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Artigos-->AS FORTES EMOÇÕES -- 25/02/2005 - 22:45 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AS FORTES EMOÇÕES



Francisco Miguel de Moura

(Escritor, da APL)



O homem não sabe ser feliz.

Vai longe o tempo em que, para sentir uma emoção forte ou uma cadeia de emoções, as pessoas entravam no cinema e assistiam, naturalmente, a um filme, sozinho ou acompanhado. E lá fora tomavam um sorvete, ficavam na praça conversando ou iam à missa e depois para casa, descansar dos passeios do dia do descanso.

O mundo foi acometido de um grave mal: a violência, a loucura. Motivos apresentados pelos insensatos: para que sintam emoções mais fortes.

Diante da violência das ruas e do trânsito, do noticiário televisivo, da revista, do jornal, dos filmes que se apanham na locadora (encontrar um filme de amor é como catar agulha em palheiro), não há mais sossego em lugar nenhum. Fugimos para a praia, e a violência nos acompanha. Vamos passar uns dias no interior, e acontecem coisas incríveis, distantes da normalidade. O mundo está grande demais, sujo demais, violento demais, especialmente na política, na economia, nas relações sociais, sexuais, domésticas etc.

Convidado pelos netos e netas a assistir à apresentação de quadrilhas e brincadeiras juninas, num colégio desta Capital, fui com a mulher e a filha, paguei as entradas e sentamo-nos em cadeiras destinadas aos convidados. Chego na hora aprazada, embora saiba que vou ter que esperar muito, porque, no Brasil, os relógios deveriam ter uma hora a mais, para compensar o atraso dos brasileiros. Eis senão quando, chega uma mulher e senta-se na cadeira a meu lado. Após alguns segundos, digo-lhe:

- Senhora, esta cadeira já está ocupada por minha mulher. Ela foi bem ali, mas volta já.

- Mas eu paguei também e tenho direito, fala, agastada. Só faltou repetir «quem vai ao vento, perde o assento.»

- Não se pode guardar cadeira pra todo mundo, retruca.

- Mas não é pra todo o mundo. É pra minha mulher, respondi.

Porém ela contrataca:

- Então, o senhor quer brigar por isto?

- Não senhora, eu não brigo por coisas maiores, firmei minha posição.

Com cinco ou seis minutos, a mulher me olha de lado e, como que arrependida da grosseria, declara:

- Quando sua mulher chegar, eu saio da cadeira.

Fiz de conta que não lhe escutava.

É um episódio muito comum. Mas imaginemos que eu tivesse, violentamente, respondido:

- Está vendo como a senhora estava errada. Reconheceu o erro, foi?

- Não reconheci erro nenhum. Agora, não vou sair mais. Venha me obrigar? teria certamente reprochado.

Milhares e milhares de violências desse tipo acontecem em nosso mundo, todos os dias e noites. Nas noites, muito mais. É quando se juntam álcool, drogas, ciúmes, dinheiro (em jogos), etc. etc. aos instintos, complexos e vícios de comportamento de cada um.

Essas pessoas que vivem na noite (ou morrem?), levam pra casa, para as pessoas com quem convivem, restos de emoções, decepções, frustrações represadas, sem contar os venenos das drogas, do fumo e do álcool acumulados nas veias, nos pulmões, no coração, no cérebro. Na corrente social, passam aos filhos, aos familiares, e estes entregam, ampliados, às ruas, que geram notícias tais como:

- «Dois garotos, procurando emoções fortes, tocam fogo num aposentado, no centro de São Paulo.»

- «Um mendigo morre queimado, no centro do Rio. A polícia ainda não sabe quem lhe ateou fogo.»

Aí a gente lembra da cena de Brasília, quando cinco garotas da classe média e alta tocam fogo no índio Galdino, nas barbas dos mais altos poderes da República, por pura perversidade. Mas declaram: «queriam apenas sentir emoções mais fortes.»

E a violência no futebol? Lembram das torcidas organizadas?

Daqui a pouco, pra sentir emoções fortes, outras violências inomináveis estarão sendo perpetradas. A imprensa levará ao público imagens chocantes, o que é também violência geratriz de mais violência. E o mundo ficará insuportável.

Drogas mais fortes, cenas mais fortes, emoções mais fortes.

Fraco é o homem.



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