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Artigos-->Vergílio Ferreira -- 15/01/2005 - 14:09 (elvira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Gostaria de dar a conhecer, ou se já conhecem este vulto da Literatura portuguesa, incentivar à leitura dos textos (escritos)deste grandioso escritor.Pela sua palavra aprendemos a ser leitores competentes e escreventes de igual teor.Deixo-vos algumas linhas que poderão ser dissecadas pela vossa curiosidade:



Vergílio Ferreira (1916-1996) nasceu em Melo, Serra da Estrela, e faleceu em Lisboa. Frequentou o Seminário do Fundão (1926-1932) e licenciou-se em Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (1940). A par do trabalho de escrita, foi professor de Português e de Latim em várias escolas do país. Inicialmente neo-realista, depressa Vergílio Ferreira se deixou influenciar pelos existencialistas franceses (André Malraux e Jean-Paul Sartre), iniciando um caminho próprio a partir do romance Mudança (1949). É considerado um dos mais importantes romancistas portugueses do século XX, tendo ganho vários prémios, entre eles o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (ganho duas vezes, primeiro com o romance Até ao Fim e depois com o romance Na tua Face), e o Prémio Femina na França com o romance Manhã Submersa.



Obras:



FICÇÃO: O Caminho Fica Longe (1943), Onde Tudo Vai Morrendo (1944), Vagão J (1946), Mudança (1949), A Face Sangrenta (1953), Manhã Submersa (1953), Apelo da Noite (1963), Aparição (1959), Cântico Final (1960), Estrela Polar (1962), Alegria Breve (1965), Nítido Nulo (1971), Apenas Homens (1972), Rápida, a Sombra (1974), Contos (1976), Signo Sinal (1979), Para Sempre (1983), Uma Esplanada sobre o Mar (1986), Até ao Fim (1987), Em Nome da Terra (1990), Na tua Face (1993), Cartas a Sandra (1996).



ENSAIO: Sobre o Humorismo de Eça de Queirós (1943), Do Mundo Original (1957), Carta ao Futuro (1958), Da Fenomenologia a Sartre (1963), Interrogação ao Destino, Malraux (1963), Espaço do Invisível I (1965), Invocação ao meu Corpo (1969), Espaço do Invisível II (1976), Espaço do Invisível III (1977), Um Escritor Apresenta-se (1981), Espaço do Invisível IV (1987)



DIÁRIO: Conta-Corrente I (1980), Conta-Corrente II (1981), Conta-Corrente III (1983), Conta-Corrente IV (1986), Conta-Corrente V (1987), Pensar (1992), Conta-Corrente I - Nova Série (1993), Conta-Corrente II - Nova Série (1993), Conta-Corrente III - Nova Série (1994), Pensar (1992), Conta-Corrente I - Nova Série (1993), Conta-Corrente II - Nova Série (1993), Conta-Corrente IV - Nova Série (1994).



Recensão a propósito do romance "Em Nome da Terra"

O romance Em Nome da Terra de Virgílio Ferreira é um poema ao corpo. Corpo deformado, envelhecido pelo tempo, corpo belo da juventude, corpo eterno.



João, o protagonista viúvo, reformado e carcomido pela idade, recolhe-se a uma casa de repouso para não ser um peso à família e à sociedade. À filha Márcia deixara-lhe tudo: a casa, os móveis, os livros. Consigo levou apenas a memória, um Cristo mutilado, um desenho de Dürer, uma estampa a cores de um fresco de Pompeia associados em tríptico, e um concerto para oboé de Mozart.



Os quatro motivos materiais são aquilo que designaremos por símbolos, os símbolos deste romance. É com eles e por eles que João vai tecer analogias relativas ao corpo, à morte, ao esplendor e à beleza. São uma das linhas orientadoras da reflexão do narrador ao longo de toda a diegese, já que tinha esses objectos no seu quarto do lar e em todas as horas se defrontava com eles.



O Cristo trouxera-o da aldeia, após a morte da mãe: «Já não tem cruz, O Cristo, como sabes, nem um bocado do pé esquerdo. (...) É belo como a luz e o jogo das sombras que lhe retira o que há nele de táctil, de objecto, de imediato e o prolonga no tempo, lhe dá uma ressonância mística». No capítulo VII, o narrador dirige-se-lhe pessoalmente, sendo a única vez que o «tu» de Mónica é transposto para o «tu» do Cristo.



A identificação de si próprio com o sofrimento, a mutilação e a solitude do crucificado é manifesta: «Comovo-me como é devido ao ver-te aí chagado e dependurado. Mas é preciso olhar-me aí, ver-me aí metido no teu corpo». «É só aí que me interessas. Na lástima desse teu corpo. Na amargura da solidão. Como te devias sentir só. É só aí que te entendo para me entender a mim. Só na dor absoluta de um homem sem divindade nenhuma». «Trouxe-te da aldeia sem cruz, para que querias tu a cruz? Estás melhor assim. E vê tu que sem ela, vejo nos teus braços abertos um grande abraço».



O fresco de Pompeia, que representa a deusa flora ou a Primavera, o narrador compara-o à sua esposa Mónica, quando a beleza raiava no seu corpo: «Agora quero olhar-te no fresco de Pompeia. (...) Vê a face. (...) Olho-a infinitamente para tu lá estares e ouço-te rir porque não estarias nunca. Fito-o e filtro-o para ficar comigo o seu impossível até à morte».



Apesar de Vergílio Ferreira não ser muito propenso a descrições de ordem decorativa, dá-nos no capítulo XIII uma configuração exacta do maravilhoso fresco do século I encontrado em Estábias e guardado presentemente no Museu Nacional de Nápoles.



A perfazer o tríptico, temos o desenho de Dürer. «É um desenho macabro que me fez quase sorrir. É de Dürer, minha querida, a Morte coroada e a cavalo. (...) É um esqueleto curvado com a sua gadanha ceifeira sobre um cavalo esquelético com um chocalho. (...) É a figuração mais ridícula da morte, foi talvez por isso que o pus aqui dentro».



A disposição das três imagens no quarto do lar está segundo uma medida: Cristo no centro, a um lado o fresco de Pompeia e a outro o desenho de Dürer. E é através desta disposição espacial que o narrador, abstraindo, vai consignar-se a eles. João, identificando-se com o Cristo mutilado, está perante a beleza aérea, divina de um corpo, o da deusa Flora que ele sublima até à esposa Mónica, e perante o espectro da morte, sempre a espreitar, à espera, consignado no desenho de Dürer. Mas a morte não é o limite. Porque a vida não acaba na morte, «acaba sempre mais cedo». O limite está no tomar consciência de que se é eterno. «Só vale a pena na vida o que for contra a morte».



O último símbolo referenciado é o concerto para oboé de Mozart, mais correctamente designado por «concerto para oboé e orquestra KV 314 (285d)». Em Nome da Terra tem como fundo essa música, como num filme, que o atravessa e lhe dá o ritmo, a ambiência criada pelo timbre áspero e roufenho do oboé. A melodia proclama o nome de Mónica: «Vou talvez ouvir de novo o teu nome no concerto de Mozart para oboé. (...) Vou ouvir em paz o amor do teu nome».



Mónica é o próprio oboé no seu corpo elástico e perfeito: «Meto a cassete no gravador. Que humilde o oboé». «Primeiro o oboé entra muito tímido, encolhido e em bicos de pé, na grande massa orquestral. Depois a orquestra põe-se a olhar para ele – donde veio este miúdo? (...) e o oboé sozinho longamente, como ele brinca, dança, vejo-te, vejo-te. No espaço da Sé, no ginásio».



Como um pretexto, a melodia remete a memória para o esplendor desaparecido do corpo jovem de Mónica. O oboé é a esposa nas barras do ginásio a saltar, a subir, em movimentos sublimes e delicados. In lato sensu, podemos dizer que as recordações de João refluem como um solo calmo e frágil de um oboé.

José Leon Machado, 1991





Post scriptum:

Aconselho a leitura das obras "Aparição","Manhã Submersa"(alunos15-17) e adultos, claro!Para alunos que circundem a faixa dos 12-14 "A Estrela".

Bom Trabalho!

Elvira:)



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