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Artigos-->POETAS E APRENDIZES -- 19/02/2005 - 08:56 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER













POETAS E APRENDIZES



(SONETOS MEDIÚNICOS)







ESPÍRITOS DIVERSOS

















Edição da CASA DO MÉDIUM



Rua Cinco de Julho, 1184

Indaiatuba — SP

















































Saiba, Irmão, que estes versos

provieram da Espiritualidade!













ÍNDICE





1.O Dia .......................................

2.O Dia .......................................

3.O Dia .......................................

4.O Dia .......................................

5.O Dia .......................................

6.O Dia .......................................

7.O Dia .......................................

8.O Dia .......................................

9.O Dia .......................................

10.O Dia ........................................

11.O Dia ........................................

12.O Dia ........................................

13.O Dia ........................................

14.O Dia ........................................

15.O Dia ........................................

16.O Dia ........................................

17.O Dia ........................................

18.O Dia ........................................

19.O Dia ........................................

20.O Dia ........................................

21.O Dia ........................................

22.O Dia ........................................

23.O Dia ........................................

24.O Dia ........................................

25.O Dia ........................................

26.O Dia ........................................

27.O Dia ........................................

28.O Dia ........................................

29.O Dia ........................................

30.O Dia ........................................

31.O Dia ........................................

32.O Dia ........................................

33.O Dia ........................................

34.O Dia ........................................

35.O Dia ........................................

36.O Dia ........................................

37.O Dia ........................................

38.O Dia ........................................

39.O Dia ........................................

40.O Dia ........................................

41.O Dia ........................................

42.O Dia ........................................

43.O Dia ........................................

44.O Dia ........................................

45.O Dia ........................................

46.O Dia ........................................

47.O Dia ........................................

48.O Dia ........................................

49.O Dia ........................................

50.O Dia ........................................

51.O Dia ........................................

52.O Dia ........................................

53.O Dia ........................................

54.O Dia ........................................

55.O Dia ........................................

56.O Dia ........................................

57.O Dia ........................................

58.O Dia ........................................

59.O Dia ........................................

60.O Dia ........................................

61.O Dia ........................................

62.O Dia ........................................

63.O Dia ........................................

64.O Dia ........................................

65.O Dia ........................................















1.O DIA









I



DESPERTAR NO ETÉREO



Perdido no negrume da mortalha,

Sustei o coração por um momento:

Deixei levar-me envolto o pensamento

Nos toscos devaneios da batalha.



Pensava malferido o sentimento,

No pipocar intenso da metralha,

Pois nessa hora a intuição não falha,

No pressuposto triste do tormento.



Insegurança, medo e desenganos

Enchiam-me a memória de visões,

Na louca caravana dos senões;



Mas, resguardada d alma nos arcanos,

Estava a prece divinal de luz

Que trouxe ao mundo, por amor, Jesus.







II



O DOM DA PRECE



Caso perdido esteja o bom amigo

Nos devaneios tristes dessa vida,

Não pense nunca ter a alma ferida:

Reze um pai-nosso p ra evitar perigo.



Contenha os ímpetos na forte lida,

P ra conseguir das dores doce abrigo,

Que o bom na Terra é conservar consigo

O amor que a caridade convalida.



O mais é respeitar os semelhantes,

Não desejando a eles nada além

Que a nós oferecemos delirantes.



Que tudo o que façamos seja o bem,

Buscando sempre ser melhor que antes,

A semear um grão, colhendo cem.







III



CONFISSÃO



Resquícios de vaidade ainda conservo,

Nas ânsias de escrever um bom poema;

Mas como se evitar este dilema,

Se, ao pensar assim, logo me enervo?



São pensamentos frutos de um sistema

Que se instalou na mente e que preservo,

Mas pretendia ser senhor, não servo

Que p ras grandezas destinei meu lema.



Por isso, agora, luto denodado,

Na tentativa de suprir a falha

Que me conduz na morte atormentado;



Que tudo o que pretendo o mal atalha,

Que o bem não cabe em verso deste lado,

Estando o coração preso em mortalha.















2.O DIA









I



AMBIÇÃO



Meu ideal, em tempos de encarnado,

Era sentir do Espaço as influências,

E não queria só as conseqüências,

Que as causas me traziam preocupado.



Mas não buscava o mundo das ciências,

Que a fantasia tinha demarcado

O tema das quimeras deste lado,

Sem perceber o rumo das falências.



Minha ambição ficou, assim, restrita

Ao campo dos milagres passageiros

E a carne dominou minh alma aflita,



Querendo e não querendo ver primeiros

Os elementos tristes desta grita

Que, rude, faz os homens prisioneiros.







II



SISTEMÁTICA



Sentimos que o poema desafia

A argúcia do leitor inteligente,

Que, tendo posto em verso o que se sente,

Mudou o que era prosa em poesia.



Mas a clareza está tão simplesmente

Nos pontos que compõem a melodia:

Labão não deu Raquel, mas deu a Lia,

Malícias de um judeu percuciente.



Sabendo que o leitor não fundiria

A dura cuca, ao decifrar a gente,

Puro prazer a turma não daria.



Por isso, fez um verso comovente,

Cujo mistério, assim, se manteria

Em escala de ritmo ascendente.









III



TEMPO E VIDA



Não temos tempo p ra perder na vida,

Cuja importância está mal informada,

Que esta leitura virou pó de estrada,

Pois o seu tema é beco sem saída.



Contudo, a pressa que se tem azada

Para trazer a alma embevecida

Só nos aumenta a dor, na humana lida,

Que as emoções nos dão um quase nada.



Assim, pensar é próprio dos viventes

Que dão ao tempo seu sentido puro,

Tornando os seus minutos excelentes.



É que o saber recebe mais apuro,

Ao transformar em atos conseqüentes

O raciocínio sóbrio e mais seguro.









IV



POR FAVOR: MAIS UM!



Atendendo ao pedido do escrevente,

Mais um soneto vamos redigir,

Mas não queremos torne o Wladimir

Desconfiado desta pobre gente.



Vamos falar apenas do porvir,

Que nos promete ser mais que excelente,

Que o pessoal que escreve logo sente

Quando o melhor está para fluir.



Quatorze versos, simples e modestos,

Com muito amor aqui destas esferas,

Não hão de ser perversos ou molestos:



As nossas artes dão-se bem, deveras,

Que a Deus devemos os felizes estos,

Na concretização destas quimeras.















3.O DIA











I



CONFIAR



Quando tivermos algum drama

Que nos mantenha preocupados,

Vamos pensar em quem reclama,

Para mantermo-nos calados.



Mas, se essa dor tão-só derrama

Lágrimas tristes dos enfados,

Vamos saber que é quente a cama,

Para remessa dos recados.



Quem tem o Pai por Criador

Não teme sorte malfazeja,

Pois tudo faz, sem ter rancor.



Mesmo no ardor dessa peleja,

A dor transforma em puro amor,

Que, se sofrer, não há quem veja.







II



GARIMPAGEM



Arregacemos nossas mangas,

Pois o trabalho se oferece:

Ao suportar as fortes cangas,

Eleve a Deus alguma prece.



Mas, se temor logo aparece,

A provocar as nossas zangas,

Vamos saber que se enfurece

Quem não bateia as suas gangas.



As gemas puras do dever

São perfeições que se lapidam,

Com muito amor e bem-querer.



Mas, para aqueles que duvidam,

Já não há muito que dizer,

Pois são as dores que convidam.







III



LUZ E SOM



O senso da visão que permanece

Depois da morte é muito diferente:

Se percebermos luz alvinitente,

Vai ser boa a colheita dessa messe.



Mas, se diante de nós tudo escurece,

Pois o mal que se fez derruba a gente,

Vamos rogar ao Pai, humildemente,

Que nobre protetor ouça essa prece.



O nosso corpo astral emite luz,

Caso tenhamos feito só o bem,

Seguindo os passos dados por Jesus;



E os nossos sons vão ressoar no além,

Em doce melodia que seduz

Quem tenha o mesmo amor por nós também.







IV



DESEJO DE MELHORIA



Qualquer dia seremos mais felizes

Nos versos feitos ao correr da pena:

São perversos os temas com que acena

A nossa mente isenta de raízes.



Nossa cultura só não é pequena

Ao demonstrar as nossas diretrizes,

Ou ao dizer que existem cicatrizes

Que em metros nossa lavra concatena.



Nem tudo o que fazemos impressiona,

Embora os versos fiquem bem medidos,

Que é fácil de coser a marafona.



Diversos termos são desconhecidos,

Mas poucas rimas o final abona,

Na tentativa rude dos falidos.















4.O DIA









I



PADRÃO DE QUALIDADE



Quando as forças se abalarem de uma vez,

Transformando-se em percalço nossa dor,

Apelemos a Jesus pelo mentor,

Pois ninguém tudo na vida satisfez.



O destino não nos deu, como senhor,

O domínio da malícia que nos fez

Desses vícios tão-somente bom freguês.

Mesmo assim não nos julguemos inferior.



Cultivar o nosso amor pelos amigos

É trazer, no coração, forte tendência

Ao perdão até dos feros inimigos,



Que a pior das qualidades da prudência

É fugir do desafio desses perigos,

Na esperança de burlar a conseqüência.







II



EM TUDO EXISTE AMOR



Vamos rezar com fé, que logo passa

A dor que nesta vida é verdadeira,

Fiel, terrível, triste companheira

De quem pressente em tudo só desgraça.



Se a fizermos passar pela peneira

Das aflições que atingem a carcaça,

Não vai restar no mundo qualquer graça,

Pois alma aqui se sente prisioneira.



Contudo, a vida segue seu destino

Que a criatura serve ao Criador,

Na ingenuidade doce de menino.



Assim, Jesus, o nosso Salvador,

Nas normas superiores desse ensino,

Nos demonstrou que em tudo existe amor.















5.O DIA









I



APELO À COMPREENSÃO



Estranha melodia no infinito

É tudo que podemos perceber,

Se estamos tão-somente muito aflito

Em receber de todos bem-querer.



Que vale transmitir um som bendito,

Se quem nos ouve custa a compreender

Que cabe a ele distinguir o grito,

Parte integrante desse seu dever.



Se não tivermos clara a audição,

Havemos de sofrer algum percalço,

Pois triste é responder sem convicção;



Mas, antes que sejamos muito falso,

Que o mal se infiltre até no coração,

Enfrentemos a vida e o cadafalso.







II



EQUILÍBRIO E PAZ



Ventura de viver sem atropelos

É dom que se costuma atribuir

A quem veja, nos tempos do porvir,

A bondade de Deus em seus desvelos.



Quem prenuncia a morte sem falir,

Dormindo um sono bom, sem pesadelos,

É que bem sabe que não há de tê-los,

Na lucidez final do devenir.



Mas nasce do evangelho tal ventura

A quem se dedicou intensamente

A procurar do vício a sua cura:



É trabalhando muito que se sente

Que nossa alma vai ficando pura,

Na harmonia feliz da nossa mente.







III



GENEROSIDADE



Se for muito penoso este trabalho

De receber os versos devagar,

Nosso compasso havemos de apressar,

Lustrando com as calças o assoalho.



Estando a mente solta pelo ar,

Fica perverso o tema deste malho,

Que é triste caminhar por um atalho,

Sem conhecer ao certo onde vai dar.



Mas tudo que fizermos se aproveita,

Numa das quadras ou nalgum terceto,

Que o nosso médium sempre está à espreita



De encontrar algum ponto muito preto,

Salvando a fórmula por nós eleita,

Que é bem melhor a emenda que o soneto.















6.O DIA









I



MEDITAÇÃO



Caso tenhamos sorte neste mundo,

Porque a fortuna nos sorri de fato,

Em lugar de fazer espalhafato,

Vamos bem conhecer-nos lá no fundo.



Analisemos, pois, ato por ato,

Que tudo é só reflexo profundo,

A demonstrar quem somos, num segundo,

O que ficou expresso no contrato.



Não é só de dinheiro que falamos:

É da felicidade universal,

Que todos colhem frutos em seus ramos;



Pois, se tivermos ponto contra o qual

Opomos o ideal com que sonhamos,

Havemos de entender qual é o mal.







II



TRANSFORMAÇÃO



Tivemos de fazer alterações

Na forma pela qual nos entendíamos,

Por ser mui triste a estrada que seguíamos,

Sem despacharmos logo as emoções.



Não era pouco aquilo que pedíamos

Ao médium que nos dava as atenções:

Batiam muito forte os corações,

Quando os temores de falhar sentíamos.



Agora, temos mais sossego e calma,

Ditando nossos versos sem temor

De vê-los mais perversos que noss alma;



Não mais temos as ânsias de escritor

Que aspira sobre todos ter a palma,

Pois vemos nos poemas só amor.





III



REENCARNAÇÕES PROVEITOSAS



Se tivermos sucesso em nossas vidas,

Melhorando as virtudes que trouxemos,

Compreendamos que os passos que já demos

Ampliam a extensão das duras lidas,



Que as batalhas que um dia nós tivemos

Nos deixaram abertas as feridas,

Para que as dores fossem entendidas

Da forma pela qual nós o fizemos.



Assim sendo, ao voltarmos para o etéreo,

Tenhamos do evangelho outra visão,

Pondo luz noutras faces do mistério.



Se merecermos receber missão,

Porque o viver tornou-se bem mais sério,

Ajamos com amor no coração.















7.O DIA









I



AO MÉDIUM RESSABIADO



Cansado de remar contra a corrente,

O médium desanima mais um pouco,

Mas não fracassa o canto, que bem sente

Chegar-lhe em timbre baixo, muito rouco.



Não deseja anotar, tão simplesmente,

Pois tal som se assemelha à voz de um louco.

Só ao sentir idéias, sua mente

Consegue desfazer o ouvido mouco.



Aí se anima a dar um contributo,

Para manter o metro da poesia,

Que o tema lhe parece bem arguto.



De que forma melhor contribuiria,

P ra demonstrar que teme o jogo bruto

Dos que querem jogá-lo numa fria?!...





II



O VALOR DA PERSISTÊNCIA



Se este amigo se sente como acima,

Julgando que o seu mundo pesa o dobro,

Mantenha pelos seres grande estima,

Para, afinal, aos males pôr um cobro.



Pois, se pensar que o verso não tem rima,

A dar-lhe idéia apenas de soçobro,

O medo da incerteza o desanima,

Deixando um gosto amargo, mau, salobro.



Mas se alcançar rimar com eficácia,

Vencendo os males dessa indecisão,

Há de encontrar a sombra de uma acácia,



Onde espaireça o pobre coração,

Acreditando tenha a contumácia

Belo papel, ao cabo da canção.





III



ESTÍMULO SUPLEMENTAR



Se acreditarmos pronto o mediador,

Após treinarmos um semestre inteiro,

Vamos compor um tema bem matreiro,

P ra que consiga ver que tem valor.



Se desejar rimar muito ligeiro,

Julgando o assunto tolo, inferior,

Não há que ver, havemos-lhe de pôr

À pretensão um doce paradeiro.



Mesmo que os versos cheguem devagar,

É preferível conquistar-lhe o apoio,

A ver toda a poesia soçobrar;



Pois quem plantar, perto do trigo, o joio

Vai ter que, um dia, todo o mal sanar,

Para seguir em frente, no comboio.















8.O DIA









I



DIA ATRIBULADO



Caro amigo escrevente, boa tarde!

Mui gratos lhe ficamos pela ajuda.

Embora tenha sido um deus-acuda,

Não quis que nós ficássemos no aguarde.



Sabemos bem que o coração não muda,

Quando a chama do amor no peito arde,

Pois quem enfrenta a dor não é covarde,

Que o bom na vida é tê-la bem graúda.



Na esperança de ter qualquer mensagem,

Apresentou-se ao posto com coragem,

Sabendo que um do etéreo acorreria.



Ao demonstrar, assim, ter confiança,

Pôs sua fé num prato da balança,

Querendo ver no outro uma poesia...







II



RETRATO EM FAMÍLIA



Eu sei que já aguarda a boa filha,

Que traz o amado esposo como auriga,

E mais o caro neto na barriga,

Que a vida segue as normas da cartilha.



Entoa o olhar da avó doce cantiga,

Que a vida é luz de amor que agora brilha,

No ambiente feliz, que compartilha,

Mantendo a alma simples, nobre, amiga.



Por isso, vim trazer o meu recado,

Pois tudo o que pretendo é aumentar

O afeto pela gente deste lado,



Fazendo muito alegre o meu cantar,

Com versos recebidos de bom grado

Por todos que se amam neste lar.















9.O DIA









I



SOCORRO TRANSCENDENTAL



Se se sentirem sós durante a vida,

Na angústia de uma falsa solidão,

Procurem cá no etéreo uma guarida,

Que deste lado existe multidão.



Mas há que ter cuidados nessa lida,

P ra não fazer sofrer o coração,

Que a dúvida que traz também convida

Às dores que essas crises sempre dão.



Exame de consciência é importante,

Para saber a culpa de quem é,

No caso desse amor muito inconstante.



Atravessar o rio onde dá pé

Requer um coração bem vigilante,

Um bom estudo e firme ato de fé.







II



BELEZA VAI À MESA



Sabendo que o prazer é temporário,

Vamos fincar o pé na eternidade,

Deixando de sentir triste saudade

Dos tempos em que tudo era primário.



Vamos entrar na fase desta idade,

Em que, na vida, o pobre perdulário

Pretende ser do corpo um usuário,

Sem nela ver qualquer complexidade.



É bom gozar prazeres naturais,

Pois Deus dispôs, em nossa natureza,

Os dons das entidades mais normais,



Sem esquecer, contudo, que a beleza

Provém de umas noções artificiais,

Que, p ra consolo nosso, vão à mesa.







III



VALORES NOVOS



Libertos dos princípios dessa vida,

Os seres sofrem sérios dissabores,

Tornando-se os prazeres logo dores,

Pois outra é, no etéreo, a nossa lida.



Por isso, esta mensagem os convida

A pintar os seus quadros de outras cores:

São novos, nestes planos, os valores,

No gozo de existência apetecida.



Enquanto os encarnados vão levando

De vencida seus dias e trabalhos,

Debaixo do evangelho do comando,



Também estão cosendo os agasalhos

De boa proteção, para o desmando

Dos vícios que os tornaram espantalhos.







IV



A FIGUEIRA SEM FIGOS



São pobres os princípios dessa gente

Que tem os seus valores só na Terra:

Pois ao chegar no etéreo, sempre erra,

Por este espaço, triste, indiferente.



Para sentir-se aqui bem mais contente,

Deve saber que o bem todo se encerra

Em declarar ao vício forte guerra,

Fortalecendo o amor beneficente.



A regra áurea dada por Jesus

Prevê o amor até aos inimigos,

Mesmo se temos deles só uma cruz.



Fazer secar a árvore sem figos

Foi p ra mostrar que falta faz a luz,

Quando se está diante dos perigos.







V



QUIMERAS POÉTICAS



Sente o escrevente falta destes versos

Em que o tic da Escolinha prevalece,

Que os temas não se fazem mais perversos,

Justificando o medo numa prece.



Por isso, este soneto mais parece

A colcha de retalhos de diversos

Poetastros falidos de quermesse,

Em quimeras poéticas imersos.



Mas os tons dos gracejos desta turma

Não provocam os risos das pessoas,

Pois o mais que acontece é que se durma.



Mesmo quando os amigos acham boas

As saídas da rima feita em Burma,

Não são mais estes versos que umas loas.















10.O DIA









I



PRECE EM ANSIEDADE



Ó bom Deus, protegei os infelizes

Que rastejam num mundo de ilusões!

Jesus nos deu das leis as diretrizes:

Fazei com que penetrem corações!



Existem os que buscam as raízes

Do bem, do amor, da luz, nas orações:

Fazei com que se tornem bons juízes,

Julgando das virtudes as razões!



Em suma, Pai, sabei que temos pressa

De receber as bênçãos superiores,

Que o nosso barco ao porto já regressa.



E tantas são as crises destas dores,

Que nossa alma triste se arremessa

Em vossos braços fortes, protetores!







II



SENSAÇÃO DE IMPOTÊNCIA



Sentimos vir ao mundo dos humanos

Com expressões mesquinhas sem valor,

Na crença de que haja desenganos

Que nossas rimas possam recompor.



Não creiam que sejamos mais profanos,

Quando pedimos paz ao Criador:

É que queremos ver nossos enganos

Sumirem-se no ar, como vapor.



Na vida, existem todas as virtudes,

P ra quem souber reger suas ações,

Sem ofender ninguém com gestos rudes,



O que nos faz dizer que são senões

Os versos que revelam atitudes

Dos que não têm Jesus nos corações.







III



EM PLENO NAVEGAR



Vamos fazer de conta que perdemos

As contas que devíamos pagar?

Jamais, que o peso destes nossos remos

Não damos conta, em duro navegar.



Se temos pressa em dizer que iremos

Os débitos da vida resgatar,

É bom saber que o espaço que nós temos

Vai exigir que andemos devagar.



No jogo do destino, nossas peças

Hão de deixar o porto em segurança,

Que a pressa põe as coisas às avessas;



Contudo, é bom manter doce esperança

Que as dores que sofremos são só essas,

Enquanto o nosso barco, lento, avança.







IV



COMPLEXO DE INFERIORIDADE



Ao transformar a prosa em poesia,

Gostamos dos critérios do escrevente,

Tornando o povo aqui mais sorridente,

Que um verso só ninguém jamais faria.



Porém, este prazer da melodia

Vai-se infiltrando fundo nesta gente,

Pois todo o amor a Deus que o povo sente

Quer logo se exprimir em harmonia.



Assim, vamos levando este ditado,

Contando que este médium favoreça

O metro, a rima e mais o resultado,



Fazendo com que cresça e apareça

O sentimento que nos tem levado

O sangue, muitas vezes, à cabeça.















11.O DIA









I



FÓRMULAS NÃO MÁGICAS



A soma dos quadrados dos catetos

Resulta numa grande confusão,

Se se aplicar aos versos dos sonetos,

Querendo dar a eles emoção.



Nossa linguagem vem do coração,

Seja nas quadras, seja nos tercetos,

Que os teoremas que estes versos dão

Conseguem sempre belos poemetos.



Assim, na vida simples, bem arcaica,

As contas que fazemos não dão certo,

Se alguém tanger alegre balalaica.



Quem busca a hipotenusa mais de perto

Vai encontrar a fórmula prosaica,

Julgando ter o mundo descoberto.







II



AÇODAMENTO POÉTICO



Pensamos que este tempo que dispomos

Consiga comportar mais um soneto:

Os versos se compõem de simples gomos,

Seja na quadra, seja no terceto.



Assim, se conseguirmos mais uns pomos,

O tema já não fica muito preto,

Que responsáveis sempre é o que nós somos

Pelo valor de cada poemeto.



Os termos simples dão a contextura

À peça que nos fala da poesia,

Fazendo o mau autor triste figura.



Havendo metro, existe melodia:

Suposição banal de uma alma pura,

Pois era ver o fim que mais queria.







III



A CURA PELO VERSO



Os versos que componho não têm rima

Que se possa julgar superior,

Embora sejam feitos com amor,

Pois tudo, com amor, a gente estima.



Não quero demonstrar qualquer valor,

Nos versos que componho, como acima,

Mas sinto que a beleza reanima,

Melhorando muitíssimo o humor.



Ouvir bons versos fazem diferença

No tratamento de qualquer doença,

Tornando a dor mais fácil de aturar.



Fazê-los bons, então, dá confiança,

Aumenta a fé, produz nobre esperança

De bem servir ao Pai ao poetar.















12.O DIA









I



OS TESOUROS DO CÉU



Os sonhos que trazemos dessa vida

São feitos de absurdos e quimera.

Aqui, pelas paragens desta esfera,

É luta que empreendemos, bem renhida.



Nosso ideal se põe na estratosfera,

Bem longe dos bulícios desta lida.

Embora fique a alma malferida

Das quedas e senões, tudo se espera.



Queremos nós deixar bem afirmado

Que é bom fazer de tudo por crescer

No âmbito do espírito sagrado,



Que o dote dessa herança é o bem-querer,

Que não corrói, não some ou é furtado,

Quando se é cobrado p ra valer.







II



ALTRUÍSMO



Se temos afinada a nossa lira,

Os versos vão jorrar em borbotões,

Mais gráceis, mais charmosos, bonitões,

Que vida bem mais bela é nossa mira.



Mas logo temos tristes variações,

Que o nosso coração no mundo gira,

Fazendo com que o tema se transfira

P ros males das terríveis viciações.



Assim, as dores lembram os deveres

Que temos assumido nessa vida,

Diante do Pai, de nós e doutros seres.



E o nosso verso só se consolida,

Quando julgamos falsos os prazeres,

Pois é p ro bem alheio a nossa lida.







III



A PRESSA DO MÉDIUM



Não gosto de sentir muito apressado

Este escrevente pérfido, teimoso,

Que exige desta turma do outro lado

Um empuxo mais forte, vigoroso.



É que deseja ver configurado

Um verso que lhe dê mais doce gozo,

Nas brumas do mistério que, malgrado,

Julga não ser assim tão doloroso.



Perversos são os temas desta hora,

Em que o relógio corre contra nós,

Pois o médium deseja ir-se embora.



Pedimos-lhe atenção p ra nossa voz,

Que é doce o versejar, quando demora

O bom poeta a desfazer os nós.















13.O DIA









I



1.O FESTIVAL DE POESIA MEDIÚNICA



Aspérrimo desejo de escrever

Assombra os homens postos em conclave,

Que querem conseguir do belo a chave,

Sem descurar jamais do seu dever.



Porém, é mui profundo o bem-querer,

Pois têm no coração um dom suave,

Que causa, na poesia, doce entrave,

Que as rimas mui perfeitas hão de ser.



Espargem-se do Céu alvinitente,

Morada superior das almas puras,

As luzes que iluminam esta gente.



São vidas, são amores, são venturas

Fazendo o versejar mais excelente:

É Deus abençoando as criaturas.







II



COMPROMISSO CÁRMICO



Os males que na vida provocamos,

Na ânsia dos desejos mal contidos,

Serão, de qualquer modo, resolvidos,

Na poda costumeira desses ramos.



Serão anos de dor a ser fruídos

Bem junto àqueles que prejudicamos,

Quer como serviçais, quer como amos,

Que todos hão de estar comprometidos.



Vamos ter de acabar com as patranhas,

Mantendo as atitudes confiantes,

Por mais que as reações sejam estranhas.



Assim, tudo há de ser melhor que antes,

Que a pureza da fé move montanhas,

Na perfeição do amor aos semelhantes.







III



ESTRANHA MELODIA



Correndo muitos riscos nesta vida,

O homem segue atrás de seus desejos,

Tocando, em doce lira, bons harpejos,

Ou destoando a tuba, em bronca lida



A orquestra divinal comporta ensejos

De estranha melodia, que convida

A ter a pauta mais comprometida,

Quer nos temas sutis, quer nos solfejos.



Sentir amor é nota altissonante,

Perseverar, allegro moderato,

A caridade é sempre presto andante;



A morte há de ser simples staccato.

Não sendo o nosso canto dissonante,

Havemos de reger um entreato...







IV



CARÊNCIA AFETIVA



Carente dos afetos dos amigos,

Corri de ceca em meca para achá-los;

Mas tudo foi em vão, que seus abrigos

Continham, mais que os meus, muitos regalos.



Embora sem saber, houve perigos,

Nas crises conscienciais dos intervalos,

Pois transformava as buscas em castigos

Dos males que causei, por odiá-los.



Bem estranha há de ser minha assertiva

De busca dos amigos que odiava,

Pois, no Umbral, a emoção é bem mais viva.



É que a lição de amor que o grupo dava

Tornava minha mente positiva,

Sabendo que o perdão reconciliava.















14.O DIA









I



AMOR INCONDICIONAL



Sabendo que o perdão reconcilia,

Por que vamos negar o nosso auxílio

A quem sofre os horrores de um exílio,

Por causa das maldades de outro dia?



Não há necessidade de concílio,

Em busca de bem simples harmonia,

Porém, luz de banal sabedoria,

A compor as primícias de um idílio.



Se Jesus perdoou seus ofensores,

Por serem, como disse, ignorantes,

Embora sufocado pelas dores,



Devemos sopesar os ódios antes

De nos tornarmos vis contraventores,

Para que o Pai nos faça bons amantes.







II



A AUSÊNCIA DA PRECE



Se não tivermos jeito para a prece,

Por vergonha, por medo ou timidez,

Ajamos com bem mais intrepidez,

Que a ausência de tal dom nos embrutece.



Talvez a falha esteja em quem nos fez

Temer a exposição da pouca messe,

Pois tudo, nesta vida, nos parece

Acontecer pela primeira vez.



Contudo, a nossa história vem de longe,

Imersa nos mistérios de outras vidas,

Embora esse fator não nos lisonje.



Angústias no rezar causam feridas

Até no coração de pobre monge

Que pena por razões desconhecidas.







III



CORAGEM, IRMÃO!



Sabendo que esta vida é passageira,

Busquemos só o bem que ela comporta:

Só Deus escreve certo em linha torta.

Ninguém mais o fará, por mais que queira.



Se só batermos bola, em zona morta,

Levando a nossa vida bem maneira,

Vamos ficar suspensos na peneira,

Que o bem que não se faz o Céu aborta.



Assim, fugir da luta é sacrilégio,

Que os pontos que fizermos dão a nota,

Como se fora vida de colégio.



Se mantivermos firme a nossa rota,

Por certo vamos ter o privilégio

De atravessar o mar com toda a frota.







IV



VAIVÉM



Vestindo pobre roupa de estamenha,

Apresentou-se a Deus um certo gajo,

Dizendo que portava tal andrajo,

P ra demonstrar saber qual era a senha.



E disse ao Senhor: "— Bom Pai, eu ajo

De forma que nem santo desempenha.

Veja como o cabelo se desgrenha

E como é que desprezo este meu trajo."



O Pai mediu o cara, mão no queixo,

Moveu as peças, deu-lhe xeque-mate,

Condenando-lhe o orgulho do desleixo,



Fazendo ver o grande disparate:

"— Se quiser outra chance, aí eu deixo

Executar tarefas de alfaiate..."















15.O DIA









I



CARACTERÍSTICAS DA POESIA



Deve ser séria a obra mediúnica,

Conquanto o riso às vezes nos compraz.

É que o Espírito aqui é bem capaz

De versejar até em forma rúnica.



Porém, o tema nunca fica atrás

Das peripécias duma guerra púnica,

Que a nossa peça sempre há de ser única,

Na busca conseqüente desta paz.



Assim, se a idéia é dar aos bons leitores

Informações que o façam meditar,

Vamos chamar os nossos escritores,



Que têm o compromisso basilar

De aliviar dos pobres suas dores,

Mesmo que tenham de fazer suar.







II



A IMPORTÂNCIA DO MÉDIUM



É forte o nosso império sobre a mente

De quem se põe disposto a este serviço,

Dizendo que, na vida, é compromisso

O amor que tem por toda a sua gente.



Porém, será preciso mais que isso

Para tornar o povo bem contente,

Porque não basta dar-se humildemente,

Senão que demonstrar ter muito viço.



O time, então, se faz com um bom médium,

Que tenha em alta conta estes poemas,

A ponto de sofrer o nosso assédio,



Sem colocar em pauta os seus problemas,

Evitando também o mal do tédio,

Não rejeitando as formas nem os temas.







III



A ATITUDE DO MÉDIUM



Ao querer ajudar nosso trabalho,

Faça de tudo p ra ficar passivo,

Que o médium, quando está bastante ativo,

É simples carta fora do baralho.



Se a nossa tese o encontra compassivo,

Deixando-se pisar como o assoalho,

Ou dando de posar como espantalho,

Também deve ficar de olho vivo.



Enquanto perdurar sua tarefa,

Deixe surtir os textos no improviso,

Sem ver se existe hiato ou sinalefa.



Terminada a sessão, vai ser preciso,

Com cuidado, saber se o escrito blefa,

Se mensagem contém de muito siso.







IV



A PREOCUPAÇÃO COM O LEITOR



As instruções que acima foram feitas

São normas costumeiras de trabalho,

Contudo a forma dada é um quebra-galho,

P ra ver se se conseguem ser aceitas.



É que o bom povo dá seu agasalho

Às teses que percebem mais perfeitas,

Que as almas são chamadas e eleitas,

Conforme o seu poder não seja falho.



Doirar a pílula só tem valor

Quando o remédio é útil e oportuno,

No tratamento aos males e à dor.



Pois, do contrário, é bom ficar jejuno,

Como no caso deste, em que o teor

Do tema faz tremer até o tribuno.















16.O DIA









I



SOCORRISMO EM AÇÃO



Embora as más tendências causem dano

À relação mediúnica, que emperra,

Enviam os do etéreo, em pé de guerra,

Advertências para o ser humano.



Se se soubesse quanto o mundo erra,

Com seu anseio pífio, burro, insano,

Ouvir-se-ia a voz que grita: — Engano

É tudo que a vontade tola encerra!



E segue essa demanda aborrecida,

A vitimar incautos vagabundos,

Que teimam em fugir da dura lida,



Enquanto os bons amigos, iracundos,

Refletem, a lembrar a própria vida:

— Os nossos erros foram mais profundos...







II



ASPIRAÇÃO POÉTICA



A brisa que sentimos pela pele

Nos prova que, no etéreo, existe vida.

De todos tal idéia é conhecida:

Não tenho novidade que revele.



Contudo, existe alguém que sonhe lida

Que nossa afirmação o tal cancele,

Porquanto o mal da dor não há quem sele,

Que a dor mantém noss’alma combalida.



— Oh! Deus! — hão de exclamar os sonhadores —

Fazei com que esta luta não termine

Sem que, nos meus jardins, renasçam flores,



Sem que, lá no horizonte, o sol carmine

O azul, no resplendor de suas cores,

Sem que este brado meu se desafine!...







III



DÁDIVAS DE ALEGRIA



Abrimos nossa tarde de poesias

Com versos de tremenda abstração,

Contudo, para nós, eles não são

Nem sonhos vãos nem fúteis harmonias.



Quando se dá inteiro o coração,

Pondo nas mentes puras alegrias,

Havemos de pensar que tu farias

O mesmo para nós, nesta sessão.



Desafios nós levamos muito a sério,

Atendendo a este caro companheiro,

Pondo em brios as gentes cá do etéreo.



Nós não vamos ficar só no primeiro:

A solitária cruz no cemitério

Nos faz pensar no amor sem ter parceiro.







IV



ESTA MISSÃO



Quando o relógio der a hora marcada,

P ra terminar a tarde de poesia,

Espero ter cumprido, co alegria,

A missão que me foi determinada.



O meu leitor pergunta se a euforia

É natural pendor ou é forçada,

Que esta poesia enfim não vale nada,

Que um só ceitil por ela não daria.



Mas eu digo, com toda a honestidade,

Que p ra julgar os méritos que tem

Precisaria ser desta cidade.



O grão plantado frutifica em cem,

Quando se age em plena caridade,

Com todo o amor, na prática do bem.







V



IMAGEM SEM DISTORÇÃO



Se não fizermos todos nossos versos,

Conforme os compromissos assumidos,

Não fique triste: os bons só têm ouvidos

Para os que forem bons e não perversos.



Não vá considerar-nos, pois, falidos,

Que os valores da vida são diversos:

Se, nas águas das dores, vão imersos,

Os méritos vão ser controvertidos.



Então, vamos firmar outro contrato

Que exija muito menos quantidade,

Conforme se requer de um bom retrato:



Que tenha contextura e qualidade,

Que mostre o gajo como é de fato,

Inteiro, com total felicidade.















17.O DIA









I



SEMPRE CONCEITOS



Eu tenho compromisso com a vida,

Mas vou posar de chato na poesia,

Que é coisa que, encarnado, não faria,

Querer que seja curta ou comprida.



Importa, sim, o ensino que poria,

Com humildade simples, comovida,

Na fé da caridade que convida

Sentir mais puro amor em harmonia.



É muito estranho que, no Espiritismo,

Os entes cá do etéreo não atuem,

Por fugirem da pia de batismo,



Embora suas vidas continuem,

Ou lá no Céu sereno ou neste abismo,

Onde de Deus os dons bem usufruem.







II



CADA QUAL DÁ O QUE TEM



É fácil versejar neste improviso,

Trazendo a mente aberta p ros valores

Dos termos que nos fazem superiores,

No intuito de mostrar termos juízo.



Porém, se os versos ficam inferiores,

Apaziguar o ânimo é preciso,

Pois, p ra adentrar do Céu o paraíso,

Havemos de sofrer algumas dores.



Falamos dos autores, que estes são

Soldados nas batalhas pelo bem,

Dando de si a mente e o coração;



Falamos dos leitores que também

Aspiram conseguir boa lição

Nos versos que virtudes não contêm.







III



AS VIRTUDES



Iremos ponderar com propriedade

Sobre as virtudes postas nestes versos,

Fazendo ouvidos moucos aos perversos,

Só prestando atenção na qualidade.



Os termos mais felizes vão dispersos,

Equilibrados, quanto à quantidade:

Amor, perdão, trabalho e caridade,

Em mares de esperança submersos.



Assim, toda virtude se perfaz,

Com humildade e justa melodia,

Com a nobreza d alma que é capaz



De comportar o metro da poesia,

Buscando dar conforto e muita paz,

Conforme o ensino que Jesus daria.







IV



ECOS DO INCONSCIENTE



O palavrão que ouvimos lá na rua

Demonstra ingenuidade e não rancor.

Vamos pensar no caso de uma flor

Que seja iluminada pela Lua.



Na atmosfera quente, o forte odor

Se espalha pelo campo, onde flutua,

Não sabendo que a festa é toda sua,

Desconhecendo o próprio resplendor.



Mas nasce o Sol radioso, noutro dia,

E cresta as pétalas, a cor roubando,

Seguindo natural sabedoria.



A voz é flor, é Lua, é Sol mudando

A mente rude que será poesia,

Quando a consciência der voz de comando.















18.O DIA









I



A ÁRVORE DA VIDA



O norte desta vida situamos,

Conforme determina a humana lida:

Se em cachos os amores desfrutamos,

Fazemos com que seja apetecida.



Se pendem muitas dores desses ramos

E o ódio à desforra nos convida,

São sinais de que a luta que enfrentamos

Vai fazer nossa meta mais querida.



Tão-somente os rancores oferecem

Um bom motivo para nós descrermos

Que, sem amor, as almas se enriquecem.



Tudo leva ao prazer, se nós vencermos,

Pois males e tristezas bem se esquecem,

Se os soubermos dispor nos próprios termos.







II



AS LIÇÕES DE JESUS



Conhecidos os riscos neste mundo,

Ajamos com total serenidade,

Pois a vida oferece qualidade

Para quem não padece mal profundo.



Mas é triste saber que, na verdade,

Todo o povo se espoja em chão imundo,

Quando podia ser bem mais fecundo

O gozo de gentil realidade.



Se o bom Mestre tivesse conseguido

Repetir as lições freqüentemente,

Através de mensagens com sentido,



Como esta que atinge a sua mente,

Talvez o mal ficasse constrangido,

Talvez o mundo fosse diferente...







III



PREPARAÇÃO PARA O ETERNO



Se quisermos deixar no mundo a dor,

Levando para o etéreo só prazer,

Havemos de cumprir nosso dever,

Sabendo o que na vida tem valor.



Primeiro vamos ter de compreender

Que tudo o que fazemos leva amor,

De acordo com as lições do Salvador,

Que por nós todos teve bem-querer.



Depois, os dons completos das virtudes

Terão de refletir, nas atitudes,

A fé, a confiança e a caridade.



E todos os conselhos do Evangelho

Hão de formar, no coração do velho,

Um halo de total felicidade.







IV



AQUI JAZ A MATÉRIA



Sentimos ter de vir aqui dizer

Que a nossa fé em Deus somente cresce

Quanto mais ajudarmos quem padece,

Fazendo um bem danado, p ra valer.



Por que sentimos? É que o bem decresce

No coração do povo que quer ver

Um modo de aumentar o seu prazer,

Sem se importar se o mal é sua messe.



Oremos ao Senhor, que nos ajude

A bem compreender toda virtude,

Na hora derradeira usufruída.



Ao menos, ao chegarmos cá no etéreo,

Vamos saber que existe um cemitério

Onde enterramos o ideal da vida.















19.O DIA









I



PREPARA O TEU FUTURO



O hábito espartano disciplina

Essa vontade inerme que palpita,

Fazendo com que o gozo se conflita

Contra o desejo para o qual se inclina.



Eleva aos Céus, por Deus, a tua grita,

Sustando ali, no ato, a mão ferina,

Para que cumpras bem a tua sina,

Antes que a tua dor seja infinita.



Conhece o teu amor pela beleza,

Mas julga do esplendor dos versos chãos

Que trazem para a arte a natureza,



Que o bem que tu fizeres aos irmãos

São frutos que se põem por sobre a mesa,

São lavas do saber dos teus vulcãos.







II



A VERDADE ACIMA DE TUDO



Engole bem depressa as tuas dores,

Fareja o hemistíquio desta vida,

Que os versos que compões, durante a lida,

Sirvam aos teus irmãos como instrutores.



Tua poesia descomprometida

Faz ver ao mundo apenas teus valores,

Talvez algumas dores ou amores,

Mas nunca a excelsa gama presumida.



A verdade talvez não te dê rima

Com que mantenha a turba boquiaberta,

Mas faz acrescentar ao bem estima,



Pois toda melodia a alma acerta,

Quando a virtude ocupa um ponto acima,

Chamando toda gente, à hora certa.







III



JULGAR COM SOBRIEDADE



Sagrados são os nossos pensamentos,

Quando lembramos falas de Jesus:

Dentro do escuro ermo, faz-se a luz,

Envolta nos mais puros sentimentos.



São falsos os milagres e a cruz,

O Cristo não sofreu os seus tormentos,

Jamais rogou perdão em seus lamentos,

O povo para o bem não se conduz?!



Fiquemos, na Doutrina, tão-somente,

Buscando, na Verdade, o bom abrigo,

Agindo, na Virtude, sabiamente,



Que o Pai há de livrar-nos do perigo

De sermos com Jesus muito inclemente,

Pois sempre ele há de ser o nosso Amigo.







IV



BEM-ESTAR PARA TODOS



Pretendo prosseguir com este verso,

Embora o bom amigo desconfie

Que tudo o que fazemos desafie

O prumo da verdade do Universo.



Mas, nestes tempos tristes, há quem crie

Um modo bem ruim de ser perverso,

Fazendo com que o bem esteja imerso

Em lágrimas que o mal não avalie.



Ser otimista, em clima de saudade,

Talvez não seja o rumo mais certeiro,

P ra demonstrar a Deus felicidade.



Nosso futuro é bem mais verdadeiro,

Se no presente houver mais qualidade,

Na forma de viver do povo inteiro.







V



VERSEJAR SEMPRE



Não quero surpreender este escrevente

Com versos que ele julgue mui formosos,

Que os entes cá do etéreo mais vaidosos

São tremendas ficções da humana mente.



Se os nossos textos hão de ser ruidosos,

Na busca da emoção que o povo sente,

Que a rima seja menos que excelente,

Que os temas sejam puros para os gozos.



Falar de Deus exige seriedade,

Embora o Pai não fira nunca os filhos,

Por causa de qualquer precariedade.



Se forem maus, em simples estribilhos,

A imperfeição é fruto da verdade:

Deus há de perdoar os pecadilhos.







VI



O POETA IMPROVISA



Não seja ganancioso, caro amigo,

Tomar cinco sonetos é demais.

Ainda assim, está querendo mais,

Conforme este modelo bem antigo.



Os filhos é que exigem de seus pais

Que falem p ros muxoxos: — Eu não ligo!

Se peraltas charmosos, eu não brigo,

Que a vida tem momentos para os ais!...



Pois, para nós o ponto de chegada

Se dá neste improviso sem valor,

Que verso tão perverso é quase nada,



Conquanto esteja o nosso benfeitor

Fazendo gosto, ao fim desta jornada,

Ao mostrar, no trabalho, o seu amor.















20.O DIA









I



O PRIMEIRO MANDAMENTO



O bem do amor resulta em confusão,

Quando pensamos ser o pioneiro

Nas primícias de meigo coração

Que se dá para o afeto, todo, inteiro.



É que os entes do etéreo sempre estão

Por perto de quem seja prisioneiro

Da falsidade triste da paixão,

A demonstrar que Deus virá primeiro.



Amar ao Pai do Céu, perenemente,

É tópico severo dessa lei,

Que requer igualdade a toda a gente.



Fazer o bem, seja qual for a grei,

É norma de conduta que se sente

Obrigação do povo e do seu rei.







II



O SEGUNDO MANDAMENTO



Se temos convidados p ro jantar,

Tudo fazemos p ra deixá-los bem:

Os condimentos da comida vêm

Proporcionar prazer ao paladar.



Contudo, preocupamo-nos também

Em muito afeto a todos demonstrar,

Em prestando atenção particular

Aos temas do interesse que se tem.



Da mesma forma, temos o dever

De repartir o pão com a pobreza,

Trazendo n alma grande bem-querer,



Ao convidar o povo para a mesa,

Pois é preciso o amor reconhecer

Como a premissa fértil da nobreza.







III



DE AZORRAGUE NA MÃO



Se formos dar abrigo aos sofredores,

Por norma do evangelho do Senhor,

Vamos ter de mostrar o nosso amor,

Para sermos chamados benfeitores.



De que adianta gastar grande valor,

Se não temos respeito pelas dores,

Buscando parecer bem superiores,

Sem dar com gentileza: — Ao seu dispor!



O Cristo, neste aspecto, foi exemplo,

Mesmo ao bater nos vendilhões do templo,

Que as vergastadas doem até agora,



Se não nas costas dessas tais pessoas,

Na consciência das que se acham boas,

Por darem lenço ao sofredor que chora.







IV



AS IMAGENS DE JESUS



Caso tenhamos fé no Deus-menino,

Jesus-criança, meigo e sonhador,

Saibamos que da Terra ele é o Mentor,

Por força de trazer o seu ensino.



É ele, então, um ser mui superior,

A presidir do Mundo o seu destino:

Quem sabe seja até falta de tino

Amar sua figura sem valor.



Ficou no tempo a sua imagem pura,

Nos braços de Maria Imaculada,

Mãe ideal de Deus da criatura.



Tememos ver assim cristalizada

A crença dessa alma não segura

De que sua noção não vale nada.







V



ESPÍRITOS INFANTES



Quem é que, então, responde por Jesus

A quem manteve a imagem da criança,

Com doce fé e mui gentil lembrança,

Esquecido que um dia houve a cruz?



Existe uma corrente de esperança

Que traz acesa a meiga e terna luz,

Formada por um grupo que conduz

Os corações infantes nessa andança.



São seres preparados para a ajuda

De quantos tenham medo de crescer,

Mantendo sua mente quase muda.



São rudes ao cumprirem seu dever,

Porquanto não existe quem se iluda,

Orando a um deus-menino p ra valer.







VI



PRETENSA INGENUIDADE



Às vezes, nossos temas descontrolam

Quem tenha o coração pequenininho,

Querendo receber muito carinho,

Não vendo os grandes males que os assolam.



Em todo roseiral existe espinho

Com o qual os intrusos só se esfolam;

Eis porque os ingênuos mais se amolam,

Ao topar com assunto em desalinho.



São sintomas de medos mui sutis

Que fazem caminhar a contragosto,

Desejando criar funda raiz.



A dúvida retira de seu posto

Quem pretenda somente ser feliz,

Por trazer um sorriso bom no rosto.















21.O DIA









I



REVELAÇÃO



Não tem o nosso médium confiança

Na turma que esta hora vem rimar:

Talvez nos falte ainda segurança,

A provocar-lhe até falta de ar.



De simples treinamento é a esperança,

Pois tudo brota muito devagar

Das páginas viradas da lembrança,

Que temos de volver, a folhear.



Assim, os sons se encaixam neste verso,

Tremendo pela forte comoção,

Pois nem tudo nos sai muito perverso.



Precisa controlar sua paixão,

Que as coisas não vêm prontas do Universo,

Conforme bem demonstra o coração.







II



OUTRA REVELAÇÃO



Vencida a dura etapa do começo,

Os temas vêm surgindo de roldão,

Embora seja fácil um tropeço,

Que a rima tem um jeito pouco são.



Viramos este assunto pelo avesso,

Na crença de fazê-lo menos chão,

Mas não temos sucesso no arremesso,

Pois sempre nos condói o coração.



É como quando a gente quer que o povo

Se sinta confortado em sua sina,

Sabendo que a este mundo vem de novo,



Para provar que a vida nos ensina.

Porém, ouvimos dele: — Eu não me movo!

Ficando a nossa alma pequenina...







III



PRECE SIMPLES



Senhor, ouvi daí a nossa prece,

Que a nossa voz se lança pelos ares,

Em rogos mais que nunca salutares,

Pois achamos que amor nos engrandece.



Sabemos que não somos exemplares,

Que nossa alma de fé ainda padece,

Que a mente de mais luz ainda carece,

Que não existem frutos nos pomares.



Porém, a vossa fé em nós redime,

A vossa luz nos torna inteligentes,

Dando mais força ao povo deste time.



Vamos plantar do bem suas sementes,

P ra receber a bênção mais sublime,

Fazendo nossas vidas excelentes.















22.O DIA









I



À LUZ DO ESPIRITISMO



A vida que levei, aí no mundo,

Só teve para mim um objetivo,

Que foi dar ao amor um tom mais vivo

E um sentimento d alma mais profundo.



Muito estudei à luz do Espiritismo,

Dei aos irmãos mais forças e carinhos,

Colhendo muitas flores com espinhos,

Fugindo de perverso egocentrismo.



Foi muito bom fazer o sacrifício,

Pensando mais nos outros do que em mim,

Quedando muito longe do bulício.



Conhecendo, afinal, o que é ruim,

Eu pude superar do corpo o vício.

Chegando bem melhor a um belo fim.







II



LEMBREM-SE DE MIM



Eu quis interpretar o seu desejo,

Fazendo os versos pobres mais acima,

Pois sei que é bem difícil pôr a rima,

Quando não teve o estudo muito ensejo.



Assim, quando sofrerem remanejo,

Passando dessa vida cá p ra cima,

Demonstrem ter por mim alguma estima,

Tocando os versos meus no realejo.



Mas digam a verdade nesses sons,

Com alegria plena nos seus peitos,

Trazendo para o etéreo novos dons.



Esqueçam de seus males os trejeitos,

Mantendo os sentimentos que são bons,

Porque foram chamados como eleitos.







III



CONVITE À AMIZADE



Bem sei que esses meus versos vão obter

Do bom amigo plena aprovação,

Que vai guardá-los bem no coração,

Cumprindo dia a dia o seu dever.



P ra mim vai ser enorme a comoção,

Na hora em que, chamado para ver,

Tiver fortes impulsos, p ra valer,

Da nobreza do afeto desse irmão.



Levando tal certeza no seu peito,

Prepare desde já suave prece,

P ra demonstrar ao Pai grande respeito,



Pois tudo que este plano lhe oferece

Provém de Deus, que busca o melhor jeito

De dar-lhe mais amor por sua messe.















23.O DIA









I



O DESPREZO AOS VERSOS



Queremos liberdade p ra fazer

Os versos mais formosos deste mundo,

Todavia, o que havemos de dizer

Não traz ensinamento mui profundo.



O ser humano cumpre seu dever,

Independente de sentir bem fundo

Pelos do etéreo aquele bem-querer

Que nos faria menos vagabundo.



Vir poetar em forma mediúnica,

P ra demonstrar sabedoria insossa,

É cravejar de pérolas a túnica,



É ver estrelas e cair na poça,

Sem perceber essa vaidade única

Que cega a vista dessa gente moça.







II



DEVERES



De qualquer forma, temos que escrever

Alguns versos que tragam alegria,

Se não a todos que nos forem ler,

Ao menos a quem ame esta poesia.



Caso contrário, o mestre imprimiria

A toda a turma um ralho p ra valer,

Pois vem aqui atrás da melodia

Que o bem maior fará compreender.



Sentimos muito vê-lo contrafeito,

Ao perceber que o tema não promete,

Pois tudo o que compomos tão sem jeito



Espera em vão por risos e confete.

Porém, o coração bate no peito,

Quando se serve ao rei como valete.







III



LEMBRANDO VICENTE DE CARVALHO



Ficou o nosso médium co a certeza

De que este dia serve p ra treinar,

Pois, se a beleza não se pôs à mesa,

Não há que o sentimento se alegrar.



Contudo, o verso sai com mais presteza,

Embora a idéia chegue devagar:

É que o escrevente espera mais firmeza

De quem esteja aqui para ditar.



Vicente, um dia, fez sua poesia

Ao contemplar o mar com emoção,

Buscando com amor sua harmonia



Nas ondas que refluem do coração,

Mas tudo o que esta gente lhe daria

Seria simplesmente uma oração.







IV



VERSOS EM ORAÇÃO



Senhor, atende a gente que te chama

Diante da amplidão do mar sereno

E lembra-te do amor do Nazareno,

Que do esplendor dos astros se derrama.



Atende-nos, ó Pai, aquele aceno

Com que Kardec disse que te ama

E dá à nossa fé a doce chama

Que torna este viver bem mais ameno.



Mas esquece a existência do pecado

E dá as tuas bênçãos de perdão,

Pois tudo o que fazemos vem moldado



Nas formas tristes desta imperfeição:

Que um verso tão perverso ganhe o fado

De te alcançar em simples oração.







V



POÉTICA REPREENSÃO



A turma cá do etéreo reanima

Co o resultado destas escansões

E vê bater mais forte os corações,

Quanto mais bela está a sua rima.



Não tem o nosso médium mais razões

P ra desacreditar de nossa estima,

Pois sabe que, se errar, vem logo, em cima,

A bronca, sem quaisquer hesitações.



Mas poucos são ousados p ra cachorro,

(Na lídima expressão que o povo gosta)

Na prestação sutil deste socorro.



Quem haveria de virar de costa,

Ouvindo o grito agudo: — Hoje eu morro! —,

Deixando o pobrezinho sem resposta?!...















24.O DIA









I



CUIDADOS COM AS PALAVRAS



Imaginemos se Jesus diria

Os termos que dizemos tão à toa,

Para sabermos se noss alma voa

Nas asas soltas dessa fantasia.



Talvez alguns julgassem não ser boa

A idéia com que a turma desafia;

Outros, porém, no embalo da poesia,

Talvez soubessem como a voz lhes soa.



Não desejamos tanto de ninguém,

Embora esse exercício seja bom

Para sabermos quem consciência tem



De como repercute-lhes tal som,

Seja na prece humilde, ou noutro bem

Que almejem conquistar, por força, o dom.







II



O EXEMPLO DE JESUS



O exemplo de Jesus nos ilumina

Nas áreas mais sutis do coração,

Mas, para que o amor não seja vão,

Havemos de seguir o que ele ensina.



Diante da mais forte comoção,

É da serenidade que ele mina,

Água tranqüila a deslizar, menina,

A encher o lago fundo do perdão.



Assim, nosso evangelho cria vida

E vibra de emoção a cada instante,

Dando a todos nós força p ra lida,



Que nos exige d alma ser constante,

P ra que levar possamos de vencida

O carma que a existência põe diante.







III



PRAZER E DEVER DOS VERSOS



Deseja o nosso médium compreender

Por que esta nossa turma o põe em xeque,

Se só quer conseguir como dever

Mediunidade alegre, que não seque.



Vai precisar saber que existe um leque

De temas cuja força está em ter

Aprovação da gente de Kardec,

Que esquadrinha a mensagem p ra valer.



De que adianta esquentar nossa cabeça,

Compondo versos lépidos, formosos,

Sem que alguma lição lhes ofereça,



Antes, deixando a idéia de vaidosos,

Para que só o rimar se favoreça,

Dos versos mediúnicos nos gozos?!...







IV



EXPLICAÇÃO



Muitos querem saber se é de improviso

Que os versos são compostos pela gente,

Ou se temos ajuda do escrevente,

O que reverteria em prejuízo.



Podemos nós dizer que, simplesmente,

Se esqueçam de fazer qualquer juízo

Que vá diminuir o muito siso

Daqueles que fundiram sua mente.



O médium tão-somente dá socorro,

Quando sente que os termos são ambíguos:

Nós fazemos o terno, ele o forro.



Se os termos que dispomos são contíguos,

Nós damos a cabeça, ele o gorro,

Já que os recursos nossos são exíguos.







V



NEM MAIS NEM MENOS



Se nós tivéssemos mais arte e engenho,

P ra poetar com mais desenvoltura,

Seria esta poesia bem mais pura

E o povo franziria mais o cenho.



Mas, no que importa a mim, ao menos venho

Trazendo, no baú, menos cultura:

Esta poesia é menos segura,

Posto não faça ver menos empenho.



Muitos supõem aqui, nem mais nem menos,

Um sofredor que vise a sofrer mais,

Porque não corre atrás de sons amenos.



Perder tempo não vou querer jamais:

Aceitem, pois, alguns simples acenos

De quem está feliz e vive em paz.







VI



CONVITE À REFLEXÃO



Às vezes, preocupar-se com o mundo

Indica aos encarnados flacidez,

Pois muitos pensam que chegou a vez

De um pensamento mais sagaz, profundo.



A vida aqui repete o que se fez

Durante o encarne tolo ou fecundo:

Seria grave erro, atroz, rotundo,

Julgar que existe um carma sem jaez.



É que é preciso amar e se instruir,

Qualquer seja o lugar em que se esteja,

Para obter um ganho no porvir.



Por isso, o amigo aí é bom que veja

Se tem uns bons motivos p ra sorrir,

Ou se é p ra preocupar-se co a peleja.







VII



NA PRESSA A IMPERFEIÇÃO



Vamos fazer um último soneto,

Que traga um pouco mais de sofrimento,

Pois, sempre que se escreve, é um tormento,

Na angústia de perder algum quarteto.



Deseja o médium ir muito mais lento,

Pois julga que este verso acabe preto,

Já que o som desta rima é obsoleto

E este tema algo traz bem sonolento.



Entretanto, imprimimos rapidez,

Uma vez que poesia sai da linha

Que trouxemos ao posto há mais de mês.



Quem se cansou da nossa ladainha

Vai respirar um pouco a cada vez

Que se lembrar da folga que hoje tinha.















25.O DIA









I



SÓ UM AVISO



Não vamos projetar as nossas ânsias

Em crises de perversas agonias,

Que as lutas hão de dar as alegrias,

Quanto mais fracas forem as ganâncias.



Assim os nossos versos são poesias,

Sem que queiramos dar-lhes elegâncias:

Cada perfume tem suas fragrâncias

Independentes, sim, das vidrarias.



Vamos fazer o bem mais oportuno,

Conforme o nosso irmão dele precise,

Conquanto nos pareça um grão gatuno.



O bom amigo está em quem avise

Que, ao chegar ao etéreo assim jejuno,

Vai ter de se punir por tal deslize.







II



SEM PRESSA



Façamos tudo aqui bem devagar,

Para entender o fim de cada cousa:

Quando cansado o corpo bem repousa,

Deixando a mente livre a divagar.



Um triste despertar contrai quem ousa

Levar a vida fútil a flanar.

No fim, deseja até mais se apressar,

Mas só tem tempo, então, p ra sua lousa...



Se Deus quisesse um bólido de gente,

Teria dado a nós velocidade,

Pois tem cada fator correspondente.



Saber fazer revela qualidade,

Que é norma da pessoa que se sente

Mais próxima das zonas da verdade.







III



DESTINAÇÃO DA VIDA



Se temos de cumprir um compromisso

(E todos temos carma p ra cumprir),

É bom iniciar logo tal serviço,

Abrindo as portas a feliz porvir.



Se a nossa parte for contribuir

Com os encantos para um bom feitiço,

Com esperteza, vamos definir

Qual é o bem a se alcançar com isso.



É que, ao fazer as coisas, não sabemos

Exatamente a vida projetada:

Aí há que mais força pôr nos remos.



Para cumprir as normas da jornada,

Havemos de saber que os bens supremos

Resumem-se no amor. O resto é nada...







IV



TEMAS OBRIGATÓRIOS



Se temos de fazer um verso lindo,

Um tema escolheremos bem profundo,

Que instrua o nosso amigo nesse mundo,

Enquanto for a vida construindo.



Portanto, é melhor irmos lá ao fundo

Das forças pelas quais vem reagindo,

Para fazer-lhe um bem que seja infindo,

Que, em sementes de amor, seja fecundo.



Lembremos-lhe a doutrina de Kardec,

As leis do carma e as teses do progresso,

Para que não se ponha muito em xeque,



Quando estiver no etéreo de regresso.

Agindo assim, não haverá quem peque

Contra a vontade imensa de sucesso.







V



CONSEQÜÊNCIAS DO MAL



Falemos um pouquinho da maldade

Que lota o coração do ser humano,

Que treme, ao sentir o desengano,

Ao conhecer a força da verdade.



Muitos se esquecem logo do fulano

A quem causaram tal contrariedade

Que o transformou em fera sem piedade,

Na busca de vingar-se de seu dano.



São correrias pelo etéreo infindo,

Perseguições terríveis, sem sossego,

Que fazem esse monstro mais horrendo.



Se tudo fosse um pouco só mais lindo,

Se a Jesus se tivesse mais apego,

Seria este viver bem estupendo.















26.O DIA









I



UM SER COMUM



Na cova dos leões eu fui jogado,

Por minha própria inépcia ao viver:

Se, em vez de ódio perverso, bem-querer,

Melhor sorte teria, assim, logrado.



Por ora, cumpro um rígido dever,

Que até me traz bastante entusiasmado,

Ou seja, empresto a voz a este ditado,

No aguardo de quem queira ver p ra crer.



O povo cá do etéreo fica mudo,

Enquanto o companheiro desempenha,

Que esta poesia agora é quase tudo.



Porém, não basta que este verso tenha

O som perfeito e um grave conteúdo:

Precisa que a Doutrina mostre a senha.







II



LIÇÃO SUBLIMINAR



Quem pensa que só gênios fazem versos

Precisa compreender que a luta ensina:

Se, p ra paralisia, há vacina,

P ros metros, os temores são perversos.



Notando que, p ro bem, a alma se inclina,

Deixemos alguns temas lá imersos,

Juntando os pensamentos mais dispersos,

No efeito de uma rima peregrina.



Sem pressa, os termos vão-se aproximando,

Como peças de bom quebra-cabeça,

Cada qual um conceito formulando.



Cabe a nós suprimir o que ofereça

Ao leitor pobre idéia de desmando,

Pois, no fim, o importante é que amor cresça.







III



VERSOS PROFÍCUOS



Terminado o soneto, vamos ver

Se perfaz os princípios da Doutrina,

Ou se repete o que Jesus ensina,

Pois assim se resume o bom dever.



Nem sempre o pensamento ali combina,

De forma que é preciso refazer,

Não o poema, mas o bem-querer,

Até que o amor transborde dessa mina.



Aos poucos, ganham foros de verdade

Os versos realizados com esmero,

Na busca de total felicidade.



Há de crescer, então, sem exagero,

A gana de aumentar a quantidade,

Sem demonstrar ao mundo desespero.







IV



ENSINO METAFÍSICO



Fizemos depressinha os tais sonetos,

Mas, no ditado, fomos devagar:

O barco enfuna as velas lá no mar,

Se os horizontes não se mostrem pretos.



O nosso médium teve de esperar

Que fôssemos buscar rimas nos guetos:

Em casa de ferreiros, os espetos

São de madeira própria p ra queimar.



As nossas formas ficam literárias,

Quando as imagens voam pelos ares,

Forçando a mente a meditar em várias.



Assim, os temas são particulares,

Embora nós cantemos muitas árias

Longe de serem primas inter pares.















27.O DIA









I



REPERCUSSÃO



Centenas de sonetos eu faria,

Se o povo ouvisse a voz destoutro mundo,

Mas temo que nem tudo vá ao fundo

Do coração que nega esta poesia.



Assim, eu vou levando e não confundo

Este exercício com sabedoria:

Ao terminar a peça é de alegria

Meu sentimento lúcido e profundo.



Ser responsável pelos desenganos

É fato que não quero só p ra mim,

Nesta de sacudir os dons humanos.



Se existe quem me julgue bem ruim,

Por lhe causar nos sonhos graves danos,

Espere para ver qual é o fim...







II



OS RETIROS ESPIRITUAIS



Falece-me a coragem de dizer

Que tudo nessa vida vai falir,

Caso não se cogite do porvir,

Teimando em só ter gozo, sem dever.



É justo o tempo se distribuir

Em horas de trabalho e de lazer,

Contudo, há bons momentos de prazer,

Quando se põe na vida a refletir.



Sigamos de Jesus a experiência,

Ao ir pelo deserto a meditar,

Buscando compreender a consciência.



Façamos nossas coisas devagar,

Usufruindo em paz toda ciência,

Que a vida vai o bem nos ensinar.







III



SOBRE OS LOUROS



Se tivermos na vida algum sucesso,

Vamos pensar que foi por mero acaso:

Jamais qualquer vaidade tenha azo

De se instalar no centro do progresso.



Bom oleiro não faz somente um vaso,

Ninguém é orador de um só congresso.

Tudo o que temos feito, no regresso,

Irá ser colocado ali, no raso.



Assim, vamos fazer somente o bem,

Que essa virtude tem um peso enorme,

E mais terá se houver amor também.



Nesse time, o saber usa uniforme

P ra defender a honra que se tem,

Porquanto a caridade jamais dorme.







IV



NOTÍCIA PESSOAL



Próximo está o dia decisivo

De receber o neto na família.

Vamos rezar que tenha sua filha

Um parto ameno, fácil, primitivo.



Vítor Augusto sabe que rebrilha

A luz do pai, em foco muito vivo,

Por isso traz consigo, redivivo,

O dom do amor que tem e compartilha.



Um dia, há de chegar o entendimento

Dos versos que fazemos muito a medo

De provocar na mãe ressentimento.



Talvez tenhamos vindo muito cedo,

Mas Deus conhece bem o tal momento

De pôr um fim à trama desse enredo.







V



COMPROMISSO COM A VERDADE



Não há pedir ao médium que resguarde

Os versos que ditamos logo acima:

Talvez contenham algo que reprima,

Mas escondê-los é quase covarde.



Quando existe pessoa que se estima

Que a verdade do espírito retarde,

Sabemos que em noss’alma um fogo arde

De demonstrar que amor tudo sublima.



Porém, rezemos prece comovida,

Para levar ao Pai nosso temor,

Pois não queremos vê-la mui ferida,



Quando souber que existe outro valor

A comandar os passos nesta vida,

Tendo Jesus por mestre e benfeitor.















28.O DIA









I



DESPRETENSIOSAMENTE



Não temos pretensões neste serviço,

Conquanto algo de bom é de dever,

Por isso, o que nós temos p ra dizer

Vai revelar sagrado compromisso.



São elos que estimulam bem-querer,

Embora em linguajar não mui castiço:

É fácil perceber o débil viço

De quem grande fracasso é de temer.



Porém, vamos levando de vencida

Esta missão que traz como chancela

O dom maior de ser só concluída.



Sagrado compromisso se revela

Em dar maior prazer à sua vida,

Tornando esta missão também mais bela.







II



SOB O LEMA DA CARIDADE



Agora que vencemos uma parte,

Podemos adentrar um outro tema,

Que o vento enfuna a vela p ra quem rema:

Com mais facilidade, o amor comparte.



Assim, ante este médium, um problema

Se põe entre o evangelho e sua arte,

Conquanto, ali no centro, o bem se encarte,

A lhe indicar da caridade o lema.



Ao estudar as leis e os mandamentos,

Devemos excluir os maus intentos,

Que em tudo tem de haver honestidade.



Em simples versos, feitos de improviso,

Havemos de mostrar termos juízo

E mais ainda o rumo da verdade.







III



LIMITAÇÕES



Fatores contra os versos temos vários,

De toda espécie, tipo e compreensão:

Nossos recursos métricos não são

Apropriados para os corolários.



É que as virtudes claras não estão,

Para os lampejos destes visionários,

Pois, ao falar no bem, fazem contrários

Estes dizeres postos em ação.



Tão trabalhadas ficam estas rimas,

Que tornam nosso tema artificial,

A corroer o cancro como enzimas.



Está claro que vamos contra o mal,

Porém, ao receber suas estimas,

Rezamos que este bem seja normal.







IV



CENA DOMÉSTICA



Não temos compromisso com a pressa,

Pois tudo vai melhor bem devagar,

Porém, o nosso médium nos apressa,

Que hoje tem visitas p ro jantar.



Diz-nos ele que vai e que regressa,

Depois de as tais batatas preparar,

Que é prato simples, mas é bom à beça,

E que lhe agrada ao bolso e ao paladar.



Vamos, portanto, agora liberá-lo,

Para orientar a esposa, que se adianta,

Dando seqüência ao prato do regalo.



Prometendo voltar antes da janta,

O mensageiro diz: — Eu já me calo,

Pois no terreiro o galo já não canta...







V



DE VOLTA



De volta ao posto, o médium me conquista

A simpatia, por mostrar respeito.

Assim, eu digo logo: — Com efeito,

Estou forçado a dar uma de artista...



Mas tudo o que fazemos leva jeito,

Que o bom desta poesia é que ela é mista,

Embora o nosso médium só invista

Um pouco do que sabe e... contrafeito.



Assim, por nossa conta fica o resto,

Neste ditado rápido ou custoso,

Pois nem tudo no etéreo é muito presto.



No final, o que fica é mais formoso:

Ao sentirmos que o tema era molesto,

Mas nos deu este bem em doce gozo.















29.O DIA









I



BONDADE ACIMA DE TUDO



Queremos deixar claro que aqui vimos

No intuito de prestar um bom serviço.

Porém, se nós fizermos mais que isso,

É que os nossos recursos são opimos.



Entender o que seja um compromisso

Está na alma humana, lá nos imos,

Contudo, conscientes, não sentimos

Qual o valor exato desse viço.



Por isso, ao fazer qualquer ação,

Averiguemos quanto é que foi boa,

Para poder medir o coração.



Mas não vamos cantar a nossa loa,

Pois variedade de apresentação

Pode tornar os bens coisas à-toa.







II



A IMPORTÂNCIA DAS EMENDAS



Assim se passa com os próprios versos

Que nos parecem súbito obras-primas:

Deslumbram-nos os sons de nossas rimas,

Enchendo de canções os universos.



Mas tudo o que recebe tais estimas

Pode ter os contornos mais diversos:

Não há temas, assim, incontroversos,

Já que as emendas podem ser opimas.



Este soneto até contém exemplo

Da tese que levamos de vencida,

Pois nada há de sagrado neste templo.



Muito importante é ir levando a lida,

Sem nunca mais dizer: — Eu só contemplo

A perfeição nos atos desta vida.







III



CONSCIÊNCIA DA REALIDADE



O que nos traz assim tão presunçosos

De termos feito um verso insuperável?

São os limites postos nestes gozos

Pelo passar do tempo inexorável.



O que fazemos bem nos põe vaidosos,

Crendo ser o imperfeito mais durável,

Sem recordar que existem os ditosos

Que tornaram o belo controlável.



A compreensão do plano evolutivo

Nos dá certo conforto neste aspeto,

Pois quem é lento pode ser ativo,



Bastando agir de modo mais seleto

Dentro do Cristianismo Redivivo,

Pois nada nesse campo há de ter veto.







IV



ELEVAI OS CORAÇÕES



A turma que, por ora, versifica

Não tem o dom do verso de improviso.

Assim, ao demonstrar ter bom juízo,

Faz mais um verso só, p ra ver se fica.



P ra quem senta a esta mesa, é um paraíso

Deixar fluir um bem que vivifica,

Pois tudo o que se faz é rima rica,

Quando se tem em mente um bom aviso.



Sentindo bem mais leve a sua escrita,

Vai este nosso médium dando corda,

Querendo uma poesia bem bonita.



Mas, ao sentir que o grupo pinta e borda,

Percebe que su alma fica aflita

E grita aos protetores: — Sursum corda!















30.O DIA









I



OS DEVANEIOS



Querendo decifrar o seu futuro,

O homem fica a imaginar sucessos,

Mas, esquecido de que há progressos,

Desconhece o que vai por trás do muro.



Nós temos visto já alguns regressos

De infelizes que tinham por seguro

O desafio de não haver um furo

Nas previsões em que serão professos.



Aí chegando, foram adivinhos,

Só desejando fatos pressentir,

Por ser mais fácil de evitar espinhos.



Não conseguiram mais que descobrir

Que o bem maior vem cheio de carinhos:

É Deus quem tem a chave do porvir.







II



A IMAGINAÇÃO



Querendo refletir sobre o destino,

O homem já se põe a imaginar

Como fará na vida p ra domar

As causas todas desse desatino.



Sobe a montanha olhando para o mar,

Donde avista navio bem pequenino,

Perto das rocas, sem ouvir o sino,

Logo prevendo que irá chocar.



Mas os marujos, certos do caminho,

Navegam bem, para de lá sair,

Pondo frustrado o lôbrego adivinho,



Que não percebe a glória de servir,

Dando uma rosa, retirando o espinho:

É Deus quem tem a chave do porvir.







III



A FAMA



— Quem me dera poder adivinhar

Os números de cada loteria;

Não p ra ganhar, pois eu não jogaria,

Mas para todo o mundo se espantar...



Às vezes, todos pensam que seria

Melhor viver sem nunca se arriscar,

Embora saibam que, ao sair ao mar,

Estão bem certos só da maresia.



São vários os desejos do adivinho

Na busca de o futuro descobrir,

Mas quer saber da rosa, não do espinho,



Que é certo o espinho em que se vai ferir.

Caso pensasse a vida com carinho:

É Deus quem tem a chave do porvir.







IV



A SERVIÇO DOS POETAS



Querendo bem servir aos mensageiros,

O médium se coloca mui atento:

Assim, cada poema aponta um tento,

Que assinala a favor dos companheiros.



Fazer o bem é simples, no momento

Em que o serviço é de apanhar inteiros

Os pensamentos, versos mui faceiros,

Embora envolvam sério sentimento.



Um bom saber, paciência e descortino

São necessários, antes de mais nada.

Caso contrário, o verso bate pino,



Ficando impróprio até p ra pasquinada:

É preferível ir cantar um hino,

Junto aos amigos da uniformizada.







V



TRABALHOGRATUITO



Se houver amor no coração do médium,

Fazendo tudo p ra alcançar progresso,

Em pouco tempo, há de lograr sucesso,

Deixando atrás as horas más do tédio.



Mas, se disser, constantemente: — Eu peço

Que me dêem, para as dores, bom remédio — ,

Cobrando um preço pelo tal assédio,

Vai voltar, cabisbaixo, no regresso.



Ser exigente é bom para consigo,

Que a vida ensina a respeitar os mais,

Tudo fazendo em prol de cada amigo.



Lamentações não vão tornar jamais

Enternecidos os que dão abrigo,

Pois todos têm também os próprios ais.







VI



DE ÚLTIMA HORA



Este improviso, em versos mui perversos,

Um pouco antes de deixar o posto,

Nós só fazemos p ra marcar o gosto

Pelos poemas magistrais dispersos.



Esta leitura faz corar o rosto,

Que os pensamentos vão ficar imersos

Em sentimentos tristes, contra os versos:

Chegando o vinho ao fim, se encontra o mosto.



Ao completarmos mais este poema,

Tendo vencido sério algum problema,

Deixando clara a idéia do imperfeito,



Vamos orar: que Deus nos ilumine,

Para que este soneto bem termine,

Com todo o amor de um coração eleito!















31.O DIA









I



PEDINDO AJUDA AO PAI



Senhor, fazei com que se inspire o médium,

P ra que possamos versejar direito:

Embora seja o entendimento estreito,

A vossa força nos trará remédio.



Senhor, fazei com que, no nosso peito,

O coração aceite o bom assédio

De todas as virtudes, contra o tédio,

P ra que possamos demonstrar respeito.



Que a nossa prece traga aos bons amigos

Forte desejo de criar mais fé

Nos sentimentos úteis dos antigos,



Que teimam em vir mostrar como é que é

Que se hão de evitar os tais perigos,

Quando o rio da ilusão já não dá pé.







II



A ARIDEZ DOUTRINÁRIA



Bem sabemos que o verso já não prima

Em satisfazer logo a multidão:

Mesmo que saia límpida a escansão,

Algo existe de falso em nossa rima.



É que o povo desgosta da emoção

Que não se tenha acomodado ao clima

De uma história de amor de sua estima,

Que de perto lhes fale ao coração.



Ao versejar os temas da Doutrina,

As teses se discutem noutro nível,

Revestida, apesar, de lã caprina



Pois, por mais que queiramos acessível,

Algum ponto importante se examina,

Em terminologia compatível.







III



DIFÍCIL ACEITAÇÃO



Fazer sucesso, pois, com a poesia,

É artigo de lei, em loja cara,

É mensagem de amor que se declara

Ao coração eleito, em euforia.



Por isso, a nossa fé não se separa

De certa esperançosa nostalgia

Dos tempos em que a turba não trazia

Tanto desprezo por uma avis rara.



E não estamos só nos referindo

Aos versos tão perversos que ditamos,

Mas ao cantar de luz, perfeito e lindo,



Pomos de amor que pendem destes ramos,

Que enaltecem o bem e o dom infindo

De exaltar o Senhor como sonhamos.















32.O DIA









I



UM DIA A MAIS



Um dia a mais contado na jornada

Pode até vir a ser bem decisivo,

Se dedicado ao cristianismo vivo,

Na redenção de quem não crê em nada.



Assim, regimes que dão vida à vida

São sacrifícios que se tornam saga,

Que o bem que é feito é a sua paga,

No tempo extra que ao labor convida.



O ser consciente do valor do bem

Tudo fará p ra conservar saúde,

Que o grupo todo vai sorrir também.



Se bem diversa for sua atitude,

Pense na morte com total desdém,

Mas não reclame preso no ataúde.







II



DIETA PARA A ALMA



Um bom regime traz satisfação,

Na hora da pesagem permanente:

Se é certo que ninguém vira semente,

Mais livre há de bater o coração.



Se se obstar a morte prematura,

Agindo de maneira a progredir,

Havemos, cá no etéreo, no porvir,

De perceber mais leve a criatura.



É que os cuidados com a carne fraca

São de rigor, ao se cumprir o carma,

Caso contrário, a aura fica opaca,



Causando bons motivos para alarma,

Que o suicida inconsciente saca

Que utilizou a gula que nem arma.







III



SACRIFÍCIOS ÚTEIS



Ser gordo não é crime algum, porém,

Que existem carmas próprios para isso:

Tudo depende do prestar serviço,

Sem desprezar a sorte de ninguém.



Mas o respeito a cada compromisso

Vai exigir que o gordo saiba bem

Que as desculpas da banha não contêm

O condão de manter da alma o viço.



Sendo preciso controlar os vícios,

Para se alçar aos píncaros da glória,

Os contornos do corpo são indícios



Do necessário p ra alcançar vitória:

É bom saber que existem sacrifícios

Determinados para cada história.







IV



LIÇÕES ETERNAS



O nosso médium fica preocupado

Com estes versos cheios de paixão,

Pensando até que certas falas vão

Deixar algum leitor posto de lado.



Mas p ra que seja o sim, sim, e o não, não,

Todo atributo deve ser saudado,

E qualquer erro bem avaliado,

P ra se chegar à regeneração.



Se perdoar é próprio do Senhor,

Não somos nós quem vai apedrejar,

Que essa lição foi dada com amor,



Contudo, quem pretenda ir devagar,

Na aquisição dos dons de mais valor,

Vai ter ao povo todo e a nós de amar.















33.O DIA









I



MÁXIMA CULPA



Nunca tema a presença destes seres,

Que foram, certa vez, cheios de empáfia,

Buscando ser mais fortes do que a Máfia,

Terminando no etéreo sem haveres.



Antes tivéssemos sofrido a ráfia,

Não nos preocupariam os dizeres:

Dedicaríamos aos quefazeres

Uns bons momentos, sem maldade sáfia.



Hoje o temor que nutre este escrevente

Concentra-se na rima incongruente,

O mais que nos ficou da humana lida,



Bondade em ajudar a esta gente,

Levando este soneto de vencida,

Pois mau exemplo traz penhor de vida.







II



PROJETOS DE MELHORIA



Se a nossa briga, no formar do verso,

Estimular o povo a prosseguir,

Ditando ao escrevente Wladimir

Poemas de valor incontroverso,



Iremos caprichar neste servir,

Algo compondo menos adverso,

Dando ao leitor um meditar imerso

Nas sombras da verdade do porvir.



Iremos desfazer as rimas pobres

Que são as mais perversamente humanas,

Trocando o ouro e a prata pelos cobres,



Que as riquezas no mundo tão tiranas

Deste lado não fazem ouvir dobres,

Pois outras são as falas, mais bacanas.







III



POETAR NÃO É TUDO



Contudo, um certo toque de cultura

Demonstra que não temos preconceitos:

Se a sociedade tem termos eleitos,

Aqui no etéreo, vale a criatura.



Espiritistas são menos afeitos

A conceber uma expressão mais dura,

Mesmo sabendo o fim desta aventura:

Os corações uníssonos nos peitos.



Este modelo serve de estribilho

Ao poetar superno de noss alma,

Que diz que pode haver muito mais brilho



Num gesto simples que o penar acalma,

Que nas palavras deste triste filho,

Que julga que o soneto leva a palma.







IV



O POVO POSTO DE LADO



Sentir vaidade é próprio do egoísta,

Que pensa estimular o seu valor

Ao perceber que o povo é inferior,

Ao qual, com toda a arte, não conquista.



Procura, então, ser bem superior,

Buscando umas idéias em que invista

O cabedal dos termos que ele enquista,

De forma a demonstrar um bem maior.



Assim, convence a quem não tenha pejo

De concordar com falsas estruturas,

Dizendo, cego, apenas: — Eu bem vejo



Que somos as melhores criaturas! —,

Sem saber que tão pálido desejo

Vai causar-lhe gravíssimas ruturas.







V



TEMA IMPERATIVO



Se eu tivesse de meu algum valor

Que pudesse passar p ra toda a gente,

Iria só ditar, prudentemente,

O que o coração desse com amor.



Mas, nesse assunto, sou deficiente

Que, em meu peito, não trago algum calor

Que possa, num carinho promissor,

Dizer ao povo o bem que a gente sente.



Simplicidade é coisa que não conta,

Quando se ama, de verdade, a lida,

Que o saber é o caminho que desponta,



Para fazer mais condizente a vida

Com os ensinos que o Evangelho aponta

E que Kardec enfeixa e consolida.







VI



RIMAS DE DICIONÁRIO



Os meus amigos cá destoutro lado

Se sentem mui contentes com meu estro,

Pois julgam que, nos versos, sou mui destro,

Que tudo fica claro e revelado.



Quanto a mim, julgo ser muito canhestro

Qualquer poema que não tenha dado

Um bom trabalho ao ser realizado,

Demonstrando existir apenas sestro.



Contudo, o médium fica entristecido,

Pois tem de trabalhar com dicionário,

Quando queria ter tudo medido,



Conforme o seu poder discricionário.

A rapidez, porém, tem convencido

O nosso amigo a ser mais solidário.















34.O DIA









I



SOFRIMENTO COMPREENDIDO



Antes que a vida teça desenganos,

Vamos doar um pouco mais de amor:

Se houver, no bem, um triste dissabor,

Façamos p ras virtudes outros planos.



Tudo p ra nós consiste no valor

Das perdas que se dão dos bens humanos,

Contudo, são mais fortes que tais danos

Os desperdícios trágicos da dor.



Saibamos ver, na vida, o nó da intriga

Deste narrado simples que permeia

As rudes desventuras de uma briga,



Que aqui, no etéreo, é muito, muito feia

Fazendo com que o mundo todo siga

As luzes de Jesus, que o bem clareia.







II



VIVER JESUS



Sabendo que a notícia chegou antes,

É obrigação do homem informar-se,

Para alcançar na vida iluminar-se,

Para dar mais de si aos semelhantes.



É desse modo que haverá catarse

Dos crimes e das dores mais flagrantes:

Fugir da luta é próprio dos farsantes,

Que para cá vieram a enganar-se.



Por onde vai o ensino que sublima,

Tornando a vida pura e valiosa?

Nas páginas de luz de uma obra-prima



Trazida por Jesus, em dor piedosa,

Que amor a Deus e aos homens legitima:

O Evangelho, que a alma estima e goza.







III



PAZ E GUERRA



Se a luta, nesta vida, é surpreendente,

Pois tudo o que se quer é conquistar,

Ajamos com mais calma e devagar,

Que todo bem consegue quem intente.



Porém, se é o mal que vamos almejar,

De forma desleal e inconsistente,

Não há que ser honesto nem valente,

Contudo a pressa aqui há de importar.



A conquista do bem é desafio

Que vai manter a luta até o fim:

É lágrima e orvalho e chuva e rio.



A conquista de tudo o que é ruim

Mantém homem suspenso por um fio:

É areia e deserto e fogo, enfim.















35.O DIA









I



SEDE PERFEITOS



No dia em que houvermos de partir,

Em busca da infinita solução,

Teremos de pensar na salvação

Dos que conosco querem compartir.



É próprio desta humana condição

Querer chegar mais rápido ao porvir,

Na crença de que iremos só fruir

As regalias doces da emoção.



Contudo, existe um ganho imprescindível,

Qual seja, o bom domínio das virtudes,

Que o bloco da verdade é indivisível.



Serenas hão de ser as atitudes,

Que o ser que ascende já não é falível,

Nem Deus há de aceitar vicissitudes.







II



TROÇAS E CONCERTOS



As troças que sentimos cá na terra,

Por estarmos atentos no futuro,

Refletem sentimento não seguro

De que se vai perder da vida a guerra.



Viver o dia-a-dia sobre o muro

Traz aos mortais noção que a morte encerra

Uma existência lúdica, que enterra,

Completamente, o homem num monturo.



Desconfiar, contudo, que haja vida

Após a sepultura é muito bom

Para tornar a carne mais sofrida,



Assimilando da virtude o dom,

Esp rança de ver alma convertida,

A melhorar a orquestração do som.







III



POEMA DE SOFREDOR



Caso tenhamos prejuízo agora,

Por vir ditar uns versos tão funestos,

É bom que saibam sermos nós honestos,

Neste desejo de cairmos fora.



São tão mesquinhos estes nossos estos,

Que mal e mal noss’alma revigora,

Porém, se a rima chega, sem demora,

São de felicidade os nossos gestos.



Sofremos tanto, em versejar aflito,

Que até pensamos belo este poema,

Como se fora, sim, penar bendito.



Mas que importância tem o pobre tema

Destes que vêm lançar da dor o grito

P ra quem a caridade é só um lema?!...







IV



DOIDO VARRIDO



Os mestres dizem que haverá socorro,

Se nós tivermos dúvidas sensatas,

Que as águas que despejam as cascatas

Estavam lá, no cimo de algum morro.



Existem almas boas pelas matas.

Quanto a mim, eu não sei como é que corro,

Que estes versos não saem como num jorro,

Apropriados p’ra psi... copatas.



Em desalinhos, vinhos, sem carinhos,

Cascatearam, sobre minha mente,

Sintomas de uma vida improducente.



Volto agora pisando sobre espinhos,

A pedir orações a toda a gente,

P ra que possa ter paz este indigente.







V



SEM REGOZIJO



Não estranhe o escrevente tanta ajuda,

No socorro ao irmão desalinhado,

Porquanto o dote sempre há de ser dado

A quem deseja ver se a vida muda.



Vamos tornar o povo entusiasmado,

Com esta rima fácil que lhe acuda

A dor da solidão, que o mal desnuda,

Na hora em que está sendo resgatado.



Fazer o bem é útil, é gostoso,

Quando se tem amor no coração,

Mas nunca se deseje um forte gozo,



Pois inda sofre o nosso pobre irmão,

Embora já saibamos vitorioso

Quem tenha feito triste confissão.















36.O DIA









I



AS UNIÕES MATRIMONIAIS



A arte de deixar o amor às claras

Redundará em fracasso, quando os seres

Se deixam dominar pelos haveres,

Que as uniões sem dor são muito raras.



Quando os casais não trocam maus dizeres,

Considerando as vidas muito caras,

Se deixam envolver pelas aparas,

Resquícios de tristonhos misereres.



O carma, muitas vezes, prega peças

Unindo quem jamais se fez amigo,

Querendo ver as brigas às avessas,



Pois, na defesa firme desse abrigo,

Hão de cumprir os dois as tais promessas

De separar o joio do bom trigo.







II



RENÚNCIA



Se temos de fazer tal sacrifício,

Na luta pelo bem de toda a gente,

Jamais façamos algo descontente,

Que aumenta muito mais o benefício.



São poucos os que nutrem a corrente

Das forças repulsivas desse vício

Que abala os alicerces do edifício:

O ódio pertinaz e inconseqüente.



Quem queira progredir no matrimônio

Há que doirar a pílula da luta,

P ra não ferir o fêmur e o perônio.



Há de manter a alma resoluta,

Pois ser aqueu em território jônio

Vai exigir sabedoria astuta.







III



CULTIVO DE PAZ



O compromisso que se assume agora

Sempre termina por gerar amor,

Quando se dá à jura alto valor,

Deixando claro que o respeito ancora.



Talvez tenhamos medo do rancor

De quem uns maus momentos mui deplora,

Porém, saibamos ver que o bem aflora,

Ao fazermos a vida recompor.



São tredos os caminhos da fortuna,

Por isso, temos de tomar cuidado,

Aproveitando a vida que reúna,



Em torno de um roteiro demarcado,

As almas que compreendem oportuna

A trégua dos horrores do outro lado.







IV



PROCESSO CONTÍNUO



Se não tivermos logo o desprazer

De ver os nossos sonhos pelos ares,

Vamos cumprir um rígido dever,

Que há fatos, nestas vidas, exemplares.



A liberdade é bela de se ver,

Quando se singram calmos, verdes mares,

Mas, se a tormenta acaba co o prazer,

É bem melhor cuidar de nossos lares.



É só quimera a tal felicidade

Ou há um bom momento em nossa lida?

Se tudo nos parece falsidade,



É bom manter a fé bem guarnecida

De doces esperanças na verdade,

Que a luta continua em outra vida.







V



O AMOR, ENFIM!



Sabemos dos percalços da existência,

Na luta pela glória do porvir,

Por isso é que queremos prosseguir,

P ra que não decretemos mais falência.



São árduos os caminhos que hão de vir,

Trazidos pela nossa incompetência,

Porém, se cultivarmos a paciência,

Não há que mais pensar em regredir.



São leves os queixumes de quem ora,

Sabendo que o Senhor a todos ama,

Contudo, existem dores em quem chora:



Somente um ser perfeito não reclama

Por ter perdido alguém que, nesta hora,

Mantém do amor bem viva a doce chama.















37.O DIA









I



CAUSAS E EFEITOS



Na crença de que tudo se consiga

Com estalar de dedos, nesta vida,

Há quem traga su alma malferida,

Por julgar-se inferior, durante a briga.



Mas quem tem a vontade compreendida,

Ao saber ser a luta mais antiga,

Vai tentar desfazer a velha intriga,

Destinando aos irmãos a boa lida.



Caso o temperamento determine

Que ajamos, logo agora, com prudência,

Oremos com fervor, agradecendo.



Mas, se em vez disso, a zanga nos ensine

A tratar dos irmãos sem reverência,

Havemos que esperar porvir horrendo.







II



CAUSAS DESCONHECIDAS



Às vezes, são sutis de perceber

Os atos que despertam violência,

Pois fica, lá no fundo da inconsciência,

A linha que conduz o nosso ser.



Em plano de total ambivalência,

Havemos de cumprir nosso dever,

Se, mesmo nestas horas de prazer,

Buscarmos ampliar nossa ciência.



O gosto pelo nobre versejar

Coloca o nosso ser aos pés de Deus,

Que assim estimulamos doce amar.



Porém, jamais digamos um adeus

Às dores que nos causa este penar,

Promessa de vitória lá nos Céus.







III



EFEITOS CONHECIDOS



É rico este momento de rimar,

Que a vida justifica o nosso verso,

Contudo, se nos sai algo perverso,

Sentimos que avançamos devagar.



Assim, o coração nos fica imerso

Nas ânsias de o labor estimular:

Se é grande dessas falhas o pesar,

Pior é ver o mal incontroverso.



Saber que este trabalho frutifica

Nas mentes dos amigos cá da Terra

É que faz nossa rima bem mais rica.



Assim, nossa consciência mais se aferra

Nos versos que a esperança nos indica

Por arma p ra vencer a dura guerra.







IV



O IDEAL



Os meios de atingir a perfeição

Precisam da beleza e da bondade;

Assim, os nossos versos, na verdade,

Hão de trazer ao povo uma lição.



Além de praticar a caridade

E de aumentar a luz com a instrução,

Havemos de saber que os santos são

Estetas do dever, na realidade.



Mas isto que viemos cá trazer

Dá só pálida idéia da atitude

Que os seres mais perfeitos hão de ter.



Embora o nobre sonho nunca mude,

Havemos de mudar o nosso ser,

Na aquisição da divinal virtude.







V



LIMITAÇÃO



Sabemos que nem todos compreendem

Os nossos versos mais sofisticados,

Mas que fazer, se são os tais pecados

Que nossos corações mais repreendem?!



Simplicidade vemos, destes lados,

Nos seres mais felizes, que se rendem

Às fáceis soluções, que nos acendem

Desejos de entender os postulados.



Complexidade implica em desmazelo,

Na hora de estudar este universo:

Não basta desejar, mas resolvê-lo.



Assim, como podemos pôr em verso

O mundo compreendido, nu, em pêlo,

Se o nosso entendimento é mui perverso?!...







VI



SOLUÇÕES



Respostas nós não temos para dar,

Se é isto que nos pedem os leitores;

Da mesma forma, os nossos instrutores

Nos dizem que devemos estudar.



Na Terra, há pressões de muitas dores,

Que fazem todo o povo divagar,

Mas quem leva o Evangelho p ro seu lar

Pressente as instruções dos benfeitores.



O cristianismo ativo nos desperta

Para as verdades nobres do Universo,

Mantendo o coração bem mais alerta,



Que é verdadeiro, sim, incontroverso,

Que pelo Espiritismo a porta aberta

Desta simplicidade cabe em verso!







VII



SENSIBILIDADE



Queremos só dizer ao escrevente

Que traga o coração sempre a coberto

Das críticas ferinas, que dão certo

Ar de tola avidez a toda a gente.



É que as virtudes vistas mais de perto

Não trazem, em seu bojo, má semente;

Antes, quanto mais força a mente sente,

Mais vai ficando o coração desperto.



Não pense que esta crítica maltrate

Seus pensamentos sobre todo o mundo,

Que a vida ficaria um disparate.



É que é preciso andar lá bem no fundo

Para mostrar que o coração lhe bate,

Em dobre de finados, mui profundo.















38.O DIA









I



PREVISÃO



Um dia, quando a Terra se explodir,

Não trará ao planeta confusão,

Que até lá haverá evolução,

Tendo todos o dom de progredir.



Eis aí nossa simples previsão,

Que é fácil de saber um tal porvir,

Bastando que a ciência vá medir

Os males que nos faz a poluição.



É certo que, ao chegar a Terra ao fim,

A vida já terá tido extermínio,

Que os gases fazem ar muito ruim;



Não há, porém, de haver um morticínio,

Porque tudo há de ser melhor assim,

Conforme nosso justo vaticínio.







II



EFEITO SANFONA



Quem quer saber se a sorte foi lançada

Espere para ver as conseqüências

Da soma das mais trágicas falências,

Pois tudo, qualquer dia, vira nada.



Mas como, se nos provam as ciências

Que as perdas não existem na jornada

Dos seres que transformam, sem parada,

Os elementos-regenerescências?



A tal matéria-prima desta vida

Contém um movimento expansionista,

Porém, nada de eterno consolida.



É natural da essência que desista

De se manter perene nessa lida,

Passando a contrair-se desde a crista.







III



A REALIDADE DO FIM



Quem for materialista não tem medo

De tudo terminar em explosão,

Pois sabe que não é com simples não

Que alcançará pôr fim a esse enredo.



Quem for espiritista, desde cedo,

Vai preparando o forte coração,

Com fé, com esperança, que essas são

As armas com que contam, em segredo.



Por isso, não é triste o fim do mundo,

Quando sabemos que a verdade é tudo

Que devemos manter inalterado.



Dessa crença em que amor é bem fecundo

Foi Jesus quem nos deu o conteúdo,

P ra termos coração reconfortado.







IV



EVOLUIR SEMPRE



Os temas que trouxemos neste dia

Colocam-nos distantes da Doutrina,

Porém, se previsão aqui se ensina,

Havemos de entender sua poesia.



Aquilo que a distância determina

Parece que não traz sabedoria,

Contudo, que outra coisa levaria

O homem a pensar em sua sina?



As teses que nos dizem que o Universo

Existe nesse estado perecível

Colocam, certamente, em nosso verso,



Um triste pensamento, indefinível,

Que nos dá a noção de ser perverso

Quem não julgue o progresso noutro nível.







V



FÉ RACIOCINADA



Quem descrê que Jesus subiu ao Céu,

Após ter o seu corpo revivido,

Há de ter um fator compreendido:

Que nem sempre é burrice ser incréu.



Aceitar que a matéria haja sido

Fluidificada para dar um véu

Ao Ser Sublime, que se fez de réu,

Será julgar o Mestre bem sabido...



As dúvidas são parte do mistério,

Que o homem não possui sabedoria

P ra decifrar a vida cá no etéreo.



Sendo assim, bem melhor ele agiria,

Se levasse este estudo mais a sério,

Sem descrer que, no mundo, haja harmonia.







VI



SUBLIMIDADE



Se fôssemos falar dos nobres sonhos

De atingir ideais de perfeição,

Talvez déssemos rápida visão

Do que faz estes seres mais risonhos.



Desejamos ferir o coração

Dos que vemos na Terra mui tristonhos,

Por julgarem que sejam enfadonhos

Os destinos que todos gozarão.



Cá no etéreo, a existência é estuante,

Que nem dá para o homem suspeitar:

Nada existe, na Terra, semelhante.



A ventura de a todos ajudar

Nos faz crescer um brilho irradiante,

Que nos leva a Jesus, aos pés do altar.















39.O DIA









I



OUTRA ESSÊNCIA



A luta que empreendemos, nesta vida,

Nos traz presos às leis deste universo,

Porquanto há de ser fato incontroverso

Que não existirá outra saída.



Contudo, o ser, no etéreo, vive imerso

Em outra natureza, não sabida

De quem segue lutando a humana lida,

Onde os costumes têm valor diverso.



Trazer p ra cá os hábitos da carne

Vai dar ao ser um quefazer medonho,

Pois tudo por aqui tem outro enfoque.



