecto da vestimenta perispiritual, não consegui, precisando carregar por vários anos a fisionomia de megera, em contraste absoluto com as lembranças que tinha de antes do encarne.

Mas que fiz para sofrer tal desdita?

Simplesmente me rebelei contra os irmãos, acusando-os da maldade do Demo, increpando o Senhor por ter estado em grupo humano abjeto e sem perspectivas de progresso. É que só via o campo material.

Quando era jovem e me casei, encasquetei que iria criar alguns filhos tão fortes, bonitos e corajosos quanto o pai. Mas aí as coisas se precipitaram. Veio a tremenda seca. As lavouras feneceram e, aos poucos, nossos corpos foram minguando, da mesma forma que, no pasto, o gado morria de fome e de sede. Por essa época, pude resistir por vários anos, na companhia dos filhos, até que estes se foram, sem que pudesse controlar a sua agonia.

Durante alguns anos, enquanto enterrava os pequenos, pensava em que era preferível que eles fossem antes de mim, pois eu ficava para ajudar os outros. Não atinava que a atitude passiva era o subsídio que faltava, para os homens se aproveitarem da ignorância, trazendo os princípios da maldade, que se infiltravam nos corações.

Enquanto pude, agasalhei os bandidos que cavalgavam pelos sertões. Depois, foi aquela febre de vida que tomou conta de mim, desejosa de sobreviver a todo custo, mesmo que tirasse dos pequenos o pouco de alimentação que conseguia. Irmanei-me com o crime e tornei-me a figura execranda da violência. De longe, acompanhava os feitos dos jagunços e, toda vez que um rico estrebuchava na ponta dos punhais, fremia de contentamento.

Mas eu não era ninguém e assim me considerava. Quando para cá vim, despachada por pertinaz moléstia nos pulmões, encontrei muitos dos grandes homens da Terra às voltas com disputas e altercações com os pequeninos seres que haviam calcado com suas grossas botas de couro e com sua empáfia desmedida. Aqui todos estavam remando contra a corrente, galés forçados da dor e da desesperança. De nada adiantou a uns terem mais que os outros. Nem por terem sofrido tão amargamente, os pobres estavam em melhores condições.

Havia quem não se encontrasse entre nós, mas não me importei com isso, dado que a vastidão do lugar poderia esconder cavernas onde bem poderiam alojar-se, para proteção das personalidades mais meigas. Onde nos encontrávamos, não era possível imaginar que houvesse ilhas de sossego e de amor, como esta em que estamos agora.

Lamentavelmente, o colorido de minha linguagem se desbotou no sofrimento das trevas. Ali parecia que tinha outra tonalidade a minha voz, embora arquejasse quando arremessava aos ares os brados de revolta contra todos os que se constituíram, para mim e para os meus, em percalços cármicos.

O marido não me acompanhou pelo báratro. Disse-me que já estivera por lá e que conhecia bem a região dos sofrimentos. Instou para que eu ficasse com ele, mas abandonei-o revoltada, da mesma forma que por ele fui largada em meio à miséria e à morte.

Agora, podemos usufruir o mesmo teto, em modesta vivenda particular nesta instituição. Queremos trazer para nós os filhos, mas muitos estão profundamente revoltados, não tanto pela dor da breve estadia ao nosso lado na Terra, mas por rebeldias antigas, de encarnes fracassados.

A clássica história do arrependimento e do trabalho sacrificial do meu companheiro é que pode explicar o fato de estar eu recebendo esta incumbência, a um tempo dolorosíssima e felicíssima, ao poder manifestar-me mediunicamente, para alguns relatos de esperança e de luz, para possíveis irmãos sofredores.

Se tiver a alegria da publicação destes dizeres, com todos os prejuízos de confecção que estimo estarem infiltrando-se na composição, terei a certeza de que alguns leitores irão avaliar melhor a própria revolta contra o destino, buscando compreender, na lei de causa e efeito, a explicação para as condições de inferioridade do presente encarne. Mas, como tal perspectiva não é nada provável, fico satisfeita do mesmo modo com o fato de estar a contemplar as reações de aprovação dos demais, que se sintonizaram em minha freqüência, em virtude de terem estado enfrentando os mesmos dissabores, por causa das mesmíssimas reações de desagrado pela sorte.

Cabe falar do princípio de justiça que está subjacente em contrapartida. Aos incautos, pode parecer que haja forte tendência do Senhor de sapecar nos humanos o mesmo nível de dificuldades que tenham provocado em relação aos demais, como se tudo não deixasse de ser puro espírito de desforra, de vingança.

Não é isso o que acontece. Conforme nos explicam, só colhemos o que plantamos, segundo o ditame realizado por Jesus nas pregações evangélicas. Todo aparato de maldade que possuímos se volta contra nós mesmos, enquanto perdurem os princípios que estabelecemos para a visão da vida e da existência. Como é que iremos obter felicidade, se só tivermos conhecido e praticado a ruindade contra todos? Pensamentos de amor só podem criar-se no espírito humano, quando houver verdadeira afinidade entre as criaturas. A rejeição, o asco, a repugnância, o nojo, a malquerença só revertem espiritualmente da mesma forma, pois não criamos arquétipos mentais diferentes.

Para sermos felizes, haveremos de pensar e de sentir com felicidade, apesar de todas as vicissitudes em que estivermos mergulhados. Não se trata de lei injusta, senão que só conseguimos alcançar aquilo para o qual tivermos formado a concepção existencial. Se quisermos melhorar, deveremos argüir os princípios filosóficos, religiosos ou simplesmente morais que tivermos admitido como essenciais. Tudo advém de nós mesmos e nada vem do Pai, a não o ser o que está escrito nas leis que regem o universo, tanto físico, quanto moral.



Aproveitaram os mentores para deixar elucidado o princípio da justiça, conforme haviam prometido em mensagem anterior a um dos irmãos que intentava fazer passar alguns sentimentos de rebeldia (ver Aprendizado em desenvolvimento). Reconheci que estaria preparada para executar este serviço, mas agora, relendo a composição, vejo que muita coisa ficou a desejar, relativamente aos dados que eu mesma coletei e forneci para o entrecho verossímil da exposição. Peço aos amigos que passem por cima do desmazelo da narrativa e creditem o que de melhor houver para os mestres, que fazem dos elementos da turma de assistidos como que os primeiros médiuns, para que venham a depositar nas mãos do escrevente os produtos das reflexões, revestidos de sentimentos e de pensamentos mais pobres e imperfeitos.

Perguntamos por que não vinham diretamente demonstrar os tópicos que viam como necessários para os leitores terrenos e obtivemos como resposta a explicação de que a filtragem que promoviam pelas nossas personalidades seria como que a aproximação psicológica ideal dos que labutam para desvencilharem-se dos liames das perversidades carnais. O resultado, contudo, não nos parece perfeito, pois a terminologia acabou sendo por demais semelhante aos argumentos dos mentores, ficando a transcrição comprometida, descaracterizando-se a primeira mensagem, não se firmando a segunda, restando ao mediador trabalho de reconstituição textual bastante ingrato, tendo em vista que as mensagens não se apresentam rigorosamente dentro dos padrões estabelecidos quer para as dissertações, quer para as descrições psicológicas, muito menos para as narrativas.

Mas não iremos lamentar o trabalho nem os trabalhadores. Vamos regozijar-nos por termos conseguido avançar mais um pouco nas tarefas preparatórias para a diplomação no socorrismo ativo, meta final de todos nós, neste planeta de provas e de expiação. Caso não forem divulgadas as mensagens deste grupo, não ficaremos, por conseguinte, magoados e muito menos frustrados. Se os amigos leitores vissem o deplorável estado em que chegamos, saberiam reconhecer os rapidíssimos avanços que protagonizamos.

Pedem-me para encerrar, dando título e agradecendo a todos pela graciosa atenção dispensada. Pois, da minha parte, prefiro insistir em que as vibrações irmãs são as que produzem os relacionamentos mais sólidos, desde que haja pureza de intenções e verdadeiro amor. Que sejamos todos nós capazes de estender tal sentimento por toda a humanidade, para que mereçamos, verdadeiramente, a alcunha de irmãos em Deus, conforme nos explicam os professores nas explanações.

Saibamos enfrentar com denodo as dificuldades mais fortes, o que nos dará coragem para o trespasse e para a perda dos entes queridos, pois a humanidade irá demorar muito para encontrar o seu terceiro milênio, se prosseguir dando valor só aos aspectos materiais da vida. Saibamos agradecer a Deus todas as oportunidades de reflexão a respeito da verdade, transformando a existência em eterno devir de felicidade, já que a nossa imperfeição está a indicar-nos, claramente, que nem tudo serão rosas nos jardins das encarnações.

Desculpem-nos as palavras vazias de significação e de poesia. Acautelem-se com relação aos julgamentos injustos e procedam evangelicamente, conforme o desejo do Senhor.















20



QUEM AVISA AMIGO É











Imaginei, um dia, que, assim que fosse enterrada, também o meu corpo espiritual estaria sujeito a ser corroído pelos vermes espaciais, pois tinha o mundo dos espíritos exatamente igual ao que iria deixar com a morte. Tanto pensei a respeito que a idéia foi fixando-me na mente, criando enorme temor de vir a ocorrer o que moldara com o pensamento, porque fiquei sabendo que as criaturas conseguem plasmar, no campo energético da espiritualidade, todas as coisas que desejam.

Mas, como não houvera sido muito má pessoa, tendo tratado os semelhantes com bastante respeito e consideração, amando muitíssimo a todos os familiares, por quem me desvelava nos trabalhos domésticos, sem muitas reclamações ou murmúrios, assim que cheguei para as aventuras ou desventuras extracorpóreas, pus-me de sobreaviso para os possíveis ataques de que iria ser alvo, à medida que se desdobravam no cérebro as visões de meus pecados.

Ao invés de ir vendo o perispírito ser combalido pela voracidade dos germes incorpóreos, fui obrigada a presenciar a decomposição do corpo físico, precisando ficar no cemitério durante longo período.

Foi assim que, em meio a diversos tormentos, ia testemunhando a penetração dos minúsculos seres, a lhe devorarem as entranhas, ouvindo, simultaneamente, clara voz que me dizia:

— Imagine que tal efeito esteja sendo realizado no corpo espiritual. Vê aquele pedacinho de tecido que se putrefaz? Pois é porque você não conseguiu segurar a língua e difamou...

Baste o exemplo para demonstrar a aflitiva situação. A voz dava inflexões tenebrosas às declarações, de modo que me aterrorizava realmente, como se fora eu mesma e não o corpo quem estivesse sendo digerida.

Agora sei que a tal pregação moral era a reprodução viva das recriminações conscienciais, colocadas de maneira tão terrificante por amigos do etéreo, que me induziam à meditação dolorosa das falhas que cometera.

Mas, como se sabe, a deterioração da matéria não persiste por exagerado tempo, de forma que foi esse o exato período em que me vi sofrendo atrozmente pelas falhas de caráter, falhas provocadas por dura rebeldia espiritual, dadas as características de personalidade que fiz questão de manter inflexíveis, conquanto tivesse obtido da vida inúmeras condições de superioridade intelectual, porque tive firme convicção espiritista.

É de interesse assinalar que os protetores se aproveitaram desses conhecimentos doutrinários para evidenciarem que estava eu bem morta, pronta para os quefazeres espirituais. Quem não tem os princípios básicos do espiritismo sofre de modo bem diferenciado, pois acredita em estado fluídico correspondente aos ideais que manteve acesos durante a vida.

O espírita sofre consciente de sua condição, o que pode ser pequenino conforto, dadas as esperanças de recuperação e da assistência dos protetores. É por isso que insistimos muito em que os procedimentos humanos elejam as lições evangélicas como roteiros bem seguros para a transformação dos maus pendores em virtudes catalogáveis entre as que dão impulsos fortes ao ritmo evolutivo.

Como irá ser a sua tomada de consciência no campo etéreo? Será que terá o privilégio de vir diretamente aos braços dos protetores familiares, sem qualquer período de reflexão a respeito de possíveis malfeitos?

Estamos chamando-lhe a atenção para isso, porque são raríssimas as criaturas, mesmo dentre os que freqüentam a comunidade espírita e participam das mesas mediúnicas, que conseguem desvencilhar-se da matéria imediatamente, por meio de atos de desinteressada benemerência concretizados em favor dos semelhantes, qualquer tenha sido a oportunidade da prestação dos serviços.

Não vamos, contudo, pintar negros quadros para quem esteja denodadamente trabalhando pela causa doutrinária, adequadamente integrado no movimento espírita. O que almejamos com as advertências é o incentivo e a intensificação dos momentos de meditação a respeito do procedimento, pedra de toque e fundamento de todos os méritos a serem levados em conta para o progresso espiritual.

Queremos, também, deixar claro que o Espiritismo em si não fornece passaporte algum para a angelitude, não bastando o indivíduo firmar fé nos dizeres que se inscreveram nas obras da codificação, nem nos trabalhos que desempenha junto ao grupo de socorridos ou assistidos dos centros espíritas. Se não houver a introjeção das verdades, a ponto de favorecer a transformação da personalidade, no sentido da evangelização real, qualquer ponto de hipocrisia irá desfazer inúmeras tarefas das quais redundaram favorecimentos incontestáveis a inúmeras pessoas carentes.

Essa solidificação da ossatura moral é que dará o tônus da inflexibilidade perante os desvios de conduta, com o objetivo de que jamais o indivíduo possa tergiversar diante dos sacrifícios e das lutas de que tem necessidade, para a confirmação da fé.

Será que estas palavras se terão por duríssimas, à vista das promessas do divino perdão para quantos se empenharem em configurar digno procedimento, perante as normas e demais estatutos dos padrões culturais da civilização?

É bom que assim não seja, pois somente estamos reproduzindo, até de forma bastante afável, as declarações do Mestre registradas nos Evangelhos, segundo as quais haverá muito choro e ranger de dentes.

Vocês acham que o meu sofrimento perante a corrupção do cadáver tenha sido por demais rigorosa, para quem tinha, no ativo, inúmeros trabalhos de assistência a espíritos e a encarnados? Pois eu mesma me considerei apaniguada por sofrimento levíssimo, embora me mordesse de arrependimento, chegando, às vezes, a angustiar-me, culpando-me por não ter tido suficiente clarividência para agir em conformidade com os padrões que me estavam sendo passados pelos companheiros de doutrina.

Graças a Deus, o meu conceito de existência me fazia manter acesa a chama da esperança e a confiança na misericórdia do Pai, pois repetia, de mim para comigo mesma, naquele transe de dor, que a caridade começa dentro das quatro paredes do lar, de modo que não tardaria a receber o influxo da bondade do Senhor, através do hálito caricioso e confortador dos protetores e demais familiares, que estariam aguardando o meu despertar.

Foi exatamente assim que aconteceu, no dia glorioso em que me deparei totalmente sã, com o corpo fluídico íntegro, não devassado pelos germes que imaginara no quimérico suplício, decorrente das diferentes superstições espiríticas que introjetara na mente, por força de falsas interpretações de certas informações captadas por via mediúnica e que não soubera traduzir para o jargão do espiritismo, pois me valia das expressões da antiga fé religiosa de onde vim para a doutrina kardequiana.



Nós, do etéreo, não sabemos exatamente quais os pensamentos e informações que melhor refletirão as necessidades dos ouvintes ou dos leitores. Por isso, vamos desfilando inúmeras situações de penosas circunstâncias em que se envolvem os recém-desencarnados, para que os amigos possam mirar-se naquela em que as suas primícias acusatórias vão melhor ajustando-se.

Cabe agora sentido pedido de desculpas a todos os que não se situarem em qualquer dos exemplos levantados, pessoas capacitadas a freqüentar a nossa instituição na qualidade de mentores ou de instrutores e não como necessitados de auxílio ou de esclarecimentos, mercê do muito que têm progredido na presente encarnação. Humildemente, solicitamos a tais amigos que orem em nosso favor, buscando elucidar-nos as falhas, já que as dissertações refletem péssimas condições morais e intelectuais — para não nos referirmos aos sentimentos — que só comprovam o quanto inferiores somos. Que seja creditada, todavia, a nosso favor, a boa vontade destes discursos, apesar de todas as imperfeições.

Não queremos despachar o médium, sem nos referirmos a ponto que consideramos de suma importância, para que se firme a convicção de que os dizeres estão fundamentados nas diretrizes evangélicas sobre as quais se fundearam os princípios doutrinários de Kardec.

Que se tomem os livros da codificação e que se institua o estudo de cada um, a principiar por séria leitura individual, para suporte das exposições dos organizadores dos centros de debates. Depois, que se firme o compromisso de comparecimento às sessões de leitura e de discussão dos tópicos apreciados pelo codificador, à luz das informações obtidas dos espíritos guardiães, por meio da mediunidade de certos elementos especialmente treinados para o evento.

Esse ponto dos trabalhos, que nos parece ter sido exaustivamente estimulado por Kardec, está relegado a segundo plano no movimento espírita, preferindo as pessoas ouvir preleções de alguns notáveis, indispondo-se para a apreciação das próprias idéias, por força de não quererem se expor ou às suas fragilidades aos demais integrantes do grupo.

Se nossa palavra puder servir de alerta, vamos ter de informar que muitos dos melhores trabalhadores da seara espírita estão quebrando a cabeça em diferentes cursos no etéreo, para darem prosseguimento à sua precária formação doutrinal.

