Usina de Letras
Usina de Letras
149 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62178 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50582)

Humor (20028)

Infantil (5425)

Infanto Juvenil (4757)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6183)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Venezuela x Colombia -- 26/01/2005 - 22:23 (Vitor Gomes Pinto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
VENEZUELA X COLÔMBIA(*)

Vitor Gomes Pinto

Especialista em relações internacionais

Autor de Guerra nos Andes





Quem mais se candidata a servir de mediador para a atual crise entre Colômbia e Venezuela, ocasionada pela prisão do “chanceler” das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas, as FARC, em plena Caracas? O supraministro brasileiro de Relações Exteriores, Marco Aurélio Garcia, foi oferecer os bons ofícios brasileiros logo depois das conversas de Lula com os presidentes dos dois países. Antes dele a turma do deixa-disso já incluíra o chanceler peruano Manuel Rodríguez e o presidente chileno Ricardo Lagos, entre outros. Os venezuelanos ouvem a todos, divulgam as posições que lhes são favoráveis e dizem que preferem prosseguir nas conversações bilaterais. Dos Estados Unidos, Bush já declarou estar inteiramente de acordo com a atitude do governo de Uribe que, como ele, agora se dedica a perseguir guerrilheiros onde quer que estejam.

Dia 13 de dezembro último Ricardo González, conhecido como Rodrigo Granda, porta-voz das FARC, dava tranqüila entrevista, no bar da Clínica Razzetti em Caracas, a um jornalista do Le Monde Diplomatique quando seu celular tocou. Ao atender, na calçada, foi recebido por 16 homens da polícia secreta venezuelana que o levaram e entregaram à polícia colombiana na cidade fronteiriça de Cúcuta, recebendo a recompensa (de 350 mil dólares segundo a rádio “La W” de Bogotá) paga pelo governo de Uribe e causando um sério incidente diplomático. Granda, compadre de Raul Reyes, o número 2 das FARC, vivia na Venezuela, tinha passaporte desse país e até votou nas últimas eleições; circulava comumente pela região, inclusive no Brasil, com várias identidades falsas e 4 dias antes, depois de encontrar-se com os Prêmios Nobel José Saramago e Adolfo Pérez Esquivel, falara no Congresso Bolivariano em Caracas,. Uribe, com total apoio de Bush, sente-se no direito de perseguir seus terroristas em outros países e, inspirando-se nos exemplos do Mossad israelense que capturou Adolf Eichmann em Buenos Aires e nos agentes turcos que tiraram o curdo Abdullah Ocaran da embaixada grega de Nairobi, prendeu Simon Trinidad no Equador há um ano e agora atacou na capital venezuelana. É a lei da selva no cenário internacional, onde vale tudo para quem tem a força.

A justos 93 quilômetros de Caracas, nos aprazíveis condomínios de Las Mercedes de Tasajera no município de La Victoria, estado de Aragua, toda a vizinhança conhecia Granda a quem chamavam de “o colombiano”. Na casa verde e amarela ao sopé da Cordilheira da Costa, Granda vivia com a mulher Mônica, o sobrinho Camilo e um que seria seu irmão. Ninguém diria que o pacato e afável estrangeiro, com seus cerca de 50 anos, óculos de professor, cabelos curtos bem desenhados, na verdade se tratava de um perigoso guerrilheiro. Costumava ouvir seus interlocutores, até mesmo os generais e executivos que vinham desfrutar suas casas de fim de semana, mas nada dizia de si próprio e de seu trabalho.

Fala-se em ponta de iceberg, na certeza de que há muitos outros membros das FARC e do Exército de Liberação Nacional (ELN) residindo regularmente na Venezuela, sob clara aquiescência de Hugo Chávez. Num caso recente, em 2002, após vários meses escondido, Vladimiro Montesinos – o segundo do ditador peruano Alberto Fujimori – foi capturado sem luta num bairro operário de Caracas, ao lado do Palácio do Governo. Três dias antes Chávez encontrou o presidente peruano Alejandro Toledo e lhe disse: “Cholo, vou dar-te um presente”. Nos países latino-americanos, é comum o trânsito de políticos mais ou menos radicais que se opõem aos governos de plantão. O rígido e militarista Álvaro Uribe conta com apoio norte-americano tão irrestrito quanto o é a antipatia da vizinhança castelhana. Ninguém se surpreende ao saber, por exemplo, que Ovídio Salinas, “o embaixador” e provável sucessor de Granda, tenha escritório no México e negócios no Panamá, onde é caçado pela cada vez mais ativa polícia secreta de Uribe.

Chávez está fazendo muito barulho, cortou relações comerciais com a Colômbia e exige um pedido formal de desculpas. Os candidatos a mediadores se movimentam afobados, mas sabem que logo os ânimos serão apaziguados e o oleoduto que leva o petróleo do lago Maracaibo para ser exportado pelos portos colombianos do Pacífico continuará a ser construído. Os incidentes futuros, no entanto, estarão sob os olhares pouco complacentes de Condoleezza Rice no Departamento de Estado, prenunciando uma radicalização nos cenários andino e sul-americano que deixarão cada vez menos espaço para quem ainda pretende permanecer em cima do muro.

(*): Um parágrafo deste texto já foi publicado no artigo "A Ancinav Venezuelana" do mesmo Autor.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui