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Artigos-->Ressonâncias estóicas no Eterno Retorno nietzscheano 241103 -- 11/02/2005 - 13:44 (Rodrigo Moreira Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Rodrigo Moreira Martins 241103

Projeto de Pesquisa para Especialização de Filosofia Moderna na UEL





1- Título

Ressonâncias estóicas no Eterno Retorno nietzscheano



2- Resumo



A noção de Destino está presente tanto no estoicismo quanto no pensamento de Nietzsche; em virtude de o desenvolvimento contextual das duas correntes se darem em épocas que exigiam do Homem que nelas vivia, uma atitude de superação dos desafios cada vez mais duros, proporcionando, assim, o aparecimento do ideal do Sábio estóico e do Super Homem nietzscheano; Ou seja, o viver conforme a Natureza dos estóicos, metamorfoseou-se em o Eterno Retorno nitzscheano. Claro que com suas respectivas reverberações de sentido e situações vivenciais.



3- Palavras-chave



Nietzsche, Estoicismo; Eterno Retorno; Harmonia; Natureza-Destino



4- Introdução



As quatro grandes escolas filosóficas do Período Helenístico (1) foram a Academia e o Liceu, que já existiam no período anterior, e mais o Estoicismo e o Epicurismo, fundadas no final do século -IV. A "Escola Estóica", fundada por Zênon de Cítion em Atenas, durou cerca de 500 anos e grande foi a sua influência entre gregos e romanos. A doutrina estóica ajudou a moldar, por exemplo, o direito romano, pilar de muitas das doutrinas legais modernas.

O estoicismo é uma doutrina eclética, e incorpora muitos conceitos dos filósofos anteriores e contemporâneos: Heráclito, Platão e Aristóteles, os cínicos. Desde Zênon o estoicismo dividia a filosofia em três partes, como o epicurismo: lógica, física e ética. Tal como Sócrates havia ensinado, a virtude é o único bem e o homem virtuoso aquele que atingiu a felicidade através do conhecimento. O homem virtuoso encontra a felicidade dentro de si e é imune ao meio exterior, que conseguiu superar dominando-se a si, às suas paixões e emoções. O entendimento do Super Homem que Niezsche tem parte de um niilismo que deve ser superado , ou seja, a falta de sentido histórico que impera em sua época, pouco diferente no contexto estóico.

No que respeita à concepção estóica do universo como um todo, todas as coisas e todas as leis naturais ocorrem devido a uma determinação consciente da Razão do Mundo, que é fundamental. E é de acordo com esta ordem racional que, segundo o estoicismo, o homem sábio procura regular sua vida, como o seu mais alto dever.

A regulagem da vida, segundo a noção de interioridade estóica , se dá através de uma harmonia muito fina entre vida suportável e abstinência de vícios; esse “exercício” leva o Homem de sua época a superar-se a si mesmo; leva-o a viver conforme a Natureza, que é ter uma noção racional livre dos pressupostos adulativos que o contexto histórico impoê. Sendo assim, faz com que haja um querer o necessário apresentado pelo Destino, que só é possível de se inteligir quando já está presente a noção do sábio, que almeja a perfeição.



Nietzsche sabia que esse querer o que é necessário em cada acontecimento constitui o tema central do programa ético da filosofia do Pórtico, na máxima de ‘viver conforme a Natureza’. Nesse caso, quando, no aforismo 9 de Para Além do Bem e do Mal, o seu mais conhecido texto de crítica ao estoicismo, ele condena a máxima de Zenão, máxima que exprime justamente a absorção da Ética na Física como identidade entre a vontade humana e a necessidade natural, não poderemos então dizer que é consigo mesmo que Niezsche se enfrenta? Não estará Niezsche a atraiçoar o fundamental da sua ética da imanência no momento em que ridiculariza o ideal estóico de absorção integral da vontade humana no dinamismo cósmico de cada acontecimento?



São suspeitas que se encontram nos meandres textuais dos pensadores em questão. Queremos, justamente, precisar estas nossa suspeitas e assim contribuir para um maior esclarecimento da ética hodierna vigente.



5- Objetivos



Detectar quais as influências do estoicismo no pensamento nitzscheano do Eterno Retorno e suas possíveis relações com a noção de Destino presente nas duas correntes é nosso objetivo principal.

Contudo, para isso, temos que aprofundar conhecimentos nas áreas éticas das duas correntes de pensamento e verificar os seus desenvolvimentos chegando, enfim, à harmonia (desarmonia?) que resultou deste encontro de pensamentos.

Enfim, examinar as influências que esta hamonia moral tece e tem nas relações intersubjetivas, tanto em relação à amizade, quanto em relação à política, visto que são temas intimamente ligados às concepções religiosas e científicas que se desenvolveram a partir dos conceitos elaborados pelas duas correntes de pensamento.



6- Justificativa



A escola estóica foi fundada por Zenão de Cício (336-264 aC). O estoicismo grego propõe uma imagem do universo segundo a qual tudo o que é corpóreo é semelhante a um ser vivo, no qual existiria um sopro vital (pneuma), cuja tensão explicaria a junção e interdependência das partes. No seu conjunto, o universo seria igualmente um corpo vivo provido de um sopro ígneo (sua alma), que reteria as partes e garantiria a coesão do todo. Essa alma é identificada por Zenão como sendo a razão e, assim sendo, o mundo seria inteiramente racional. A Razão Universal ou Logos, penetra em tudo e comanda tudo, tendendo a eliminar todo tipo de irracionalidade, tanto na natureza, quanto na conduta humana, não havendo lugar no universo para o acaso ou a desordem. A racionalidade do processo cósmico se manifesta na idéia de ciclo, que os estóicos adotam e defendem com rigor.

Herdeiros do pensamento de Heráclito de Éfeso (séc. VI aC), os estóicos concebem a história do mundo como sendo feita por uma sucessão periódica de fases, culminando na absorção de todas as coisas pelo Logos, que é Fogo e Zeus. Completado um ciclo, começa tudo de novo: após a conflagração universal, O Eterno Retorno. Tudo o que existe é corpóreo e a própria razão identifica-se com algo material, o fogo. O incorpóreo reduz-se a meios inativos e impassíveis, como o espaço e o vazio; ou então àquilo que se pode pensar sobre as coisas, a idéia, mas não às próprias coisas. Nesse universo corpóreo e dirigido pelo fatalismo dos ciclos sempre idênticos, tudo existe e acontece segundo predeterminação rigorosa, porque racional. Governada pelo Logos, a natureza é por isso justa e divina e os estóicos identificam a virtude moral com o acordo profundo do homem consigo mesmo e, através disso, com a própria natureza, a qual é intrinsecamente razão.

Esse acordo consigo mesmo é o que Zenão chama "prudência" e dela decorrem todas as demais virtudes, como simples aspectos ou modalidades. As paixões são consideradas pelos estóicos como desobediências à razão e podem ser explicadas como resultantes de causas externas às raízes do próprio indivíduo; seriam, como já haviam mostrado os cínicos, devidas a hábitos de pensar adquiridos pela influência do meio e da educação. É necessário ao homem desfazer-se de tudo isso e seguir a natureza, ou seja, seguir a Deus e à razão Universal, aceitando o destino e conservando a serenidade em qualquer circunstância, mesmo na dor e na adversidade.

A visão estóica da natureza era tecnicamente materialista. O mundo é finito em extensão, e para agir ou ser objeto de ação, todas as coisas (objetos) existentes, mesmo um deus, a alma e qualidades abstratas como a bondade são dotadas de corpo. Os corpos são mais tênues ou mais sólidos conforme a noção que transmitem. A matéria total do mundo é infinitamente divisível e tudo preenche sem deixar vazios. As matérias mais finas e ativas são formadas de fogo e ar que misturados produzem um "espírito" ou "sopro ígneo" que nutre o mundo de dentro para fora. Assim, o mundo é produto de um princípio ativo que permeia o mundo físico e dele faz parte, que modelou e modela os elementos materiais passivos para formarem o mundo ordenado de objetos separados, porém organicamente conectados entre si e mutuamente influentes. Deus não é extenso, faz parte do mundo que modelou, e foi um artífice competente, pois há ordem e desígnio nos aspectos significativos da realidade (o mundo é um cosmos).



Em que sentido esse “cósmos” pode ser compreendido como o pensamento de Nietzsche acerca do historicismo enraizado na cultura? Vejamos:



‘... e vi os homens sumirem numa grande tristeza. Os melhores cansaram-se das suas obreas. Proclamou-se uma doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é oco, tudo é igual, tudo passou!’ ‘É verdade que temos colhido; mas porque apodreceram e enegreceram os nossos frutos? Que foi que na última noite caiu da má lua? O nosso trabalho foi inútil; o nosso vinho tornou-se veneno; o mau olhado amareleceu-nos os campos e os corações. [...] Todas as fontes secaram para nós, e o mar retirou-se. Todos os solos se querem abrir, mas os abismos não nos querem tragar! ‘oh! Aonde haverá ainda um mar em que uma pessoa se possa afogar?’ [...] Como me hei de haver para o atravessar salvando a minha luz? [...] Sonhei que renunciara à vida. [...]Patrocinador da vida és tu! (AFZ - O Adivinho p. 110, 113.)



Se para Nietzsche, o niilismo é a forma pela qual ele interpreta a história, nada melhor que seu Zaratustra para falar-nos acerca deste sentimento de sentido nadificante. Explico-me melhor: é o nada que se coloca como sentido, isto é o niilismo. A cultura que se atropelava com as vicissitudes da era industrial mediada pela velha e arraigada metafísica, já estava tornando os homens totalmente cegos e desesperadamente mórbidos em relação à vida. A falta de leitura da realidade tornara a plebe – e os intelectuais – sem um topos norteador para dar sentido à história e, conseqüentemente, à cultura. Nietzsche se apresenta como um afirmador da vida, alguém que obra rumo ao super-homem, ou seja, um ser vivente superador do sentido baseado no nada vigente na época. Faltam as metas, visto ser a metafísica um grande e inócuo balão de vento. Falou Nietzsche: Deus morreu! (GC §125) Com este anúncio pretende dar à luz o super-homem, que seria capaz de perceber que os valores apresentados pela época moderna estavam vazios, que seus universais eram ilusórios, que não serviam para a vida, que Tudo é oco.

Ora, temos em Nietzsche o sentido para uma nova visão de mundo, contrária ao niilismo, que se apóia no nada para dar sentido à vida. Tem-se a afirmação da vida como sentido; não uma vida com sentido último, mas vida que deve ser buscada e superada conforme a vontade de poder que é inerente ao homem. Vontade que encontra no tempo um aliado seguro para a caminhada, visto designar que a vida é destituída de sentido além de si mesma.



Enfim, vemos que a noção de Eterno Retorno é presente nas duas correntes e que a harmonia entre a vida externa e interna é pressuposto para a ética das duas. Ora, há muito que pesquisar neste terreno que se mostra muito fértil e atual.



7- Metodologia



A presente metodologia quer ser um instrumento para o estudo cientifico do ambiente estóico e nitzscheano. Uma das suas principais características é a tentativa de estabelecer, com base num modelo de teoria do texto e em considerações hermenêuticas sobre o ato de ler, uma relação entre os vários métodos existentes, ou seja, o histórico-crítico, o comparativo e o bibliográfico-teórico.

Justificamos agora a sucessão metodológica adotada e a divisão do trabalho a ser desenvolvido.

* Pesquisa bibliográfica – material para pesquisa e desenvolvimento do estudo;

* Estudo contextual do estoicismo;

* Estudo conceitual do pensamento de Nietzsche.



Também é necessário apontar o método implícito em nossa pesquisa que é o da reconstrução:

- compreender o autor;

- verificar os problemas que ele propõe;

- verificar as soluções que ele propõe;

- pensar novas soluções à luz do contexto contemporâneo.



Sendo assim, pretendemos, ainda que modestamente, reconstruir o pensamento estóico relacionando-o com o de Nietzsche, atualizando-o para a nossa situação contemporânea, levando em conta que o problema da harmonia é também um tema ético atual, visto que as convergências de opiniões ainda se fazem necessárias em nosso tempo, mesmo que seja a de um Super Homem, e que as diversas correntes de pensamento carecem de orientação profícua para a vivência da humanidade.



8- Plano de Trabalho (em desenvolvimento)



a. Definições e influências

b. Física estóica

b.1 O conceito de Destino

b.2 O conceito de Eterno Retorno

b.2 A harmonia

c. Niilismo

d. Ética estóica, suas relações com a física

e. Moral nietzscheana frente à física e à ética dos estóicos

f. Ressonâncias estóicas em Nietzsche





















9- Bibliografia



NABAIS, Nuno. Metafísica do Trágico: estudos sobre Nietzsche. Lisboa: Relógio D’água, 1997.

BRÉHIER, Émile. História da Filosofia. Tomo II, São Paulo: Mestre Jou, 1978.

BRUN, Jean. O Estoicismo. Lisboa: Edições 70, 1986.

BULTMANN, Rudolf. Il Cristianesimo Primitivo. Milano-Itália: Garzanti, 1964.

NIETZSCHE. Além do Bem e do Mal. Trad. Márcio Pugliesi. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.

___________. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Ed. Abril, 1978.

___________. Ecce Homo. São Paulo: Ed. Brasil, 1959.

___________. El Anticristo. Buenos Aires: TOR, 1943.

___________. Assim Falou Zaratustra. São Paulo: Suzano, s/d.

DURANT, Will. A História da Civilização III: história da civilização romana e do cristianismo até o ano 325. São Paulo: Record, 1999.

EGGER, Wilhelm. Metodologia do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 1994.

GAZOLLA, Rachel. O Ofício do Filósofo Estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, São Paulo: Loyola, 1999.

HEGEL, G.W.F. Princípios da filosofia do direito. Martins Fontes: São Paulo, 1997.

JULIÃO, José Nicolau. Niezsche e o pensamento da história. Londrina: UEL, 2003. (Apostila de curso realizado pelo depto de Filosofia da UEL sob coordenação geral da Profª Ana Thereza M.C. Dürmaier)

LARA, Tiago Adão. Caminhos da Razão no Ocidente: A filosofia nas suas origens gregas. Petrópolis: Vozes, 1992.

NETO, Joaquim José de Moraes. Estóicos: a teoria do conhecimento. Londrina, 2000 (texto não publicado)

PLUTARCO. Como distinguir o bajulador do amigo. Tradução de Célia Gambini. São Paulo: Scrinium, 1997.

SALOMON, Décio Vieira. Como fazer uma Monografia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

SÊNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílius. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1991.

________, Cartas Consolatórias: A Márcia; A Hélvia; A Políbio. Campinas: Pontes, 1992.

________, Consolação a minha mãe Hélvia; Da tranqüilidade da alma; Medeia; Apocoloquintose do divino Cláudio. São Paulo: Abril, 1973 (Coleção: Os Pensadores).

VERNANT, Jean-Pierre; NAQUET, Pierre Vidal. Mito e Tragedia na Grécia Antiga, vol II. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1991.

http://www.warj.med.br/txt/estoicos.asp GA 0121 :: O estoicismo [I]Grécia Antiga, 23/03/03



http://sites.uol.com.br/gballone/hlp/seneca.html Ballone GJ - Sêneca, in. PsiqWeb - Psiquiatria Geral - Geraldo J. Ballone, Internet, 10/08/01.



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