Coube-me trazer esta série de advertências, evidentemente, por ter conhecimento íntimo das reações dos que mourejam, muitas vezes inconscientemente para as próprias necessidades cármicas, acreditando estar provocando, junto aos orientadores familiares, opiniões favoráveis a rápida reintegração no conjunto dos amigos da espiritualidade, por ocasião do retorno ao etéreo. Que esta dissertação, portanto, se encha de autoridade perante os amigos, para que dêem crédito aos que estão insistindo em fazê-los volver a atenção constantemente para os elementos mais simples da formulação espírita, como filosofia, como ciência e como religião.

Peço perdão também por me ter utilizado de palavras tão simples, quando, sabemos, a terminologia a que estão acostumados os estudiosos da doutrina elege vocábulos que desconhecemos. Apesar disso, esperamos não ter escrito para os mais ignorantes, mas para os mais sábios, pois nos consideramos amparada pelas luzes dos mentores da instituição, estes sim, sem sombra de dúvida, seres no apogeu do desenvolvimento possível para este setor galáctico.

Perdoe-me também o medianeiro, já que teria condições de apanhar discurso eivado de termos científicos, complexíssimos para a compreensão média dos leitores, precisando ficar agregado a este punhado de frases lacunosas e de evidentes defasagens conceituais.

Que nos sirva a todos, porém, este trabalho, como exercício de cidadania celestial, tanta é a felicidade que sinto por estar fornecendo tão sagrados conhecimentos aos amigos encarnados. Assim, abraço comovida os amigos professores e os colegas de grupo, por me terem proporcionado tão grandes alegrias. Que este rejubilar possa alcançar os irmãozinhos onde estiverem, acendendo-lhes as mesmas chamas da esperança de que terão as benesses da Divindade, cujo manto misericordioso os protegerá de todos os deslizes de que possam acusar-se.















21



APRENDENDO A ELIMINAR A PREGUIÇA











Desde que me apresentei aos instrutores da Escolinha, não tenho tido sossego com trabalhos e mais trabalhos, para aperfeiçoamento moral e intelectual. Cambaio de muitas encarnações frustradas, aprendi a adorar o ócio como um dos maiores apanágios dos seres que não se envolvem com os problemas alheios.

Durante algum tempo, estive sob tensão, provocada por diversas perseguições que tinha na conta de gratuitas. Mas, desde que aprendi a clamar por socorro, os orientadores têm estimulado as reações dos meus oponentes, forçando a que admitam que nada têm a ganhar por espicaçar criatura tão inofensiva.

E assim vim levando a existência, até que me compenetrei de que estava envolvido por enorme halo de amor e responsabilidade familiar, tantas eram as criaturas que fazia sofrer, absolutamente inconsciente desse processo cármico. Atinando com a causa dos inúmeros auxílios que recebi, envergonhei-me profundamente, solicitando para mim o que viera pedindo para os inimigos: assistência moral de primeira categoria.

Um dos amigos da fraternidade familiar se revelou e, com muito sacrifício, fez-me compreender que deveria integrar-me em instituição de primeiros socorros intelectuais e morais, conforme mais acima afirmei, explicitando que a parte sentimental ficaria para mais tarde, quando estivesse firme nas atividades socorristas de primeiro grau, quais sejam as que se dão aos seres não muito carentes de auxílio, mas que exigem certos cuidados, para não despencarem nas trevas, por força das sugestões deletérias dos parceiros menos evoluídos.

Pois aqui estou, para esta verdadeira demonstração de superação da preguiça, efetuando transmissão à altura dos parceiros de equipe, tendo em comum o mesmo nível de assistência dos monitores do Grupo do Reforço II, como fazem questão de ser chamados os amigos da equipe que nos tutora a aprendizagem e nos subsidia a magnetização.

Mas há poucos comentários a fazer a respeito das repercussões morais sobre as pessoas que se envolvem com os vícios oriundos da falta de atividade, pelo desejo de ficarem distanciadas dos trabalhos afadigosos e dos estudos exaustivos. A pachorra traz o tédio e a descrença, mas também a esperança de se superarem os obstáculos pela tenacidade e pela perseverança, tomadas no mau sentido.

Quantas horas vim perdendo durante várias encarnações inúteis! No medo de ter de enfrentar dissabores, quedava imóvel psicologicamente perante os acontecimentos, não aceitando desafios, por mais penosas fossem as condições de vida dos familiares e companheiros. Cheguei ao ponto de preferir ver morrer vários parentes a movimentar-me em seu auxílio, já que não via interesse em que estivessem com saúde, para ter de velar-lhes o sono e a dor. A morte era bem-vinda, nessas ocasiões.

E não se pense que agisse diferentemente quando se tratava de minha pessoa. Sentia alguma indisposição, mas não atinava com a necessidade de tratamento, senão quando se fazia tarde demais. Então, iludia-me, que nada pagava a pena fazer, e imobilizava-me completamente, deixando-me arrastar na voragem dos ideais perdidos.

Lembro-me bem de, num desses encarnes mais infelizes, ter-me deixado à deriva dentro de um barco, até que desfaleci, vindo a morrer de inanição, por não encontrar forças morais com que impulsionar os remos. Mais tarde, vim a saber que estava a pouco mais de dois quilômetros da salvação. E isso digo apenas para oferecer o exemplo mais absurdo de atitude incoerente até com as leis da natureza material.

Ao preguiçoso, ao entediado, restam a ignorância mais crassa e o desgosto mudo de não estar nas mesmas condições morais ou intelectuais das pessoas mais ativas, que tudo conseguem pelo trabalho.

Mas eis que estou aprendendo a superar tais péssimas qualidades, tanto que estou a forçar o escrevente a desempenho bem rápido, talvez não tão veloz quanto o dos demais companheiros, mas certamente bem mais forte do que estava eu acostumado antes do ingresso nesta instituição.

Estou trazendo alguns desenvolvimentos inexpressivos para bem caracterizar que, até nos aspectos intelectuais, tenho de eliminar o vício da preguiça, pois venho repetindo noções absolutamente fáceis de conjecturar, para evidenciar que os estudos ficaram muito para trás, precisando recuperar o tempo perdido, pois meus familiares estão avançando muito na caminhada rumo à relativa perfeição que se pode alcançar nestas jornadas ao derredor do orbe terrestre.

Pedem-me os mentores para não me esquecer de fazer referência aos amigos de grupo, que me estimulam a revelar que todos têm um pouquinho deste meu vício, já que o ócio se reveste de distintas aparências, podendo até mistificar criatura que se movimente com extrema velocidade, mas que não faz questão de avançar um passo sequer, ficando em torno de pequeninas conquistas, também temerosa do enfrentamento das verdades psíquicas acusadas pela consciência.

Mas não vou dar trela ao cansaço que sinto envolver as espáduas do escrevente, o que lhe vem sugerindo que as minhas vibrações estejam favorecendo-lhe a compreensão dos dramas fisicamente, se é que assim posso definir a incômoda sensação que vem desenvolvendo, no sentido de abandonar o posto, em meio ao desenvolvimento da mensagem.

A par de leve suspeita de que o amigo também carregue um pouco deste peso, cumpro o dever de declarar que nós mesmos planejamos fazê-lo sentir a agonia de ver o trabalho fenecer, por absoluta falta de vontade para prosseguir. Até mesmo as intuições fazemos questão de esmorecer, para que o amigo possa avaliar como é que nos postamos na espiritualidade, perante o imenso rol de atividades que deveremos desempenhar, por causa da programação elaborada especificamente para cada tipo de personalidade.

Até mesmo quando o tema vai esgotando-se, somos obrigados a manter-nos lúcidos, apreciando o desenvolvimento dos demais trabalhos, para dar notícia deles, uma vez que nos está sendo proibido sustar a tarefa sem completarmos todas as fases estabelecidas para as composições deste grupo.

Não poderíamos deixar de oferecer bom remédio para quem se sinta forçado pelo inconsciente a permanecer ocioso, já que existem pessoas que ficariam extraordinariamente preocupadas, desequilibrando-se mental e emocionalmente, se, de repente, se vissem às voltas com a necessidade doutrinária, filosófica, religiosa ou moral, de reverter o quadro que estamos evidenciando-lhes como sendo muito próximo de sua realidade. Já pensaram o que de vibrações ruins iriam partir contra nós, por termos removido do lugar quem, com tanta segurança, vem considerando-se superior aos demais, por conseguir ir levando a vida, sem se comprometer com o desenvolvimento de qualquer virtude?!

Pois o remédio está justamente em suas mãos, ou seja, na leitura das obras de caráter espírita. Este conselho, é bom deixarmos frisado, é malicioso, no sentido de que o resultado que esperamos seja a cura total do desejo de nada fazer, ou melhor, da vontade de permanecer estável na situação atual, tendo em vista a perspectiva de muito trabalho para se suplantarem as vicissitudes psíquicas, fermentadas em muitos séculos de comodismo.

Desse recurso que, a princípio, mantém as pessoas repousando fisicamente, deverão brotar aspirações de melhoria, o que facultará aos amigos, incômodos pensamentos, que começarão a desalojar os princípios ali assentados por incúria, por desleixo, por preguiça e até por moléstias tropicais mal curadas psiquicamente, uma vez que se instalaram, um dia, com objetivos claros de sustar atividades perniciosas.

Mas agora estamos indo fundo demais nas considerações, pois até penetramos no âmbito das desculpas cármicas com que os espíritos justificam, perante a consciência, a conduta em descompasso com os mandamentos evangélicos.

Eis a palavra mágica que deverá despertar finalmente o preguiçoso da letargia do processo retrógrado de ir levando a existência, uma vez que a pessoa se coloca na ingrata posição do cão que late, enquanto a caravana passa.

É forte a tentação do médium de avaliar o quanto já percorreu nesta escrita, devido à tremenda carga que lhe estamos obrigando a suportar. Mas não tem qualquer importância tal interesse em abandonar o posto, uma vez que sabemos que não estamos em ideais condições de freqüentar esta mesa mediúnica. Aliás, se não fosse pela postura elevada dos amigos do grupo, teríamos encerrado a participação, sem fazer sequer referência às atuais condições espirituais. Mas, apesar da terrível sensação de cansaço, vai o mediador desenvolvendo a sua parte, demonstrando alta responsabilidade perante o compromisso assumido.

Vejam que não estamos referindo-nos às condições desagradáveis desta transmissão, no intuito de diminuir a presença do escrevente, mas para alertar os leitores para a necessidade de excelente preparação intelectual e moral, tendo em vista que, no exercício da mediunidade, haverão de enfrentar situações negativas, onde as descargas das vibrações energéticas nem sempre se coadunam com as freqüências captadas costumeiramente, por influenciação dos mentores pessoais ou dos responsáveis pelos trabalhos dos diferentes grupos.

Vamos avançando paulatinamente, muito contentes e esperançosos de virmos a terminar a tarefa com o agrado dos mentores, que nos sustentam magneticamente e que nos dão fortes empuxões para não desfalecermos.

Fizemos questão, até o momento presente, de não sabermos o quanto de linhas preenchemos, para não nos desestimularmos para o serviço. Agora, diante do tanto já apresentado, podemos dizer que estamos satisfeitos por julgarmos superadas as primeiras e mais graves sensações de inutilidade que nos vêm acompanhando, desde que deixamos o plano material, após a derradeira romagem carnal. A tensão está diminuindo muito, de molde a favorecer-nos até a escolha dos termos, o que estávamos impedindo-nos até aqui, para não darmos azo a que as interrupções se transformassem em momentos críticos, a demonstrar que estávamos irremediavelmente envolvidos pela terrível sensação de sermos muito inferiores, desqualificados para este simples mas grandioso trabalho mediúnico.

Se tivermos a glória da publicação, como uma das irmãzinhas lembrou numa das mensagens (ver O sentimento da justiça), que não seja o ócio, o vício desmoralizador, a causa de se passar em branco por esta composição, pela qual, se não fosse exagero, diríamos que demos muito de nosso sangue e de nossas dolorosas lágrimas.

Falta pouco para terminarmos. Falta apenas lembrar que todos os seres humanos deverão refletir, um dia ou outro, a respeito dos males que os vícios, os maus hábitos, as más intenções e atitudes os obrigaram a enfrentar, em luta sem tréguas, sem sossego, sem hesitações, sem arrefecimentos. Espero em Deus que a preguiça não esteja presente, com sobrecarga de difícil superação.

Eis que voltamos ao ponto inicial, deparando-nos com a brancura dos pensamentos, exausto de tanto haver pregado contra o mal que mais nos atenazou a consciência.

Que as orações de todos tenham o dom de recarregar-me as baterias fluídicas, para me sentir de novo na posse de minhas freqüências energéticas, é o que peço de coração. Por meu turno, procurarei concentrar-me no ponto central de minha condição, favorecendo que os pensamentos criem halo de amor que venha a envolver a todos, para que consigam formular a idéia exata da desgraça que se abateu sobre mim.

Tanto disse que estava tomado de irresponsabilidade que estou com medo de encerrar a mensagem sem ter realizado todos os tópicos obrigatórios, dando a impressão de ter falhado redondamente. Eis a que insegurança leva tão tremendo descompasso com os ideais evangélicos.

Pedem-me para retirar-me numa boa, pois executei a contento o serviço encomendado, esclarecendo-me os mentores que as considerações a respeito dos méritos ou dos deméritos ficarão reservadas para sessão de estudos especial.

Muito obrigado a todos! Permitam-me despedir-me rapidamente, para não dar-lhes motivo para que se sintam cansados além dos justos limites desta exposição. Caso contrário, ficará muito claro como é que os espíritos com tendências à preguiça exercem obsessão.

Fiquem nos braços do Senhor!















22



CURIOSIDADE MÓRBIDA











Estive muito preocupado nestes últimos dias, mas me tranqüilizei ao avaliar o teor das comunicações dos companheiros de equipe. Sendo assim, posso dizer que não tenho medo de ofender aos leitores e demais amigos da espiritualidade, interessados muito mais em que me recupere das maldades que pratiquei do que, propriamente, em conhecer quais foram os atos impensados que me jogaram, durante muitos anos, nas profundezas trevosas do báratro.

Essa minha esperança também relativamente aos parceiros encarnados, pois me avexo de ter de mencionar os diversos crimes que me colocariam como último dos seres, na avaliação de qualquer pessoa com agudo sentido do valor moral e da realidade.

Saibam que não estou hesitando em falar a respeito das coisas ruins, mas tenho para mim que é preferível, por muito mais proveitoso, oferecer algumas reflexões que possam coordenar os pensamentos, no sentido de fazer prevalecer o evangelho como norma superior de conduta.

Estive arremessado nas profundezas abissais das dores e dos sofrimentos por período superior a quatrocentos anos. Foram mais de quatro séculos de angústia, de mágoa, de revolta, contra tudo o que me parecia injusto em relação a mim e aos meus.

Mas o tempo passa sempre, apesar de não estarmos em condições de avaliar da passagem quando imersos nas culpas conscienciais.

O que mais freqüentemente me perguntava era justamente a respeito do fato de estar certo de que sairia daquele enrosco: se iria melhorar de condição e se os companheiros, de uma forma ou de outra, iriam tirar-me do sufoco. Por que — inquiria temeroso de me ver ainda mais agoniado — por que não sucedia de que, em breve, tal ajuda me chegasse? Não eram favas contadas a recuperação? Então, por que o sofrimento adicional, as agruras do medo, a agonia da espera e a incerteza de que pudesse prosseguir cometendo os mesmos deslizes, inconsciente para os efeitos dolorosos de cada pequenino pensamento em descompasso com a vontade divina?

Não era fácil conviver comigo mesmo, tanto que me feria moralmente, como se com isso fosse possível atingir a sensibilidade dos outros seres, principalmente dos guardiães das entradas das cavernas, por onde sabia que deveria passar um dia, em busca da luz exterior, que não nos representava, realmente, qualquer benefício moral mas físico, tanto estávamos apegados aos sistemas fruídos no campo material.

Depois que me foram buscar, um trapo de gente, precisei exatamente o momento em que fiz valer os argumentos para a retirada daquele campo de dores: foi quando me atirei ao solo e reconheci que havia causado inúmeros prejuízos a muitas pessoas, sem que proveito algum eu ou qualquer outro ser pudéssemos ter tido de semelhantes atividades criminosas.

Na verdade, consegui usufruir muitas regalias materiais com o despojamento das propriedades das vítimas. Mas o fato de não ter compreendido como são fugazes os bens mundanos foi trágico para minha permanência nas sombras.

Uma das crises mais profundas de minha retrógrada posição cármica foi a contínua acusação que fazia contra a Divindade, por me ter arremessado, pela eternidade, nos infernos, que era como via a permanência nas vascas do desespero. Não compreendia como é que alguém iria ficar por todos os tempos em situação de tamanha inferioridade, quando via desfilarem, perante as fantasias, outros seres apaniguados pelas regalias paradisíacas, conforme a formação religiosa me determinava.

Essa foi a primeira luta vencida, pois o que me parecera, de início, sem fim, um dia acabou por transformar-se naquela angústia que mencionei mais acima, pois me foi dado entrever que havia companheiros de padecimentos que eram retirados daqueles escombros fétidos, para serem guindados a paragens mais felizes. Esse foi o segundo patamar das desesperações, pois aí não compreendia em que os que ascendiam, tendo estado solidários com o meu sofrimento, pois vibravam nas mesmas faixas de ondas energéticas, eram melhores do que eu.

Foram quatrocentos anos de luz para os companheiros que havia deixado em situação privilegiada de adiantamento moral. Quando me recuperei para as primeiras lições verdadeiramente evangélicas, sem a ameaça de retorno dramático à crosta, por certo pela intervenção dos amigos e familiares, sob cuja responsabilidade até hoje me encontro, julguei ter sido liberado eternamente para o paraíso, julgando o sofrimento como necessidade de purgar os crimes, conquanto lá, no meio da escuridão, me considerasse em pecado mortal.

Como são difíceis os aprendizados pela dor! Se me tivesse acostumado a considerar os outros seres absolutamente iguais a mim perante o Pai, com certeza não teria tido de ficar por tanto tempo entregue às mais perversas lucubrações.

Eis que estamos, de certa forma, matando a mórbida curiosidade dos que julgam estar acima do bem e do mal, mas que temem não estar inteiramente corretos nas conclusões, admitindo, lá no fundo da consciência, a possibilidade de existirem os campos umbráticos para receberem os que não se afeiçoaram à luta em nome do Senhor, preferindo burlar a vigilância dos benfeitores espirituais, como se fosse possível, maliciosamente, iludir as forças positivas do Universo. São estes que vão empurrando as virtudes com a barriga, adiando indefinidamente as principais decisões relativas à admissão, como princípios essenciais do bem viver, dos projetos emanados das divisas morais de Jesus.

Sabemos que estamos caminhando perigosamente no sentido da pregação doutrinal gratuita, como se, de tal atitude, se pudesse acender a esperança, a fé e a caridade, no coração dos leitores, para quem o amor ainda não se estabeleceu como fundamento de todas as ações e reações. Se a lei de causa e efeito é universal e inexorável, podemos muito bem abrandá-la com procedimentos afetivamente corretos, dando oportunidade a todos os seres de recomporem as deliberações e os gestos, mesmo que não haja qualquer possibilidade de se restaurar o tempo, como unidade incorpórea que se distancia à medida que outros eventos vão sucedendo-se. Em outras palavras, para tornar mais claro o pensamento: o que está feito está feito e isso é irreversível; mas não é impossível de se restabelecerem as condições primitivas, propiciando aos companheiros que voltem a pensar a respeito dos procedimentos, favorecendo-lhes a tomada de decisões mais equilibradas e conformes aos mandamentos evangélicos.

É como se o nosso carro fosse abalroado por uma jamanta, ficando despedaçado. Aí a nossa fúria se volta contra o infeliz que nos causou o enorme prejuízo e, se não tiver recursos para nos restabelecer o bem perdido, vamos persegui-lo durante a vida e até depois da morte, pois os sentimentos de revolta, de ira, nos tornam vingativos e violentos, sem nos determinarmos a proceder à recuperação do infrator das regras humanas ou espirituais, por meio de vibração positiva em seu favor.

Mas não precisamos ir fundo na exemplificação. Pensamos que o exemplo dado seja suficientemente claro para evidenciar que os desafetos nem sempre estão preparados para o ressarcimento dos débitos, de forma que precisam de ajuda, no sentido de criarem condições de enriquecimento moral e espiritual, aumentando suas provisões daqueles bens que a ferrugem e a traça não corroem e os ladrões não furtam.

Se restar alguma curiosidade em se saber de que males a consciência nos acusou, podemos afiançar que foram muitos dos em que vemos a humanidade reincidir ainda agora, pois o desrespeito pela vida dos semelhantes está avultando, no sentido de se tornar quase habitual ou, pelo menos, natural, que haja bandidos que não tenham mais que fazer do que retirar do campo terreno muitos dos companheiros em fase de aprendizagem.

A sociedade está aperfeiçoando-se na insensibilidade, havendo muitas criaturas que nem se revoltam mais quando os males se aproximam de seus lares, tão afeitas estão com às desgraças, inconscientes para a necessidade de regeneração de todos.

Para exemplificar, lembramos as condições subumanas em que vivem os delinqüentes largados pela sistema carcerário em celas infectas, quais os monturos em que são jogados os espíritos mais perversos, no fundo do Umbral.

No campo espiritual, é o próprio espírito quem constrói a sua morada ou que executa a pena cominada pela condenação a que se sujeitou no julgamento executado pela consciência. Na sociedade encarnada, é como se houvesse uma alma coletiva a julgar os piores como indignos dos cuidados regenerativos, já que a maioria está tendo outras preocupações no campo da materialidade.

Em suma, se os encarnados não adquirem condições morais para suportar ao seu lado muitos seres desqualificados é porque já não têm o sentido da fraternidade e da solidariedade, mantendo a grande massa populacional em estado de miséria e de degradação.

Como querer, então, satisfazer a mórbida curiosidade a respeito dos meus desvios de conduta?

Peço, humildemente, perdão, se alguém supuser que tenha eu devolvido a agressividade latente no posicionamento dos que, tendo vontade de saber o que se passa com os irmãos, não consignaram, contudo, na agenda de benemerências, a devida assistência a todos os que estão constantemente infringindo as leis humanas e divinas. Nós apenas estamos argumentando de forma bastante incisiva, para fomentar grave agitação intelectual e moral, sem que cheguemos a envolvimentos emocionais, para que não haja descontrole psíquico, a gerar neuroses ou psicoses.

O que queremos é levar à reflexão sobre as atitudes simples de irresponsável vibração, contrária aos seres em débito para com a existência, visando a transformar as atitudes mórbidas em expressivas predisposições ao socorrismo e ao auxílio incondicional, em profunda compreensão do que realmente seja fazer o bem sem olhar a quem.

Fiquemos por aqui neste desenvolvimento de espírito muito debilitado pela recente volta a este patamar de luminosidade relativa, onde as dores estão bastante amenizadas, mas onde o trabalho está apenas iniciando.

Esperamos em Deus que não nos queiram mal por termos sido tão ásperos nas considerações que levamos a cabo — eu falo em nome de diversos elementos do grupo que uniformizam os sentimentos pelos meus —. Como sempre, resta-nos o recurso de solicitar que nos perdoem, para demonstrarem que estão afinados com as determinações superiores da moral evangélica.

Aos mestres, dedicamos especialmente a dissertação, pois, sem sua compreensão e apoio, não nos seria possível deixar a comprovação de nossas emoções e de nossas angústias cármicas. Será a partir destas manifestações que teremos as explicações e orientações necessárias para o crescimento nas áreas relativas aos conhecimentos que fundamentam o socorrismo.

Que o exemplo frutifique e que os irmãos adquiram a coragem precisa, para que façam transbordar os pensamentos, mesmo que à revelia de falsos pudores, sufocando as más tendências e delimitando os arroubos da malquerença produzida pela ganância do poder e da riqueza. Humilhar-se será a contrapartida evangélica para quem não conseguiu colocar freio nos aspectos falaciosos da personalidade.

Que Deus tenha piedade de todos nós e nos envie mensageiros de amor, para nos confortarem e nos indicarem os caminhos da luz!















23



VOLUNTARIOSA E INCONSEQÜENTE











Deveria desistir ao perceber que não tenho o mesmo nível de competência que os colegas de grupo. Mas, para atender e respeitar aos mentores da Escolinha de Evangelização, vou fazer grande esforço e me solidarizar com todos, apresentando breve relato das desavenças com os seres que comigo conviveram, na última encarnação.

Sei que não recebi a estima de quase ninguém, mesmo daqueles que deveriam estar agradecidos por lhes ter dado oportunidade de retornar ao ambiente da crosta, para efeito de se cumprirem os compromissos assumidos com os orientadores familiares. Mas não vou insistir nos comentários, para não incentivar a curiosidade mórbida de ninguém. Eu, simplesmente, fui extremamente antipática, não considerando qualquer pessoa digna de meus favores reais de mulher ou de mãe. Por isso, após estadia no lar de tão-somente três anos, abandonei aquelas pessoas, para viver em liberdade, pois não quis prender-me definitivamente a quatro indivíduos que não eram conhecidos de há muito, conforme pensava erroneamente naquela época.

Após o desencarne, muitas vezes meditei a respeito, a princípio culpando o marido por me ter afastado da família, carregando comigo para outra cidade, muito distante, querendo que convivesse com pessoas estranhas.

Em duas gestações desastrosas, dei à luz três crianças que achei muito feias, desgraciosas e adoentadas. Os gêmeos até que me deram pouco trabalho, pois a sogra e as cunhadas assumiram as responsabilidades, por eu ter engravidado em seguida, perdendo o leite e não desejando ver as formas do corpo se arruinarem.

Sei que estou procurando desculpas para a atitude de desfaçatez, pois o que me levou a deixá-los foi o fato de não ter qualquer graça ficar o tempo todo presa dentro de casa, onde a única alegria que tinha era sexual e, assim mesmo, de forma muito elementar.

Não sei até onde posso ficar lembrando-me desses percalços morais, pois posso levantar temas ou pronunciar palavras que venham a produzir chiliques nos mais susceptíveis e mais puros, pessoas para quem os espíritos deveriam cuidar somente dos problemas afetos à espiritualidade, à angelitude, sem qualquer preocupação com o mundo físico.

Não é verdade que fiz bem em hesitar a apresentar-me por ter tais idéias e por produzir tão grosseiro depoimento? Mas o principal está mencionado. Para bom entendedor, o resto fica subentendido, já que não serei eu quem irei cair na esparrela do despertar para a luxúria, por meio do aguçamento da libido dos leitores. A minha ousadia não chegará a transpor os limites do ponderável, da moralidade, particularmente porque, se estivesse com a intenção de manietar o interesse dos amigos aos mais sórdidos instintos da animalidade que viceja nos seres encarnados, deveria esperar do pessoal do grupo severa repreensão e até rebaixamento para as câmaras de atendimento dos que não se compenetraram de que a atual situação é de espíritos e não de encarnados.

Mas estou a revelar alguns tópicos que me foram permitidos neste campo dos interesses sexuais, para dizer que as pessoas com certa fogosidade natural devem ater-se aos padrões do grupo moral e espiritual em que se inserem, podendo ser um pouco mais libertárias quando existe permissão social, pois o que não pode ocorrer é a forte desvinculação a que procedi.

Quer dizer que deveria ter-me submetido aos desejos do marido e aos limites impostos por sua família? Quer dizer que não podia tê-los ofendido com descomposturas, enxovalhando-lhe o nome honrado e dando motivos para que meus filhos se envergonhassem de mim.

Poderia ter feito alguma coisa no sentido de atender aos pendores naturais que me arrastavam para relacionamentos fugazes, sem ferir os princípios éticos da comunidade em que me inseri com o casamento?

Dificilmente, a não ser que conseguisse alterar profundamente os pontos de vista do pessoal que me agasalhava, pois a religiosidade imperante era por demais decalcada em fontes bíblicas ortodoxas, onde a crença no pecado e nos castigos divinos era preponderante.

Deveria ter sentido isso antes de me entregar aos braços do jovem que me interessou tão vivamente, porque o conheci fora de seu ambiente. A ardência me tornou apaixonada e a visão ficou obliterada por amor que não levou em conta nada mais do que os aspectos sensuais da luxúria.

Peço perdão que a descrição psicológica seja falha, pois não estou levando em consideração inúmeros pontos que talvez tenham sido essenciais para a minha fixação no casamento, especialmente o fato de que desejava livrar-me das poucas pressões familiares que me reduziam à escravidão do lar.

Saí do que julgava uma arapuca para cair noutra pior.

Hoje vejo que nem uma nem outra ter-me-ia sido tão funesta quanto foi o verdadeiro bordel em que transformei a existência.

Mas não fiquei encerrada nas trevas durante muito tempo, pois, apesar de tudo, consegui amealhar algumas quirelinhas de boa vontade, auxiliando a muitas pessoas durante a peregrinação, terminando por voltar ao meu marido, quarenta anos após havê-lo abandonado, em trama novelesca preparada por alguns mentores espirituais condoídos com a perspectiva dos atrozes sofrimentos que me atormentariam, se não me reconciliasse com os meus.

É verdade que o reencontro se deu fortuitamente, sem que nem eu nem ele pretendêssemos unir-nos de novo. Mas as necessidades mútuas de amparo fizeram com que esquecêssemos tudo o que nos sucedeu no longo período de intervalo, desistindo cada um de inquirir do outro a respeito dos acontecimentos que nos deixaram as marcas que pretendíamos disfarçar.

Ainda pude dar um pouco de carinho a uma das filhas temporãs de meu marido, enteada que restou de ligação que me pareceu ter sido muito feliz, encerrada em definitivo pela doença e pela morte.

Quanto aos meus filhos, os gêmeos e a menina, não conseguiram afeiçoar-se a mim jamais, talvez por terem sido envenenados pelas observações das tias e da avó — que Deus as tenha, estejam onde estiverem!

Mas os filhos que recebi do tempo do encontro daquelas almas, enquanto me desfazia em relacionamentos irregulares e altamente frustrantes, me compensaram bastante a falta que acabei sentindo de criar e de educar os próprios rebentos. Desses filhos do coração, vieram-me alguns netos valiosíssimos, para quem não tive aquele passado promíscuo e ultrajante.

Se quiserem saber, para ilustração ou conhecimento da realidade espiritual, devo dizer que meu querido esposo não está comigo nesta maravilhosa organização educacional. Anda às voltas com os sérios problemas que promoveu no seio da família, no momento em que me acolheu em idade tão avançada, pois do etéreo lhe vinham as mais negras vibrações de desaprovação, uma vez que o seu pessoal se mantinha coeso, como se não tivessem interrompido a jornada na carne.

Eis que venho cumprindo à risca o que me foi determinado pelos orientadores, que pretendiam, através de meu testemunho, demonstrar que nem sempre a curiosidade das pessoas pode ser completamente isenta de real interesse, podendo os instrutores se aproveitar desse natural pendor humano para infiltrarem algumas noções a respeito dos padrões vigentes no campo externo à crosta, na próxima esfera existencial, que é aquela em que estamos todos nós que nos relacionamos através de vínculos de poderoso cunho afetivo, com base nas virtudes ou viciações afetas ao corpo físico.

Eu, como estou cheia das sensações carnais, das quais estou lutando para me livrar, fui escolhida para manifestar pensamentos muito próximos dos que têm os espíritos encarnados, premidos pelas necessidades materiais pertinentes a esse tipo de constrangimento.

Querem que me estenda um pouco mais no tratamento dos temas específicos desta mensagem, mas estou sendo fortemente bloqueada pelo espírito do médium, o qual não deseja ver-me envolvida em lembranças que poderão vir a ser penosas ou que me poderão fazer descambar para o campo das freqüências indesejáveis.

Não tema por mim, caro amigo, pois estou sendo amparada pelo pessoal do grupo, cujas providências incluíram, com certeza, a preocupação com tais riscos, tanto que estou quase completamente inconsciente dos sentimentos correspondentes aos pensamentos que venho exprimindo, como se tivesse recebido injeção analgésica, a qual me permite tocar nas feridas sem sentir dor.

Assim, tomo a iniciativa de dizer que minha maior preocupação é revelar-me boa discípula desta instituição e, sem ferir os programas que se prepararam para mim e meu grupo, providenciar o encontro com os familiares, de quem não tenho tido notícias, por mais que me tivesse empenhado em encontrá-los. É claro que, na erraticidade, estando fortemente comprometida com as energias de caráter negativo dos seres que me acusavam dos inúmeros deslizes, não iria jamais ter algum encontro feliz com quem quer que fosse. O que me recuso a acreditar é que, dentre tais dardos energéticos, estejam alguns arremessados justamente por aqueles seres a quem desejava rever e com quem queria muito confraternizar.

Se não fosse pela ajuda que recebi de meu esposo, a ilusão da solidão da negritude do báratro iria permanecer como o peso mais forte a me vergar as costas.

Quanto sofrimento, meu Deus, e quanta prece eivada dos sentimentos mais desencontrados, uns de benquerença e amor, outros de rebeldia e de paixão! Quantas lembranças lúbricas e impudicas a se mesclarem com as delícias dos afagos carinhosos das criaturinhas tenras que me chamavam de avó! Quanto desperdício lamentado, quanta revolta arrependida!

Mas a descrição da dor não se completa verossimilmente, pois já está distanciando-se o momento em que ocorreram as angustiosas lamúrias e os alucinantes gritos do desespero. Que fiquem estas expressões como leve advertência para quem não esteja preparando-se convenientemente para enfrentar a verdadeira vida, que é a do espírito, pois, para nós, os encarnes são ilhas de emoção, de dor ou de felicidade, resultantes dos relacionamentos levados a efeito com ponderação ou com sofreguidão.

Que o resultado das reflexões dos amigos não os obrigue a raciocinar que o melhor seja a predominância da frieza dos pensamentos lógicos sobre o calor das decisões sentimentais apaixonadas. Que as nossas palavras tenham o condão de levar a um equilíbrio entre as naturais forças que governam a humanidade, sem desprestígio de umas em favor das outras.

Sei que deveria ter-me contido diante das ânsias de rompimento com os familiares e agradeço, comovida, a todos os que me impuseram a velhice como condição final para que pudesse chegar a ver o quão errada estivera, bem a tempo de regeneração na carne. Se tivesse regressado para o etéreo, sem que me tivesse reencontrado com meu marido, por certo não estaria trazendo este testemunho tão isento de aflições.

Peço humildemente para me desculparem ter estado tão incoerente e tão confusa. Façam por creditar esse descompasso à minha inferioridade de caráter e orem sentidamente ao Senhor, para que, quando chegar a sua vez, tenham, na paz íntima, a legítima base para elaborarem dissertações mais proveitosas.

Sintamo-nos todos filhos de Deus e teremos forças para enfrentar qualquer vicissitude.















24



A LUTA CONTINUA











Queridíssimos irmãos, aceitem a minha presença aqui como a de alguém mui estimado, para que os fluidos revigoradores de suas energias possam sustentar-nos durante os trabalhos. Muito obrigado.



Vamos iniciar dizendo que, na última peregrinação pela Terra, estivemos sob forma feminina, embora hoje sejamos capazes de nos lembrar de outras encarnações masculinas e femininas. Isto demonstrará ter importância na hora certa.

Estive mendigando o amor dos familiares durante muitos anos, até que acederam em receber-me de novo no seio doméstico, mediante diversas promessas de procedimento sadio, já que desconfiavam de que não seria capaz de controlar os avessos da rogativa, insistindo para que me deixasse transportar para esferas menos puras, onde o rigor das provas iria deixar absolutamente claro quem realmente eu era. Mas, por intervenção dos protetores do clã, acabaram por concordar para uma derradeira tentativa.

Por minha vez, não querendo dar-lhes razão, prometi que cumpriria fielmente todos os preceitos cármicos programados para difícil encarne, sacrificial ao extremo. Parti, pois, para a vida, desprezando os sábios conselhos de quem estava prevendo que iria recuar dos propósitos. Contava com os empenhos dos protetores para me sustentarem por ocasião dos deslizes. Não sabia que, muitas vezes, os amigos da espiritualidade se vêem de mãos atadas, quando a força contrária recebe o apoio da entidade que deveriam vigiar.

Não foi exatamente assim que ocorreu comigo, já que sempre estive atenta à moralidade necessária para que uma mulher fosse acolhida benignamente no seio de fraternidade religiosa de extremado rigor. Mas a sorte me levou a algumas conclusões falsas a respeito do que deveria organizar para poder usufruir as vantagens morais condignamente, de perfeito acordo com as restrições que se faziam em diversos campos sociais.

Um belo dia, falseei a caminhada e me entreguei à devassidão, tal como a irmãzinha que me precedeu, com a diferença de que intentava disfarçar as atitudes, fazendo tudo bem às escondidas. Nunca fui descoberta pelos companheiros da carne, de modo que não fui perseguida. No entanto, o pessoal do etéreo foi sendo afastado por mim, de forma que minhas tendências iam sendo agravadas fortemente por antigos companheiros de outras desventuras, seres muito embrutecidos pela materialidade das condições psíquicas.

Com o campo favorável, vários parceiros de antigamente, também encarnados e também promitentes de regeneração, homens e mulheres, foram como que impelidos em minha direção, de sorte que fortes elos de malícia e de corrupção moral nos uniram, em corrente bastante extensa.

Mas a velhice e diversas ocorrências fortuitas (que demonstravam a mão dos protetores) foram afastando-nos uns dos outros, como que para comprovar o quanto era necessário progredirmos para fazer jus a partilhar dos lares que nos haviam agasalhado.

Recebi tremendo choque com a morte prematura de meu marido e de dois dos quatro filhos, em desastre automobilístico. Inconsciente para os efeitos cármicos reais, atribuí a desgraça à minha intemperança, lembrando-me, finalmente, de que havia alguma força superior, no plano da espiritualidade, que deveria estar castigando-me pelas falsidades ideológicas.

Refreei os impulsos que me haviam levado às loucuras carnais, e pus-me de sobreaviso para as contingentes punições que enfeixariam a tragédia que me abalara. Mas nada mais de ruim me atingiu, obrigando-me a reconhecer que a decisão de alterar o rumo da vida havia produzido bons resultados, muito superiores àquilo que suspeitava fosse acontecer comigo.

Passei a ouvir as palavras dos pregadores nos púlpitos e nas tribunas, de onde deblateravam o pecado e os pecadores. Não havia confessado o que escondera por muitos anos a ninguém, seja pastor, seja familiar, seja amigo ou companheiro de tarefas redentoras. A bem dizer, se não fora o fato de ter tido parceiros e parceiras, poderia dizer que trouxe para o túmulo os piores segredos.

Foram vários os anos em que me conduzi sobriamente, sacrificialmente, se considerar que estive muitas vezes tremendamente adoentada e ainda assim participava das tarefas comunitárias, em favor dos desassistidos da fortuna. Meus dois filhos receberam de mim educação integral no campo religioso da família, terminando os meus dias admiradíssima por quantos temeram pela minha falência.

Mas isto tudo aconteceu no campo da carne. No etéreo, os familiares não quiseram estimar a minha recuperação final, achando que a mentira deveria ser punida ainda mais fortemente do que os atos de desonra íntima que cometi. Já se vê que não eram tão adiantados os meus parentes, mas isso não me ocorria pensar por ocasião das perseguições que sofri, porque a consciência começava a me acusar, uma vez que a palavra empenhada me prendia aos princípios rompidos do encarne deprimente.

Para simplificar a parte corriqueira das desesperações, dos arrependimentos, dos remorsos e das angústias, devo dizer que fiquei bem mais de quarenta anos percorrendo feito louca as ruas enlodaçadas e mal cheirosas do Umbral, a princípio, em fuga alucinada, para não ouvir as imprecações das vozes conhecidas; depois, para ver se achava saída para desocupar aquela praça, onde as chacinas morais se repetiam à minha presença, sem que pudesse fazer nada para evitá-las.

De repente, acordei do pesadelo, pelas vozes cordatas de meu marido e de meus filhos, que vieram para me resgatarem da dor e da miséria em que me lançara. Estava, finalmente, redimida dos males que causara a uma porção de gente, não tanto por tê-las ultrajado, mas porque lhes fiz despertar os maus pendores, quando poderia tê-las ajudado diretamente, por meio de salutar exemplo de vida e de contenção das tendências à hipocrisia, ao egoísmo e ao desamor.

Sei que nem todos os pormenores estão coerentes nesta descrição rápida de meu caráter. Possivelmente, haja até quem queira ver nestas palavras a falsidade que declarei ter possuído durante o encarne, exímia que fui no disfarce das coisas ruins. Talvez tais observações possam até ter fundamento, uma vez que não me controlo inteiramente, podendo ter deixado passar alguns mecanismos de segurança pessoal, que, ao declarar os piores feitos da vida, tentei eliminar, para dar vazão a integral confissão que não havia feito até agora. Mas os péssimos hábitos ficam incrustados na personalidade, sendo bem difíceis de superação e esquecimento definitivo. Ainda deverei peregrinar diversas outras vezes pela Terra, para vir a eliminar os defeitos que carrego comigo e que tento compreender à perfeição, para oferecer-lhes as melhores resistências.

Vejam que não estou referindo-me às palavras de Jesus, às suas pregações ou às suas promessas de salvação, pois o teor dos Evangelhos sou bem capaz de repetir de cor e salteado. Reconheço alguns princípios essenciais da doutrina espírita, que não vivenciei na carne mas que me julgo sensata o suficiente para compreender em espírito.

Uma coisa é dizer; outra, muito diferente, é proceder de acordo com os mandamentos evangélicos. Por isso, estamos sendo trazidos para esta instituição, onde a meditação se faz em nível bem mais elevado do que nas escolas confessionais terrestres, porque completamente desinteressadas de prevalência sobre as criaturas. Não há poder a preservar, nem ascendência a efetuar, bastando aos orientadores saber que estamos evoluindo no aprendizado, conforme as vibrações que se estabilizam e os desejos que se demonstram cada vez mais próximos dos ideais cármicos.

Assim, já estamos aptos a bem distinguir o que deveremos realizar para suprimir as más tendências assimiladas nos diversos encarnes, segundo as características sexuais que assumimos. Quando volvermos ao orbe, estaremos mais cônscios das lutas que deveremos empreender e dos comprometimentos que deveremos efetivar, para resguardar as pessoas de nossos relacionamentos dos deslizes que, em outros encarnes, favorecemos ou negligenciamos, já que as obrigações relativamente aos seres com quem contraímos débitos estão recebendo toda a prioridade, para que se limpe o campo vibratório das interferências nefastas e arrasadoras das chamadas almas penadas, as quais insistem em levar a efeito suas vinganças, por força de se considerarem vítimas de nossas alienações.

Mas não vou prosseguir, pois o que iria acrescentar é do conhecimento de todos. Penso ter cumprido com o compromisso que assumi perante os instrutores, permitindo-lhes que divulgassem, através de minha tentativa psicográfica, diversos conceitos que julgaram oportuno acrescer, conforme o plano de divulgação dos eventos espirituais que estabeleceram para esta turma.

Peço-lhes que me amparem na prece final, para que me mantenha à altura dos demais membros do grupo, já que, ao meu ver, fui quem piores características apresentou até o momento, sendo incapaz de refletir com ponderação a respeito da prática da caridade como lenitivo para a dor dos assistidos, o que me teria dado maior tranqüilidade.

De qualquer forma, estou satisfeita por declarar-me culpada de diversos crimes, expondo francamente as condições de inferioridade, para que os amigos possam diagnosticar minhas doenças e oferecer a medicamentação conveniente. Que seja essa a melhor lição a se extrair desta longa exposição.

Fiquem todos nas graças de Deus!















25



UMA SENHORA DA SOCIEDADE











Eis que o término da exposição se aproxima do início, pela impossibilidade da previsão da falta de energia elétrica, o que fez excluir da memória do computador minha longa exposição, na qual advertia para o fato de me ter apresentado na derradeira encarnação com os defeitos mais característicos da personalidade, ou seja, os provenientes do egoísmo e da vaidade, condensados em profunda pernosticidade.

Se o texto se tivesse mantido, iria verificar-se que tentei escrever a mensagem exatamente com os mesmos defeitos, realizando texto aparentemente inteligente, mas profundamente propenso para o intelectualismo barato que, em geral, espanta os mais simples mas deleita os que o produziram, como se fora a coisa mais importante do mundo.

Não vou reproduzir todos os tópicos, mesmo porque ganhei em experiência e fui capaz de efetuar a censura ou a crítica mais conveniente.

Quanto aos fatos da vida, deixara claro que tive alguma felicidade material e espiritual, porque fui pessoa mais ou menos rica, tendo dado oportunidade a que três maravilhosas criaturas volvessem ao campo carnal, tendo-lhes propiciado alguma instrução e forte tendência à manutenção da dignidade do nome familiar, o que, graças ao bondoso Deus, consegui.

Entretanto, tendo aqui chegado, recusei-me a considerar valiosas as orientações dos protetores, momento em que escorreguei para as densidades umbráticas, onde permaneci durante algum tempo, até me ter compenetrado das falsidades ideológicas que minha postura moral definira durante a vida.

Agradeço ao acaso ter-me oferecido esta segunda oportunidade de redação, pois posso manifestar-me bem melhor, bem mais coerentemente com as lições que vou recebendo dos irmãos instrutores.

Que o digno mediador não se aborreça com o texto perdido e leve até o fim a disposição de me acompanhar nesta peregrinação pelo campo das idéias, momento extremamente feliz que nos é propiciado pelos mentores da Escolinha de Evangelização.

Acho que o principal pensamento que merece ser salvo daquele enorme repositório de incongruências é o fato de não estar devidamente preparada para relacionar as virtudes capazes de solidificar os princípios evangélicos, na consciência dos que se estimam em débito para com Deus ou para com a existência, uma vez que não consideram os semelhantes dignos de consideração, como foi o meu caso.

Quanto aos malabarismos das idéias, que fiquem registrados estes poucos parágrafos, através dos quais evidencio que os males que deveria ter eliminado na derradeira peregrinação estão bastante impregnados na personalidade, de forma a me darem motivos para profundas preocupações.

Graças a Deus, tem tido o mediador a feliz capacidade de permanecer imperturbável, para que eu possa concluir, augurando a todos muitas alegrias, principalmente porque se aproxima o Natal, época de festividades familiares, onde os encontros se dão sob a assistência dos companheiros reingressados na espiritualidade. Que as preces emitam as vibrações mais condizentes para o envolvimento de toda a parentela em halo de perfeita felicidade, onde o amor prevaleça e a boa vontade se institua como norma geral a conduzir os relacionamentos.

Muito devo agradecer aos benfeitores desta instituição por me terem amparado neste momento insólito, em que precisei repetir os dizeres primitivos, sob novo enfoque, dado que os alunos desta turma não trazem as dissertações preparadas, por injunção das diretrizes estabelecidas.

Fiquem na paz de Deus e não queiram saber o que havia deixado registrado na versão original.









Explicação







Ficou a irmãzinha muito satisfeita por ver desaparecer sua contribuição inicial, a qual demonstrava, de maneira categórica, as principais deficiências, as quais, evidentemente, está lutando por desarraigar da organização espiritual.

Nada, entretanto, do que podemos dizer não estará, subjetivamente, formulado no segundo texto. Traz-nos perante o amigo escrevente e aos demais leitores a intenção de evidenciar que os que participam da psicografia estão em fase bastante próxima do desequilíbrio material, constituindo-se em seres sofredores, na maioria não totalmente compenetrados dos eventos que os conduziram a condições de extrema dificuldade.

Quanto à perda da mensagem da irmãzinha, sentimos profundamente que não tenha desejado reproduzi-la integralmente, talvez envergonhada demais por ter sido surpreendida com as guardas abaixadas, já que tentou disfarçar o mais que pôde a condição de inferioridade, tendo tido a impressão de ser melhor que os outros, conforme o seu texto comprovava fartamente, tendo em vista os malabarismos retóricos empregados. Por outro lado, a lembrança de suas palavras se resguardou na memória dos preceptores, favorecendo o conhecimento dos dramas íntimos que desejou evidenciados na dissertação, o que era o principal dos objetivos da reunião.

Quanto a estes comentários, não nos pejamos de fazê-los diante da companheira, tendo em vista que admite a condição de aluna necessitada de esclarecimentos. A única diferença relativamente aos demais mensageiros é que algumas das apreciações estão sendo reveladas aos encarnados, enquanto para os outros se dão intramuros.

Como se vê, estamos tirando proveito da eventualidade do desaparecimento de longo texto, para algumas informações que, um dia ou outro, deveríamos, obrigatoriamente, trazer ao conhecimento dos queridos irmãos.

Repetindo o que nos afirmou a irmã, não se importem com o que ficou perdido, senão com as lições que possam extrair dos diversos depoimentos.

Fiquemos todos nas mãos do Senhor!















26



CASO COMUM











Ao contrário da irmãzinha de ontem, ficarei muito triste se vir desfazer-se no ar a minha comunicação. Portanto, peço ao amigo escrevente que providencie para que tal não aconteça, mesmo que seja para fazer-me esperar por alguns instantes.

Pelo que acima escrevi, pode parecer aos leitores inadvertidos que irei fazer desfilar diante de seus olhos série imensa de fabulosos conceitos doutrinários, insuspeitados até da lucidez do codificador e dos demais luminares, encarnados ou não, que deram seqüência aos aprendizados espíritas. Absolutamente. O que vou deixar registrado é somente insegura manifestação de caráter pessoal, de que desejo livrar-me de uma vez por todas (apesar de estar tomando afeição por este tipo de trabalho), tantos são os cuidados que estou merecendo da parte dos demais integrantes do curso, bem como do pessoal que nos assiste.

Fui homem neste último encarne que se encerrou faz pouco mais de doze anos. Não fui má pessoa, mas não me dediquei como devia aos familiares, sempre propenso à vida boêmia dos pagodes noturnos. Talvez por isso tenha desdenhado os mandamentos que determinavam não aborrecer os pais, os irmãos e demais familiares. Fui avesso a muitas determinações sociais, não por compreender que a exploração do capital escraviza, mas porque não via necessidade em me sacrificar por dinheiro. Quando queria algum, submetia-me a uns biscates, principalmente no setor das vendas, para, em seguida, despojar-me de tudo nas noitadas que considerava memoráveis.

Como tinha presença física agradável, ia conquistando as simpatias das pessoas, de forma que podia ir passando pela vida bem assentado socialmente, ainda mais porque conseguia convencer as pessoas a me cederem parte das rendas, como era o caso de meus pais e de alguns irmãos abonados. Isto foi desculpa, durante algum tempo, para me refugiar das acusações conscienciais, pois atribuía o descompasso das desventuras ao fato de ter sido incentivado ao ócio e à despreocupação. Mas não demorou para que o evento maior das vicissitudes cármicas viesse para desfazer as desculpas, como a falta de energia elétrica fez desaparecer o belo texto da irmãzinha.

Quero reconhecer, entre parênteses, que não foi tão importante para o grupo a decepção a que fiz duas referências. Se estou mencionando o fato é porque me dá oportunidade de prolongar um pouco mais a permanência, neste teste maravilhoso de psicografia, que não esperava que me fosse trazer tanta sensação de plenitude espiritual. Eis aí mais motivo plausível para solicitar que não se perca a manifestação, pois penso que trará aos leitores a desconfiança de que devam ir treinando desde já alguns textos próprios, para apresentarem por ocasião das tarefas mediúnicas.

Mas a atitude mais perigosa foi não ter tido o devido cuidado com a vida, tendo recebido violenta cutilada no peito, em desavença com pessoa desconhecida, dentro de casa noturna, onde costumava passar o tempo bebendo e jogando conversa fora.

Lembro-me bem do tema que me levou a desconsiderar moralmente o adversário: foram certas colocações de caráter político que fiz relativamente a certa personalidade de projeção nacional, cujo parentesco com aquele indivíduo eu desconhecia totalmente. Como estivesse um tanto chumbado pelos eflúvios alcoólicos, não medi as expressões, terminando pelo insustentável desafio final, que nos levou às vias de fato. Para resumir, de repente, vi-me deste lado, totalmente zonzo, como se estivesse embriagado, saindo do torpor mais alienante.

No primeiro momento, acreditava que estivesse ferido, em casa ou no hospital, tão afastado estava da realidade. Foram necessárias várias sessões para que viesse a compenetrar-me do atual estado existencial. Aos poucos, fui desconfiando de que não conseguia mais compor-me perante as pessoas de meu relacionamento, que se entristeciam com a minha presença, como se estivessem magoadas, por me ter retirado de seu convívio, e ofendidas, por algo que lhes houvesse feito.

Tudo se revelou, afinal, quando fui levado à presença de meu adversário, para constatar que estava preso em delegacia de polícia, onde passava pelos mais vulgares vexames. Não atinei de pronto com sua condição de prisioneiro, mas vi-me entrando e saindo do lugar, sem precisar utilizar-me das chaves dos carcereiros. Sentia-me mal, abalado com as ondas vigorosas de fluidos negativos que a pobre criatura arremessava contra mim, como se sentisse que ali estava eu para algum malfeito espiritual.

Quero confessar que os dizeres que estou reproduzindo não me passaram sequer pela cabeça naqueles instantes de confuso aprendizado da verdade de minhas condições. Só agora, depois de ter recebido muitas informações nestas aulas, é que me ponho capacitado a manifestar-me com alguma precisão a respeito dos fenômenos psíquicos daqueles tempos nebulosos.

Mas eu não tinha qualquer aversão em relação ao ser que me tirara a vida, pois me considerava já o principal culpado pela falência de minha normal bonomia, quando era por todos atendido com muita consideração. Achava que havia falhado redondamente e, ao reconhecer naquele indivíduo o causador do maior transtorno, fui logo declarando-o inocente, preferindo ver nas fortes bebidas que consumira a maior responsabilidade por não haver sequer iniciado a caminhada redentora.

Se tal determinação íntima me afastou de vez de qualquer litígio possível contra o criminoso, me arremessou para a cela no Umbral, escura e pestilenta, — nauseabunda ou fétida talvez descrevessem-na melhor —, arrebatando-me das mãos dos protetores.

Mas tal período não foi muito longo, apesar de só me dar conta de terem transcorrido cerca de cinco anos quando consegui volver para o plano terreno, na ânsia de encontrar-me com os familiares, para me ajoelhar diante deles, no intuito de obter perdão.

Surpresa agradabilíssima esperava por mim, pois, dos dois movimentos da alma, sobrara somente aquele em que sentiam a minha falta, esquecendo-se completamente de que havia sido imprevidente, inconseqüente e irresponsável. É interessante observar que suas reações relativamente à minha personalidade deixavam intacto meu aspecto mais afetuoso, mais maneiroso, mais atraente, sendo esquecidas as facetas que mais fortemente me preocuparam. Quando intentei fazer-me presente, para os sinceros pedidos de perdão, pude perceber que estava perdoado desde há algum tempo, à medida que suas intuições iam firmando a idéia de que não haveria outra solução possível para mim, dadas as tendências bem demarcadas para a vida despreocupada e isenta de responsabilidades. Era como se entendessem como fatídico o que me aconteceu e que, se não tivesse sido naquela noite, iria ser pouco depois.

Abençoei a todos os familiares e me dispus a relacionar-me com os seres que estavam buscando-me para algumas longas tertúlias, quase idênticas àquelas a que estava habituado. Sentia falta de um bom copo de aguardente ou de cerveja, mas ia fazendo força para entender o que me diziam a respeito dos males dos vícios. Raposamente, aproveitavam-se das desculpas que lançava sobre as bebidas para o evento do meu trespasse, para a comprovação de suas idéias.

Como estava cônscio dos horrores da solidão, uma vez que tivera consciência do tempo em que permanecera na cela umbrática, achava muito justas as observações, prometendo atender ao pedido para ingressar nesta instituição. Mas ia protelando a matrícula, pois sentia muita falta dos eflúvios alcoólicos, os quais ia buscar nos locais que freqüentara em vida.

Ali, ia percebendo como é que os seres do etéreo ficavam excitadíssimos com o fato de irem sugando o que podiam dos que exageravam no consumo do álcool. Eu nunca ficara bêbado inconsciente, nessas incursões noturnas. O que acontecia comigo é que me alegrava e me punha palrador, o que talvez facilitasse preservar certa lucidez relativamente aos pensamentos comuns que debatia com os parceiros. Foi só então que pude deparar-me com a verdade de minha sorte: fora o único culpado por ter oferecido ao acaso a oportunidade daquele trágico desfecho. Se me tivesse contido bem a tempo, se tivesse compreendido que a realidade é muito mais extensa do que os limites das casas noturnas, se me tivesse compenetrado de que as pessoas têm diferentes aspirações na vida, correspondentes aos sérios compromissos de reencarnação, com certeza não estaria naquele dia diante da violência com que fui rechaçado por aquela infeliz criatura.

Ao sair daquele ambiente, em esplêndida noite enluarada, fui abordado por dois indivíduos que se identificaram como meus protetores e me fizerem entender que deveria remediar os sentimentos de saudade que havia deixado no coração dos familiares, especialmente dos queridos pais, a quem não havia dado a devida importância.

Quando quis retrucar qualquer coisa relativamente à idade que tinha no término da estadia na carne, os amigos pediram-me para calar-me, pois iria receber todas as instruções a respeito do melhor raciocínio a desenvolver para cada circunstância da vida. Que tivesse calma e boa vontade para reconhecer que era grande a minha ignorância. Que me inscrevesse no curso mais leve e mais primitivo, para não me ver frustrado, na esperança de que meus conhecimentos tivessem alguma valia perante os mandamentos evangélicos.

Era um teste que se fazia, como certas perguntas que se põem diante dos candidatos a empregos, nas entrevistas. Não percebi nada disso, mas ponderei que, se seres tão superiores estavam deixando claro qual o caminho que deveria seguir, eu que me esquecesse das arrogâncias inúteis e me considerasse criança bem pequenina naquele estranho mundo, onde não me comprazia com nada.

Hoje, a dúvida mais forte se contém na perquirição das razões pelas quais não fui assediado por seres muito inferiores, conforme presenciei em diversas oportunidades, uma vez que foram inúmeros os casos de seres arrastados para as profundezas por entidades malignas que pareciam exercer ascendência ponderável sobre os demais.

Sei que fui muito resguardado pelos protetores familiares. Mas não atinei totalmente com a causa de tal proteção ter tido efeito, até mesmo quando fiquei isolado no báratro, sem a perturbação de seres mais perversos, que se locupletam em imoralidade ao fazerem os companheiros sofrer. Eis o mistério que espero desvendar um dia.

Assopram-me a possibilidade de não ter feito mal a ninguém, pois, se não ajudei muito, também não prejudiquei. Mas a história deverá ser buscada mais atrás, durante o período em que fiquei no aguardo do encarne e mesmo antes, nas anteriores encarnações. Dizem-me para que espere pacientemente a resolução desse e de outros problemas existenciais, pois não me devo considerar apto para o entendimento de como se aplicaram as leis de causa e efeito, em relação aos diversos acontecimentos que cercaram o meu espírito.

Se é de paciência e perseverança que estou necessitado, eis aqui bom motivo para considerar-me a caminho da aquisição dessas virtudes, pois estou atendendo o mais proficientemente que posso às reivindicações dos mestres da Escolinha, conforme se poderá concluir da análise que se fizer deste roteiro.

Estou quase querendo que desapareça da tela a minha composição, para que possa voltar atrás na inicial manifestação, quando não queria ver perdido o texto. Agora, quando estou encerrando este discurso, vejo que fui bem melhor do que qualquer expectativa pudesse fazer-me adivinhar.

Por isso, quero agradecer a todos que me têm ajudado a desempenhar a contento este papel de redator, prometendo, se Deus quiser, voltar a palmilhar os caminhos da mediunidade, na qualidade de orientador, para o que me empenharei bastante nos diferentes cursos que deverei freqüentar, conforme os roteiros que me forem determinados pelos professores. Se não tenho o que oferecer, irei criar condições para melhor servir aos amigos, sempre com o melhor dos sorrisos, pois quero recuperar de uma vez por todas, aquele poder de imantação e de simpatia que de mim se irradiava durante o encarne. E que saiba eu utilizar-me desse recurso com sabedoria.

Felicidades a todos, nesta véspera de Natal, e que os festejos de amanhã encontrem todos sóbrios e verdadeiramente eufóricos pela vinda de Jesus!















27



ARRASTÃO RETÓRICO











Eis-me para o meu trabalhoso dia de comunicação. Pedem-me que seja sucinto, pois, de meu habitual, tenho a vontade de estender-me elasticamente sobre inúmeros temas, sem fixar-me direito em nenhum e sem concluir definitivamente nada.

Mas, pela descrição que fiz, parece-me que estou recuperado, pelo menos parcialmente, da eloqüência desordenada que registrei, impedindo-me de desviar para outros assuntos, durante o primeiro parágrafo.

Pode parecer que as preocupações estejam sendo por demais egoístas, mas não sejam ranhetas para comigo e vejam se são capazes de atinar o porquê de me ter deixado extravasar, no sentido de ir dando informações periféricas a respeito da personalidade, sem adentrar profundamente no âmago das principais questões que me assoberbam a alma.

Será que o grande temor de enfrentar as verdadeiras condições de inferioridade não é o que me atira aos subúrbios temáticos, da mesma forma que muitos dos parceiros tentam justificar-se através do engrandecimento estilístico, escrevendo com elegância e apuro, coisa que meu escrito deve ter revelado impossível para mim?!

Pois vou dizer diretamente o que pretendi até aqui: é preciso analisar o que se escreve e não o que se gostaria de ver escrito. Ou, por outra, é necessário saber penetrar nos pensamentos mais íntimos através das informações prestadas, e não ficar pensando que tais ou quais frases ou expressões (quiçá até mesmo as idéias) teriam recebido outro tratamento, se escritas tivessem sido por vocês.

São tantas e tão danadas as formulações escamoteadoras da verdade, os disfarces, as hesitações e a timidez, que raramente encontramos um ser capaz de revelar-se por inteiro, como se conhecesse todos os fatores componentes de sua personalidade.

Não é verdade que, mesmo na Terra, são raríssimas as oportunidades que temos de contatar pessoas cônscias das condições mentais, morais ou sentimentais, aptas a descreverem o estado de ânimo mais habitual, através de linguajar fluente e claro?

Pois nós aqui, no etéreo, mantemos as tendências psicológicas do encarne, da mesma forma que, durante a vida, não alteramos significativamente os pendores que levamos para a crosta. Aí e aqui, somos, positivamente, as mesmas criaturas, com a diferença que nem todas as virtualidades, as capacidades ou potencialidades são colocadas no invólucro material, ficando muitas características escondidas, para que retornemos das incursões pela carne com diversas dificuldades superadas ou defeitos eliminados. Somos, enquanto encarnados, parcialmente representados. Entretanto, da mesma forma, enquanto estamos refazendo-nos dos sustos terrenos, ou melhor, durante o período em que vamos reintegrando-nos aos princípios definidos para os espíritos no etéreo, também ficamos só com parte de nossos registros sob domínio consciente, de molde que não nos perturbemos em demasia com os rudes defeitos ou as ameaçadoras atitudes, tendo em vista o desperdício que haveria, se perdêssemos muitos dos impulsos regeneradores.

Enfim, para resumir e para que não sejamos acusados novamente de dispersivos, vamos arrematar o tópico, afirmando categoricamente que nem tudo o que fazemos o faríamos em condições de perfeito conhecimento de nós mesmos, na completa assimilação de todos os dons que possuímos, bem assim na conscientização de todos os aspectos que merecerão, um dia, atenção para reforma.

Estamos navegando no entusiasmo que sentiu o escrevente ao ler a obra Sinfonias Inacabadas, de Rosemary Brown, onde a tese por nós levantada se acha superiormente explicada por espíritos evoluídos. Para não nos perdermos em indicações subjetivas, é que fizemos o escorço, conforme nosso ponto de vista, uma vez que não compreendemos inteiramente como é que se faz para se manterem obscurecidas certas partes da personalidade, para se poder dar curso aos programas estabelecidos para reencarne mais proveitoso.

Além do que estamos fazendo questão de destacar, quer parecer-nos que a obra referida contém muitas outras explicações valiosíssimas, sem, contudo, oferecer subsídios para a compreensão da lei da reencarnação, falha que notamos nos diversos autores anglo-saxões, conforme nos assopram os amigos que nos guiam nas aulas.

Relativamente aos aspectos doutrinais mais importantes, estão todos contidos nas suaves explicações da autora, de modo que recomendamos entusiasticamente que se leia com muita atenção a narrativa de sua formação mediúnica.

Feito esse verdadeiro parêntese, retomamos nossa diretriz, para voltar o interesse dos leitores para alguns fatos que irão desenhar-lhes nitidamente a personalidade, como no nosso caso de ficar lambendo as beiradas da canjica, para não nos queimarmos, se logo fôssemos buscar no centro do prato.

Existem muitos indícios dos problemas que devem ser levados em consideração para o ato da crítica. Por exemplo, se nós viermos dizer, de pronto, que, no último encarne, fomos assassinos ou ladrões, que não respeitávamos a vida de ninguém, nem os sentimentos, é justo concluir-se que não nos inteiramos convenientemente e que não nos arrependemos absolutamente do que fizemos, havendo até certa postura de superioridade em apresentar-nos pessoa liberta das pressões conscienciais, como se dominássemos completamente todas as reações e soubéssemos exatamente o que fazer para superarmos os aspectos mais débeis da conjuntura espiritual.

Ninguém que se tenha dominado completamente irá sentir-se à vontade para referir-se aos próprios atos, uma vez que não haverá mérito algum na lembrança das coisas que somente diminuiriam os seres. Não haveria sequer modéstia, ponto de honra para quem deseja acreditar que não tem nem os primeiros traços da santidade ou da angelitude. Reconhecer-se pequeno é muito importante e sentir vergonha dos males que causou é natural em quem principia a avaliar a conduta à luz dos conhecimentos evangélicos.

Esperando não ter-me desviado demasiadamente dos tópicos que me foram recomendados, atendendo ainda à solicitação de ser breve, proponho que me seja dado o direito de me afastar desta mesa, para não enfadar mais o cansado escrevente, nem entediar os leitores.

Observem o último parágrafo e sintam a sua total inutilidade. Foi escrito por quem está acostumadíssimo em ir dando margem a que a conversa se estenda indefinidamente e aqui foi colocado de propósito, para que os amigos possam avaliar se estão aptos a distinguir o que de verdadeiramente aproveitável existe nas mensagens, a par dos inúmeros e volumosos itens completamente inócuos para a realidade de quem esteja interessado em progredir espiritual ou moralmente (intelectualmente seria termo muito ousado para este tipo de escrita).

Pois aí está pequenino modelo de desenvolvimento que deverá receber reformulação pelos amigos leitores, para eliminação de todos os vocábulos ou expressões (e idéias) que não deveriam jamais ter formado conjunto tão inútil, tendo em vista que esta composição se integra em grupo de mensagens na qual se procura, a par de evidenciar as deficiências dos aluninhos, prevenir os amigos para que não caiam nas mesmas questões, nos mesmos maus hábitos, nas mesmas armadilhas que costumam preparar para os outros, mas que acabam apanhando a si mesmos.

Está o pobre escrevente em palpos de aranha, pois não sabe se dá seqüência ao apanhado do ditado ou se corta ex-abrupto a comunicação, mesmo porque estamos perigosamente adentrando (de novo) sua semeadura, com o risco de perturbar o crescimento das tenras plantinhas. Fica pronto para desviar o ritmo da linguagem, considerando que as figuras ou metáforas que empregamos não terão repercussão alguma dentro de texto que não contém diretrizes literárias, nem mesmo quando se propõe a desviar a atenção para os subúrbios espirituais, conforme a imagem que faz questão de nos lembrar e que aplicamos mais acima.

Por outro lado, não vamos deixar de mencionar a confortável condição de quem escreve sem preocupar-se com os dizeres, apenas prestando atenção para que as frases se componham com sentido e que não extrapolem em demasia a liberdade da utilização dos termos, pois cavalos que voam com asas não irão pastar em seu gramado nem repousar em suas cavalariças.

Ousamos um pouco mais para ver se adquiríamos o direito à gravação das idéias arrevesadas e quem se surpreendeu fomos nós mesmos por termos sido aceitos, sem qualquer espécie de rejeição. Parece-nos que o amigo realmente registra todos os impulsos, com o pensamento de fazer o texto passar por severa triagem, no momento das correções datilográficas.

Agora são os amigos mais velhos de casa que acorrem em socorro do irmão médium, fazendo-me ver que estou falando sobre algo que desconheço, pois os impulsos que estou recebendo do escrevente, e que traduzi como idéias de corte do supérfluo ou do errado, nada mais são do que informações que deveria ter percebido como avisos de que o trabalho está estruturado segundo roteiros definidos pelos orientadores da Escolinha de Evangelização, de modo que a vontade ou os desejos do amigo encarnado valem muito pouco. Por outro lado, dado que se trata de antigo professor de língua pátria, tem por obrigação ajustar os dizeres à metodologia gramatical (o que inclui a parte gráfica). Em absoluto não tem qualquer liberdade (e não vem tomando a iniciativa de conquistá-la) para alterar ou adulterar os textos, segundo princípios estilísticos próprios. Se as frases que escreve têm muito de seu jeitão de escrever, isto se dá porque precisa rapidamente interpretar os impulsos eletromagnéticos que lhe infringimos ao sistema nervoso, o que o põe de sobreaviso para os registros mais convenientes, no justo momento em que está trabalhando para nós.

Não esperava que os meus caminhos iriam derivar para tais bandas, pois pensava que tinha tudo sob controle, no momento em que me pus a par do tema sobre que teria a responsabilidade de explanar. Vejo que recebi algumas lições importantíssimas, as quais não sei se terei condições de assimilar imediatamente. Prometo que irei dedicar-me ao estudo das frases que intermediei, buscando incutir na mente os valores morais de que estão eivadas, pois não vejo com olhos de prevenção as recomendações que se encontram subjacentes nas observações transcritas.

Para finalizar, não tendo muito de mim para oferecer, vou repetir o conselho que deixei mais acima, qual seja, o de que os amigos devem sempre cotejar as formulações textuais, não no sentido da crítica às mensagens, mas no de averiguarem quais os defeitos que perpetrariam, caso se vissem na necessidade de dissertar a respeito dos mesmos temas. Se esta diretriz ficar bem delineada na mente dos amigos, ter-me-ei dado por inteiramente satisfeito.

Quero, respeitosamente, agradecer a todos e abraçá-los por terem estado atentos até o fim, tantas e tão evasivas foram as frases com que compus esta manifestação. Perdoem-me, por favor, e não levem em conta os defeitos, senão o ávido desejo de poder ser útil. Principalmente, agradeçam a Deus a oportunidade de estarem tranqüilos em seus lares e aptos à análise de suas personalidades. Muito obrigado!















28



CRÍTICA TEMEROSA











É escrever e apagar, dado que não tenho categoria para vir explanar a respeito de qualquer coisa que não seja a experiência de dor, dentro dos limites impostos a quem não seguiu os roteiros de amor determinados pelo Cristo.

E eu bem que deveria exaurir todos os ensinamentos do divino Mestre, uma vez que era ministro do Senhor em determinada religião, muito tradicional.

Não quero declinar o nome da crença que deveria divulgar, por injunções próprias, já que não estou impedido de fazê-lo. É que me envergonho de pertencer aos quadros apostólicos, sem que me tenha dado conta sequer dos benefícios que deveria prestar solidariamente aos companheiros de encarne. Devo afirmar que agora sou bem capaz de executar a crítica até dos princípios dogmáticos, mas, na ocasião, não realizei os mínimos mandamentos eclesiásticos, tendo desonrado os compromissos para com a sociedade e os votos em relação à Igreja.

O mais interessante de tudo aconteceu quando retornei ao campo do etéreo, onde fui recolhido em júbilo por inúmeros sacerdotes, que me levaram em triunfo para amplas instalações, tendo projetado para mim lugar de destaque dentro da instituição, pois me consideravam o mais digno de seus representantes. O que estranhei foi não ver a lisura dos procedimentos, o recato das expressões ou a morigeração dos costumes. Tudo era tão grosseiro, que não me foi difícil verificar tratar-se de instituição malévola, com objetivos declarados de vilipendiação das reais formulações evangélicas e, portanto, catequéticas, buscando os integrantes da corporação tão-somente desvirtuar os princípios mais sagrados, fomentando, no seio da coletividade dos seguidores ou admiradores, profundas dissidências relativamente ao que lhes restava do aprendizado mais puro que haviam realizado na Terra.

Não sei até que ponto tenho permissão para revelar aos encarnados a respeito das atividades que me atrevi a desenvolver, mas posso assegurar que não foram as melhores do mundo, já que vi muita gente perder a real fé que iam depositando no Senhor, para tirarem proveito dos rogos, de forma que pudessem ver-se a cavaleiro em relação ao restante da sociedade. Se pediam pelos semelhantes, muito maiores eram as súplicas pelo crescimento dos próprios bens.

Pedem-me para não ir adiante, mas para informar que a responsabilidade não pode ser totalmente assumida pelos que do etéreo assopram os vitupérios, uma vez que existe a lei do livre-arbítrio a reger os atos de todos os indivíduos, embora muitos se deixem seduzir pela grandiloqüência argumentativa de seres mais habituados à utilização da palavra, como instrumento de domínio psíquico.

Pois aqui estou eu para esta curta manifestação, já que me encarregaram de perscrutar os arcanos da mente da comunidade que hoje está sob a orientação de meus sucessores, e contra a qual até algum tempo atrás investi, para os sucessos a que acima fiz referência.

Preciso dizer que foi com grande surpresa que pude observar que as pessoas bem pouco mudaram desde que as visitei pela última vez, estando como que firmemente cristalizados certos princípios, dos quais não arredarão pé tão cedo. Destinam-se, evidentemente, a engrossar o grupo dos que se estimulam a seguir os falsos protetores, vestidos com roupagens condizentes com os cargos, lembrando a instituição terrena nos detalhes mais insignificantes.

Sei que os eventos na carne reproduzem, de certa forma, o que ocorre no âmbito da espiritualidade. Nem sou tão inculto que não conheça o chamado Mito da Caverna, segundo o qual Platão descreve o verdadeiro mundo como o da espiritualidade, sendo o carnal somente o seu reflexo, ou as sombras que se projetam de encontro à vista de quem olha para fora, na direção da luz.

Pois até aí devo dizer que as instituições religiosas terrenas reproduzem, mais ou menos fidedignamente, todos os procedimentos que se operam no âmbito espiritual. Da mesma forma que as pessoas na Terra não querem admitir a verdade espírita, refugando a doutrina de Kardec como alienada e fruto dos malignos poderes do Demo, assim também, no etéreo, os sacerdotes adotam idêntica postura, não adiantando um passo na direção do Cristo e impedindo que os de seu rebanho também o façam.

O que deve estar incitando a curiosidade dos amigos leitores é o fato de ter eu escapado de tal influenciação, para vir até esta casa de ensino evangélico, a fim de reciclar os conhecimentos e reordenar a postura filosófica, no sentido de compreender melhor a realidade, com o fito de prosseguir buscando a verdade superior, aquela que nos dará a todos o direito à cidadania celestial.

Não me foi fácil livrar-me das garras pegajosas dos que me endeusavam ao extremo, apesar de ter perdido, praticamente, todas as oportunidades de progresso. Acontece, contudo, que, se não cumpria com os deveres jurados perante o altar, estabelecia forte vínculo com as diretrizes das leis naturais. Não aceitava as restrições quanto ao sexo e à constituição de família, tendo favorecido a que diversas criaturas ingressassem na carne por meu intermédio, o que me ajudou a manter fortes relacionamentos afetivos.

É verdade que disfarcei quanto pude a paternidade, para manter-me com as regalias do cargo, e foi essa a principal razão de me ver em apuros e de me ver eleito pelos pares como símbolo da desfaçatez, pois a turminha daquela negra instituição não admitia os puros e os honestos, julgando que os que se rebelavam contra as diretrizes estabelecidas nos cânones da instituição é que teriam melhores condições de prosseguir mantendo-a viva na face do orbe.

Essa aparente contradição me deixou perplexo, pois era eu absolutamente consciente de que estava errado em descumprir os mandamentos eclesiásticos, julgando-me em pecado mortal. Ao chegar a esta esfera e ao deparar-me com tão descompassadas criaturas, atinei que iria ter de continuar com a farsa que mantive durante a vida.

Na primeira tentativa de me libertar dos laços tenazes que me prendiam ao grupo, percebi que iria ser perseguido pela incompreensão dos demais. Procurei manter em segredo o mais que pude o desejo de me subtrair de tão penosas condições, até o dia em que, de repente, me vi nos braços de meus pais, pois o que os comparsas não conseguiam notar era registrado facilmente pelos protetores.

Se me arrependi? Completamente, e foi isso que me fez ver que aquela existência iria perdurar indefinidamente, enquanto não me revoltasse contra os crimes que estava sendo levado a praticar.

Hoje aqui estou, trazido pelas mãos seguras de vários companheiros de aventuras terrenas, para este depoimento incompleto e imperfeito. Se, apesar de tudo, restar o fato de que não consegui esconder de que religião se trata, pelo menos espero que se reconheça que não desejei, em momento algum, desprezar a instituição, pois acho que, tempo virá, com as revoluções espirituais por que todos devem passar, a Igreja poderá assumir papel na orientação das almas, volvendo ao cristianismo mais puro, aquele que se acha descrito nos Evangelhos, pelas palavras nem sempre confiáveis ou persuasivas dos evangelistas, mas explicadas e elucidadas pelo Codificador.

Penso que, por esse tempo, estarei de volta à carne e pretendo vestir as roupas de sacerdote, para efetuar o bem que, na última peregrinação, deixei de praticar.

Como derradeira informação, devo dizer aos amigos que muito me foram úteis os conhecimentos que adquiri no seminário, pois registrei na memória muitas passagens significativas da vida de Jesus, tendo ficado mais fácil de realizar os estudos e demais tarefas que me são determinadas. Sendo assim, à vista da anterior ignorância dos temas morais, até que a vida não foi de todo baldada.

Recomendo, pois, que os dignos confrades iniciem já o estudo afincado dos textos bíblicos, para poderem brilhar um pouquinho mais junto à sua turma, na instituição escolar que os agasalhar. Mas não sejam duros, teimosos e renitentes, como tenho sido, uma vez que nem todos os esclarecimentos sou capaz de aceitar de pronto, preferindo, muitas vezes, nostálgica e comodamente, acatar o parecer antigo, mais fácil de aceitar para utilização imediata, principalmente como ponto de apoio para fomentar, nos espíritos das criaturas sob nossa orientação, o temor de estarem a ofender a Divindade, se ponderarem a respeito dos temas tidos como intocáveis, através de argumentação lógica e realista.

Foi só me darem corda e, pronto, demonstro a tendência à fixação de diretrizes inflexíveis e duras, como se tudo dependesse exclusivamente de um único ponto de vista. Vou suspender a digressão, crente de ter esgotado o assunto, já que tudo fiz girar em torno de minha condição de vida e de minhas conclusões exclusivas.

Ainda tenho muito que aprender. Procurarei fazê-lo sob as luzes evangélicas e sob o amparo do Senhor, a quem constantemente rogo para que me torne submisso a esta turma, eliminando de vez aquela atitude personalista que adotei relativamente aos mandamentos da igreja a que servia. Penso que este seja o próximo passo que deverei dar.

Agradeço muito a todos pela atenção e peço desculparem-me por não ter trazido considerações mais positivas a respeito das atividades espirituais de que participei. Em todo caso, se algum ministro religioso se considerar livre para errar a vista sobre estas apagadas recordações e estes conceitos incompletos, que fique atento para o seu procedimento relativamente aos demais companheiros de existência, pois pode estar aí o calcanhar-de-aquiles de seu processo evolutivo.

Que Deus nos abençoe a todos e tenha comiseração pelos sofredores!















29



PARA QUANDO O CANSAÇO APERTAR











Se quiser o médium dispensar-se desta tarde psicográfica, faça-o sem medo de ofender aos amigos da espiritualidade. Estamos ficando mal acostumados com a sua atenção e desvelo, de sorte que não temos tido a idéia de que possa estar necessitado de repouso, pois o trabalho continuado é cansativo e psicologicamente inconveniente, pela repetição exaustiva dos mesmos modelos e dos mesmos assuntos, além do fato de se encontrarem comunicações quase sempre niveladas pela mesma faixa de ondas eletromagnéticas.

Como não estamos sentindo interesse em abandonar o posto, vamos prosseguir, aproveitando o desenvolvimento pessoal para generalizar os conceitos, oferecendo aos demais leitores a oportunidade de encontro com texto que poderá evidenciar os cuidados e os descuidados que os grupos de espíritos guardiães podem ter em relação aos que estão prestando-lhes o auxílio mediúnico.

Como vocês têm desempenhado a sua parte nos trabalhos psicográficos?

Se estão integrados em pequeno grupo de médiuns, nos centros espíritas, deverão estar dando continuidade esporádica aos temas mais gerais da codificação, condensados para apreciação íntima do pessoal que se juntou para a finalidade de receber e de propiciar socorro espiritual.

Se não estão trabalhando com psicografia, mas se constituem em médiuns psicofônicos ou videntes, se apanham ditados pictóricos ou musicais, se têm desenvolvido o sentido da cura ou meramente contribuem para a elucidação dos temas na qualidade de doutrinadores, acreditem que têm o mesmo grau de importância que atribuímos a quem dá vazão a estas longas mensagens escritas.

Se, apesar dos esforços e das tentativas mediúnicas, estão categorizados entre os que desempenham melhor os trabalhos no campo material, auxiliando os enfermos da alma e do corpo a se recuperarem para vida mais frutuosa, aceitem os agradecimentos pela ajuda que estão dando no campo da sustentação fluídica das sessões, pois é da boa disposição das pessoas eméritas na virtude da caridade que dependemos para o exercício das funções no campo do contato entre vivos e mortos.

Se, entretanto, apesar de haver certa vontade íntima de partilhar das tarefas em alguma organização espírita, estão titubeantes, não acreditando deveras que venham a ter sucesso, caso ingressem em alguma casa de atendimento espiritual, uma vez que podem estar lá apenas com o corpo mas com a alma afastada pelo temor de estar enfrentando seres moralmente inferiores, pois nada os faz crer em que sejam sérios os misteres ali desenvolvidos, saibam que estamos, a todo momento, vibrando favoravelmente a vocês, no sentido de que venham a adquirir coragem, intrepidez e dinamismo para superarem as deficiências da fé. Não pensem que estamos a todo momento escrevendo só para espiritistas convictos, dotados de integral confiança em todos os eventos que ocorrem junto às mesas mediúnicas. A bem da verdade, são raríssimas as criaturas que crêem estar diante de fenômenos inteiramente produzidos pela presença dos irmãos da espiritualidade, sendo mais encontradiços os que desconfiam até da própria realização mediúnica, como evento realmente provocado por forças do plano espiritual.

Qualquer seja o seu caso, saiba que os guias e protetores têm o máximo de consideração pela sua vontade, mesmo quando não inteiramente justificada. Assim, quando desejarem afastar-se por algum tempo dos trabalhos mediúnicos ou outros que transcorrem nos ambientes sagrados dos templos espíritas, não hesitem em consultar os orientadores morais do plano etéreo, os quais trarão as notícias atualizadas de suas disposições reais, para esclarecimento dos fundamentos psíquicos que estão a provocar o cansaço ou o titubeio.

Foi assim que tivemos ensejo de vir à presença do mediador, pois enviou-nos diversas consultas no sentido de saber se não estaria, de alguma forma, burlando os compromissos assumidos com os elementos da Escolinha, ao sentir forte impulso para abandonar por alguns poucos dias o trabalho, a fim de poder dar assistência complementar aos familiares, por ocasião da passagem de ano, já que sua residência irá agasalhar bom número de convidados, para os quais há necessidade de preparar condigna recepção.

Pelo andar da carruagem, já se pode perceber que não temos pelo irmão qualquer receio de que irá desagradar-se de não receber a autorização solicitada, pelo menos no que se refere ao dia de hoje, que nos parece estar sendo por demais proveitoso, principalmente porque estamos penetrando por tema que dificilmente nos ensejariam os irmãozinhos que participam conosco das transmissões, na qualidade de aluninhos de primeiras letras.

Sirva esta dissertação como ponte a unir o nosso grupo aos demais que perpassaram por esta pena, para que não se suspeite de que estejamos navegando por paragens estranhas, em busca de roteiros desconhecidos. O que fazemos se integra completamente nos currículos elaborados pelos mentores da instituição, sofrendo pequenos desvios estruturais, em virtude do tipo de tarefa que nos impusemos cumprir, em relação às orientações estabelecidas para a segunda turma, aquela que realmente efetua as transmissões junto ao médium.

Mas, como não estamos querendo dar a impressão de desconsideração pelo pedido do irmãozinho, vamos suspender com alguma antecipação os ditados desta tarde, oferecendo-lhe mais alguns minutos para trabalhar junto aos familiares. Isto não quer significar, absolutamente, que o estejamos escravizando aos desígnios da turma nem que o obrigamos a desempenhar até o fim o seu papel, só porque houve um tempo em que manifestou o desejo de nos acompanhar até o final de seus dias. Abriremos mão, com pesar, de sua contribuição, mas lhe devolveremos a liberdade de escolha do que julgar mais conveniente para perfazer a caminhada rumo ao reino do Pai.

