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Artigos-->MEU FILHO NÃO VAI À GUERRA -- 09/10/2001 - 19:25 (Lílian Maial) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




MEU FILHO NÃO VAI À GUERRA

Lílian Maial







Hoje me peguei olhando atentamente o meu menino.

Seu aniversário está próximo, ainda essa semana, no Dia da Criança.

Ele sempre se ressentiu da data, por conta dos brinquedos a menos que recebeu de presente.

Talvez nunca houvesse reparado na beleza da data e em seu significado.

Criança quer logo deixar de sê-lo, quer crescer, conhecer, explorar, definir, identificar.

Para depois querer voltar.



Mas voltando... olhava longamente o meu menino.

Em breves momentos, toda a sua vidinha, a minha vida, tudo vem à mente, como numa seqüência de slides. Tempos de colo, tempos de zangas, tempos de manhas, de aconchego, até o tempo de afastamento, quando seu corpo começou a mudar e ele, meio sem jeito, a me rejeitar os afagos. Tantas travessuras, tantas risadas, tantas memórias de alegria.



Alívio.

Meu menino é brasileiro.

Está aqui comigo, seguro, não é guerrilheiro.

Dorme em boa cama, come boa comida, em hora certa, não passa frio, nem medo, nem dor.

E, por conseguinte, eu sou feliz.

Ele está aqui.

Eu estou aqui, com as asas sempre prontas a abrigá-lo.



Ninguém veio armá-lo e levá-lo de mim.

Não há minas, não há ogivas, não há cansaço.

Não há feridas, não há balas, não há mortes.

Ele estuda, brinca, sonha.

Ele tem futuro, ao menos pensa que tem.



Meu menino não vai à guerra.

Não terá que lutar por paz.

Não terá que temer a vez.

Não terá que rezar a sós.

Não terá que perder a luz.

Não terá que saber o triz.



Meu menino não vai à guerra.

E eu me envergonho desse sentimento.

Sentir alívio.

É por acaso.

Podia ser aqui.

Podia ser o meu.

Podia ser o seu.



Meu menino não vai à guerra, mas outros meninos irão.

Pagarão por pecados que nem sabem a razão de cometê-los.

Brincarão de soldados num tabuleiro de xadrez com peças cruéis.

Jogarão videogame no campo inimigo, mas só com uma vida - a deles.

Derrubarão alvos humanos, de outros meninos, seus irmãos.



E eu não estarei lá para protegê-los.

E eu não darei abrigo.

E eu não afagarei seus cabelos.

Nem segurarei suas mãos no momento final.

Então, só me resta chorar por todos os meninos.



Rio de Janeiro, 08/10/01.



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