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Artigos-->Verba volant, scripta manent -- 09/10/2001 - 23:59 (Camila David Dalvi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




As palavras voam, a escrita permanence





Pode ter certeza: esse não foi o primeiro papel que usei para escrever o que estou (re)escrevendo. Na verdade, este está muito longe de ser o papel que fora para mim uma confidente de antes. Isso se explica com a seguinte frase: eu mudei! Já o papel, ah! o papel, nada mudou diante da minha mudança. Ele é apenas subtituído. Ele, o papel, contém coisas secretas, que em mim já não existem mais e é por isso que muitos dos papéis que já usei foram descartados.

Qual a estrutura de uma folha de papel? Você já parou para pensar? Ela pode, e muito, nos fazer muito bem. Mas não é isso que quero retratar. Ela, a folha de papel, desde que se viu dona de uma existência conseguiu suportar muitas coisas: avisos, recadinhos, idéias, segredos, sentimentos, cartas de amor ou de ódio e por aí vai. E é por sua imensa frieza em relação a esses eventos que ela tem sido pisada, rasgada, guardada, queimada, espezinhada. Digo agora, porém, que esse sofrimento reservado a ela nada tem a ver com sua frieza e sim com a volubilidade dos sentimentos humanos, isso sim! Os sentimentos (raiva, paixão, ódio, amor, mágoa...) passam, mas na folha de papel eles permanecem lá, imperativos. Assim, temos a impressão de que eles, os sentimentos, foram expressos de forma relativamente eterna; com isso descontamos nele –no papel- a nossa decepção para com a nossa falta de entendimento de nós mesmos; nosso mundo napolitano (misto) de consciente e subconsciente. Às vezes o atual papel mostra uma mensagem mais aperfeiçoada por causa de um outro papel que esteve por trás de tudo, como é o meu caso.

Nos traímos por meio do papel. Ele nem tem culpa disso. Nós é que o encaminhamos para esse destino de denunciante. Ele abarca nossas palavras – resquícios do que não mais existe em nós, do que não nos pertence e incomoda- e por isso paga o pato. Às vezes por causa de uma letra feia, de uma rasura ou uma marca de corretivo, o papel se esvai em migalhas, pedacinhos. Como somos exigentes para com ele! Dever ser por que ele existe em igual ou maior quantidade que os eventos (sentimentos) humanos. Apesar de tudo, é ele que prova nossa existência imersa nesse mundo burocrático; ele faz sentenças contra nós e testamentos a nosso favor. Ele que avisa à nossa mãe que vamos chegar mais tarde e ao nosso pai que pegamos dinheiro (um outro papel) enquanto ele dormia.

No entanto, nos aproveitamos da sua fragilidade física para acabar com sua frieza ante ao emocional, o que tanto nos incomoda. (Essa idéia eu queria ter colocado mais acima no texto, mas não quis acabar tão cedo com a vida deste papel; mesmo porque, ele é meu cúmplice. Já sabe de tudo o que eu pensei. Se eu fosse recomeçar em outro papel, teria que que me desgastar exprimindo tudo desde o início. E nesse caso, também, já nem estou ligando tanto para a grafia).

Continuando, o papel registra a nossa morte gradativa – tudo o que fomos um dia e que passou- para depois de provar muitas coisas de nossa vida, pontuar nossa existência com o óbito. Trágico, não? Veja que missão difícil a do papel!







Outro paradoxo do papel nesses dias atuais é a briga com o computador. A impressora tenta mediar esse confronto; mas até quando? Não sei, mesmo porque esse não é assunto mais para esse papel.

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