Assim, vamos cuidar que o desencarne

Se dê depois de termos tido o sonho

Que nos transporte a luz, em leve toque.







II



NO DIA DO DESENCARNE



Na áspera manhã daquele dia,

Fujamos de fazer algum serviço,

Pois mui rude há de ser o compromisso

Que só mais puro amor transformaria.



Olhemos para toda a confraria

Dos amigos que estão em pleno viço,

Roguemos ao Senhor que saibam disso

E façamos que sintam alegria.



Vamos, depois, lembrar dos companheiros

Que, antes de nós, vieram ao mistério,

Pedindo-lhes que corram bem ligeiros,



Para pegar-nos lá no cemitério,

Pois o menor dos gestos dos parceiros

Vai ser p ra nós um bem demais de sério.







III



ESTÁGIO DE DOR



Assim, fica mais fácil de entender

A natureza outra deste lado,

Porém, se houver o pobre exagerado,

Vai ter de contentar-se sem prazer.



Aí, um mau tremor, descontrolado,

Vai dar-lhe idéia triste do dever,

Contudo, ainda não sabe o que fazer,

Quedando em negro Umbral, desorientado.



Passa a clamar aos Céus pela justiça,

Pensando que haja sido incompreendido,

Sem ver que tudo deve à má cobiça.



Durante um longo tempo ali retido,

Vai transformando o mal, que a alma atiça,

Até ser resgatado arrependido.







IV



DESPOJAMENTO



Por que sofrer um tanto nesse Umbral,

Se o homem pode melhorar agora

Tornando bem menor essa demora

Entre a morte e o resgate natural?



Eis aí que o evangelho mostra a hora

De acabar com as forças desse mal,

Dando as bases sagradas da moral,

Ao indicar a lei que aqui vigora.



De todas as promessas da esperança

Hão de saber que amar é o fundamento,

P ra se evitar da morte o seu horror.



Mas tal virtude o homem só alcança,

Se der um fim a todo sentimento

De posse, de cobiça e de rancor.







V



IRMÃOS SOFREDORES



Hão de pensar os nossos bons leitores

Que temos fortes luzes cá no peito,

P ra lhes pedir viver mais que perfeito,

Na compreensão dos males e das dores.



Conquanto o nosso verso leve jeito,

O que nos traz cativos são temores

De que os amigos tenham multicores

As auras de quem nunca foi eleito.



Se estamos revelando a nobre lei,

É que sofremos muito nos umbrais,

Por termos desprezado a nossa grei.



Queremos que não pensem ser demais

Nossos conselhos, ao dizerem: — Sei

Que não vou cair nessa nunca mais!







VI



A CAMINHO DA PERFEIÇÃO



Queremos que os amigos bem compreendam

Que todos navegamos nesse barco,

Que a vida há de ser apenas arco

Que as forças conjugadas mais distendam.



Viver sozinho pode ser um marco,

Na história da existência dos que tendam

A ir mais devagar, p ra que se rendam

Às flores que vicejam sobre o charco.



Porém, vão ter, um dia, de subir,

Pois tudo na existência tem um fim,

Até se completar o evoluir.



Vamos buscar amor, que tudo, enfim,

É lindo e justo e bom, lá no porvir:

Jesus, José, Maria, Abel, Caim...















40.O DIA









I



TÍTULO DE CIDADANIA



Quem queira compartir das amizades,

Que, aqui no etéreo, existem p ra valer,

Precisa, desde logo, compreender

As condições supernas das cidades.



Não há que ser perfeito no dever,

Mas tem de conhecer as propriedades

Que fazem dos amores qualidades,

Que, a todos, nós devemos bem querer.



Qualquer virtude é dom que se conquista,

Depois de se lutar contra o egoísmo:

Aqui, a compreensão perde de vista



As más paixões, por ser mero truísmo

O perdoar do mal a quem insista

Em praticar as leis do Cristianismo.







II



DISCRIÇÃO



Para chegar aqui, há que se ter

Vencido as tentações do material,

O que, na situação mais atual,

É luta que se trava p ra valer.



Porém, deposta a causa, todo o mal

Se torna desafio que dá prazer,

Pois cada compreensão gera um dever

De ajuda que se dá ao pessoal.



As alegrias chegam uma a uma,

Ao superar a dor o companheiro,

Que com estes labores se acostuma,



Pois nada existe tão satisfatório,

Que exaltar a vitória do parceiro,

Sem provocar no povo palavrório.







III



CONTENÇÃO DO MAL



Determinadas normas deste lado

São aplicáveis, sim, nessa corrida,

Desde que faça a lei melhor cumprida

E o trabalho bem-vindo e respeitado.



As tristes condições da humana lida,

Porém, trazem o povo maltratado,

Embora tenha causa esse tal fado,

Nas peripécias dúbias de outra vida.



O fogo não precisa de mais lenha,

Se a tora está acesa a iluminar.

É bem assim que a alma desempenha,



Estando satisfeita em seu lugar;

Contudo, na maldade, ela se embrenha,

Se a todos só deseja dominar.







IV



A DOENÇA CÁRMICA



São dicas estes versos para a gente

Que julgue estar na hora de mudar,

Que é triste pôr o barco nesse mar,

Sabendo naufragar eternamente.



Se a todos conseguíssemos mostrar

Que é natural sofrer, quando doente,

Iríamos fazer bem mais presente

A lei que determina esse penar.



A vida que se leva, cá na Terra,

Precisa realmente do evangelho,

Pois todo o ensinamento aí se encerra.



De que adianta dizer: — Eu destrambelho! —,

Se nos vícios do mundo mais se enterra,

Vivendo inutilmente até bem velho?...







V



O BOM DEVER



Não temos ilusões com estes versos,

Que as coisas não dependem só de nós:

Pensar que se ouvirá a nossa voz

É crer que os homens já não vão dispersos.



Contudo, cá viemos dar uns nós,

Que os laços, quando frouxos, são perversos;

Ou são os nossos temas controversos,

A ponto de falarmos sempre sós?...



A vida que levamos, lá no etéreo,

Nos faz acreditar no bem-querer,

Que amar e se instruir é muito sério.



Por isso, quando olhamos outro ser,

Queremos resolver o seu mistério,

Cumprindo, com amor, o bom dever.







VI



O MÉDIUM INSISTE



Insiste o nosso médium cá conosco,

Pedindo novas trovas de valor,

Querendo rima muito superior,

Achando que saímos desse enrosco.



Contudo, nesta pausa, sem tremor,

Ditamos algum verso quase tosco,

Pois nosso brilho sempre fica fosco,

No medo de causar frustrante dor.



Ao enfrentarmos esse desafio,

Já percebemos a razão do rogo:

É que cor demos ao palor do brio.



Aí, aos poucos, dá-se o desafogo,

Pois soltas vão as águas deste rio,

Para apagar as chamas de seu fogo.















41.O DIA









I



DESCRENÇA NOS HOMENS



Não vim incentivar do povo a ira,

Porque trago o evangelho de Jesus,

Porém, como fazer brilhar a luz,

Se a vida só maldade e dor inspira?!



Aqui, é a matéria que seduz,

Fazendo com que o lucro seja a mira

De quem toda esperança ao povo tira,

Pregando, como ao Cristo, em triste cruz.



O amor, que exige paz para crescer,

É virtude que o mundo desconhece,

Que os homens só desejam mais prazer.



A mim, há de restar somente a prece,

Que os versos, que hoje faço por dever,

Não trazem a promessa dessa messe.







II



CRENÇA NO SENHOR



Fadados a cair no esquecimento,

Os versos vou compondo sem calor,

Pois tudo vai perdendo o seu valor,

Conforme vou mudando o pensamento.



Eu mesmo já não sei onde vou pôr

Os dramas do meu rude sofrimento,

Que a dor, sendo levada pelo vento,

Vai dando ao coração bem mais ardor.



É esse o caminhar que estou seguindo,

Nos trilhos das virtudes de Jesus,

Pois tudo vai ficando muito lindo.



Enquanto, aqui na Terra, o mal seduz,

No etéreo, o bem me diz que é infindo

O amor do Pai a quem o amor conduz.







III



NECESSIDADE DA DOR



Se tudo acontecesse em boa hora,

Não haveria guerra nem tormento,

Porém, como seria o tal momento

De dar adeus ao corpo e ir embora?



Se não houver aí constrangimento,

Nem, ao menos, resquício de demora,

Será que alguém terá qualquer melhora,

Ao não sentir nem dor nem sofrimento?



Se a vida contivesse só prazer,

Mantendo as vibrações sem revertérios,

P ra que nos serviria esse viver?



Embora os temas fossem muito sérios,

Não haveria um único dever,

Além de se cuidar dos cemitérios.







IV



AS EXIGÊNCIAS DEMASIADAS



Os nossos versos são de brincadeira,

Porque jogam apenas com roupagens,

Mas tudo que é feijão provém de vagens:

É isso o que nos traz a eira e a beira.



Assim, ao estudar nossas mensagens,

Procurem conferir se dão inteira

Segurança, apesar de bem faceira

A forma que adotamos p ras imagens.



Do mesmo modo, os temas mais perversos

Vão tendo transmissão inteligente,

Conquanto haja vaidade nesses versos.



Mas, que fazer, se querem excelente

O desempenho grácil dos conversos,

Que devem ser os bons, mas... simplesmente!







V



A NATUREZA HUMANA



Os temas deste dia são marotos,

As rimas causam muitos calafrios,

Mas temos de dizer que nossos rios

Recebem os dejetos dos esgotos.



Se ouvem, lá nas árvores, uns pios,

Atiram logo todos os garotos,

Pois, entre os mais rasgados e os rotos,

Há sempre os que provocam arrepios.



Considerar a natureza humana

De boa índole e de fácil trato

É demonstrar que a mente nos engana.



Querer a paz não passa de boato,

Que tudo o que se faz vem da tirana

Vontade de burlar de Deus o ato.







VI



A IMPORTÂNCIA DO PERDÃO



A pressa de chegar até aqui

Me trouxe sem vontade de parar.

Ao menos, se eu andasse devagar,

Talvez até dissesse o que senti.



Navegando sem ter onde aportar,

Percebo que, no mar, eu me perdi,

Contudo, muito tarde compreendi

Que, p ra acertar, bastava só amar.



Assim, este meu verso é mais cordato,

Na ânsia de que o povo me perdoe,

Pois vejo que esta paz não é boato.



Pensava mui feroz: — Caso isto doe,

É bom até que haja espalhafato!

Agora, espero só que o bem ressoe.















42.O DIA









I



A MÁGOA DO POETA



O trabalho de estar aqui presente

É pouco, tendo em vista o meu recado:

Depois de haver eu tanto trabalhado,

Pouco custa este tempo ao escrevente.



Quisera não ficar posto de lado,

Toda vez que me junto a esta gente.

É que se pensa, muito simplesmente,

Que tal mediunidade é vil pecado.



Caso se analisassem os poemas,

De acordo com os temas lá propostos,

Iriam percebê-los sem problemas.



Ficam a suspeitar tão predispostos,

Que temos de enfrentar cruéis dilemas,

Na ânsia de esconder estes desgostos.







II



A CONSCIÊNCIA DA FRAQUEZA



Não tenho pretensão a ser perfeito,

Que o verso sai-me fraco e distorcido,

Pois penso em arredio, mas tenho sido

Levado a registrar termo sem jeito.



A vida de um poeta é não ter tido

Problemas, por jamais ter sido aceito,

Pois tudo o que sofreu dentro do peito

Acaba se tornando em brio falido.



Não quero arreliar o caro médium,

Que traz a esta mesa a caridade

De receber em paz o nosso assédio;



Mas quero demonstrar que tenho idade

Para repudiar o intermédio

Que queira perturbar a qualidade.







III



AS FALHAS DE TRANSMISSÃO



Eu sei que muita gente há de inferir,

À vista do que disse logo acima,

Que estou a repreender o Wladimir,

Apenas por deixar de lado a rima.



Não tendo compreensão, inda por cima,

Vejo bastante negro o meu porvir,

Por isso, vou mostrar completa estima,

Desfazendo a impressão do mau sentir.



Eu trouxe preparado o meu poema,

Trabalho arquitetado em longo dia,

P ra não ter de enfrentar qualquer problema.



Mas, logo, no começo da poesia,

Vejo bem maltratado esse meu tema,

Ficando o coração sem harmonia.







IV



A RESPONSABILIDADE



Escreve bem depressa o meu amigo,

Com medo de deixar-me muito irado,

Mas vou dizer-lhe que não é culpado,

Pois todo este entrevero é só comigo.



Parece-lhe este verso improvisado,

Ou pensa que p ras falhas eu não ligo,

Caso se encontre aí grande perigo

De ser por todo o povo desprezado?...



Não iria jamais deixar-me assim,

Esperando o soneto desabar

Com todos os escombros sobre mim.



Mas certo não está compartilhar

De tudo o que acontece de ruim,

Esquecido na sombra, se eu brilhar.







V



A CONVICÇÃO



Preciso agradecer a Jesus Cristo

O fato de me ver tão desenvolto,

Livre a rimar, com pensamento solto,

Dizendo à tentação: — Eu já resisto!



Fica o pobre escrevente em medo envolto,

Que a rima é perigosa e eu insisto,

Julgando que não ache para isto

Remédio, e que me mostre mui revolto.



Com medo de mostrar-me deficiente,

Queria o meu amigo aconselhar-me

A que mudasse a rima, simplesmente.



Aconselhei-o eu a tal desarme,

Pois tudo o que eu fizer de diferente

Não é p ra provocar um novo alarme.







VI



A ANÁLISE



Vão bem estes sonetos comprovar

Que temos o domínio de tais versos,

Porque, se não estão mais que perversos,

Não vão à alegria dar lugar.



Eu temo que estes temas tão diversos

Façam os meus amigos bocejar,

Chegando a compreendê-los devagar,

Que em sentimentos bons estão imersos.



Mas não vão esquecer-se de que eu disse

Que havia trabalhado o dia inteiro,

Ou acham não passar de idiotice



Elaborar um texto tão matreiro,

Para que todo o povo só sentisse

Profunda compaixão pelo parceiro?!...















43.O DIA









I



FECHO DE OURO



A dor de fracassar, neste ditado,

Coloca um pesadelo no meu médium,

Mas vejo que resiste ao mau assédio,

Só pretendendo texto ajuizado.



Então, devo dizer: — Mas que remédio!

E dar-lhe o que me pede tão coitado,

Que é triste ver o médium desolado,

Querendo, sem poder, vencer o tédio.



Assim, vou repetindo as mesmas rimas,

Pois tudo vai saindo de improviso,

Que é nobre o atender dessas estimas.



Mas hão de perguntar: — Onde o juízo,

Pois trovas nós já lemos mais opimas?!

Esperem adentrar o paraíso...







II



A FALTA DE INSTRUÇÃO



Ligadas as turbinas destes versos,

Prossigo a derrubar rima por rima:

Se tudo já foi visto, como acima,

Hão de restar alguns menos perversos.



P ra polir as idéias, uso a lima

Que tomo de Bilac, pois diversos

São os assuntos álgidos, dispersos

Nas trevas de um penar que reanima.



Assim, eu me coloco em pé de guerra,

Trazendo p ro soneto a desventura

De ver quem nos estudos mais se aferra:



Lampejos de serena criatura,

Difíceis de encontrar por esta terra,

Invoco a derrocada da cultura...







III



O SOCORRISMO POÉTICO



Se alguém tiver comigo impaciência,

Querendo ver depressa retratar-me,

Vou ter de provocar o seu desarme,

Pois quero demostrar mais competência.



Já foi o tempo de regenerar-me,

Que utilizei no trato da ciência,

Buscando toda causa e conseqüência,

Tentando amenizar o triste alarme.



Fabrico agora versos socorristas

Que causam no leitor um certo alarde,

Pois trago algumas coisas nunca vistas.



Porém, estes meus temas, cedo ou tarde,

Vão ter de freqüentar as suas listas,

Que o fogo da verdade também arde.







IV



AS REMINISCÊNCIAS



Queria agradecer ao escrevente

Toda a atenção que tem para comigo.

Pretendo só chamá-lo, meu amigo,

Caso tenha algum verso promitente.



É desejo sagrado, bem antigo,

Que trago cá no peito, ternamente,

De dar conhecimento a toda a gente

Que Deus nos reservou um bom abrigo.



Porém, passaram anos desde o tempo

Em que na Terra andei, de lida em lida,

Lutando por fazer mais nobre a alma.



Sofri, levando avante o contratempo

Dos que me perturbaram a corrida:

Agora só desejo dar-lhes calma.







V



A ADESÃO



Eu lhes peço que rezem uma prece,

Pensando nos parceiros que destoam:

São choros, são lamúrias que ressoam,

No fundo da consciência que embrutece.



Mas os justos e os bons logo perdoam

Os crimes mais perversos, nesta messe

De dores e sofreres de quem cesse

De lutar pelos bens, pois descorçoam.



O aviso de Jesus, nos Evangelhos,

Ecoa nos ouvidos dos melhores,

Mas faz os maus descrerem dos recursos.



Nós temos compromissos com os velhos

E, embora os prejulguemos bem piores,

Deixemos já de ser amigos-ursos...







VI



A TRANSCENDÊNCIA ESPIRITUAL



A quota que trouxemos para o dia

Prevê mais um soneto de arremate,

Pois tudo o que fazemos, neste embate,

Precisa terminar sem arrelia.



Assim, se nos disserem: — Xeque-mate! —,

Querendo desprezar nossa poesia,

Temos de receber com alegria

A nota que parece disparate.



É que o amor ao Pai logo sublima

Qualquer tentâmen de tornar perverso

O sentido incrustado em nossa rima.



Que fazer, se julgarem este verso

Indigno de colher alguma estima?!...

Divinos são os dons deste Universo!















44.O DIA









I



A FRUSTRAÇÃO



Havemos de deixar bem demarcado

O dia em que o Brasil perdeu a taça,

Pois todos só pensaram em desgraça,

Dispondo o adversário ali de lado.



Que importa ao perdedor a sua raça,

Se a história só registra o resultado,

Mostrando que houve um dia malfadado

Em que amarga lhe soube a tal cachaça?!...



Tivessem os amigos tanta garra,

Ao conceber os rumos dessa vida,

Buscando o seu caminho à perfeição,



Por certo, enfrentariam sua barra,

Trazendo, na camisa mais querida,

A cruz a coroar um coração.







II



A REFLEXÃO



Queremos nossos versos bem perversos,

No intuito de fazê-los meditar,

Que é lento ou apressado este avançar,

Conforme as atitudes dos conversos.



É bom o nosso tempo aproveitar,

Buscando concentrar os bens dispersos,

Que todos os fatores vão imersos

Em tristes dissabores, sem amar.



Os lucros que tivermos nesta lida

Havemos de gozar lá no futuro,

Que é triste dar a luta por perdida.



Porém, nada façamos prematuro,

Que o forte progredir, durante a vida,

Nem sempre se consegue em jogo duro.







III



A LEI DO DETERMINISMO



Bem sei eu do interesse deste amigo

Em pôr de lado o verso e ir embora,

Pois há um belo jogo, nesta hora,

Que faz com que se enrosque cá comigo.



Não pense que o desejo fique fora

Das lindes doutrinais do nosso abrigo:

Você pode sair, não há perigo

Em termos de aceitar essa demora.



O tempo que passamos junto à mesa

Me faz pensar nos dias já vividos,

Em época de triste singeleza.



Julgava que os malfeitos fossem tidos

Como simples fator da natureza.

Hoje sei quanto estão comprometidos!







IV



O REGRESSO



Não quer deixar-me o amigo ao desamparo,

Descrente que lhe possa perdoar

O fato de ter ido a outro lugar;

Mas isso só demonstra um mau preparo.



O que fazemos pode ir devagar,

Que o versejar agora não é raro;

Antes, convém até um bom reparo

Nas ondas que se agitam neste mar.



Estando o amigo preso lá na sala,

Eu pude imaginar outra poesia,

Não tendo apenas onde registrá-la.



Voltando ao posto, o médium desafia

A turma p ra compor, enquanto cala

O medo de perder nossa euforia.







V



O APOIO DO ETÉREO



Há horas em que vemos o atropelo

Dos que desejam só nos ajudar:

Mantêm suspenso até seu respirar,

Só não querendo ver-se nus, em pêlo.



Os caros médiuns devem divagar

Sobre o tema, mas nunca p ra temê-lo:

Haja pavor da dor de cotovelo,

Há que se dar valor e confiar.



Assim se faz este labor mediúnico,

Que as entidades sabem mais da vida:

O ser vivente não se pense único.



As relações hão de tornar querida

A trabalheira deste ardil não púnico,

Que o amor a Jesus mais consolida.







VI



A RECEPTIVIDADE



Tivéssemos o dom da profecia,

Iríamos prever que, nesta hora,

O nosso médium não iria embora

E até por nós a prece rezaria.



Hão de dizer que a prova não vigora,

Que neste campo o tema não varia,

Pois tudo o que se faz, nesta poesia,

É mero desafio que não demora.



O arranjo das palavras dá trabalho,

Mas tudo já não passa de tramóias,

Que está o médio aí p ra quebrar galho.



Havemos de convir que existem jóias

Que se lapidam, sem deixar retalho;

Aos náufragos, porém, importam bóias...















45.O DIA









I



A PERTURBAÇÃO



Muito quieto perante o benfeitor,

Meu amigo não quis desabafar:

Batia o coração, em rude arfar,

Dando-lhe a triste idéia do pavor.



Queria o camarada evaporar,

Pensando nessa câmara de horror

Que fica o tempo todo ao seu dispor,

Se a consciência não pára de acusar.



Porém, o caro mestre o reanima,

Dizendo conhecer seus entreveros,

Que o fazem dedicar-lhe suave estima



— Por que, pergunta ele, os desesperos?

— Porque, responde o mestre, neste clima,

Os atos maus provocam exageros.







II



O DESPERTAR



— Pensando bem, responde o meu amigo,

Preciso conformar-me com a sorte!

— Por certo, diz o mestre, a sua morte

Vai pôr-lhe bem na frente um fato antigo.



Ansioso, o companheiro quer que aborte

O tema da maldade e seu perigo,

Mas sente que da dor recebe abrigo,

Que o mestre, por amor, lhe dá o norte.



Assim, o meu parceiro sofre o impulso

Do carma que o levou a reencarnar,

Sentindo um mal-estar que o põe convulso.



Contudo, o coração, bem devagar,

Permite-lhe que a mente tome o pulso,

Ao ver que pôde o mal sobrepujar.







III



A VIBRAÇÃO DOS BONS



Não temos ilusões quanto ao valor

Dos temas que trazemos para os versos,

Todavia alguns são tão controversos,

Que damos ao sentido outro teor.



Queríamos os temas não perversos,

Falando só de paz, com muito amor,

Fazendo com que houvesse mais ardor

Nas mentes dos que vão muito dispersos.



Contudo, a nossa rima favorece

Alguns bem intrincados qüiproquós.

Por isso é que pedimos muita prece,



P ra nosso povo desfazer os nós,

Tirando bom proveito da quermesse,

Fazendo mais suave a nossa voz.







IV



O DESINTERESSE



A luta p ra fazer o melhor verso

Coloca o nosso médium bem ativo,

Porém, para torná-lo mais cativo,

Havemos de no amor trazê-lo imerso.



Que grupo pode ser mais criativo

Que aquele que jamais se vê disperso,

Até quando argumenta tão perverso,

Inócuo para o Cristianismo vivo?!



Boceja o nosso amigo sem clemência,

Ao ler a nossa peça desabrida,

Louvando tão somente a persistência.



Queria que outra fosse a nossa lida

E não esta de abrir-lhe a consciência

P ros fatos valiosos desta vida.







V



A OBRIGAÇÃO



Aspérrima há de ser a nossa briga,

Pois temos de vencer os malefícios

Que soem provocar todos os vícios

Trazidos por amigos duma figa!



Contudo, ao percebê-los estrupícios,

Vamos dar-lhes feição arquiinimiga,

Para ver se se encontra quem consiga

Demonstrar-nos do mal os seus indícios.



Assim, nós poderemos resistir,

Sempre que nos tentarem os prazeres

Que venham atrasar-nos no porvir.



Mesmo que nós julguemos outros seres

Apenas contingências do existir,

Teremos de cumprir nossos deveres.







VI



SOB O GUANTE DO IDEAL



Não quero dissuadir o nobre amigo

De que deve pensar com liberdade,

Porém, há de saber que uma verdade

Existe, desde tempo bem antigo:



A Morte colhe as almas sem piedade,

Sorrindo de quem fica em seu abrigo,

Desprezando quem ri desse perigo,

Negando a quem lhe pede caridade.



Só lhe resta o consolo de saber

Que tal fato será inexorável,

Para o que vim cumprir o meu dever,



Mesmo que julgue ser pouco provável

Que haja compreensão do bem-querer

Da parte de quem seja insociável.















46.O DIA









I



O DESENCARNAR



O tanto que sofrermos nesta vida

Terá desconto certo, lá no etéreo,

Porém, não abusemos do mistério,

Pois há surpresa, se no mal se incida.



A hora de se ir ao cemitério

Deverá ser solene e apetecida,

Que a glória mais tremenda desta lida

É ser reintroduzido em clima sério.



Aí, o nosso guia e os benfeitores

Vão receber com pompa e circunstância

Quem soube compreender as tristes dores:



Será mais natural nossa elegância,

No brilho mais vivaz da aura em cores,

Inebriado em tépida fragrância.







II



O TRANQÜILIZAR



Gostamos de mostrar felicidade

Que pode ser gozada deste lado:

Queremos ver bastante preocupado

Quem tenha desprezado a caridade.



Se amargo for apenas o recado,

Vai dar certa impressão de impropriedade

Em quem consiga ver a qualidade

Que surte de um amor sempre cuidado.



Queremos vir, por isso, agradecer

A todos que nos lêem com atenção,

Embora só cumpramos um dever.



Contudo, o que provém do coração

Demonstra mais carinho e bem-querer

De quem co amor exerce esta missão.







III



O CONFIAR



Sabendo que, com tempo, o mau melhora,

Se dermos ao infeliz nosso carinho,

Façamos por mostrar que este caminho

Nos leva aos pés do altar, em boa hora.



Ali, vamos mostrar a Deus o espinho

Que temos encravado e, sem pletora

De lamúrias, noss alma ri e chora,

Como embalada no vapor do vinho.



Mas tais momentos de perturbação

São esquecidos bem rapidamente,

Que à consciência se dá a compreensão



Dos fatos que viveu toda esta gente,

Que a ninguém será dado dizer não:

É o amor com Jesus ali presente.







IV



O RETRIBUIR



Em calma melodia, a nossa mente

Irá ser, dia e noite, acalentada,

Se dissermos: — Pecado, tu és nada,

Desequilíbrio e dor, trevas somente!



A vida, quando for bem regulada,

Bem melhor condição dará à gente

De ir, com segurança, para frente,

Vencendo a tentação mais depravada.



Pareço um padre em púlpito e sermão,

Falando do pecado, sem estima,

Dedo em riste no naso desse irmão,



Porém, vão perdoar a frágil rima,

Sabendo que só estendo a minha mão,

Rogando que me puxem para cima.







V



O ALEGRAR-SE



Queríamos deixar a doce marca

Dos versos tão perversos da Escolinha,

Pois tudo o que fazemos só se alinha

Co as rimas que tiramos dessa arca.



O médium mais se anima e se acarinha

Co a idéia de que a messe não é parca,

Pois vê que este soneto mais abarca

A luz, o amor, o bem que o etéreo tinha.



Com efeito, o entusiasmo deste dia

Devolve ao bom cantar mais força e vida,

Na meiga suavidade da harmonia,



Fazendo a rude luta apetecida,

Alvíssaras dos dons de uma poesia

Que traz a nossa gente agradecida.







VI



O TRABALHAR



Um dia, a minha verve há de estancar,

Pois tudo eu já rimei com muito agrado.

Preciso bendizer da vida o fado

Que trouxe a minha nau em doce mar.



São tantos os labores deste lado

Que devo de aprender mui devagar,

Que o fato de cá vir p ra versejar

Se torna um tempo até mal empregado.



Porém, se o amigo sente um forte apelo,

Querendo melhorar o desempenho,

Peço perdão, mas tenho de dizê-lo



Que, enquanto for bem leve esse seu lenho,

Há que se suspeitar de desmazelo,

Pois é também p ra isso que aqui venho.















47.O DIA









I



SILÊNCIO E PRECE



Queria bendizer o Criador,

Por ter-me dado o dom desta poesia,

Porém, com que palavras o faria,

Se o Pai tem esgotado todo o amor?!



Qual arte terá tanto de harmonia

Que possa dar sentido superior

A este ser, que treme de pavor

Perante alguém que tenha a mente fria?



Mas Deus saberá ler, nestes meus lábios,

As frases que se exprimem cá no peito,

Como escritas em velhos alfarrábios,



Pois todo homem que se deu respeito

Só pôde ter os pensamentos sábios,

Guardando de externá-los tão sem jeito.







II



O PIOR CEGO



Tirante um que outro ser esperto,

Os demais vão na mesma cantilena,

Conduzindo a vidinha, em cisma plena,

Sem querer ver as causas mais de perto.



Todo ser que perdoa só encena

O repúdio do Mestre no deserto:

Não sabe do que faz se está bem certo,

Também não quer saber se o mal engrena.



Assim, a vida passa sem progresso,

Trazendo para o etéreo mais tormento,

Na hora em que examinam o insucesso.



Queriam seu viver muito mais lento:

Não suspeitaram de existir congresso

A dar solenidade a tal momento.







III



AS FUTILIDADES



Os rumos que ditamos para a vida

Valem também p ros dias cá no etéreo.

Assim é que decifra o seu mistério

Quem tem bem mais vontade na subida.



Contudo, quem insista em ser aéreo,

Girando lá nas nuvens, sem guarida,

Ao resolver voltar p ra sua lida,

Vai ter de trabalhar muito mais sério.



O que parece lento para alguns

P ra outros é depressa até demais,

Que existem lambaris, mandis, atuns.



Não digam que não vão querer jamais

Deixar de lado o que contenta a uns,

Pois podem alegrar-se e... nada mais!







IV



A SERIEDADE



As palmas que sentimos nesta estréia

Ajudam a entender a humana lida,

Pois tudo o que se faz, durante a vida,

É fruto apenas duma só idéia.



Queremos ser felizes na partida,

Sabendo que p ro mal não há geléia

Que sirva como boa panacéia,

Para curar qualquer alma ferida.



Ainda assim, teimamos em fazer

Apenas alguns versos sem sentido,

Deixando de cumprir o bom dever.



Se o nosso estudo fosse mais renhido,

Outro seria agora o pobre ser,

Outro seria o carma a ser cumprido.







V



AS INTENÇÕES



Por termos escolhido estes trabalhos,

Não quer dizer que somos superiores:

Também sofremos nós todas as dores,

Pois, no etéreo, não há os quebra-galhos.



Se cá existem muitos benfeitores,

Querendo oferecer bons agasalhos,

Também se encontram pobres espantalhos

Que almejam que percamos os leitores.



A luta que travamos nessa hora

Não tem grandeza d alma nem valor,

Que o resultado disso é mais demora



Em revelar ao mundo o nosso amor,

Que o pobre que atormenta também chora,

Ao perceber o quanto é inferior.







VI



A MISSÃO



Os dons do pensamento valem ouro,

Que a vida vai ficando mais ativa,

Quando noss alma está menos esquiva,

Tudo fazendo p ra evitar desdouro.



Querendo ser ainda criativa,

Mostrando ao povo todo dar no couro,

Há de a pessoa ter, no seu tesouro,

O sentimento, como chama viva.



Não há, pois, de querer estar por cima,

Pois todos têm de ter lugar ao sol,

Principalmente em terras de bom clima.



Não há que comparar com futebol,

Onde o perdedor, triste, desanima:

Façamos o papel mais de farol.















48.O DIA









I



A BOA LUTA



Carente dos abraços dos amigos,

Parti para encontrá-los nessa vida;

Pensava que os teria em doce lida,

Mas rondavam-lhes lúgubres perigos.



Assustei-me, deveras, que a ferida

Expunha os pobrezinhos aos imigos,

Nas desforras dos ódios mais antigos,

Tornando-lhes a obra esmaecida.



Lutei contra os maus seres fortemente,

Provando-lhes que amor bem mais podia

Que a pertinaz coragem dessa gente.



Contudo, dei-lhes trégua à agonia,

Para mostrar-lhes ser mais eficiente

Perdoar a maldade em alegria.







II



OS AFAGOS



Sabia que os primeiros benefícios

Seriam para os últimos da fila,

Que o Mestre fez-me ver que o bem se asila

No coração dos bons, sem estrupícios.



A alma que compreende e desopila

Os males que lhe trazem rudes vícios,

Ainda que pejada de resquícios,

Luta por paz até usufruí-la.



Por isso é que é importante tal debate,

P ra que a consciência acerte o seu caminho,

Pois tudo o que for mau o bem rebate.



Se não existe rosa sem espinho

(Pensar de modo torpe é disparate),

Também não há amor sem bom carinho.







III



AS ACUSAÇÕES



Quisera progredir ao infinito,

Mas tenho de pensar na outra gente,

Pois o que mais atrasa é o que se sente

Com ódio pertinaz, ruim, maldito.



Quisera ser bem menos indigente,

Menos voraz para não ser aflito,

Que em tudo vejo apenas forte atrito,

E guerra, e dor, e luto, eternamente.



Paz é o que peço a Deus nas orações,

Mas tenho de convir que o mal existe

Nas dobras mais sutis dos corações.



Aí, costumo pôr meu dedo em riste,

Dizendo responsáveis das traições

Os homens mais perversos... mas bem triste...







IV



AS VINDITAS



Aninha-me nos braços uma pomba

E dou tratos à bola p ra entender

Por que é que existe guerra p ra valer

E não em tudo só festa de arromba.



Se o povo todo cumpre o seu dever,

Existirá por que se faça a bomba?

Sempre que alguém tropeça forte e tomba,

Não faz isto lembrar do bem-querer?



Ah! Mas vão afirmar que, sem revide,

Os que ofenderam ficam sem castigo!

É certo, então, que o mal o mal convide?!



Que nos disse Jesus sobre o inimigo:

Que deve pendurar-se num cabide,

Ou tentar transformá-lo em bom amigo?







V



A ALAVANCA



Os fortes sentimentos, que se alojam

Na alma dos melhores indivíduos,

Preservam os valores como assíduos,

Nas sociedades que seus bens arrojam.



Porém, se houver de males uns resíduos

Difíceis, pois os homens se despojam

Das leis e dos deveres que os enojam,

Havemos de rezar por muitos tríduos.



As lutas que travarmos contra o ódio

Irão ser compensadas lá no etéreo,

Pois todos hão de ter lugar no pódio.



Já nos disse um poeta muito sério

Que o pranto é água só e mais o sódio,

Cloreto que dá gosto ao tal mistério.







VI



CONJURA DE AMOR



No derradeiro giro deste dia,

O meu soneto tem de dar amor,

Pois foi soturna e triste e rude a cor

Com que pintei a turva melodia.



Quisesse esta minh alma mais compor,

Em labaredas fortes crestaria

Os mais perversos versos da poesia,

Restando simples prosa, sem valor.



Quero, portanto, dar a esta rima

A força que sobrou dos sonhos meus,

P ra demonstrar ao povo doce estima.



Recebam, pois, este acenar de adeus,

Com lindos sentimentos, muito acima,

P ra pormos nossa prece aos pés de Deus.















49.O DIA









I



SACRIFÍCIOS MEDIÚNICOS



Se for de seu querer nos ajudar,

Na busca de um contato mui sadio,

Há que enfrentar, na vida, desafio,

Que o bem jamais se faz tão devagar.



Há que seguir a força deste rio,

Nas ânsias de quem parte para o mar,

Que é belo dar mais graça ao versejar,

Porém há sacrifícios nesse brio.



O tempo p ro lazer vai reduzir,

As dores desse povo vão crescer,

As lides são promessas do porvir.



Assim se cumprirá o tal dever

De quem deseja muito evoluir,

Sabendo que o querer não é poder.







II



INCONDICIONALMENTE



O socorrismo tem os seus senões

Na disciplina rígida que pede:

Se o coração reage e jamais cede,

Há de ficar atrás, nas ilusões.



Se cada esforçozinho a alma mede,

Tendo por fortes realizações,

Se interpõem nossos anjos guardiões,

Antes que o pobrezito mais se enrede.



Tudo, no etéreo, tem um bom motivo,

Que os fatos não ocorrem por acaso,

Havendo sempre nítido objetivo.



Porém, se esse não for o justo caso,

No hábito de quem se pensa vivo,

Que comece a nadar ali, no raso...







III



PRIMEIRO AS LEIS



As forças que, no etéreo, se reúnem

Aos poucos vão formando um grupo imenso:

Se todos se estribarem em bom senso,

Vão vendo que as tarefas nunca punem.



Jamais alguém dirá: — Eu mesmo penso... —,

Pois todos do egoísmo se premunem,

Buscando conhecer os bens que unem,

Sabendo que o pior é um clima tenso.



Tal perfeição social na Terra existe,

Nas relações dos pais com os bons filhos,

Quando ninguém jamais pôs dedo em riste.



Na cantilena destes estribilhos,

Não há que ser banana, mau ou triste,

Mas há que conservar-se ali, nos trilhos.







IV



A PREVENÇÃO



Hão-nos de perguntar quanto aos dormentes

Por onde vão passar os peralvilhos:

Se se acenderem de ódio alguns rastilhos,

Não hão de desviar muitos carentes?



Pensamos que, no amor, haja mais brilhos,

A ponto de envolver todos os entes,

Que os ganhos são reais e permanentes,

Se no evangelho de Jesus os trilhos.



Vão demonstrar que o povo se dispersa

Questões que se colocam desde agora,

Que o menos que se quer é tal conversa.



Para que a gente esperta aja mais cedo,

Nós damos os informes nesta hora,

Que retornem p ra cá, em paz, sem medo.







V



A VONTADE DE ACERTAR



As dúvidas são temas mui constantes,

Que o bem se faz com fé e com paciência:

Se alguém quiser ouvir a consciência,

Vai ter de ouvir também os semelhantes.



Quiséramos poder dar da ciência

Apenas os seus pontos mais flagrantes,

Mas tudo que hoje é simples já foi antes

Difícil para a lei da conseqüência.



Assim, a vida é toda barafunda

P ra quem se guia apenas por desejos,

Que o torpe faz a alma mais imunda.



Porém, se a luz se mostra por lampejos,

Conforme esta poesia que hoje abunda,

Não há que dos tais erros sentir pejos.







VI



DIANTE DAS DIFICULDADES



Saibamos conferir os nossos lemas

Em todas as ações durante a vida,

Fazendo com que seja compreendida

A alma que nos traz graves problemas.



É duro versejar quando se lida

Com os sérios conceitos destes temas,

Mas, se formos vencendo os tais dilemas,

Por que não prosseguir de mente erguida?



São estes os preceitos que estimamos

Que sejam dentre todos os maiores,

Que existem frutos doces em tais ramos.



Contudo, hão de escorrer muitos suores,

Nas lutas pelas selvas em que estamos:

Preciso é que volvamos bem melhores.















50.O DIA









I



NAS PEGADAS DE JESUS



Quando você pensar em mim, depois de morto,

Não vá querer arreliar a minha imagem,

Porque, se tenho p ra você bela mensagem,

Não há que duvidar: Jesus está no Horto.



Assim, será preciso até muita coragem

Para enfrentar a dor desse destino torto,

Que o barco sai ao mar, na busca doutro porto,

Sem que se saibam bem as rotas da viagem.



Vamos fazer Jesus beber até às fezes

O cálice da dor de ver o mundo falso,

Ou vamos dar-lhe amor em troca dos reveses?



Se algum dentre os irmãos pisar no cadafalso,

É hora de salvar quem segue aquelas teses,

P ra que o sofrer se acalme antes do seu percalço.







II



SOB A LUPA DO CRÍTICO



Queríamos dizer ao caro amigo

Que estamos satisfeito mesmo assim,

Quando fracassa a rima tão chinfrim,

Na pressa deste verso ao modo antigo.



As tardes de poesia terão fim,

Pois mais do que fizemos é perigo

Que a todos ameaça, até no abrigo

Que temos resguardado do ruim.



Analise o soneto sob a vista

Para aí descobrir genialidade

Que diga que sejamos bom artista.



Não queira demonstrar só caridade,

Dizendo generoso: — Vá! Insista! —.

Precisa utilizar de honestidade.







III



EVANGELIZANDO OS VERSOS



É claro que por ora vou levando

As peças que componho para os mestres,

Pois os do etéreo sabem que os terrestres

Aceitam o desfrute do nefando.



Preciso concorrer com os pedestres

Que andam devagar, sem bom comando,

Propondo-lhes que vão aos passos dando

O compasso veloz dos pés eqüestres.



A sanha da poesia fica histérica,

A rima pressupõe finais felizes,

A crise vai ficando mais homérica.



Se, no evangelho, o verso põe raízes,

O resplendor do tema, em luz feérica,

Vai dar do amor as leis e as diretrizes.







IV



VOCÊ TEM MEDO?



É triste interromper antes do fim,

Que o pessoal daqui tem trabalhado,

Deixando até o mestre preocupado,

Ao transformar, às vezes, não em sim.



Então, cooperador, ponha de lado

O medo que está tendo contra mim,

E deixe o verso solto, bem assim,

Para que o povo seja auxiliado.



Os temas podem parecer funestos,

As rimas, complicadas e difíceis,

Os versos, mais perversos e doestos,



Contudo, estes obuses e estes mísseis

Não vão tornar-se rudes nem molestos,

Que os homens de caráter não são físseis.







V



O SIGNIFICADO



Constrange-se este médium com a rima,

Perturba-se, coitado, com o tema:

Em tudo acaba vendo só problema,

Que a graça deste verso não anima.



Confia, todavia, que este sema

Em doses de virtude bem se arrima,

Embora não perceba, como acima,

Como se resolver o teorema.



Pediu-nos que apressássemos o verso:

Fraqueza por fraqueza serve o tom

Do negro humor que brilha no universo.



Urge que a humanidade ouça o som

Da voz que exorta o povo mais perverso,

Mesmo que sem do gênio o rico dom.







VI



A EXORTAÇÃO



As crises que sentimos nos humanos

Perturbam os carentes destas plagas,

Porque nem todos têm as contas pagas,

Que muitos foram causa de tais danos.



Tememos perdoar as duras sagas,

Pois tudo para nós são só enganos:

Os gestos podem ser até insanos,

Mas as palavras ferem quais adagas.



Honremos a Doutrina como sábios;

Amemos as virtudes como santos;

Calemos a maldade em nossos lábios;



Choremos, sem rancor, os tristes prantos;

Saibamos respeitar os alfarrábios,

P ra que, no etéreo, os dons tragam encantos.















51.O DIA









I



A ALEGRIA DO TRABALHO



As férias de que temos precisão

São só alguns momentos de lazer,

Porquanto o bom trabalho dá prazer,

Tornando mais feliz o coração.



Na Terra, o compromisso do dever

Gera, no povo, muita comoção,

Que é fácil p ra quem manda dizer não,

Isento de qualquer corresponder.



Para mudarmos tal procedimento,

Havemos de ferir nossos conceitos,

Seguindo de Jesus o ensinamento.



Se existem, cá no etéreo, outros preceitos,

A reger o melhor comportamento,

Por que não confirmá-los como eleitos?







II



A VERDADE ENCOBERTA



As lutas que travarmos contra os vícios

Irão provar que temos bons desejos,

Embora sejam luzes em lampejos,

Serão das tais virtudes uns indícios.



Quiséramos tocar só realejos,

Mas isto nos indica os maus resquícios

De que não somos mais do que estrupícios,

Dos deveres fugindo, nos ensejos.



Por isso é que as virtudes não se vêem,

Translúcidas, corretas, por inteiro,

E poucos são aqueles que em nós crêem.



Preciso era estudar a lei, ligeiro,

Que as turbas dos hipócritas não lêem,

Mas tentam subornar nosso porteiro.







III



A PONTA DO VÉU



As travas das chuteiras nos são úteis,

No entanto, nos chinelos, não se ajustam;

Assim, certos prazeres muito custam,

Sendo, no etéreo, apenas coisas fúteis.



Em tempo, muitos homens o mal sustam,

Conhecendo as virtudes inconsúteis,

Que as vértebras dos justos não são dúteis,

Que os crimes, aos perfeitos, não assustam.



Levar a vida simples, numa boa,

Descrendo que, no Umbral, existam trevas,

É dar um osso ao cão para que roa.



Assim, passam por nós levas e levas

De seres cujo coração ressoa,

Nos grandes estentores dos malevas.







IV



O PIOR DOS VÍCIOS



Correndo pela grama do jardim,

Contente pela vida que desfruta,

O jovem não suspeita de que a luta

Ocorre de uma forma bem ruim.



Alguém pode até crer ser mais batuta,

Dizendo, em desafio: — Pois venha a mim! —,

Julgando que não pode ser chinfrim

A força dessa mente muito astuta.



Quem vive na certeza de Jesus

Controla o coração em equilíbrio,

Sabendo que o egoísmo mais seduz



Quem queira dominar a multidão,

Armando por maldade algum ludíbrio,

No qual acaba preso, sem perdão.







V



A VOZ DO SOFREDOR



Puxar orelhas traz satisfação

A quem curtiu as dores dessa luta,

No entanto, é bem difícil que se incuta

As normas das tais leis com safanão.



Aquele que sofreu com força bruta,

Ao falar aos parceiros, sem perdão,

Vai mostrando os sofreres como são,

Sabendo ser bem raro quem escuta.



Mas insiste em trazer sua experiência,

Pois só um que salvar há de ser bom

P ra demonstrar a força da paciência.



Se tiver da palavra o nobre dom,

Estudando a Doutrina qual Ciência,

Vai da voz de Jesus trazer o som.







VI



A CONSEQÜÊNCIA DO EGOÍSMO



Ao pensar nos desvios da má conduta

(Que os homens no poder nos dilaceram),

Resta-nos perguntar o que é que esperam

Receber do Senhor, por sua luta.



Será que não percebem que só deram

Aos semelhantes dor, que a alma enluta,

A troco de promessa tão fajuta

Que nem a fé nem a esperança geram?



Depois vão reclamar dos sofrimentos,

Pensando ser injusto o Criador,

Levando na cabeça os pensamentos



Que apontam todo o mal como pendor,

Gemendo relutantes nos tormentos,

Dizendo que Jesus lhes foi traidor.















52.O DIA









I



O GANANCIOSO



Querendo desdizer o que foi dito,

O pobre mais se enrola na miséria,

Que a vida tem de ser coisa bem séria,

Porque causa, no etéreo, mau conflito.



Às vezes, a pessoa conta a féria,

Julgando o seu dinheiro mui bendito,

Embora todo o povo, triste, aflito,

Só tenha ouvido o som de muita léria.



Assim se monta a história desse homem

Que quis tornar-se todo poderoso,

Em cuja mão os pássaros não comem,



Pois fremem de temor do simples gozo

De estarem a bicar verbas que somem,

Que o roubo de comida é perigoso.







II



OS MAUS GOVERNANTES



Queremos deixar clara esta mensagem

P ra gente não pensar que somos maus,

Pois só quem nada bem foge das vaus

E enfrenta as turbulências com coragem.



Os homens que comandam nossas naus,

Às vezes, pensam em tirar vantagem,

A buscar outros portos na viagem,

Dilacerando os cascos nos calhaus.



Chegam ao seu destino como todos,

Mas trazem duras marcas da jornada,

Que tentam disfarçar em meio aos lodos.



Mas logo toda nau será lavada,

P ra receberem elogios e apodos,

Festas p ra muitos, mas p’raqueles... nada!







III



O ALCOÓLATRA



Se nós tivéssemos o dom dos versos

E forte tema de gentil virtude,

Poderíamos vir mais amiúde,

Sem medo que nos vejam tão perversos.



Porém, a morte na decrepitude

Nos faz rimar compassos controversos,

Deixando-nos perdidos ou dispersos,

Nas ânsias esgotadas da saúde.



Mas que fizemos nós que o mal lampeja,

Em raios de fulgores que nos cegam?

Seria o tal abuso da cerveja,



Que as cores destas auras mais carregam,

Ou foi a cachacinha malfazeja,

Que os homens nas bebidas escorregam?!...







IV



A COMPREENSÃO DO SACRIFÍCIO



Pretendo só fazer mais um soneto,

A menos que este médium mais me peça.

Assim, vai ser preciso que não meça

O sacrifício de um rimar sem jeito.



Por isso, o nosso amigo diz: — Mais essa!...

E pára de pedir, mas com respeito,

Que o tema do poema não foi feito

P ra merecer o aplauso: — Bom à beça!...



Pensou que o verso fosse uma obra-prima,

Correu de volta triste p ro cantinho,

Pois tudo que escreveu foi como acima.



Do desconsolo torna com carinho,

Para dizer que não lhe falta estima

Por esta gente que lhe traz espinho.







V



A RESPONSABILIDADE



O nosso médium fica mais um pouco,

Sabendo que teremos outros versos,

A desejar que sejam mais perversos,

P ra demonstrar que o povo é todo louco.



Mas, rápidos, deixamos os reversos,

P ra que não venha a dar de ouvido mouco,

Embora o nosso som esteja rouco,

A pôr nestes poemas tons diversos.



Às vezes, ao cumprirmos o dever,

Mexemos com os brios deste escrevente,

Tirando-lhe do ofício o seu prazer.



Ao atender o grito altiloqüente,

Conhece não estar nalgum lazer,

Que a luta nesta hora é p ra quem sente.







VI



A PROVA DA DOR



O brilho da tarefa causa medo,

Quando chegamos cá neste improviso,

Sem darmos destes temas um aviso,

Que o nosso humor, às vezes, vem azedo.



Hão de pensar: — Que falta de juízo

Apresentar-se imberbe, muito cedo,

Fazendo de um soneto este arremedo,

Quando queremos seja o paraíso!



A vida tem momentos de prazer,

Mas também tem amargos dissabores:

São estes ossos duros de roer.



Caso desejem ser bons instrutores,

Na hora de cumprirem seu dever,

Respeitem o prazer, mas causem dores.







VII



O RECONHECIMENTO



Um dia proveitoso há de ter

Conselhos que nos façam mais felizes:

Quem parte em busca destas diretrizes

Não se pode olvidar do bem-querer.



As festas destes versos são reprises

Dos que foram ditados p ra valer,

Em tardes em que os mestres, sem temer,

Puseram bem à mostra as cicatrizes.



Agradecer ao Pai é obrigação,

Que tudo o que fizemos era nada,

Se não tivesse dado permissão.



Assim, nestes ocasos de jornada,

Vamos fazer bater o coração,

Cheios de amor, na tarde abençoada.















53.O DIA









I



AUTO CRÍTICA



Sacrificar as tardes pelos versos

É testemunho de completo amor,

Mesmo sabendo não haver valor,

Pois quase todos são muito perversos.



Mas comparece o nosso benfeitor

E nos dá temas que quer ver imersos

Em doces rimas, bens incontroversos

Das leis que explicam o porquê da dor.



E o nosso médium se dispõe a tudo,

Que estas mensagens vêm p ro bem do povo

Que quer dar forma ao sério conteúdo.



Ao fim do dia, o texto, quase novo,

Vai dar idéia a nós que, sobretudo,

O mal do galinheiro é não ter ovo.







II



A JUSTIFICAÇÃO



Rejeita o nosso amigo a conclusão,

Dizendo que o poema é um contra-senso.

Pois vou dizer-lhe eu o que é que penso

Desta penúria triste de escansão.



O ar que respiramos é tão denso

Que nos faz mal até para o pulmão.

Por isso é que pergunto ao caro irmão

Se não acha melhor que haja consenso.



O pobre busca teses na Doutrina

Que justifiquem fracos conteúdos,

Pois vê que o tal trabalho é de oficina;



E sente que os deveres são escudos,

Que o bom mestre Kardec nos ensina

A respeitar os que nos dão cascudos.







III



A NORMA DO BEM-QUERER



As teses da Doutrina só nos servem

Para provar que existem bons motivos

De desviar os nossos objetivos,

Antes que os bons leitores mais se enervem.



Prerrogativas são dos seres vivos

Que as diretrizes do viver conservem,

Pois, muitas vezes, as mudanças fervem,

Sem dar aos pobres as razões dos crivos.



Por isso, temos medo em divagar

Sobre os princípios nobres do dever,

Que é bem melhor calar do que falhar.



Contudo, se tivermos bem-querer,

Podemos ir até mui devagar,

Pois tudo o que dissermos vai valer.







IV



O ELOGIO AO MÉDIUM



As ânsias que sentimos no bom médium

Ensejam que falemos do mister,

Que o dom do mediar, se Deus quiser,

Não há de se perder, em meio ao tédio.



Ouviu dizer o amigo que, se der

Vazão ao elogio, durante o assédio,

Sofrerá obsessão que, sem remédio,

Há de levá-lo a um penar qualquer.



Se nós tivermos voz ativa e mando,

Neste contexto lúdico do verso,

Vamos manter o clima formidando.



Se for o tema muito controverso,

Pois só o mal na mente vai formando,

Aí o elogio será perverso.







V



A PRESERVAÇÃO



Viemos para dar explicações,

Pois tudo nós fazemos por amor.

Posto tenhamos mui pouco valor,

É bom que sofreemos ilusões.



Contudo, o nosso amigo sofredor

Não faz para nós outras restrições,

Dizendo que, se houver hesitações,

Não custa consultar novo mentor.



É corajoso o nosso bom amigo,

Ao escrever a frase do elogio,

Sem recorrer à prece como abrigo.



Saiba que o verso esteve por um fio,

Pois ninguém quer que corra um tal perigo

Só para demonstrar que teve brio.







VI



RISCOS SUPERADOS



Rejeita a nossa idéia o caro amigo,

Dizendo muitas preces com carinho,

Sabendo que estas rosas têm espinho

E que nenhum viver vem sem perigo.



Aceita um brinde alegre, com bom vinho;

Tolera o nosso verso, sem castigo,

Pois sabe que já é bastante antigo

O jeito de rimar em desalinho.



Assim, vamos crescendo em amizade,

Pois nossa tarde está bem proveitosa,

Que o verso já prospera em qualidade.



Apenas os espinhos de tal rosa

Trazem perigo em grande quantidade,

Enquanto o nosso irmão o tema glosa.







VII



BALANÇO DO DIA



A nossa tarde trouxe versos fracos,

Nem sempre condizentes co a Doutrina,

Pois temos uma língua bem ferina,

Que torna os temas bons bastante opacos.



Sabendo que Jesus amor ensina,

Vamos catando os restos destes cacos,

Que, em suma, já vão cheios estes sacos

De nossas brincadeiras, sem morfina.



— Caramba! —, há de exclamar o bom leitor,

Diante de tão graves pretensões,

Pois tudo desejamos superior,



Até os mais terríveis safanões,

Que damos e levamos neste amor

Em que embalamos nossos corações!...















54.O DIA









I



A NECESSIDADE DE MUDANÇA



As tralhas que trazemos para o etéreo

Apenas prejudicam um momento,

Que, em breve, vai mudando o pensamento

Se temos quem por nós não seja aéreo.



Também se altera muito o sentimento,

Ao refletirmos com intento sério

De conhecer os prismas do mistério

Que mais nos provocaram vil tormento.



Contudo, para tal efeito existe

Procedimento certo no evangelho,

Embora, muitas vezes, seja triste



O despertar da luta, sendo velho,

Que a teimosia em nós ao bem resiste,

Mesmo que ouçamos o melhor conselho.







II



OS CONTRASTES



A turma que dispara os pobres versos

Não sente a paz dos nobres pensamentos

E ouve, ainda, os dobres dos lamentos,

Que os cobres que deixaram são perversos,



Porquanto a prática dos bens atentos,

Nos tenebrosos parabéns imersos,

São armazéns de males nos reversos,

Que os tais vinténs são causa de tormentos.



A briga é boa, mesmo assim, que a vida

Jamais destoa quanto a ser levada

De forma à-toa no calor da lida.



O que nos faz pensar que o mal é nada

É este balançar a toda a brida,

Em calmo navegar, n água parada.







III



A MEDITAÇÃO



Se nós tivermos calma p ra pensar

Nos rudes desafios da nossa vida,

Vamos até saber se foi cumprida

A quota do prazer e do penar.



Podemos inda ver esclarecida

A luta que tivemos de aturar,

Embora passe muito devagar

O tempo que empregarmos nessa lida.



O bem há que nos dar forte prazer;

Penar é conseqüência só do mal;

A luta tem por fim a dor vencer;



O tempo que gastarmos é normal,

Na paz do cumprimento do dever,

Pois tudo para Deus é natural.







IV



OS DEVERES



— Juízo! — é o que nos prega o bom mentor,

Se a rima que trazemos desafina.

Assim, o nosso verso mais se inclina

A ter uma expressão bem superior.



Ao doente febril, penicilina;

A quem treme de frio, bom cobertor;

Se alguém está furioso, é com amor

Que vamos remover de triste sina.



Ouvir os lindos temas de Jesus

Nos faz pensar em Deus, a toda a hora,

Que é firme o seu desejo pela luz.



Assim é que esta paz se revigora

E o povo ao Bem Maior todo conduz,

Pintando os corações em tons de aurora.







V



A TENDÊNCIA UNIVERSAL



As dúvidas serão esclarecidas,

Se estudarmos as obras da Doutrina:

Que outra há de ser a nossa sina,

Senão evoluir nas várias vidas?!



Saber o que Jesus há muito ensina

É próprio das pessoas mais sabidas,

Pois vêem, nestas lutas mui renhidas,

O fim a que o evangelho se destina.



Assim, vamos formando a nossa mente

Nos dons das tais virtudes rigorosas,

Que nos levam as almas, rudemente,



A aceitarem vidas dolorosas,

Na condição de luta contingente,

Porque há sempre espinhos onde há rosas.







VI



O AMOR CORRESPONDIDO



Quisemos dar um pouco de esperança

A quem nos lê com tantas atenções,

Fazendo bater forte os corações,

Sabendo que co amor o Bem se alcança.



São vívidas, suaves vibrações

Que se espargem, durante a nossa andança,

Pois, por mais que soframos, não se cansa

Noss alma de sorrir, nestas canções.



A Deus vamos pedir, com veemência,

Que faça deste mundo um paraíso,

Posto precise ter muita clemência



P ra perdoar a falta de juízo

A quem tentou agir pela ciência,

Fazendo com que cumpram nosso aviso.















55.O DIA









I



LOUVOR À EXISTÊNCIA



Bendita seja a luz do nosso dia!

Bendito seja o pão da nossa mesa!

Benditos os dizeres da poesia

Envolta em débil halo de beleza!



Queremos nossa fé bastante acesa,

Queremos esperança em harmonia,

Soltemos a noss alma, aflita, tesa,

P ra que possamos ter mais alegria.



Jesus seja o farol a nos guiar;

Kardec, o doce ensino para a vida;

Saudemos nossos guias, ao rezar;



Amemos os irmãos durante a lida.

Oh! Deus, fazei que o nosso despertar

Nos mostre que a missão já foi cumprida!







II



O CAMINHO



Serenas emoções mostram que somos

Felizes nos combates contra os vícios.

Assim, versos em paz são bons indícios

De que de nossos ramos pendem pomos.



Amemos os estranhos e os patrícios;

Saibamos repartir os nossos gomos;

Fujamos dos prazeres dos reis momos,

Das tentações dos tolos estrupícios.



Ajamos com humilde proficiência,

Em bem lúcido apego à caridade,

Sem desprezar jamais a consciência.



Tudo façamos com total bondade,

Pois não há melhor prêmio que a ciência

De ser esse o caminho da verdade.







III



PRECE SINGELA



Senhor, fazei que o nosso coração

Bata feliz no ritmo da vida!

Facultai que esta dor seja entendida,

P ra que haja mais luz nesta oração!



Serenai nossas mentes nesta lida,

P ra podermos cumprir bem a missão,

Pois nossos méritos apenas dão

Para uma simples página falida.



Aceitai esta prece com carinho,

Abençoai a toda a humanidade,

E perdoai também o desalinho



Dos versos que fazemos sem piedade,

E recebei a rosa e mais o espinho,

Pois somos muito pobres, na verdade.















56.O DIA









I



A JUSTIÇA EXISTENCIAL



Eu vejo bem o homem no avião,

A desfazer-se em risos superiores.

Seria dono até de meus amores,

Não fosse o que lhe vai no coração.



O dom de dar ao mundo belas cores

É só uma questão de opinião:

Ao seguir as tendências da emoção,

Podemos dar-lhe os tons de nossas dores.



Contudo, cá no etéreo, em outras lidas,

Se põem quando chegam os terrenos,

Conforme os dons que deram para as vidas:



Alguns conseguem tratos muito amenos;

Outros vêm revolver suas feridas;

Ninguém recebe a mais nem bem a menos...







II



O PRISIONEIRO



Agora, curte a cela em desespero,

Querendo desforrar-se do inimigo,

Porém, também deseja um bom abrigo,

Pois tudo o que sofrer é exagero...



A luta deste dia é mal antigo,

Pois nada que se faz, no mundo inteiro,

Resulta de um processo pioneiro

Que traga ao desafio real perigo.



As causas destas dores são os males;

Felizes são os que se dão ao bem;

No etéreo, não da Terra pelos vales.



Aí o sofredor é mau também,

Mas tenta disfarçar com grossos xales,

Cobrindo o coração que amor não tem.







III



SEM INDIVIDUALIZAR



O homem cujo nome se suspeita

Intenta contra a vida das pessoas,

Porém, p ra si deseja só coroas,

Que as dores desse povo não respeita.



Tivéssemos de dar, em lindas loas,

Idéia de uma alma mais perfeita,

Não podia deixar de ser eleita

Aquela que só mostra coisas boas.



Por isso, nossos versos são honestos,

Ao revelar virtudes ou maldades,

Posto nossos assuntos sejam restos



Das queixas que trouxemos lá do Hades,

Lamentações bem mais do que doestos,

Que estamos só em busca das verdades.







IV



A UNIÃO NO SENHOR



Permitem nossos mestres que ensejemos

Aos nossos bons amigos pensamentos

Envoltos em suaves sentimentos,

Que é duro fazer força nesses remos.



Assim, se for possível que os tormentos

Não tragam à consciência dos que vemos

Conflitos muito fortes, maus, supremos,

Ao Pai oramos preces, sem lamentos.



Antigos desafetos se reúnem,

Na hora do louvor a Jesus Cristo,

Que os látegos da dor já não mais punem.



Perguntam: — Como poderá ser isto,

Se os males só separam e não unem?

— Precisa muito amar p ra ser benquisto!







V



PARA NÃO SAMBAR



Sabemos do cansaço do escrevente

Que pega estes ditados para nós,

Porém, como se ouvir a nossa voz,

Se o nosso som é muito diferente?



Embora o nosso tema seja atroz,

Contém, em seu teor, boa semente,

Porquanto é bem assim que o mestre sente,

Dizendo que este tom não é feroz.



Contudo, há um bom remédio para a pressa:

É irmos devagar até o fim,

Pregando ao caro irmão alguma peça.



Talvez não seja o verso tão ruim,

Que o som, nesta avenida, só atravessa,

Se todos dizem não, mas ele, sim.







VI



A RESIGNAÇÃO



Louvemos ao Senhor, no fim do dia,

Por ter abençoado o nosso verso,

Por tê-lo feito bem menos perverso,

A dar-nos paz, amor e melodia.



Se, nos temas da dor, está imerso,

Sabemos que o confrade da poesia

Tem força p ra trazer mais alegria

A quem não tenha ainda o mal disperso.



Saber sofrer na agrura deste umbral,

Agradecendo a Deus qualquer frescura,

Sabendo ser na prece natural,



É dar ao coração aura mais pura,

É já um proceder bem mais normal,

É dar um passo à frente a criatura.















57.O DIA









I



A ANUÊNCIA



Se graves ocorrências hão de vir,

Trazendo luto e dor a muita gente,

Mais forte há de ficar alma que sente

Que o bem existe em cada devenir.



Quem ama há de ser mais conseqüente,

Sabendo que houve tempo de convir,

Conforme sabe bem o Wladimir

Que o drama desta vida se consente.



As dúvidas, no entanto, geram males

Que temos de enfrentar de qualquer jeito,

Dizendo ao coração: — Quero que cales



As ânsias que me oprimem este peito!

Mas, se for para o bem, então que fales

Sobre meus pobres vícios, com respeito!







II



COM MODÉSTIA



Tememos ter bem pouco p ra contar

Das lides que enfrentamos todo dia,

Além de vir trazer esta poesia,

Que muitos consideram devagar.



Oramos, como um anjo não faria,

Pois pouco é o que podemos ofertar:

Se o nosso barco segue pelo mar,

É que na terra não navegaria.



Contudo, existe um halo de esplendor

Que envolve os nossos versos de doçura,

Como se desse ao povo alto valor:



É que ninguém detém alma mais pura

Do que o nosso querido e bom leitor

Que ama a Deus, na pobre criatura.







III



SEM MEDO



Antigamente, ríspido sermão

Daria ao povo todo muito medo,

Que toda a infância via, desde cedo,

Como queimava a lenha no fogão.



Assim, bastava aos padres um só dedo,

Para mostrar do inferno o calorão.

Hoje, clamamos, no deserto, em vão,

Pois julgam que isto é simples arremedo.



Embora não queiramos que o temor

Seja o motivo certo da virtude,

Um triste cantochão há de compor,



Nas trevas conscienciais, tal inquietude,

Que todos vão pensar que é com amor

Que damos o soneto, embora rude.







IV



A COGITAÇÃO



Inquietos ao dormir, os sonhos vão

Levar as pobres almas ao Umbral,

Contudo, ao sopesarem todo o mal,

Hão de sorrir, em forma de oração.



Quem se comprometeu ser natural,

Agindo bem, conforme a decisão,

Não há de se oprimir no coração

Mantendo lá no alto o seu moral.



A fé, segundo o ensino de Jesus,

Remove até montanhas para o mar,

E, com Kardec, a mente tem mais luz,



Na hora de poder raciocinar.

Assim, o pesadelo não seduz,

Mas serve p ra razão estimular.







V



OS PERCALÇOS



Espero que o meu tema não confunda

A mente que deseja estimular.

É bom, então, ir bem mais devagar

Com esta tese, ríspida e profunda.



Porém, quem segue lépido a pensar,

Sabendo que, no mote, o bem abunda,

Não teme que, na rima, se contunda,

Pois tudo o que se faz leva ao amar.



Um dia há de chegar que toda a gente

Se ponha aos pés de Deus, no paraíso,

Embora tal sentir, freqüentemente,



Não nos dê fama pelo pobre aviso,

Tornando o povo até indiferente,

Julgando o caro médium sem juízo.







VI



A MAIOR VIRTUDE



Se o tema de um soneto foi a fé,

Se noutro demonstramos esperança,

Agora, outra virtude vai dar pé,

Que o povo cá do etéreo não se cansa.



Pergunta o nosso médium como é

Que pode terminar a dura andança,

Que a rude provação fornece até

A mais negra miséria que se alcança.



Assim, será preciso esclarecer

Que existe um dom divino, na verdade,

Que cabe ao homem mau desenvolver,



P ra melhorar da vida a qualidade,

Cumprindo, desabrido, o seu dever,

Ou seja, praticando a caridade.







VII



SE CORRER...



Ao acenar o lenço da saudade,

Na hora de partirmos cá da Terra,

Sabemos que enfrentamos rude guerra,

Ao declarar um pouco da verdade.



Mas tudo o que fazemos prova encerra

Que temos muito amor à humanidade,

Embora sempre exista alguém que há-de

Desprezar quem, no verso, tanto erra.



Brinquemos, que, na vida, o compromisso

É sério, é triste, é duro p ra cachorro,

Pois tudo o que fazemos é serviço,



É pura prestação de bom socorro,

Já que não há tomar chá de sumiço,

Não há correr p ro mato nem p ro morro.







VIII



A RESPOSTA



Intima-nos o médium que façamos

Um bom soneto, em poucos minutinhos,

E quer ainda que não haja espinhos,

Mas frutos sazonados, nos seus ramos.



Embora haja nos versos só carinhos,

Não quer o nosso amigo que fujamos,

Utilizando os saltos dos bons gamos,

Nem nos postando ocultos nestes ninhos.



Deseja que algo sério mostre o viço

Das mentes que reluzem cá no etéreo,

Que o coração tem dado para isso.



Mas tudo o que fizermos é mistério,

Ou tema até bastante encontradiço,

Bastando dirigir-se ao cemitério.















58.O DIA









I



A VALORIZAÇÃO DOS VERSOS



Querendo descansar mais um pouquinho,

Não tenha muita pressa em atender:

Se fosse tão-somente por lazer,

Iria desviar-se do caminho.



Mas pôr-se aqui, em nome do dever,

É demonstrar por nós grande carinho,

É não dar bola p ra qualquer espinho,

Pois o colher da rosa dá prazer.



Se todos desejassem ser felizes

Nos temas mediúnicos diversos,

Seguindo da Doutrina as diretrizes,



Iriam ter os dons no bem imersos.

Embora houvesse o mal das graves crises,

Tudo fariam pelos nossos versos.







II



COMPREENDENDO OS ENCARNADOS



Queremos deixar claro ao bom amigo

Que cá viemos o dever cumprir,

Mas, tendo em vista um tal cansaço vir,

É relevante dar-lhe doce abrigo.



Nós não teremos brigas no porvir;

Jamais havemos de correr perigo:

É certo que um saber demais de antigo

Nos diz que um bom descanso faz sorrir.



Eis, pois, que o verso de hoje segue a trilha

Aberta nestas selvas do improviso,

Que a falha da jornada não nos pilha



Co a boca na botija, sem juízo,

Recriminando aquele que rebrilha,

Por um momento só de pouco siso.







III



A SUPERAÇÃO DA DOR



Insiste em que devamos prosseguir,

Trazendo os nossos versos neste dia,

Proclamando que nada mais faria,

Além de se deitar para dormir.



Mas veja que o improviso da poesia

Nada contém p ro bem contribuir.

Assim, será melhor, bom Wladimir,

Que eu vá cantar em outra freguesia.



Pretende o nosso irmão fintar a mente,

Deixando que este verso continue,

Ouvindo um palpitar, no inconsciente,



Que lhe afirma que, embora pouco sue,

Há de escrever poema conseqüente,

Pois com bastante afeto contribui.







IV



A PROJEÇÃO



Sabendo que não vamos desistir,

Conforma-se este médium co o trabalho

E não rejeita dar-nos agasalho,

Que tem bom coração o Wladimir.



Não gosta de sentir-se no baralho,

Pois julga seu dever contribuir,

Temendo maus encontros no porvir,

Que vão torná-lo simples espantalho.



Contudo, temos de compor os versos,

Pois para isso fomos cá mandados,

Em desafio aos temas mais perversos,



Aqueles que nos causam mil cuidados,

Para não serem logo controversos,

Que sempre existem dores destes lados.







V



COM DENODO



Não tendo muito estímulo p ra rima,

Nosso escrevente, já de orelha em pé,

Em tudo o que fazemos leva fé,

O que comprova que nos tem estima.



Quanto daria por um bom café,

Mas fica preso um tanto aqui em cima,

Sabendo que o final o reanima,

Pois nunca deu ao carro marcha à ré.



Mantém-se a imantação em forte escala,

P ra que nosso poema tenha força,

A demonstrar que estamos nesta sala.



Também para que o médium não distorça

A nossa idéia, vamos registrá-la,

Dizendo-lhe por fim: — É bom que torça!







VI



A ORAÇÃO



Pensava o meu amigo que seria

Muito difícil de chegar ao fim.

Talvez desconfiasse até de mim,

Pois ânimo não tinha p ra poesia.



Agora mesmo, vendo tão ruim

A rima que compõe a melodia,

Demonstra ter um pouco de alegria,

Que a vida vai levando, mesmo assim.



Deseja que um só verso lembre o Pai,

Pois tudo o que fizemos é vaidade,

Que um só peixe na rede não lhe cai,



Deixando-o triste e quedo de saudade

Dos versos em que amor mais sobressai:

Senhor, tende por nós muita piedade!















59.O DIA









I



A CONFISSÃO



As trouxas que trouxemos para o etéreo

Não tinham serventia para nada:

Noss alma se sentiu desafogada

Somente quando vimos refrigério.



No começo, foi grande a tal salada,

Que estávamos do vício sob o império,

De forma que era só com impropério

Que dávamos resposta à patacoada.



Inúteis, exaltávamos todinhos,

Desejando expulsar a multidão,

Mas nada eram rosas, só espinhos,



Que, firmes, nos feriam, sem perdão.

Foi quando nos lembramos dos carinhos

Que o Mestre dedicava a cada irmão.







II



POR DEVER DE SOCORRISTA



Sorrimos de lembrança tão amável,

Nas ondas mais suaves da emoção,

Pungindo de esperança o coração,

Que a força que sentimos foi notável.



Porém, se a nossa vida fora em vão,

Por que seria a morte controlável?

É que todo perjúrio é saneável,

Se houver promessa de cumprir missão.



Assim nos dispusemos p ra tarefa,

Trazendo uns bons versinhos neste dia:

É certo que este médium jamais blefa,



Querendo registrar útil poesia,

Sabendo não ser crime a sinalefa,

Amálgama, das almas na harmonia.







III



A CURA PELA POESIA



Vetustos, nossos versos arrebentam

Princípios de sutis atrevimentos,

Pois sopram, improváveis pés de ventos,

Nas rimas que os do etéreo reinventam.



Queremos desfazer dos pensamentos

As bases que, velhacos, mal sustentam,

Que enganos contra os homens mais intentam

Tão logo se apercebem sem tormentos.



Se ficam mais confusos os amigos,

Se teimam em tornar a vida dura,

Correndo quase todos os perigos,



É rápida a exclusão da criatura,

Que os látegos doridos mais antigos

Contêm ingrediente que depura.







IV



OS CUIDADOS COM A LINGUAGEM



Artistas das palavras, não dos temas,

Saímos para a luz despreparados,

Contudo, logo fomos ajudados,

Pois não querem que demos mais problemas.



Assim, não faltam rimas destes lados,

Na busca de compormos bons poemas,

Razões talvez não sejam as supremas,

Porém, os motes são mais afinados.



Bulícios de delícias costumeiras,

As verves destes vermes mais fervilham,

Querendo dar chorrilhos de besteiras,



Sabendo que os mais pobres maravilham,

Diante das que não têm estribeiras,

Porque são os mais doutos que nos pilham.







V



OS SENTIMENTOS



Nós fomos bem mais rápidos na rima,

Querendo despistar nosso escrevente,

Pois tudo o que fazemos muito sente,

Porque também demonstra clara estima.



Assim, vamos agir covardemente,

Se não dermos a ele um doce clima,

Pois pouco exige quem se reanima,

À vista de um versinho inconseqüente.



Parece que seu treino já encerra

Dezenas de sonetos proveitosos,

Pois trava contra os termos doce guerra,



Sabendo quais os entes mais vaidosos,

Na ânsia de um poema em que se erra,

Embora cause espanto, mas... sem gozos!







VI



A REVELAÇÃO ÍNTIMA



Queremos deixar claro o sentimento

De estima da bondade do escrevente,

Que não se intimidou com esta gente,

Embora o nosso verso fosse vento.



Rogamos ao Senhor, seja clemente

Conosco, por causarmos grão tormento,

Transtorno de um sutil mau pensamento,

Que vemos infiltrado em nossa mente.



É que pura vaidade se percebe

Em cada linhazinha dos poemas,

Que até quem tenha sede já não bebe



Os sumos extraídos destes temas.

Mas vamos derrubar a forte sebe,

Para que o povo saiba dos problemas.







VII



A FORÇA DA CONSCIÊNCIA



Astuto, vilipêndio o cafajeste

Aspira deflagrar contra a Doutrina,

Pois sabe ser mui fácil uma mina

Que estoure quem no mal a alma investe.



Contudo, quem é firme não combina

A cor negra do Umbral co azul celeste,

Que é simples de saber quem traz a peste:

O Sol logo desfaz qualquer neblina.



Eu quero agradecer ao Pai a força

Que dá a todo o povo reunido,

Capaz de endireitar a quem distorça



As luzes que orientam quem, perdido,

Se põe a debandar, qual veloz corça,

P ras bandas de um soneto sem sentido.







VIII



O REGOZIJO DO FIM



Pretende nosso médium que este seja

O exemplo de um soneto genial,

Pois pensa ser bastante natural,

Que um ente mais perfeito não verseja.



Concordo, pois a rima passa mal

Nas mãos de quem caminhos sempre veja

Nas sendas perigosas da cerveja,

Que, em tendas das quimbandas, é normal.



Porém, nosso fracasso causa pena,

Embora os versos venham bem depressa,

Porque a nossa mente é bem pequena



Somente no cumprir da tal promessa.

Contudo, o caro mestre nos acena,

Dizendo que a missão foi bem à beça.















60.O DIA









I



A NECESSIDADE DE DESCANSO



Requer o nosso amigo algumas férias,

Que a luta lhe tem sido pesadona,

Mas pensa que o pedido o desabona,

Que as coisas cá no etéreo são mais sérias.



Quem quer falar ao longe telefona,

Quem quer fazer sorrir vem com pilhérias,

Se alguém quer enganar, usa de lérias,

Quem não quer ir a pé pega carona.



Não há que requerer por carta-ofício,

Nem que bater carimbo ou estampilha,

Pois descansar na vida não é vício.



Se crescem as poesias numa pilha,

Se não há de má fé qualquer indício,

Ócio é coisa que a gente compartilha.







II



ÁSPERO CAMINHO



Ao ler os versos do soneto acima,

Fica tristonho o nosso caro médium,

Pois julga que não há outro remédio,

Senão nos ajudar a cada rima.



Aumentam-lhe, contudo, enfado e tédio,

Que o tema destes versos desanima.

Por isso, quer mudar p ra outro clima,

Onde não vá sentir tão tenso assédio.



Procura demonstrar que está com dó

Dos sentimentos dúbios, controversos,

Pois quer ficar co a gente estando só,



Sabendo que os sonetos são perversos

Somente ao trafegarmos pelo pó,

No áspero caminho destes versos.







III



VERSOS QUE AGITAM



Procuro melhorar a qualidade

Para tornar o mestre satisfeito.

Se não gostar, eu mesmo é que rejeito,

Embora seja isso raridade.



Quer descansar mas fica tão sem jeito

Que já não sabe o rumo da verdade:

Nosso ditado registrar quem há-de,

Se não conhece alguém que esteja afeito?!



Suas razões e mais as nossas cruzam,

Gerando versos que nos dão virtudes,

Conquanto pense que os do etéreo abusam,



Por lhe forçarmos sérias atitudes,

Pois, sutilmente, os temas nos acusam

De lhe causar, no imo, as inquietudes.







IV



O APOIO ESPIRITUAL



Pedimos vênia para desdizer,

Pois cá estamos a tremer de medo,

Treinando os versos de manhã, bem cedo,

P ra de tarde cumprir o bom dever.



Se o nosso médium vem um pouco azedo,

Que o seu cansaço gera desprazer,

Vamos parar porque (não há que ver)

Esta tarefa não é só brinquedo.



Não pretendemos pô-lo amargurado,

Pois nossos versos têm duplo sentido,

Sendo que um deles é bem figurado.



Assim, não há ficar mais deprimido,

Pois toda a turma aqui do nosso lado

Vem para o abraço ao médium mui querido.







V



FÉRIAS NA PRAIA



Falando sério sobre descansar,

Nosso escrevente pode interromper

A qualquer hora o nobre e bom dever,

Já que o seu barco há tempo está no mar.



Um estaleiro serve p ra rever

Cada tropeço deste navegar:

Embora vamos muito devagar,

Será também preciso refazer.



Se estamos a lembrar temas marinhos,

É por ser bom sentir a maresia,

Porque seu mano quer lhe dar carinhos:



Não fosse assim, convite não faria.

Perlustre, pois, da praia seus caminhos,

Enquanto revisamos a poesia.







VI



A PERMISSÃO



Os versos deste dia foram bem,

Conquanto nós fugíssemos da luz

Que p ra Doutrina Espírita conduz,

Porquanto um bom descanso nos convém.



E vamo-nos lembrar de que Jesus

Buscou, um dia, descansar também,

Pois todas as virtudes logo vêm,

Se estamos a pensar em nossa cruz.



Por isso, bom amigo, não nos tema,

Se algumas férias decidir gozar:

Não faça muito grande o tal dilema.



Sabemos que, indo o Sol aproveitar,

Irá pensar, um dia, no problema,

Achando inda mais belo e róseo o mar...















61.O DIA









I



A PRESENÇA DA MORTE



As dúvidas que trago cá no peito

São pérfidas, terríveis, contumazes:

Se eu fosse dar ouvidos, tão vorazes,

Iriam conduzir-me para o leito.



Mas tenho alguns amigos, bons, capazes

De me fazer sentir um cara eleito,

Que, vendo o desespero, vêm dar jeito,

Trazendo lenitivos eficazes.



Assim é a poesia que vigora

Nas lides dos que querem melhor sorte,

Chegando para a ajuda em boa hora.



Ao menos, é bem esse o nosso norte,

Pois temos de pensar em quem mais chora,

Com medo de perder-se pela morte.







II



A REJEIÇÃO DAS RIMAS



Atire alguma pedra quem tiver

O coração mui livre dos pecados,

Que são apenas tristes estes fados,

Pois tudo vai sarar, se Deus quiser!



Trazemos nossos versos desalmados

A quem, despetalando, malmequer,

Se põe a duvidar do que vier,

Embora restem muitos outros dados.



Às vezes, as pessoas nos procuram,

Que estão desesperadas, no infortúnio,

Contudo, nossas rimas não aturam.



Uivando pela noite, em plenilúnio,

Os lobos as assustam, mas nos juram

Que a luz é que tornou o rosto ebúrneo.







III



CONTENTAR-SE COM POUCO



A sede de saber é compulsória:

Não há que se ficar em ignorância,

Que a natureza é causa de tal ânsia,

Que a vida, sem ciência, é ilusória.



Contudo, se houver forte uma ganância

De tudo açambarcar, só pela glória,

Não há que festejar qualquer vitória:

Na sombra, todos perdem a elegância.



Sejamos comedidos nos desejos,

Ainda que se trate das virtudes.

Não vamos promover falsos ensejos,



Pois muitas hão de ser as inquietudes.

Às vezes, o rodar dos realejos

Contém mais melodia que alaúdes.







IV



A REPETIÇÃO



Não quero aborrecer o caro médium,

Mas devo preveni-lo p ra esta rima,

Que é norma desta turma, que o estima,

Lembrar que está na hora do remédio.



Por isso é que voltamos, neste assédio,

Sabendo que este tema o desanima;

Porém, se o verso vai montanha acima,

Faculta seja bom seu intermédio.



Soneto que repete é controverso;

A rima em que se insiste é mais ferina;

O tema é uma loucura, tão perverso;



Poema, sem estilo, é só ruína...

Assim é que se põe o nosso verso,

Quando feito ao contrário da Doutrina.







V



OS LIMITES DAS BRINCADEIRAS



Não queremos deixar más impressões:

Apenas nós brincamos quando em vez,

Sem que o verso se torne mui soez,

No temor de ferir os corações.



Se for bem grossa a nossa estupidez,

Vamos pedir que, sem hesitações,

O médium elimine os meus borrões,

Conforme noutras vezes já o fez.



Liberdade demais nos alucina:

O bom é seguir normas muito claras,

Que é como o professor aqui ensina.



Por isso é que nos são bastante raras

As horas que o padrão do bem declina:

Ninguém quer conhecer a dor das varas.







VI



EM PLENO MAR



Não pensem que falamos por figuras:

É que o castigo vem sempre a cavalo,

Se estamos nosso médium a instigá-lo

A permitir certas imagens duras.



Por isso é que trazemos por regalo

Outros sonetos, com passagens puras,

Que estimulem as boas criaturas

Em aceitarem nosso alegre embalo.



À perfeição havemos de chegar,

Mas, nesse dia, aqui não estaremos,

Pois o destino deste navegar



É dar mais força p ra mover os remos,

Na turbulência deste rude mar,

Que é bem assim que ao Pai agradecemos.















62.O DIA









I



O BELO E O BOM



Os rudes versos trazem alegria

A quem os faz e a quem os arrebanha:

Por mais que a mente possa ser tacanha,

É perspicaz p ra perceber poesia.



Assim, nosso trabalho se acompanha

De doce agrado pela melodia:

Outra atenção a nós ninguém daria,

Não fora a arte duma paz tamanha.



Mas tal premissa só será verdade,

Se em ponto da Doutrina decalcada,

Que é para preservar a qualidade.



Assim, o bem, o amor, a vida é nada,

Se houver um pouco só de vil maldade

A perturbar o ritmo da jornada.







II



A PREVALÊNCIA DO BOM



A forma pela qual nós progredimos

Depende muito de bondade clara,

Pois, cá no etéreo, a mente nos separa,

Conforme o que se passa lá nos imos.



Caso a virtude em nós seja avis rara,

É bom saber que pouco evoluímos;

Contudo, se o passado reprimimos,

Mais a virtude há de ser avis cara...



Por isso, quando o verso recomenda

Que se reforme logo o interior,

Não há que se fazer na rima emenda:



Há que se dar ao Pai bem mais amor,

Pedindo ao coração p ra que se renda,

Pois, no soneto, existe algum valor.







III



A CONDIÇÃO DA BELEZA



Como bom tema, a prece deveria

Freqüentar o soneto nesta hora,

Para mostrar que o bem aqui vigora,

Seja na grossa prosa ou na poesia.



Assim, nos aprestamos, sem demora,

Enchendo o coração só de alegria,

Pois que outra emoção melhor diria

Da fé, do amor, da luz que a gente ora?!



Senhor, aceita a nossa penitência

E dá a tua bênção do perdão,

Que os versos não terão a tal ciência



De transformar a rima em oração,

Conforme nos indica a consciência.

Mas tu hás de saber nossa razão!







IV



A PRECE-POESIA



O grupo tenta decifrar o tema

Que envolve o coração do bom leitor,

Que espera que alguém diga o seu louvor,

P ra repetir a prece do poema.



Jesus pediu p ra gente só compor

As orações, no quarto, sem problema,

Que o Pai há de saber qual é o lema,

P ra atribuir a nós real valor.



Assim, recomendamos que o pai-nosso

Seja a oração-limite da poesia,

Que todos vão dizer: Eu já não posso



Buscar em minha prece outra harmonia,

Pois tudo o que Jesus falou endosso.

Que outra coisa mais alguém diria?...







V



PAI-NOSSO



Deus Pai, que estais nos Céus, olhai por nós!

Santificado seja o vosso nome!

Dai de comer do pão a quem tem fome,

Para que o reino não lhes seja atroz!



Ganhe a vossa vontade bom renome,

Dentre quem seja calmo ou feroz,

Para que perdoemos mais por vós,

Enquanto a paz do reino vem ao homem!



Não nos deixeis cair em tentação,

E nos livrai do mal, durante a lida,

Mas, se pecarmos, dai-nos o perdão:



Reino, poder e glória, convalida

Em fé, amor, verdade, o coração,

Que se nutre de esp rança nesta vida!







VI



A VERDADE FORA DO POEMA



Perdoe o meu amigo a tentativa

Frustra de ter em versos o pai-nosso,

Mas não vale dizer: Eu me alvoroço

Perante certa gente criativa...



É certo, quando a prece mais desosso,

Que é triste tal visão de carne viva,

Mas, que fazer, se a rima objetiva

Mostrar que orar, como Jesus, não posso?...



Vim p ra cumprir alegre o meu dever,

Sem ter certeza de que bem faria,

Trazendo, embora, um grande bem-querer,



Que é com amor que faço esta poesia,

Mas se pequei aqui, sem compreender,

Irei rogar por mais sabedoria.















63.O DIA









I



A CARIDADE MEDIÚNICA



Se a dormência lhe afeta a arte de escrever,

Não hesite outra vez: atenda-nos dormente,

Pois, mesmo que não saiba agir diretamente,

Faremos o melhor neste nosso dever.



Quem tem mediunidade alguma coisa sente,

Na hora de lutar, que é nobre o bem-querer,

Deixando p ra depois o gozo do prazer,

Tendo o mediador que ser muito paciente.



Não durma de botina, aqui neste trabalho,

Que o tranco que levar será felicidade,

No doce estremeção, ao dar seu agasalho.



O tempo que dispõe é para a caridade,

Na busca de fazer soneto quebra-galho,

Nem sempre algo que traga a marca da verdade...







II



O EFEITO DA AJUDA



Na ânsia de cumprir o seu dever,

O amigo pede apenas compreensão,

Que os males de dormir mui tristes são,

Quando não há na mente o que fazer.



Aí, dói mais ainda o coração,

Pois é grande o desejo de atender,

Que mais lhe cresce n alma o bem-querer,

Ao perceber que faz doce escansão.



Melhora um pouco a calma deste artista,

Que dita tal soneto à revelia

De quem, à vista dele, se contrista.



É que, na paz, se encontra a melodia,

Desde que um pouco mais a gente insista,

Até que chegue ao fim casta poesia.







III



A PERSEVERANÇA



Tal arte de escrever a alma empolga,

Se a rima não gerar mais arrepios,

Que é forte a tentação dos vis desvios,

Nos gozos permanentes dessa folga.



Se correm boas águas nestes rios,

Se o ferro, quando quente, ao bem se amolga,

Por que não depreender que o verso colga,

No mastro do dever, tais desafios?



Se baldes de água fria, em travessura,

Jogamos no escrevente, que não erra,

Porque de seu trabalho não descura,



Embora mais pareça dura a guerra

Que trava contra o mal a criatura,

É trágica a esperança a que se aferra.







IV



O PROJETO



Trouxemos seis sonetos neste dia,

Embora o tempo fosse muito pouco.

É rápida, porém, coisa de louco,

A transmissão alegre da poesia.



Se ao nosso som se faz ouvido mouco,

Na hora de pautar a melodia,

Saber o que sentimos ninguém ia:

Aceitemos, então, que seja rouco.



Chegou o nosso médium atrasado,

Mas prometeu mais tempo cá ficar,

No medo de acabar posto de lado.



Havemos de tal fato perdoar,

Se prometer aqui ficar calado,

Jamais deixando a rima ir pelo ar.







V



O TEMPO DA LEITURA



Valeu a nossa boa tentativa

De vir ditar a lépida poesia,

Enchendo a turma toda de alegria,

Que o mínimo que faz é dar um viva!



Porém, resquícios de sabedoria,

Para manter a mente mais ativa,

Há que aqui salpicar quem reaviva

Doce esperança, numa rima pia.



Tudo parece vir num improviso

Para quem lê de um jato o nosso verso,

Contudo, vai aqui o justo aviso:



Não seja grosso assim, nem tão perverso;

Mantenha nobre o brio, reto o juízo,

Que existe, no poema, bem imerso.







VI



A ORIENTAÇÃO



Pergunta o nosso médium se sabíamos

Que devia atrasar-se, neste dia.

Pois saiba que será patifaria,

Se dissermos que nós a tudo víamos.



Ficamos preparando uma poesia,

Pois que haveria atraso já prevíamos,

Porquanto, neste horário, não faríamos

Poemas que nos dessem alegria.



Agora que chegamos quase ao fim,

Podemos respirar com desafogo,

Pois suspeitamos não ser tão ruim



Atender deste irmão o triste rogo,

Mesmo quando não seja bem assim

Que queira ver as regras de tal jogo.















64.O DIA











I



A SENSAÇÃO DOS VERSOS



As luzes que se acendem para mim

Não têm a refulgência dos preclaros,

Mas servem p ra mostrar que não são raros

Os dons do amor que sinto bem assim.



Quisera dar o mesmo aos que são caros,

Mas trago mecanismo mui ruim,

Que o tempero dos versos é chinfrim,

A dar ao paladar gostos amaros.



À parte da textura desta rima,

Pretendo pôr aqui meu coração,

A ver se o meu leitor se reanima,



Que o triste da mais rude comoção

É saber que ninguém, ao ler, me estima,

Embora eu reze muito por perdão.







II



NOS VERSOS, UMA LIÇÃO



As letras que compõem os versos meus

Extraio lá do fundo da consciência,

No aguardo de que alguma conseqüência

Se possa colocar aos pés de Deus.



P ra tal, não há que ter muita ciência,

Bastando dar aos vícios um adeus,

Orando pela vinda dos ateus,

Que alguém há de aferir minha paciência.



Tornar os simples versos pregação,

Na ânsia de fazer novos amigos,

É ter bastante fé no coração.



Assim é que pensavam os antigos,

Querendo em cada ser um bom irmão,

Amando, com Jesus, os inimigos.







III



A EXISTÊNCIA CONTINUA



Valer-se das palavras do evangelho

É mostra de total sabedoria:

Se todo bem couber numa poesia,

Até hão de pensar em dons de velho.



Jesus, por nosso amor, mais sofreria.

Não sei se nesse exemplo eu bem me espelho,

Embora venha fácil meu conselho,

Na ânsia de pautar a melodia.



Pergunto a todo o povo muito vivo

Se alguém pode esperar bem mais de mim,

Na trilha do evangelho redivivo,



Além de alguma rima mui ruim.

— Somente este desejo criativo,

Sabendo que a esperança não tem fim.







IV



SE FOSSE VOCÊ O MÉDIUM



Em troca de serviço bem prestado,

Pretendem os bons médiuns regalias,

Assim como passarmos as poesias,

Sem terem qualquer rima solfejado.



Contudo, muitas vezes, numas frias,

Deixamos o escrevente encalacrado,

Que o passo em que seguimos é marcado

Por certa quantidade de serias.



Se fosse com você a cantilena,

Será que punha fé na inspiração,

Sabendo a transmissão demais de amena,



Contando cada metro na escansão,

Querendo bem mais forte a nossa pena,

Pensando qual o rumo da emoção?...







V



A PREGAÇÃO



Pretendo pôr em versos os ensinos

Que prossigo aprendendo a cada dia,

Mas quero tudo em fúlgida harmonia,

Na forma retumbante dos bons hinos.



O mestre disse a mim que não faria

Bimbalhar de manhã todos os sinos:

Os mais graúdos, sim; os pequeninos

Soariam melhor na sacristia.



Entendida a lição, vim ao trabalho,

Na crença de rimar conforme a hora,

Querendo acordar com bom bimbalho



O povo que me quer posto p ra fora.

Sabendo que, nos dons, eu me atrapalho,

Vou dar bem leve toque, se alguém chora.







VI



POR QUE SÃO DURAS AS RIMAS



Compreendo que o amigo desespere

Ao ver tanta bobagem sendo escrita,

Mas sabe que é maior sua desdita,

Se é co o mesmo ferro que ele fere.



Se quiserem poesia mais bonita,

Diversa deste triste miserere,

Hão de entender que o bem logo se insere

Na voz de quem, com fé, a sós, recita.



Nem sempre tais palavras contêm flores;

Às vezes, são perversas as tais rimas;

Conquanto os versos acrescentem dores,



Alcançam em nós vívidas estimas:

É nos temas que estão os resplendores

Condizentes com nossos pobres climas.















65.O DIA









I



SOBRE A QUALIDADE DOS VERSOS



Não queira que estes versos sejam bons,

Mas que tragam conforto permanente,

Pois tudo o que se passa no consciente,

No íntimo da mente, teve os dons.



Queríamos dizer-lhe que se sente

A nuança mais suave desses tons,

Trinado mui sutil dos leves sons,

Na faixa astral do espírito da gente.



Assim, uma lição, em rudes versos,

Não deve deixar dúvidas teóricas,

Por não querer fazê-los maus, perversos.



Nem todas as colunas vão ser dóricas,

Que as outras não detêm papéis diversos,

Porém, não podem ser fantasmagóricas.







II



A DECISÃO ESPIRITUAL



Na trilha do saber espiritista,

Encontra-se um ensino muito antigo:

É que se deve amar cada inimigo,

Devendo a gente ser mais elitista.



— Contraste, vitupério, grão perigo... —

Afirmam os que temem ver benquista

A solidariedade em que se enquista

A falha de eleger o mal do amigo.



Não temos pretensões a pregador,

Mas temos para nós que o bem arrasta,

Se vamos dar a todos nosso amor.



Quem quer usufruir a luz afasta

A maldade que possa causar dor,

Dizendo para si: — Agora basta!







III



PREVENDO PROBLEMAS



Querendo palmilhar duro caminho,

Havemos de calçar forte alpercata,

Pois, no deserto ou por entre a mata,

Existe pedregulho ou acre espinho.



Assim é que o maldoso desacata

Quem queira só fazer-lhe bom carinho,

Pois age com caráter de fuinho,

Pensando ser amor sutil cascata...



Quem vem com muitos temas da Doutrina,

Julgando promover grande furor,

Vai ver que a vida densa logo ensina



Que, antes de pregar, existe a dor

De ver que o povo inteiro mais se inclina

A rir de quem se julgue benfeitor.







IV



NAS PEGADAS DO NAZARENO



Que tipo de sandália é que trazia

O Mestre p ra evitar machucaduras,

Sabendo, desde sempre, serem duras

As críticas do povo que se ria?



É próprio das mais torpes criaturas

Achar burrice ler qualquer poesia,

Que nada que aqui vissem poderia

Mostrar-lhes que as virtudes são mais puras.



Ao seguir os caminhos de Jesus,

Doce esperança de falar ao povo,

Para mostrar o norte dessa luz,



Há que se suspeitar o mal de novo,

Que é triste de se ter bem preso à cruz,

Plantado nesse amor, santo renovo.







V



A HUMANA DESCONFIANÇA



Os lábios de Jesus foram selados,

Mas justo sentimento perdoou

Quem por perversidade o maltratou:

Autoridades, povo e mais soldados.



O medo dos discípulos domou

As ânsias de se verem coroados,

Descrendo até de seus apostolados,

Que, morto o Mestre, foi e retornou.



Aí, foram sinais a toda a hora,

Pois houve quem quisesse ver p ra crer,

Lei perene que ainda hoje vigora.



Quem desejar cumprir o bom dever

Vai perceber que existe quem descora

Só em pensar em dar mais bem-querer.







VI



A DESPEDIDA



— É hora de fazer mais sacrifícios? —

Perguntará o amigo, nesta hora,

Pensando já que deva ir embora,

Pois da resposta tem alguns indícios.



Devemos nós listar, sem mais demora,

Quais serão as virtudes, quais os vícios,

Ou vamos suspeitar que haja resquícios

De honestidade em quem o mal deplora?



Se alguém duvida deste nosso gesto,

Pensando até que possa ser perverso

Quem use do evangelho em seu doesto,



Busque ficar em sentimento imerso,

Que seja brando, útil, bom, honesto,

E escreva, pondo o coração no verso.



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