Usina de Letras
Usina de Letras
151 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62072 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10301)

Erótico (13562)

Frases (50478)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6163)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Discursos-->Escrever – e escrever sempre – é a primeira condição de qual -- 11/05/2008 - 14:30 (Academia Passo-Fundense de Letras) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Prezados Confrades e estimadas Confrades,
Senhoras e Senhores:

Há mais de dois mil e quinhentos anos um grego de nome Academus organizou um grande parque perto de Atenas. Ali, garças à iniciativa de Platão, consolidou-se, aproximadamente um século depois, a tradição, continuada por seus discípulos e outras escolas filosóficas, de reunirem-se para discutir os grandes temas de interesse comum à humanidade.
Esses encontros de homens cultos, pois ao contrário de nossa época as mulheres não tinham direito à cidadania, acabaram recebendo o nome de academias.
Modernamente, em 1636, com a aprovação de Richelieu, surgiu a Academia Francesa de Letras, modelo de quase todas as suas sucessoras, inspiração da Academia Brasileira de Letras. Esta, organizada oficialmente no dia 15 de novembro de 1896, é a materialização de uma iniciativa de Lúcio de Mendonça. Os seus primeiros associados, além do inspirador, foram Machado de Assis, Artur Azevedo, Filinto de Almeida, Guimarães Passos, Inglês de Souza, Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, José Veríssimo, Medeiros e Albuquerque, Olavo Bilac, Pedro Rabelo, Rodrigo Otávio, Silva Ramos, Valentim Magalhães e Visconde de Taunay.
A Academia Brasileira de Letras, porém, só realizou a sessão inaugural em 20 de julho de 1897, com a posse de Machado de Assis, como seu presidente.
Na oportunidade o “Bruxo do Cosme Velho” pronunciou um discurso curto e grosso, que me permito transcrevê-lo:
“SENHORES,
Investindo-me no cargo de presidente, quisestes começar a Academia Brasileira de Letras pela consagração da idade. Se não sou o mais velho dos nossos colegas, estou entre os mais velhos. É simbólico da parte de uma instituição que conta viver, confiar da idade funções que mais de um espírito eminente exerceria melhor. Agora, que vos agradeço a escolha, digo-vos que buscarei na medida do possível corresponder à vossa confiança.
Não é preciso definir esta instituição. Iniciada por um moço, aceita e completada por moços, a Academia nasce com alma nova, naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige, não só a compreensão pública, mais ainda e principalmente a vossa constância. A Academia Francesa, pela qual esta se modelou, sobrevive aos acontecimentos de toda casta, às escolas literárias e às transformações civis. A vossa há de querer ter as mesmas feições de estabilidade e progresso. Já o batismo das suas cadeiras com os nomes preclaros e saudosos da ficção, da lírica, da crítica e da eloqüência nacionais é indício de que a tradição é o seu primeiro voto. Cabe-nos fazer com que ele perdure. Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles os transmitam aos seus, e vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira. Está aberta a sessão.”
Aquele “a tradição é o seu primeiro voto”, mesmo não constando com todos os caracteres nos Estatutos da Academia Brasileira de Letras, transformou-se numa cláusula pétrea, daquela instituição que não por acaso é conhecida como a “Casa de Machado de Assis”.
O criador de Brás Cubas mais do que se referir à tradição anterior das academias literárias em nosso país, quase todas efêmeras, mas importantíssimas para a configuração do nosso rosto literário, referia-se à sobriedade que todos devemos manter. É o “sede sóbrios”, que encontramos em certa passagem da primeira carta do apóstolo Pedro. Sobriedade que importa no reconhecimento de tradições a serem rompidas, caso contrário estaríamos presos eternamente a excrescências históricas.
Neste 15 de março de 2008, perto de completar 70 anos de existência, a Academia Passo-Fundense de Letras faz da tradição o seu primeiro voto. Retoma o respeito aos seus estatutos, abrindo, com sobriedade, o presente ano acadêmico. Retoma a tradição das sessões solenes, tanto que no próximo dia 25 aqui estaremos novamente reunidos para homenagear personalidades que prestaram serviços à educação e à cultura de nossa terra. E na data magna desta casa, o 7 de abril, aqui nos encontraremos para comemorar nosso 70º aniversário e o Dia Municipal do Escritor, criado por força de Lei.
O respeito à tradição, entretanto, não nos fará cegos à famosa assertiva de Friedrich Engels: “A tradição é uma grande força frenadora; é a vis inertiae da história”. Por isso mesmo, rompemos com a passividade, com a força da inércia.
A quebra da vis inertiae é sempre traumática. Tenho consciência disso, consciência que expressei, a 29 de dezembro do ano passado, ao tomar posse na presidência desta casa, nestas palavras textuais:
“Neste recinto, onde ressoam gritos de comando caudilhesco e estampidos dos mosquetões que recordam os choques homicidas dos séculos pretéritos, entro como um estudioso daqueles tempos. Entro, porém, com o espírito do século XXI e a espiritualidade dos tempos bíblicos”.
Jamais ambicionei ser o primus inter pares. Naquele 29 de dezembro, a cada instante, lembrava-me do conselho que era infalivelmente repetido a cada investidura de rei espanhol: “Y no se olvide Usted de su puesto!”
As notícias desta casa começam a ser difundidas, regularmente, pela Internet. Em breve todos os acadêmicos terão a oportunidade de publicar seus trabalhos através da rede mundial de computadores. Desde os primeiros dias de janeiro, graças à competência do confrade Luiz Juarez Nogueira de Azevedo, mestre de tantos homens e tantas mulheres que honram a Advocacia e a Justiça deste país, dispomos de uma proposta de reforma estatutária.
Única e exclusivamente por fidelidade ao espírito de obediência ao Estatuto desta casa é que apenas na data de hoje, o documento elaborado pelo nosso mestre e confrade começa a ser distribuído entre os acadêmicos. Logo, todos serão convocados para, em assembléia geral, livre e soberanamente, decidirem sobre os termos e a essência do documento que regrará nossos procedimentos.
Porque escrevemos somos imortais. Pertencer a um sodalício e não escrever é reduzir-se à condição de zumbi. Nas academias de letras não há espaço para os mortos-vivos da literatura. Escrever – e escrever sempre – é a primeira condição de qualquer acadêmico. E se a Academia Passo-Fundense de Letras está perto de completar justas sete décadas de proveitosa existência é porque a produtividade literária de nossos consócios marca a existência de nossa casa.
Graças à bonomia dos meus confrades estou presidente da Academia Passo-Fundense de Letras. Não sou presidente de mim mesmo. Detentor da Cadeira 23, cujo patrono é Gomercindo dos Reis, assento-me num dos quarenta lugares disponíveis nesta casa. Nem sabendo se sou maioria de mim mesmo, como poderei elevar-me à soberbia satânica de pretender impor minha vontade aos demais acadêmicos! Valorizo as decisões majoritárias, sejam das comissões, das reuniões públicas dos sábados ou das assembléias gerais que voltaremos a realizar.
Assim, todos nós, membros da Academia Passo-Fundense de Letras, solidária e igualitariamente, somos responsáveis pelo percurso que iniciamos nesta manhã. Tenho encontrado essa solidariedade em todos, a começar pelo vice-presidente, Alberto Antonio Rebonato; o secretário geral, Santo Claudino Verzeletti; a primeira secretária, Elisabeth Souza Ferreira, o segundo secretário, Marco Antonio Damian, o primeiro tesoureiro, Rogério Moraes Sikora, o segundo tesoureiro, Francisco Mello Garcia, e na presidente do Conselho Fiscal, Helena Rotta de Camargo.
Para encerrar, gloso Machado de Assis naquele discurso de 20 de julho de 1897. Está aberto o ano acadêmico.
(Discurso pronunciado pelo acadêmico Paulo Monteiro, presidente da Academia Passo-Fundense de Letras, na sessão solene de abertura do ano acadêmico, realizada no dia 15 de março de 2008)
Paulo Monteiro pertence a diversas entidades culturais do Brasil e do exterior. É autor de centenas de artigos e ensaios sobre temas culturais e literários. Endereço para correspondência e envio de livros para leitura e análise: Paulo Monteiro – Caixa Postal 462 – CEP: 99.001-970 – Passo Fundo – RS.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui