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Artigos-->O Homem em Nietzsche 11/2000 -- 31/12/2004 - 21:53 (Rodrigo Moreira Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aluno: Rodrigo M.Martins



O Homem em Nietzsche



1. Uma razoável introdução e contextualização faremos a seguir, dando alguns dados sobre o filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900) . Filho e neto de pastores luteranos, Nietzsche nasceu em Röcken, na Saxônia. Recebeu na infância uma educação protestante tanto em casa, com a família, como no colégio de Pforta, famoso pela sua tradição humanista e luterana, onde haviam estudado o poeta Novalis e o filósofo Fichte. Logo teve contato com os estudos de línguas, principalmente o grego e o latim, e com a exegese da Bíblia. Nesta época, Nietzsche começou a se interessar imensamente pelas leituras de poesia e filosofia, tanto com as obras dos gregos, principalmente Ésquilo e Platão, como com as de Schiller, Hölderlin e Byron. Após esta primeira formação básica, foi em 1864 estudar Teologia em Bonn, onde conheceu o professor F. Ritschl, que o encaminhou ao estudo de Filologia Clássica. Após um ano de estudo em Bonn, Nietzsche decidiu dedicar-se exclusivamente à filologia, transferindo-se para Leipzig, cidade em que lecionava seu mestre. Através não só da visão peculiar que Ritschl tinha da filologia, considerando-a não apenas como uma história das formas literárias, mas como o estudo das instituições e do pensamento, mas também das influências da filosofia de Schopenhauer, dos estudos com Erwin Rohde e Jakob Burckhart, e da música de Wagner, Nietzsche, com originais interpretações acerca de Diógenes Laércio, Hesíodo e Homero, logo se destacou entre os alunos, vindo a ser nomeado professor de Filologia Clássica na Universidade de Basiléia em 1869, cargo que ocupou ativamente por dez anos, até o ano de 1879, quando pediu demissão. Muitos autores consideram este o primeiro período do pensamento de Nietzsche (até o ano de 1879), em que escreveu, entre outras, as obras: O nascimento da tragédia; A filosofia na época trágica dos gregos e Considerações intempestivas.











Nietzsche iniciou um novo período de seu pensamento com grandes transformações. Após sua saída de Basiléia, rompeu suas relações de amizade com Wagner e afastou-se da filosofia de Schopenhauer, considerando estas duas personalidades autênticos representantes do pessimismo alemão, cujas obras são manifestações de decadência e de negação da vida. Iniciou então um período de solidão e vida errante. Vagou pela Sicília, Rapallo, Nice, Turim, Veneza, Gênova, Roma e, principalmente, em Sils-Maria, na Haute-Engadine, Suíça, em busca de sossego, para a efervescência de seu pensamento, e clima ameno, para a sua precária saúde. O que é considerado como segundo período do pensamento de Nietzsche corresponde às obras: O andarilho e sua sombra; Humano demasiado Humano; Aurora e A Gaia Ciência.

O terceiro período de seu pensamento vai, desde a revelação de sua concepção fundamental, a vontade de poder e o eterno-retorno, até 1889, ano em que Nietzsche sucumbiu na loucura. As obras mais importantes deste período são: A gaia ciência; Assim falou Zaratustra; Para além do bem e do mal; Genealogia da moral; Crepúsculo dos ídolos; Ecce Homo; e A vontade de poder, obra inacabada que só foi publicada após a sua morte. Nietzsche morreu em Weimar, a 25 de agosto de 1900.



2. Nossa reflexão acerca do Homem em Nietzsche se situará no terceiro período de seu pensamento, onde sua obra: “Genealogia da Moral – Uma Polêmica”, se apresenta. Por termos estudado mais a segunda dissertação deste escrito, faremos alusão ao homem que nos é apresentado ali. Também se faz necessário dizer que estaremos utilizando, como método auxiliar, o método literário para (método exegético para dados sócio-históricos) nos aprofundar no texto, além do já estudado nas oficinas de metodologia filosófica.



3. Estudando a segunda dissertação da Genealogia da Moral, pretendemos averiguar mais de perto o texto a que este autor se propõe. Suas idéias sobre a moral, como ela se desenvolveu e como os pensadores de sua época a delineavam é o objetivo de crítica nesta pequena parte de reflexão. Além de extrair os elementos que comprometem o homem neste abordagem, pois entendemos que o autor trata de temas concêntricos relativos aos problemas do ser humano, tendo Nietzsche vivido numa época onde o humanismo era ainda de grande força.

Ao longo do desenvolvimento, estaremos citando e dissertando acerca dos objetivos propostos: tema; problema e tese. Tentando com isso, aproximarmo-nos das idéias que o texto nos apresenta e relaciona-la com o homem.



Nietzsche era um grande crítico de sua época. Seus contemporâneos o subestimaram, no entanto, ele fez de sua filosofia, uma filosofia sadia , diferente da adoecida leitura da geração a que ele fazia parte, na qual ele contesta e grita aos séculos sua extemporaneidade.



O tema se situa em “meus pensamentos sobre a origem de nossos preconceitos morais – tal é o tema deste escrito polemico [...]” (Prólogo § 2, G.M.) e “[...] diz respeito à moral [...], questão de onde se originam verdadeiramente nosso bem e nosso mal.” (Prólogo §3, G.M.)

Podemos perceber que o maior interesse do autor nesta parte da obra é justamente a questão da moralidade aplicada na sociedade sobre os conceitos de bem e mal. As condutas do desenvolvimento desses conceitos, os seus usos, tudo é condicionado pela forma que eles foram introduzidos na sociedade, e mais, a leitura romântica que os estudiosos da época faziam acerca deles.

Nietzsche polemiza essa leitura neste tema que é tão complexo e profundo: a moral.

Já o problema, encontramo-lo no nivelamento da moral dos homens. Nietzsche aponta para um não questionamento da moral e, diz que é preciso um conhecimento mais profundo para se poder chegar a um estado superior de liberdade (o super-homem?); os valores usuais estavam obscurecidos pela pouca profundidade dos estudiosos da época. O homem é tratado como um ser que deve ser dominado; Nietzsche grita que quer liberdade pra pensar.



“Valor da compaixão e da moral da compaixão[...] à primeira vista parece ser algo isolado, uma interrogação à parte; mas quem neste ponto se detém, quem aqui aprende a questionar, a este sucederá o mesmo que ocorreu a mim – uma perspectiva imensa se abre para ele [...] necessitamos de uma crítica dos valores morais, o próprio valor desses valores deverá ser colocado em questão – para isto é necessário um conhecimento das condições e circunstâncias nas quais nasceram, sob as quais se desenvolveram e se modificaram [...]”.

(Prólogo §6, G.M.)



Nietzsche demonstra os métodos empregados até sua época para se mensurar o valor daqueles “valores”, a mnemotécnica: “Grava-se algo a fogo, para que fique na memória: apenas o que não cessa de causar dor fica na memória.” (2ª d. G.M. §3) Nietzsche apresenta e questiona o conceito devedor/credor para a causa de origem dos valores morais. “[...] teve origem no conceito muito material de ‘dívida’? Ou que o castigo, sendo reparação, desenvolveu-se completamente à margem de qualquer suposição acerca da liberdade ou não-liberdade de vontade?” (2ª d. G.M. §4)

Fazer promessas, conseqüências de compensação/punição. A sociedade é moldada através desse sistema cruel. Os mais fortes reinam. Aqui não temos ainda o conceito de Super-homem, onde os mais fortes devem reinar, onde Nietzsche faz opção pelos aristocratas ao invés daqueles que se mantém na margem da compaixão cristiana e platônica.

A tese que o autor apresenta é que “Todos os instintos que não se descarregam pra fora voltam-se pra dentro – isto é o que chamo de interiorização do homem: é assim que no homem cresce o que depois se denomina sua alma.” (2ª d. G.M. §16) Esta tese revela que o homem foi obrigado a interiorizar os sentimentos, a guardar, a ressentir e, assim, acaba arruinando a si mesmo. Antes explodia com as emoções, pois era “livre”, mas a vida em sociedade acometeu-o e o prendeu em si mesmo, numa “jaula” e, Nietzsche defende essa liberdade apresentando a origem da má consciência “A hostilidade, a crueldade, o poder na perseguição, no assalto, na mudança, na destruição – tudo isso voltando-se contra os possuidores de tais instintos [...]”. (2ª d. G.M. §16) Podemos notar aqui a tendência ao pensamento dionisíaco do pensamento/ação livre.



4. Concluindo, o autor trata de muitas questões, todas relacionadas à moral do homem em interface com a sociedade e as idéias que essa adota por suas leis. Inicia mostrando a origem da crueldade das penas impostas como castigo aos malfeitores da sociedade, aqueles que não respeitam as leis. A relação credor-devedor é muito bem explorada. Nietzsche leva essa reflexão até o último parágrafo, passa por todos os pontos fazendo analogias exploratórias com esta relação. Faz conexões entre os temas: crueldade, poder, alegria, religião, liberdade.

O homem é o seu próprio perseguidor. Há um verdadeiro nivelamento na sociedade, fazendo com que o sofrimento se espalhe por causa da desigualdade que é latente, mas forçosamente controlada. É preciso questionar para se conseguir evoluir no conhecimento e, conseqüentemente, conquistar a liberdade. É esse mesmo homem que se submete às leis que ele mesmo produz e é julgado, fazendo assim com que uma linha de pensamento aprisione os "pensadores livres", dentro de si mesmos.

O Super-homem apresentado por Nietzsche é esse cidadão capaz de ultrapassar as barreiras dessa escravatura. Ele se impõe, ele comanda sem a compaixão, ele é forte. Temos aqui a relação escravo/senhor, onde o escravo deve obedecer e o senhor deve fazer-se obedecer. É assim que Nietzsche idealiza o homem.

O homem não pode ter medo de viver, aliás, é justamente este o instinto que foi oprimido, é essa vontade de potencia que foi calada à força, nivelada pela sociedade. Nietzsche não suporta o homem apolíneo, certinho, calado, submisso e piedoso. O homem para Nietzsche deve ser superado constantemente, deve ser livre para viver. Deve construir pontes.

O homem é corda estendida entre o animal e o super-homem: uma corda sobre o abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar, perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar. O grande do homem é ele ser uma ponte, e não uma meta; o que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e uma transição.



Não podemos querer delinear todo o pensamento de Nietzsche sobre o homem em apenas algumas linhas, mas podemos apresentar alguns aspectos como, por exemplo, estes que foram apresentados nas linhas anteriores. No entanto, queremos chamar a atenção para uma perspectiva que permeia todo o pensamento deste autor sobre o homem, principalmente na 2ª Dissertação da Genealogia: a interiorização que o homem faz dos conceitos estabelecidos por uma sociedade niveladora. Pretendemos mostrar com isso que a maior crítica que Nietzsche vai apontar para o seu tempo é essa prisão cruel, na qual encerra o homem dentro de si mesmo. Fazendo com que ele mesmo se cobrasse, se martirizasse por dentro. Tirando toda sua verdadeira liberdade. É isso que o autor denuncia, pois para ele o homem é um ser naturalmente livre, na concepção mais dionisíaca possível. É um ser que está em constante aperfeiçoamento, que busca a vida pela própria vida, e pra isso não precisa que mandem nele, que o conduzam como ovelhas que não sabem onde pastar.

O homem, que no contexto sócio-histórico de Nietzsche era produto de uma releitura dos clássicos gregos, deveria voltar ao modelo pré-socrático, livre, deveria voltar ao Dionísio. E é por isso que ele conduz suas críticas ao cristianismo, ao historicismo e cientificismo da época. Porque todas essas formas de pensamento são niveladoras, não respeitam o homem como único, livre pensador. Dá ênfase ao fraco, enquanto que para o autor o verdadeiro homem é aquele que se supera, que supera seu tempo e o pensamento de seu tempo, sendo assim, verdadeiramente livre.







5. Bibliografia





Nietzsche, Friedrich - Genealogia da Moral: Uma Polêmica. São Paulo: Companhia das

Letras, 1998



Nietzsche, F. – A Gaia Ciência. Lisboa: Ed. Guimarães, 1987



Nietzsche, Friedrich – Assim Falava Zaratustra. São Paulo: Logos, 1954



Os Pensadores - Obras Incompletas: Nietzsche, Friedrich. São Paulo: Ed. Abril Cultural, 2ª

ed., 1978



Kossovitch, Leon. Signos e poderes em Nietzsche. São Paulo: Ática, 1979



Marton, Scarlett - F. Nietzsche: Uma Filosofia a Marteladas. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2ª

ed., 1983



Coleção O Pensamento Vivo – Nietzsche. São Paulo: Ed. Martin Claret Editores, 1991



Nogare, Pedro Dalle – Humanismos e Anti-humanismos: Introdução à Antropologia

Filosófica. Petrópolis, RJ: Vozes, 13ª ed., 1994



Severino, Antônio Joaquim - Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Ed. Cortez,

1996

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