Em que sentido o niilismo pode ser compreendido como o pensamento de Nietzsche acerca do historicismo enraizado na cultura?
‘... e vi os homens sumirem numa grande tristeza. Os melhores cansaram-se das suas obras. Proclamou-se uma doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é oco, tudo é igual, tudo passou!’ ‘É verdade que temos colhido; mas porque apodreceram e enegreceram os nossos frutos? Que foi que na última noite caiu da má lua? O nosso trabalho foi inútil; o nosso vinho tornou-se veneno; o mau olhado amareleceu-nos os campos e os corações. [...] Todas as fontes secaram para nós, e o mar retirou-se. Todos os solos se querem abrir, mas os abismos não nos querem tragar! ‘oh! Aonde haverá ainda um mar em que uma pessoa se possa afogar?’ [...] Como me hei de haver para o atravessar salvando a minha luz? [...] Sonhei que renunciara à vida. [...]Patrocinador da vida és tu! (AFZ - O Adivinho p. 110, 113.)
Se para Nietzsche, o niilismo é a forma pela qual ele interpreta a história, nada melhor que seu Zaratustra para falar-nos acerca deste sentimento de sentido nadificante. Explico-me melhor: é o nada que se coloca como sentido, isto é o niilismo. A cultura que se atropelava com as vicissitudes da era industrial mediada pela velha e arraigada metafísica, já estava tornando os homens totalmente cegos e desesperadamente mórbidos em relação à vida. A falta de leitura da realidade tornara a plebe – e os intelectuais – sem um topos norteador para dar sentido à história e, conseqüentemente, à cultura. Nietzsche se apresenta como um afirmador da vida, alguém que obra rumo ao super-homem, ou seja, um ser vivente superador do sentido baseado no nada vigente na época. Faltam as metas, visto ser a metafísica um grande e inócuo balão de vento. Falou Nietzsche: Deus morreu! (GC §125) Com este anúncio pretende dar à luz o super-homem, que seria capaz de perceber que os valores apresentados pela época moderna estavam vazios, que seus universais eram ilusórios, que não serviam para a vida, que Tudo é oco.
Concluindo, temos em Nietzsche o sentido para uma nova visão de mundo, contrária ao niilismo, que se apóia no nada para dar sentido à vida. Tem-se a afirmação da vida como sentido; não uma vida com sentido último, mas vida que deve ser buscada e superada conforme a vontade de poder que é inerente ao homem. Vontade que encontra no tempo um aliado seguro para a caminhada, visto designar que a vida é destituída de sentido além de si mesma.