Quem estiver julgando que estejamos dizendo algo que não cumprimos, pois estamos levando avante o ditado, apesar do anúncio de interrupção, não nos julgue tão maliciosos ou indignos, pois somente estamos dando continuidade porque o amigo nos dá condições de prosseguirmos até onde desejarmos levar o tema.

Eis que legitimamos, em relação ao grupo, a atitude serena do escrevente, para ressaltar o tipo de procedimento que julgamos o mais condizente com a programação que todos temos de cumprir. Que bom seria se esse tipo de compreensão estivesse no bojo moral de todos os que se põem à disposição do etéreo, para que possamos fundear nossa nau no porto seguro de sua confiabilidade.

Solicitamos aos irmãos que se estimulem diante destas assertivas e que se disponham a receber ditados de mesma têmpera argumentativa, para avaliarem até que ponto estão favorecendo a que as idéias se reproduzam com discernimento e propriedade, tendo em vista as esdrúxulas colocações que estipulamos para o mediador.

Vamos arrefecer o entusiasmo, quando verificarmos que os temas estão ficando por demais cediços ou repetitivos. Vamos oferecer resistência, quando certo nível de malícia envolver o escrevente ou os prováveis leitores, evitando que corram riscos desnecessários, ao mesmo tempo que estaremos impedindo que os irmãos menos categorizados procedam de forma irregular, acrescendo mais dificuldades ao passivo dos débitos. Vamos realizar somente o que nos parecer justo por amor das criaturas que nos procurarem, evitando, através de sinceras orações aos mentores do grupo reunido, que se pratiquem quaisquer males através de nossa ingênua postura de subserviência completa aos irreverentes obsessores que nos tentarem dominar as reações. Estejamos sempre atentos, para que não nos envolvamos também nós nas falcatruas dos que nos querem ver perdidos para a mediunidade ou para a seara espírita.

Vejam que, de uma tarde que poderia ser suspensa de início para atendimento ao médium, conseguimos fazer algo de bom para alguém necessitado deste tipo de apoio espiritual. Certamente, para o escrevente, estaremos fornecendo razões para que muito se alegre por ter mais uma vez podido desempenhar o seu papel, de forma a acrescentar mais alguns méritos ao conjunto de abnegações que vem guardando como reserva moral, para apresentar por ocasião da prestação consciencial de contas. Enfim, para os companheiros aqui reunidos, tivemos mais uma tarde de trabalho produtivo, que propiciará a todos os aprendizes motivos para contemplarem o quanto haverão de progredir, se vierem a assimilar os ensinos subjacentes a este tipo de comunicação.

Aos mentores, o nosso agradecimento pelo roteiro que nos ofereceram como alternativa para este dia atípico do Grupo do Reforço II, o qual nos deu ocasião de volver aos trabalhos diretamente com o mediador. É bom desenferrujar as articulações mentais, até mesmo quando vimos trabalhando energicamente no campo da mediunidade.

Ao Senhor Jesus, a nossa rogativa para que nos ampare, dando a todos os elementos desta enorme equipe condições de apresentar-se ao trabalho, com entusiasmo e boa vontade.

Roguemos ao Pai que nossos desejos estejam firmemente vinculados aos anseios evangélicos que norteiam os atos da Escolinha de Evangelização e agradeçamos-lhe, comovidos, esta maravilhosa tarde psicográfica. Repousemos nas mãos do Pai!















30



ANO NOVO: VIDA NOVA?











Mais um dos amiguinhos do grupo vem trazer o reforço de suas palavras para a configuração do quadro ideológico da turma. Existem mais alguns que deverão prestar depoimento, de modo que devemos fazer com o que o mediador e os demais leitores se munam de alguma paciência, para tolerar os desavisados textos, tão frágeis, mas tão importantes para nós.

O que gostaríamos de dizer, efetivamente, é que estamos por demais contentes com o desenvolvimento dos trabalhos, pois nos sentimos bem melhor depois que iniciamos a tarefa psicográfica, com a qual contamos para aperfeiçoar os contactos com os irmãos encarnados, principalmente com aqueles a quem devemos ou que nos devem: com os primeiros, para prometer-lhes pronto pagamento, assim que possível: com os demais, para avisá-los de que estão plenamente perdoados, não restando, no passivo, nada com que se preocuparem.

Quanto à similitude dos textos, o que provoca a desconfiança de que não seja mais de um o comunicador das mensagens, pode ficar o escrevente descansado, que a semelhança se dá só no campo das vibrações, resultando em composições bem parecidas quanto à estrutura formal. Entretanto, tudo não passa de mero recurso gráfico aplicado ao conjunto dos textos, pois não podemos ficar a expor mensagens disparatadas em razão de estarmos a receber as mesmas orientações, segundo modelo forjado especialmente para este grupo. É do carinho dos professores que resulta este conjunto harmonioso, embora tenhamos plena liberdade em dirigir-nos aos amigos leitores, conforme se estipulou de início. Mas tal liberdade se restringe ao trabalho pessoal de rememoração ou de aviventação dos problemas pessoais, de forma que os temas ou assuntos é que vão definindo as personalidades. Basta reler algumas das mensagens para perceber que houve quem levasse ao conhecimento dos leitores situações pungentes, de graves envolvimentos em crimes hediondos, enquanto outros se definiram meramente como pais de família, criaturas até certo ponto inócuas para a sociedade, mas que se definharam em existências apagadas e insossas.

Não haverá como confundir os carmas, tanto que as penalidades declaradas foram extremamente diferentes, tendo alguns passado por sofrimentos rudíssimos, enquanto outros permaneceram praticamente de quarentena, em algum isolamento, para que pudessem reativar os processos conscienciais em desarmonia.

Quanto a mim, além desta explanação inicial suscitada pelas reflexões do médium nos dias de festejos de ano novo, também tenho o dever de vir trazer meu testemunho de dor, pois não tenho qualquer prevalência sobre os demais. Também não vou dizer que esteja entre os mais sofridos, pois todos fazemos questão de nos equipararmos em tudo, uma vez que não podemos fazer valer pequenas conquistas, estando a navegar pelas mesmas águas, no mesmíssimo barco.

Se fui bom ou mau pai, marido, irmão ou filho, não irá contar muito para a finalidade desta dissertação, pois tenho por objetivo demonstrar que nem todos os humanos estão capacitando-se para a compreensão dos trabalhos de ajuda que vêm merecendo. Assim, vou deixar de lado a apresentação das duras penas que enfrentei no báratro, para prevenir quanto ao desconhecimento que se faz questão, muitas vezes, de demonstrar, relativamente ao fato de que se vem recebendo continuadamente ajuda do etéreo.

São muitos os indivíduos que se consideram absolutamente independentes, incapazes de julgamentos justos quanto ao fato de não serem perfeitos em nada. É como se houvesse profundo orgulho em desconsiderar as pessoas, não categorizando-as, dando aos protetores a figuração de fundo de cena, como se devessem restringir a sua participação, nas vidas dos pupilos, a afastar os espíritos maldosos, evitando que venham a sofrer qualquer atropelo na consecução dos objetivos de vida.

Quem tiver esse pensamento, e são muitíssimos os que o têm, devem resguardar-se para não acabarem perdendo a proteção dos amigos da espiritualidade, que se vêm impossibilitados de qualquer atuação, em função de serem colocados de lado os roteiros estabelecidos, não somente durante a vigília, quando os indivíduos permanecem inconscientes para sua real natureza e a do seu encarne, como ainda durante o sono, momento em que se recusam a volver a análise para o procedimento que vêm adotando, insistindo no afastamento dos amigos do etéreo, como se se julgassem seres perfeitíssimos.

Alguns chegam ao desplante de afirmar, grosseiramente, que preferem errar sozinhos, para não darem o gosto aos protetores de executarem a sua parte das tarefas de regeneração. São seres que perdem inúmeras oportunidades, especialmente porque temem os sofrimentos, munindo-se de poderosas armas e entrincheirando-se sob pesadas muralhas, as primeiras através de argumentos ferinos, que estipulam para todas as criaturas deveres e obrigações, antes que venham a ter direitos e regalias; as segundas, formadas de estrutura psíquica inamovível, justificando todas as atitudes como de coerência inabalável, perante o aprendizado que conseguiram de alguns tópicos captados nos Evangelhos e que utilizam em sua defesa com certa destreza, sem auferirem os méritos universais que teriam se aplicados a todas as criaturas. Trazem para sua sardinha todas as brasas, evitando conhecer que os demais também possam estar necessitando dos mesmos dispositivos morais ou materiais para edificação espiritual.

Mas não vamos estender-nos em recriminações. Além de trazer o auxílio da advertência e o reflexo das meditações fundamentadas nos ensinamentos dos eméritos instrutores, somente nos cabe incentivar os amáveis leitores a que tomem a pulso serenar o coração diante das necessárias transformações, evitando que haja forte incremento de insegurança no carcomido edifício da personalidade. Que o estresse produzido pelas revelações conscienciais não se transformem em agoniada angústia depressiva, a ponto de haver sugestões de profundas autopunições, o que chegará a desagradáveis níveis no curso da existência, se não houver o contrapeso da esperança de que todos seremos atingidos pela misericórdia do Senhor. E este é o principal mister dos anjos da guarda, dos amigos da espiritualidade, que têm por obrigação velar pela preservação dos bens espirituais, como os mais importantes, para que os protegidos possam cumprir a missão a que vieram.

Dar, pois, ouvidos aos protetores é cumprir parte do programa estabelecido; jamais será algo alienante ou prejudicial.

Por outro lado, apenas para oportuna referência ao fato, havemos de citar os que se deixam iludir por falsos amigos, transvestidos em auxiliares eficientíssimos, mas que só determinam atitudes de desprezo pelas normas evangélicas, para que se justifiquem como mandatários da Escuridão, uma vez que têm por compromisso o desvio de conduta dos inimigos ou de qualquer ser humano, pois muitos existem que se compenetraram de que estão a serviço do mal ou do Demo, completamente inconscientes para o bem e para o amor.

É comum encontrarmos, na literatura ou nos relatos jornalísticos, episódios em que pessoas, até certo ponto bem postas na vida, chegam a verdadeiros disparates nas mãos de hábeis senhores a serviço daquelas entidades, sempre que dão azo a que as tendências ao crescimento material assumam preponderância sobre todos os outros pendores da personalidade.

É estranho que assim ocorra? Muitos iriam surpreender-se se algo semelhante lhes chegasse ao conhecimento, tendo sido produzido por alguém de seu relacionamento? No entanto, são muito mais freqüentes esses casos do que gostaríamos que fossem, o que onera por demais o serviço do socorrismo evangélico fundamentado nos ensinos de Jesus.

Como sempre, a regra básica para não se errar na configuração dos melhores procedimentos é deixar o instinto pautar o que gostaríamos que fizessem para nós, levando a razão a conceber a melhor maneira de fazermos exatamente aquilo aos semelhantes. E isto é o que o Cristo quis que entendêssemos, quando nos disse que tudo poderia transcorrer da melhor maneira quando fôssemos capazes de amar até os inimigos, da forma que ele mesmo nos amou.

Como são simples as palavras utilizadas por Jesus! E como somos capazes de complicar todos os conceitos, evitando dar-lhes o tônus significativo da humildade, da benquerença e até mesmo da subserviência, quando constatamos que estamos deveras distanciados da perfeição, havendo quem tenha caminhado mais, pelo menos na configuração do quadro das preponderâncias, porque os que se encontram do outro lado têm a obrigação de velar por nós.

Eis que atingimos o mesmo ponto através de outro raciocínio. Mas não iremos insistir, conforme acima mencionado, nas objurgações das intemperanças, nas acusações, nos deslindamentos emocionais. Deixemo-nos envolver pela suavidade do pensamento de Jesus, e repitamos, constantemente, na intimidade de nossos corações:

— Preciso amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo. Preciso forçar o entendimento final dessa verdade cármica, pois não haverá outra saída possível, se estiver realmente interessado em receber a ajuda dos irmãos que adquiriram esse sentimento e são capazes de espargir amor a mancheias. Preciso deixar-me envolver pelos fluidos energéticos dos benfeitores espirituais, para obter da vida tudo o que pode oferecer-me, mesmo que à custa de algum sacrifício e de muita luta. Preciso reconhecer que não tenho capacidade suficiente para me tornar independente e livre, para poder caminhar sozinho, peregrinando desabrido através da selvageria que acuso nas criaturas que comigo repartem este torrão planetário. Preciso arrefecer os impulsos de solidariedade no mal, pois muitos são os que me têm merecido as piores alcunhas, sem que tenha eu distinguido neles aquela chama divina que transforma todos os seres em irmãos em Deus. Preciso reaver a primitiva pureza, não mais pela ingenuidade gratuita de quem tem tudo e não necessita alimentar qualquer desenvolvimento lógico por meio do esforço intelectivo, mas pela aplicação de todos os recursos da inteligência, para a compreensão de que os eventos existenciais, para que venham a realizar-se integralmente, necessitam receber o empuxo da assimilação, transformando as verdades em realizações espontâneas do ser. Preciso revelar-me a mim mesmo o que sou na realidade, para o que necessito estar em dia com as virtudes da honestidade, da boa vontade, do desprendimento, para não ficar a forjar personalidades de ficção, às quais, mais ou menos, vou ajustando-me, para dar continuidade a esta vida de dissipação cármica. Preciso, finalmente, atender aos reclamos de todos os amigos, conhecidos e parentes, estendendo a generosidade para quantos venham a entrar em contacto comigo, em quaisquer circunstâncias da vida.

Nesse ponto das meditações, o melhor coroamento será prece dita com muita emoção, em agradecimento ao Senhor pela possibilidade de se estar tão evoluído perante o restante da humanidade, a qual não tem sequer o recurso da leitura e da compreensão das idéias mais elementares a respeito do que se espera de cada um, no âmbito dos resgates conscienciais.

Devo dizer que os amigos de grupo ficaram um pouco assustados com os progressos que evidenciei na confirmação dos deveres que deverão ser cumpridos pelos leitores. Talvez tenha exorbitado dos justos limites da modéstia que minha falta de capacidade deveria estabelecer. Mas é que não resisti ao desejo de esclarecer, indiretamente embora, qual tem sido o principal problema que devo solucionar.

Fiquem, caros amigos, tranqüilos, que só estou dando ao médium algo a mais com que se entreter, pois — asseguro-lhes — deverá quebrar a cabeça para colocar todos estes pensamentos em ordem, para justificar, perante si mesmo, a permanência desta comunicação em meio às outras.

Se não estou dando grande importância ao fato, é porque me compenetrei de que nem tudo o que dizemos representa, finalmente, algo que respeitamos deveras como sendo profundamente útil ou proveitoso, uma vez que tudo deve passar primeiro pelos filtros das restrições de cada ser, de forma que bem pouco acaba sendo aproveitado pelos leitores. Assim, quando se for editar estes textos, muito se perderá de vez na memória dos tempos, pois tudo o que não for perfeito não poderá adentrar o reino perfeitíssimo do Pai.















31



PROPAGANDA E ESPIRITISMO











Mais um dos discípulos da Escolinha de Evangelização se apresta para o ditado, pronto para despejar os seus avisos e ensinamentos. Verdadeiramente, estamos franqueando a ironia, pois é preocupação nossa que os estímulos denegridores das personalidades venham aperfeiçoando-se na mente humana, em detrimento da melhoria das condições saudáveis do pensamento fundamentado nas diretrizes evangélicas.

Estranha o irmão médium o linguajar desta turma, pois considera que todos estamos em fase muito elementar de desenvolvimento para oferecer material trabalhado dentro do vernáculo, com o acréscimo de orações buriladas, em função do jargão mais corriqueiro dentro dos muros deste educandário.

Pois devemos afirmar-lhe que, se nos permitisse explorar um pouco mais a fundo seu repositório de termos técnicos, poéticos ou filosóficos, poderíamos até compor texto com muita argúcia, produzindo obra capaz de equiparar-se aos melhores autores. Mancar-nos-ia o sentimento, mas, por certo, as lucubrações imaginosas preponderariam, fazendo vibrar em emotivo suspense a maior parte dos leitores.

Eis o exemplo dos dizeres que viemos combater, pois o homem moderno, estudioso da forma em função da condução da opinião pública, não se fundamenta nos Evangelhos e destitui os herdeiros do reino do Senhor, confabulando com os mais perversos, para a adequação do pensamento coletivo aos roteiros da ganância, do vício, da imoralidade e da escravização subliminar aos desejos inconscientes que se criam e se alimentam pela propaganda de massa, a qual se utiliza dos recursos mais atuais de diversas tecnologias ou configurações ideológicas, para que o status quo não se altere significativamente, propiciando-lhes manter a preponderância adquirida.

A ironia, que, a princípio, empregamos relativamente a nós mesmos, é pequeníssima parte desse todo, que se organiza sobre o despreparo da multidão para a crítica aos que se apoderaram dos postos-chaves em todos os setores da sociedade. Há um plano diretor que dirige os eventos sociais de caráter universal, para que não haja solução de continuidade, no fomentar das crises que obliteram o raciocínio, fazendo aflorar o temor, a sensação de que, se não houver resguardo pessoal, tudo irá derruir-se completamente, submergindo a civilização que os tempos vêm erigindo, paulatina e eficazmente.

São tais preconceitos que demonstram de forma cabal que as pessoas não estão confiando em que os mandamentos de Jesus sejam essenciais para a construção daquele mundo novo de que nos falam os evangelistas. Se se pudesse medir o grau de confiabilidade que se deposita no Cristo, iríamos verificar que sua passagem pela Terra mais incrementou a maldade do que produziu seres justos e bons, conforme a santa pregação.

Não são poucos, porém, os mentores que julgam que há necessidade de que o mundo se apresente caótico e malvado, pois, se só houvesse felicidade, não se progrediria muito na matéria, dado que a penumbra consciencial impediria que se tomasse real conhecimento dos meios para se progredir moral e espiritualmente, estabelecendo-se padrões de procedimento norteados pelos pendores da natureza corpórea, ficando os indivíduos propensos a só se aproveitarem das sensações produzidas pelos sentidos materiais, não se dando conta de que o planeta é essencialmente destinado às provas e expiações.

Não vamos dar curso a tais ponderações, pois acreditamos que a realidade está aí a produzir os efeitos malsãos, precisando cada cidadão prover-se de muita calma, de muita paciência, de muita tolerância, para não produzir revoltas que não estimulariam os fatores do bem, mas que produziriam, certamente, muitos crimes, dando vazão aos ódios e desejos de vindita. Bastem-nos os exemplos das regiões em que os homens contendem pela posse do poder e das riquezas, matando, oprimindo, escravizando e desrespeitando a obra do Criador.

Quando o roteiro das palestras inclui problemas muito gerais, sentimos que o leitor comum vai ficando perdido, perguntando-se qual sua responsabilidade diante da falência das instituições morais. Aí, alguns se julgam demasiado pequeninos para arcar com o peso de alguma atitude salvadora, e resolvem alienar-se de vez, buscando realizar o que dê para o gasto, sem importar-se muito com o conjunto da sociedade. Outros compreendem que algo podem fazer em favor dos mais próximos, e passam a orar com fervor, para que todas as atitudes mereçam a complacência dos irmãos orientadores, em cujas mãos depositam grande parte das iniciativas, predispondo-se a trabalhar com afinco, para que o conjunto social venha a receber o influxo de alguns gestos harmônicos com os princípios evangélicos. Uns poucos se perturbam completamente, deixando passar as oportunidades de crescimento moral, atrapalhando-se quanto aos melhores pensamentos, julgando que nem tudo está tão perdido, increpando os mensageiros de perdulários de idéias, pois, com toda a possibilidade de virem trazer palavras de lenitivo para os sofrimentos, ficam a lamentar o estado atual das coisas, insuflando pensamentos pessimistas em relação ao desenvolvimento das tecnologias e demais artefatos que vêm dando bem-estar a muito mais criaturas do que até bem pouco tempo atrás, desconsiderando de vez a fome, a miséria e a doença.

Está claro que o leque de possibilidades de reações se abre em trezentos e sessenta graus, impedindo-nos de referir-nos a todo tipo de personalidade. Por isso, sem ficarmos presos às lamúrias acima mencionadas, somos obrigados a solicitar de cada leitor que analise o próprio procedimento, avaliando com serenidade como é que vê a sociedade em que vive ou sobrevive e quais os principais problemas que estão a impedir que se realizem os roteiros cármicos de vida.

Não vamos abrir polêmica nesse sentido, mas estamos altamente interessados em que, de nossa postura, advenha o hábito do exame da consciência coletiva, para que se fixem as distinções mais notáveis relativamente aos anseios cristãos. Está claro que, para se efetuar correto juízo de tão amplo conhecimento, vai ser necessário estabelecer a visão mais certa dos ensinamentos evangélicos, havendo necessidade de sérios estudos dos textos primordiais da Segunda e da Terceira Revelações, os quais incluem os primórdios da disciplina moral, desde a época do patriarca Moisés.

Como se vê, não estamos afastando-nos dos roteiros oferecidos pelas outras equipes. Apenas estamos forçando um pouco os conhecimentos, tendo em vista a nossa personalidade menos evoluída, incapaz de oferecer raciocínios expurgados dos sentimentos de rebeldia que ainda fomentam em nós sérios distúrbios de comportamento. Sabendo que precisamos manter-nos equilibrados, fazemos enormes esforços para discorrer com sabedoria, oferecendo só os dados que os mestres estão fornecendo-nos nas palestras e orientações individuais. Contudo, não temos permissão para tão-só reproduzir-lhes as lições, pois é obrigação de cada elemento do grupo deixar o texto conduzir-se pelas ondulações do caráter, como se o nosso barco pudesse não soçobrar nessas ondas encapeladas.

Alguns se apresentaram de forma bastante rudimentar, fazendo referência específica aos problemas que os conduziram diretamente para a negrura no Umbral. Outros tentaram oferecer análise de causa e efeito, buscando relacionar seus atos, encadeando-os conforme sua tendência malévola ou benévola. A maioria está tentando encontrar o próprio caminho, defendendo-se das próprias insatisfações, revoluteando o procedimento segundo as normas aprendidas, forcejando por sufocar os péssimos pendores. Outros, como eu, envergonhados de deixar transcrito o fato que deu origem ao sofrimento, buscam contornar as apreciações pessoais, produzindo roteiros mais abrangentes, que possam despertar o raciocínio dos companheiros e dos leitores, impedindo-lhes a emissão de vibrações demasiado carregadas de fluidos negativos, diante das confissões horrendas que faríamos.

Estou ciente de que cumpri o roteiro que me foi determinado, pois sempre haverá quem receba a atribuição de relatar os acontecimentos internos dos diferentes grupos, uma vez que não se podem ter segredos para os encarnados, demonstrando-se integralmente o que ocorre nas diversas fases de estudos e de trabalhos, com a finalidade de propiciar aos irmãos o hábito de considerarem o etéreo como a seqüência ou a conseqüência natural do procedimento na carne, conforme a palavra do Senhor, quando nos afirmou que os frutos correspondem exatamente à natureza das árvores.

Para concluir, vamos ter de dizer que não fomos os autores únicos desta mensagem, pois muito devemos ao mediador, que fez questão de nos acompanhar passo a passo, oferecendo-nos, conforme sugestão inicial, alguns recursos de seu cabedal, para que utilizássemos em favor de melhor desempenho de nossa parte. Por outro lado, os mentores do Grupo do Reforço II também estiveram atentos, para que não fornecêssemos indicações errôneas, capazes de levar a conclusões falsas a respeito da instituição e dos atributos. Sendo assim, fica fácil de imaginar que não estamos tão avançados quanto a presente dissertação possa fazer supor, mesmo porque não temos a desenvoltura da palavra fácil, para dizer as coisas com clareza, elegância e precisão. Conhecemos um pouco dos mistérios da retórica e dos processos do convencimento das pessoas, mas fomos impedidos de manipular os pensamentos, para tornar a lógica irrefutável, uma vez que o nosso real problema pessoal está vinculado àquela área do convencimento público a que de início fizemos referência.

Resta um último tema importante para encerrarmos definitivamente esta exposição.

Se estamos habilitados a utilizar determinados recursos oratórios da chamada mídia, por que não o fizemos de uma vez, colocando-os a serviço da missão apostólica do socorrismo a que servimos?

Segundo as apreciações dos maiores, estamos limitados a discorrer oficialmente a respeito dos assuntos evangélicos, desmascarando o que houver de errado, sem que tenhamos qualquer possibilidade de agir em consonância justamente com os vezos maliciosos que nos levaram a descambar de vez para as trevas.

Por outro lado, também estamos impedidos de examinar um a um cada pequenino instrumento de que lançávamos mão para a confecção das mensagens que objetivavam exercer o domínio da opinião pública, pois são muitos os irmãos que estão vivendo nesse mesmo clima, o que transformaria o texto em mera acusação subjetiva, gratuita e inconseqüente, quando o destino das comunicações é o de despertar para a reflexão a respeito da verdade, auxiliando no desenvolvimento consciencial, com base nos fundamentos morais cristãos.

Queiram perdoar-nos as longas tertúlias, muitas verdadeiros autos de fé a determinar a punição dos males. Que nos seja oferecido o refrigério da compreensão de que não estamos estigmatizando os pecadores, senão que temos em mira sua salvação, em nome de Deus e de Jesus Cristo. Só assim acreditaremos em que não estamos criando outros desafetos, pela insistência desmedida destas considerações sobre a necessidade, sobre a precisão, sobre a obrigação, os deveres e demais injunções correspondentes às transformações que propugnamos como reforma indispensável para que se faça jus ao reino de Deus.

Oremos para que todos recebamos do Pai suas bênçãos de amor!















32



AS PALAVRAS DE JESUS











Incrementamos um pouco mais as comunicações de caráter metafísico, para demonstrar que estamos progredindo rapidamente no aprendizado do roteiro evangélico elaborado pelos mentores da equipe. Mas não temos nenhum desejo de perturbar a leitura dos bons amigos, forçando a terminologia, a construção frásica e o conteúdo. O que ocorre, na verdade, é que existem alguns elementos na turma que tiveram ensejo, durante os derradeiros encarnes, de se destacarem em seus ramos profissionais, de forma que têm a natural tendência a fazer valer certos conhecimentos específicos, dando às mensagens tonalidades próprias, muitas vezes em desacordo com a programação estabelecida. Nada, contudo, que venha a ferir os sadios princípios estabelecidos para as tarefas do grupo.

Dada esta explicação, necessária à vista das últimas comunicações, vamos adentrar no tema que nos traz à presença dos amigos.

Trata-se de elucidar ponto muito controverso entre os mortais, qual seja o de que nem todos estão capacitados, desde logo, a enfrentar as lições evangélicas, uma vez que o Senhor dava uma explicação pública e outra reservada aos discípulos.

Se estivermos atentos às lições, vamos constatar que nem todas estão formuladas por meio de parábolas, quando as intenções ficam camufladas, realmente, pois o objetivo é levar os ouvintes à reflexão a respeito dos dados morais subjacentes.

A clássica pergunta que se há de fazer é aquela relativa ao fato de estar Jesus iludido quanto às suas pregações, porquanto está a orientar as pessoas, sem acreditar que possam vir a aproveitar os ensinos para aplicação no procedimento de toda hora, através do qual irão fazer por merecer adentrar o reino de Deus, o qual era pelo Mestre prometido.

Teria o Senhor a ilusão de que suas palavras iriam fixar-se na memória dos ouvintes, para florescerem em vergéis de amor, no momento azado do despertar para a verdade? Ou sabia, antecipadamente, que os evangelistas haveriam de gravar indelevelmente, em seus pergaminhos, os dizeres que enunciava, para que a humanidade, em sua história, pudesse receber os ensinamentos impolutos?

Vejam que estamos trazendo tema de enorme importância para a interpretação dos dizeres de Jesus diretamente aos apóstolos, os quais se deixaram transcrever ao lado das pregações públicas, como a revelar como eram as ações do Mestre, evidenciando, claramente, que havia quem possuísse entendimento mais apropriado, estando, por isso mesmo, melhor qualificado para a divulgação da boa nova.

Aqui cabe a dúvida dos céticos, pois, como os textos sagrados foram escritos posteriormente ao momento da peregrinação apostólica, a observação que se poderia fazer estaria no rumo da necessidade de fundamentar, pela palavra do Senhor, a autoridade do bispado nascente, para que o sacerdócio se justificasse e a igreja se erigisse.

Teria havido, assim, interpolações, adulterações, acréscimos, criações, imitações dos feitos dos profetas do Velho Testamento, tratamento da matéria evangélica para conformar-se às diretrizes dos apóstolos, que se viam impelidos à prática dos mesmos milagres atribuídos ao Senhor?

São questões importantes que se vinculam intimamente à qualidade intelectual da gente a quem se dirigiu o Mestre e a quem deveriam falar os seguidores da doutrina.

Fato impossível de refutar é que as palavras de Jesus só permaneceram na memória dos povos porque registradas nas escrituras de alguns iluminados discípulos, que não desejaram ver perderem-se os ensinamentos nas sombras da ignorância popular.

Mais um pouco de ceticismo para fomentar a dúvida da qual deveremos extrair a luz: não temos nós textos anteriores, em diversas civilizações, que trazem em seu bojo todas as mensagens de Jesus, devidamente explicadas e superiormente formuladas? Não são tantos os textos de célebres autores clássicos, gregos e romanos, que enfatizam a moralidade e proclamam as virtudes como fator de progresso intelectual e, portanto, espiritual? Em suma, que trouxe de especial a vida de Jesus, para que a humanidade se curve diante de suas pregações até hoje, principalmente porque foram ditas a um povo ignorante ao extremo, necessitando, inclusive de explicações particulares dirigidas aos que com ele estavam habituados a tratar?

Avançando nas conclusões, poderíamos perguntar agora se Jesus, caso se dispusesse, de novo, a pregar diante do público, iria dizer as mesmas histórias, alterando só a época e os costumes. Não é verdade que a vida do Mestre vem sendo interpretada segundo as informações constantes nos escritos dos evangelistas, firmando-se, no espírito de muitos, a concepção da virgindade de Maria, como dogma de fé, como verdade absoluta, como norma superior do espírito de Deus, por exemplo? Não é verdade que são inúmeras as criaturas que vêem, na ressurreição do Mestre, a promessa de que todos adquiriremos corpos materiais, ao final dos tempos, para reinarmos absolutos na eternidade, ao lado direito de Deus?

Pois aí estão exemplos de reflexões que se devem fazer relativamente às descrições contidas no Novo Testamento, para que não sejamos envolvidos em demasias de fé, sem raciocínio, sem realidade, sem verdade. E onde encontrar subsídios para enfrentar tão dolorosas meditações, pois muito de nossa crença pode derruir-se, abatendo-se de vez perante a fragilidade da postura dos que se compenetraram que deveriam escrever para ignorantes, conforme até as palavras que depositaram nos lábios de Jesus?

Na obra espírita, desde Kardec, passando por inúmeros comentaristas encarnados, até chegarmos aos postulados espirituais explicados por alguns espíritos de escol, através de alguns médiuns bem intencionados.

E a tudo deveremos dar crédito, como se as verdades firmadas fossem absolutas? Até que ponto a ingenuidade deve ceder, para darmos conta dos temas mais importantes, dado que nos afirmaram que a primitiva pureza não mais será recuperada, precisando que envidemos os melhores esforços para a compreensão de que a existência, para caminhar no sentido do Pai, deve prever estágios de profunda meditação a respeito dos valores evangélicos superiores, depurados das mistificações e das maldades infiltradas em cada sentimento, em cada raciocínio, em cada simples intuito de melhoria através das transformações que deveremos imprimir aos procedimentos?

Eis que as perguntas se acumulam irrespondíveis, principalmente porque íntimas, pessoais, específicas para cada personalidade, eivadas de preconceitos culturais, plenas da imponderável malícia do descrédito de que haja algo que possa vir a ser definitivamente explicado, imbuídas da prática feroz da discussão aleatória, sem método, sem rigor científico, extraídas da opinião fugaz do momento que transita e se esfuma no passado, como a determinar que tudo seja perecível, ilusório, inconsistente.

Teria o Mestre ponderado a respeito deste tipo de reação psíquica, quando se determinou a formular parábolas que devessem ser interpretadas à luz da razão, para que se desse a compreensão das verdades morais ou espirituais que encerram? Teria sido esse o tipo de ignorância que declarou ao pé do ouvido dos mais caros, rabugentamente acicatando-os por interrogarem-no a respeito?

Que os bondosos leitores, generosamente, nos perdoem o atrevimento de reprisar os termos em que se encontram formulados os Evangelhos, transmudando algumas expressões, exterminando a poesia, acentuando a irresponsabilidade perversa dos que não respeitaram a verdade, para pespegar algumas lições, no desejo de se verem preponderantes através do jogo das palavras e dos conceitos. Apesar de tudo, todavia, esperamos que nosso texto seja reconhecido como expurgado das maravilhas sobrenaturais dos milagres, propugnando somente que os amigos se dediquem com sabedoria a meditar a respeito dos temas evangélicos para a edificação da personalidade angelical.

Que de todos estes arremessos possa resultar a imensa vontade de purificação da alma, em nome do Senhor, para honra e glória do Pai, que nos sustenta por sua misericórdia e nos anima por suas bênçãos de amor. Que saibamos desenovelar os dizeres esdrúxulos deste mensageiro, mais preocupado com a realização da comunicação, do que com o fato de subsidiar as ponderações que prega. Que cada qual encontre o seu caminho, no Caminho aberto neste matagal de dor pelo Cristo—Jesus!















POSFÁCIO











Eis os votos sinceros deste grupo, que encerra aqui a sua participação junto a esta mesa, orando para que os amigos que nos seguirem venham dispostos a melhorar o teor das mensagens, para o que bem pouco deverão realizar, além de manifestarem a estruturação de suas personalidades.

Fique o amigo escrevente ciente de que estaremos juntos ao momento das correções necessárias, prontos a participar de um ou outro aperfeiçoamento textual. Receba comovido abraço de toda esta gente e fique muito alegre por ter contribuído em muito, para que nosso progresso se desse, conforme poderá observar, se cotejar o início das transmissões com este glorioso encerramento, quando nos atrevemos à exegese bíblica.

Fiquem todos na paz do Senhor!





Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui