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Artigos-->Deus e Espinosa 11/2000 -- 31/12/2004 - 21:50 (Rodrigo Moreira Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
1. Introdução



Temos por objetivo, neste pequeno trabalho, aprofundarmo-nos na idéia espinosiana acerca de Deus e direcionar uma crítica a esse pensamento.

O contexto em que viveu Espinosa, seus influenciadores e contestadores, fizeram com que a obra deste filósofo chegasse com imensa força até o nosso tempo, merecendo assim, nossa atenção e estudo cuidadoso.



Esta obra tem um esquema de exposição calcado no dos Elementos de Euclides, ou seja, segue um procedimento que se desenvolve segundo definições, axiomas, proposições, demonstrações e escólios (ou explicações). Trata-se do método indutivo-geométrico, em parte já utilizado por Descartes e bastante apreciado por Hobbes, como veremos, mas que Espinosa leva às últimas conseqüências.



Ou seja, o contexto em que se desenvolveu o pensamento do autor, foi um grande apelo para que ele direcionasse seu pensamento para o racionalismo, algo que fundiria sua formação judaica com o pensamento matemático de Euclides e o método de Descartes. Podemos seqüenciar seu desenvolvimento dando mais características deste processo. Contudo, Espinosa está sendo conduzido para um sistema Monista acerca de Deus, coisa que vai leva-lo a ter muitos problemas em seu tempo, mas também vai lhe render grande prestígio para com a humanidade vindoura.



2. Espinosa escreve sua Ética visando contrastar seu tempo, pois padeciam de um sistema mais claro e objetivo, algo que realmente retirasse as dúvidas tão inquietantes que a Idade Média lhes impunha. Depois de um longo período de escolásticismo que ainda se fazia sentir, o autor se propõe a sistematizar seu pensamento. Abominado pelos seus, criticado pela sociedade, é um pensador extemporâneo que brilha em meio às trevas de uma época sem rumo. Vejamos, primeiramente, o que vem a ser a palavra ética:



A origem da Ética - Como teoria filosófica, a ética se caracteriza em ser o estudo das ações, individuais e públicas, dos homens, cuja finalidade consiste em elaborar uma orientação normativa do homem e da sociedade, de acordo como que seja estabelecido como bem. Neste sentido, podemos definir a ética como uma elaboração teórica da prática humana, que busca determinar a conduta que se dirige ao bem.Todavia, muito antes de ser tornar um questionamento teórico, a o problema ético nasce da própria necessidade de organização da vida social humana. O termo ética deriva do grego ethos, que antigamente possuía duas significações complementares. Por um lado, este é o sentido que a palavra tinha no pensamento de Heráclito, ethos significava a morada do homem, a sua habitação, lugar onde o homem está resguardado das ameaças e riscos do mundo. A habitação é o abrigo protetor, permanente e habitual, que permite o mundo tornar-se habitável. Heráclito afirma que o ethos do homem é o extraordinário. Por ser o extra-ordinário o ambiente onde mora o homem, ele precisa estar sempre na compreensão originária de sua circunstância, para a todo momento saber conduzir o seu modo de ser, a sua ação, em acordo com o seu ethos. Por outro lado, e de modo complementar ao primeiro, o ethos significa o comportamento que resulta de um constante repetir-se dos mesmos atos. Tal comportamento provém da tendência de se institucionalizar um mesmo ethos repetido diversas vezes e que, assim, torna-se hábito. Portanto o ethos (no primeiro sentido) é o princípio e modelo dos atos que irão formar o ethos como hábito: é através de sua habitação que os homens criam os seus hábitos. Enciclopédia digital – Folha da Manhã – 1998







3. Como vimos, ética vem de ethos que significa hábito, é justamente neste último termo que Espinosa vai apoiar seu pensamento acerca de Deus . Podemos aludir ao conatus que é a busca da perfeição/felicidade, ora, a felicidade não está em outro lugar senão em Deus, pois este é a única substância e, sendo o homem parte dessa substância, basta entender que sua felicidade é o conhecimento eterno que a eternidade da substância lhe proporciona. Em tudo há a necessidade de Deus que não é causa final, mas sim possuidora de todas as coisas. O conatus é o hábito de busca da felicidade que só se encontra em Deus, que por sua vez não possui necessidade, mas faz-se necessitar a todos.







Sendo assim, Deus é a fundamentação de toda a filosofia de Espinosa, na qual ele monta todo o seu pensamento.



Na monumental Ethica ordine geometrico demonstrata (Ética demonstrada segundo a ordem geométrica), que seria editada em 1677, poucos meses depois de sua morte, Spinoza expõe sua ontologia, trata da natureza das paixões, formula sua moral e sua teoria da liberdade. O título da obra indica a convicção do autor de que a estrutura do real corresponde a um ordenamento semelhante ao que se expressa na matemática e que, sendo assim, é possível explicá-la segundo o método de demonstração usado em geometria. Ao contrário de Descartes, entretanto, cujo racionalismo partia do homem para chegar ao conhecimento de Deus, Spinoza partiu de Deus para chegar ao homem, cuja aspiração à felicidade constituiu o objeto último de seu pensamento. A exemplo do que postulava o método cartesiano, Spinoza considerou os critérios de clareza e precisão das idéias como garantia da certeza do saber, mas estava convencido de que tal certeza era consubstancial ao entendimento, já que este e a natureza não constituem senão manifestações de uma substância única "que é em si e se concebe por si", ou seja, é causa de si mesma e nela se identificam essência e existência. Essa substância toda perfeição, o Deus de Spinoza, possui infinitos atributos, dos quais o homem só conhece dois, o pensamento e a extensão, cujos "modos" no mundo são por sua vez a alma e o corpo. Tudo o que existe, pois, está determinado por seu próprio princípio interno, o que elimina a noção de transcendência e conduz à afirmação da ordem do mundo como imanente. ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.



4. Após termos contextualizado o autor e dissertado sobre alguns aspectos de sua filosofia, tomaremos por base as onze primeiras proposições que são apresentadas no livro Ética I para desenvolver algumas reflexões críticas acerca do pensamento de Espinosa.



Ética I – As Proposições



1. A substância é por natureza anterior às suas afecções.

2. Duas substâncias que tenham atributos diversos nada têm de comum entre si.

3. De coisas que nada tenham de comum entre si, uma não pode ser causa da outra.

4. Duas ou mais coisas que sejam distintas distinguem-se entre si ou pela diversidade dos atributos das substâncias ou pela diversidade das afecções das mesmas substâncias.

5. Na natureza não podem ser dadas duas ou mais substâncias com a mesma propriedade ou atributo.

6. Uma substância não pode ser produzida por outra substância.

7. À natureza da substância pertence o existir.

8. Toda substância é necessariamente infinita.

9. Quanto mais realidade ou ser uma coisa tem, tanto mais atributos lhe são próprios.

10. Cada atributo de uma substância deve ser concebido por si.

11. Deus, ou, por outras palavras, a substância que consta de infinitos atributos, cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita, existe necessariamente.



Pode-se inferir que, pela influencia da escolástica e sua nova caminhada ao lado dos escritos recentemente descobertos e traduzidos de Aristóteles, Espinosa começa sua primeira proposição aproximando-se muito do primeiro motor que fala os aristotélicos. Com efeito, segue desenvolvendo essa proposição, contudo, o autor pretende provar que só existe uma substancia e todo seu pensamento visa esse fim. Usa recursos quase que retóricos para chegar a essa conclusão, como por exemplo, na proposição dois, quando se refere a “duas substancias...” já que sua conclusão axiomática na primeira proposição elimina a possibilidade de haver duas ou mais substancias. Faz a mesma coisa com as proposições 3, 4, 5, 6, 8, sendo que para exprimir sua teoria, alude a métodos (talvez estilo literário) que poderiam ser mais precisos. Espinosa se propõe a demonstrar de forma clara e objetiva seu pensamento que, com certeza, foi em primeira instância, uma crítica ao seu tempo, à prolixia e insegurança apresentada pelo pensamento medieval. Inferindo-se algo infinito, não podemos designar qualquer outra possibilidade de outra existência fora daquela já concebida e aceita como existente. Todo o desenrolar da seqüência espinosiana culmina necessariamente num Deus que acaba sendo em forma do Deus judaico, ser único, infinito. Ao tentar racionalizar o conhecimento que possui entranhado em si, dá à luz um outro ser que aparentemente se enquadra nos moldes do método escolhido. Contudo, os autores dos séculos vindouros criticaram esse processo, demonstrando que essa substancia não pode ser mensurada, nem conhecida por algo inferior finito como o ser humano.



5. Conclusão



Deus existe - é a justificação que este pensador concluiu de toda a sua filosofia. Com suas elocuções mentais, forneceu-nos grande patrimônio e possibilidades múltiplas de reflexão e aprendizagem. Com certeza precisava dessa afirmativa, seu tempo lhe impunha, sua vida se fez a partir disso.

Mais uma vez vemos a vigorosa luta entre fé e razão, luta que perpassa os séculos, mentes brilhantes compram os melhores lugares para assistir e demonstrar suas habilidades técnicas, ora optando por um, ora por outro sistema de pensamento. Espinosa fez clara opção pela racionalização como explicação para a existência, para Deus. Em todas suas reflexões se pode ler nas entrelinhas seu caráter combativo à fé, ao espírito maleável – algo que a razão não pode alcançar lhe é impossível. Rebate adversários, escreve a amigos, interessados, faz sua filosofia se mostrar como nova possibilidade, no entanto, não convence nem consegue mudar a forte investida do concorrente.





6. Bibliografia







BARSA, Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda, 99

DURANT, Will – A Filosofia de Espinosa, Rio de Janeiro, RJ: Ediouro, 2000

ESPINOSA, Benedictus – Ética, 2ª ed., São Paulo: Abril Cultural, 1979, (Os Pensadores)

FOLHA da Manhã , Enciclopédia digital –– 1998

PADOVANI, Umberto – Historia da Filosofia, 8ªed., São Paulo: Melhoramentos, 1970

REALE, Giovani – Historia da Filosofia, 1º vol., São Paulo: Paulus, 1991

WALDENFELS, Hans – Léxico das Religiões, Petrópolis, RJ: Vozes, 1995

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