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Artigos-->OEIRAS É ASSIM -- 10/02/2005 - 16:43 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OEIRAS É ASSIM





Francisco Miguel de Moura *



Oeiras é assim, mas Gutemberg Rocha é muito mais assim.

Um título tão simples, um poeta tão simples e já com bastante porte.

Mas não nos espantemos com sua simplicidade, com esse coloquialismo, com suas repetições, com as recorrências tão constantes ao amor, ao seu amor. Aliás, na lírica de Gutemberg Rocha avultam os poemas de amor à amada e outros de amor à terra berço, Oeiras, que lhe ganhou o título.

Lembro que numa das nossas reuniões, nesta Academia, eu disse uma frase que quero cunhá-la, agora, nas duas formas – a escrita e a falada: – só não ama sua terra quem não ama a si próprio. Não há dúvidas de que Gutemberg gosta da sua terra.

Nascido em 7 de janeiro de 1957, filho de Osvaldo Nascimento Rocha e Edith Cavalcante Rocha, foi ele um dos fundadores do jornal “O Vírus”, que circulou na velha capital piauiense, nos idos de 1977 e 1978. É sócio do Instituo Histórico de Oeiras, tendo publicado muitos trabalhos em sua conhecida e tradicional revista. Publicou em vários órgãos de imprensa do Piauí, entre os quais os “Cadernos de Teresina” e o “Estado do Piauí”, participou também do livro “Crônicas de Sempre” e “Dicionário Biográfico de Escritores Piauienses”, ambos organizados por Adrião Neto, e ainda no livro “Oeiras, Geografia Urbana”, do escritor Antônio Reinado Soares Filho, o Soarinho. Bancário do Banco do Brasil, atualmente em exercício na Agência do Setor Público de Teresina e ex-funcionário do Banco do Estado do Piauí.

Mas não é bem esta biografia que quero levantar do meu apresentando, neste lançamento. Interessa-me, e creio que a toda a platéia, sua biografia sentimental e lírica, vale dizer amorosa, sua fé, seus pensamentos, sua poesia, o que nela está e o que ficou nas entrelinhas. Católico praticante, casado com D. Gardênia Maria Gomes de Amorim Cavalcante, com toda certeza sua musa, com quem tem dois filhos Fernão Capelo e Joana Edith, diz-se “feliz por ser o que é, por ter o que tem e pelas vitórias que hão de vir. E, acima de tudo, por se considerar uma pessoa abençoada por Deus, de quem tem recebido mais do que merece”.Modesto, paciente, ordeiro, trabalhador, dedicado ao que bem lhe interessa, inclusive à poesia, há muitos anos. E apaixonado. Embora seja este livro sua obra de estréia, não é de forma alguma um novíssimo amante das musas. A demora em publicar provém das dificuldades de quem nasce no interior do Estado, onde as coisas são muito difíceis, mesmo tratando-se de Oeiras, a capital da música e tradição das artes do Piauí.

Pela oportunidade do assunto, deixem-me citar um trecho do “Jornal Literário” de Ascendino Leite, o volume mais recente a que deu o título de “As Pessoas”, editado em João Pessoa – PB. Trata-se da arte de escrever, o modo ser do escritor, o que, dito por um mestre como ele, vale para todos nós:

“Escrevo e me descubro.

É nisto que sou livre. Tenho da liberdade aquela concepção de que a maior será a do homem em sua prisão – o homem só, com os seus pensamentos. Em si mesmo e na sua horta.

Não o encarceram nas prisões vulgares porque ele sempre estará livre. É o clamor silencioso que vem de longe, do fundo da história, rompendo o círculo de ferro da opressão: a da intolerância e a do opróbrio.”

Quem escreve se descobre, sim. É como quem fala.

E é pela poesia de “Oeiras é Assim”, de Gutemberg Rocha que vamos senti-lo na sua intimidade, na sua espiritualidade.

Poderia dizer que, na sua simplicidade, ele tece versos bem ritmados, musicais até, sem preocupação de rima, mas usando-a quando acha conveniente ou inevitável. Concordo com Elmar Carvalho, seu prefaciador, quando afirma que há pelo menos dois tipos de beleza: “aquela sofisticada, trabalhosa, detalhista, como das rosas vermelhas, cujas pétalas graciosas como que nascem umas das outras, como que quase se enroscam umas nas outras, na tessitura e no lavor de um quase labirinto cheio de mistério e encantamento”. E Elmar Carvalho descreve a seguir “que há a beleza singela de certas flores do campo, cujas pétalas logo se expõem, embora guardando um certo recato e mistério, de quem não deseja se mostrar à primeira vista em completa nudez, de quem se entremostra para futuro e gradual e tímido desnudamento. Os versos de Gutemberg são simples, diretos, sem ornamentos mirabolantes e excessivos, como as belas e discretas flores do campo. Não exigem hercúleos esforços interpretativos, somente acessíveis aos doutos e exegetas”.

Reconhece o poeta Elmar Carvalho que Gutemberg “sabe manejar de forma sábia e parcimoniosa os recursos estilísticos, porquanto, em seus textos são encontradas aliterações, coliterações, metáforas e outras figuras”.

Pois é isto mesmo. Se suas metáforas ainda não são tão ousadas, isto não indica serem destituídas de alguma beleza. Nada disto. Valem muito pelo ritmo, pela repetição, pela sonoridade, pelo inusitado da forma, pela profundidade como imprime suas mensagens, aqui e acolá usando de formas que dizem do seu modo de ser, dos seus pensamentos mais íntimos, do sentir e do amar. Toda arte é impregnada de amor e morte. Se tudo corre às mil maravilhas, então para que escrever? E é aí que o poeta deve usar toda sua liberdade, como diz Ascendino Leite. Gutemberg é um enamorado das palavras, basta ler o seu primeiro poema “Palavras retidas”: “um solo ecoa / de dentro para dentro de mim / dizendo mil palavras sem sentido / sobre mil coisas que sinto”.Não vou recitar o poema todo, pra não tirar o gosto de quem var ler. Mas é um verdadeiro poema, coisa de poeta mesmo, só precisa ousar mais. Vale por um livro inteiro. Bastar-nos-ia esse poema para que o leitor se pagasse. É um poema revelador, muito mais do que outros do livro, quando se derrama em afirmar seus amores, ou se dispersa na crítica às mazelas sociais do nosso mundo.

“Lutar com as palavras / É a luta mais vã / No entanto lutamos / Mal rompe a manhã”.

É bom citar Drummond. Sentimos por ai, que o poeta é um enamorado das palavras. E promete, doravante, ser um cirurgião das palavras, um médico, aliando a ciência à música, pois que seus versos realmente são musicais.

Não pretendo, hoje e aqui, entrar numa polêmica talvez desejada por meus colegas Acadêmicos, a de que letra de música não é propriamente poesia. Poesia é aquela que é feita para ser lida silenciosamente, sem ruído. Ela vem de dentro e volta para dentro. Pode haver poema que se adapte a uma música e vice-versa, mas são coisas diferentes. A primeira das artes, em importância, reconhecem os doutos, é a música; mas, a segunda é a poesia. Preservemos, pois, suas identidades.

Esse problema só vem à baila porque preciso fazer uma pequena recomendação aos poetas que estão construindo sua obra, como Gutemberg – pois outros livros virão: Que não se mirem muito nas letras da música popular. Os versos cantados correm o risco de serem repetidos em nossa poesia. Certamente, eles ou são ou se tornam, em razão de sua popularidade, lugares comuns. E a verdadeira poesia despreza os lugares comuns, venham de onde quer que venham. A poesia é o lugar da criação, da originalidade. Quanto mais, melhor. Poema originalíssimo de Gutemberg é o citado “Palavras retidas”. E citaria mais “A voz do silêncio”, e mais algumas experiências de poemas curtos como “Mel”, “Só isso”, “Etc. e tal”, “Anagrama ecológico”, ou imagens como “eu sou apenas um verso / lambuzado de paixão”, do poema “Anjo da guarda”.

Assim, Oeiras, Teresina, a poesia, o autor e os leitores estão todos de parabéns, reconhecidamente, por este fruto decente, saudável, gostoso, “Oeiras é Assim”, nascido do coração e da mente do Autor e onde a ave da bela dicção, do belo canto pousa, não obstante a utopia decantada em seus últimos versos.

Teresina, 18/11/2004

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*Escritor, Acadêmico da APL e Membro do Conselho Estadual de Cultura do Piauí.

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