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Artigos-->EUMÊNIDES 240303 -- 31/12/2004 - 21:40 (Rodrigo Moreira Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
EUMÊNIDES 240303

Introdução



Ésquilo introduz nas tragédias um segundo ator (ator e não personagem), transformando-as em dramas verdadeiros (drama, forma literária dialogada, entre personagens que desenvolvem ação conflitiva). Com Ésquilo vamos entrar em contato com um dos três maiores dramaturgos da antiguidade. Nasceu em Elausis, perto de Atenas, onde se faziam as iniciações do culto de Deméter (os mistérios do culto da deusa que personificava o espírito da terra), no ano de 525 A.C., tomou parte na Batalha de Salamina, contra os Persas, onde viu seu irmão tombar morto e morreu aos 69 anos. Pouco se sabe de sua vida: por 52 vezes foi classificado nos primeiros lugares das competições teatrais, até que Sófocles começou a competir e a arrebatar-lhe a classificação. Escreveu, entre dramas satirescos e tragédias umas 90 peças. Dessas só chegaram à nossas mãos 7 textos: "AS SUPLICANTES", "Os PERSAS", "OS SETE CONTRA TEBAS", "PROMETEU ACORRENTADO", e uma trilogia completa "AGAMENON", "AS COÉFORAS", e "As EUMENIDES". Conforme suas próprias declarações: "Eu vivo das migalhas de Homero", suas tramas são todas tiradas do "Ciclo Épico". A Ésquilo se atribui o uso das máscaras e dos coturnos. Seguramente, introduziu o segundo ator. Foi ele quem transformou os textos teatrais até então líricos, em textos tecnicamente dramáticos. Há uma nota de Aristóteles que diz ter sido, antes de Ésquilo, o coro a parte principal da tragédia, mas que ele fez com que a parte mais importante fosse o diálogo entre os atores.

Na trilogia Orestíades: "Agamenon", "As Coéforas", e "As Eumenides", há outras inovações: entrecho mais rico, mais agilidade de conduta, uma vivacidade maior nos efeitos teatrais, maior número de cenas agidas, misturadas com cenas "contadas". Essas mudanças no estilo do velho poeta eram devidas à concorrência de um poeta bem mais jovem, que começava a apresentar suas produções nas competições dramáticas e que parecia querer tomar o primeiro lugar ao dramaturgo.

A terceira parte da Orestíades (que como se vê se liga à vida de Orestes), chama-se "As Eumênides". Orestes está sendo atormentado pelas Fúrias ou Eríneas (que personificam a ira, o remorso e o desespero) por ter cometido os crimes acima descritos. Ora, seu destino tinha sido escrito pelos deuses que o elegeram como vingador do pai, não podia, pois sofrer por um ato que lhe tinha sido destinado pelos próprios deuses. Estes se reúnem e transformam as Eríneas em Eumênides, espíritos benfazejos. "Agamenon" é a parte mais bem urdida e mais bonita. As três no entanto, apresentavam os personagens com caracteres mais verdadeiros, mais humanos. "Prometeu Acorrentado" é colocado entre "Os Sete contra Tebas" e a "Orestíades" por motivos de técnica teatral, pois é a primeira vez que Ésquilo usa o tritagonistra.

Diz-se ter sido Ésquilo contra a religião; talvez o fosse, mas de maneira discreta. Na mesma época vemos Sócrates ser condenado por impiedade. Se os textos de Ésquilo fossem considerados ímpios, não teriam sido tantas vezes encenados.

Ésquilo já contava 50 anos quando Sófocles com vinte e poucos aparece como poeta-dramaturgo, competindo nas festas anuais. Como já dissemos, trouxe novidades que Ésquilo acabou por adotar o terceiro ator, que possibilitava maior riqueza de enredo, complicando a ação dramática, e mais veracidade, maior humanidade aos personagens. Enquanto nas tragédias de Ésquilo os personagens apresentavam seus problemas de forma épica, contando e cantando, de forma narrativa, Sófocles fazia seus personagens discutirem, brigarem, viverem ante os olhos da platéia atenta. Diz Aristóteles, que enquanto Ésquilo é um poeta venerado, mas essencialmente rude, Sófocles é a abelha Ática, o criador de uma obra magnífica, perfeita, é o expoente supremo na arte objetiva, olímpica, daquela Hélade apolínea, serena e impassível. Ésquilo é sublime e Sófocles perfeito.

Personagens do drama

PÍTIA, sacerdotiza do templo de Apolo em Delfos.



ORESTES, filho de Agamêmnon e Clitemnestra, irmão de Electra.



APOLO, filho de Zeus, deus das profecias, da medicina e da música.



CORO das Erínias.



SOMBRA DE CLITEMNESTRA, viúva de Agamêmnon, mãe de Electra e de Orestes.



ATENA, filha de Zeus, deusa da sabedoria, protetora das artes.

Figurantes: Hermes, um arauto, juízes e cortejo de mulheres, crianças e velhos de Atenas.











Características da obra

Ésquilo foi o primeiro que elevou de um a dois o número dos atores, diminuiu a importância do coro e fez do diálogo protagonista. Aristóteles (Poética, 1449a, 15)



Ésquilo reduziu a primitiva importância do coro e acrescentou um segundo ator, tornando possível o diálogo entre os personagens e a ação dramática. É provável que tenha também introduzido aperfeiçoamentos no vestuário e nos cenários, a julgar pela dificuldade técnica de algumas de suas encenações.

Os temas de suas peças freqüentemente se distribuíam em trilogias (a Orestia é a única que chegou até nós completa). O enredo é simples e a ação estática, o estilo é elevado e grandioso, às vezes bombástico e um pouco pomposo.

As peças mostram também o profundo sentimento religioso do poeta. Os personagens principais são sombrios e dominados por uma única meta (como a vingança, por exemplo), e suas características não variam ao longo do drama. As ações humanas têm conseqüências inevitáveis, pois sempre são guiadas pela fatalidade, pelo destino, ou pela vontade dos deuses.

É visível a intenção moral dos dramas. Orgulho e atitudes desmesuradas são punidas, e o castigo inevitável pode estender-se inclusive aos descendentes.



Noções da cena



A cena se passa, inicialmente, diante do templo de Apolo em Delfos; a seguir, em Atenas, primeiro na acrópole, diante do templo de Atena, e depois no Areópago. O cenário que representava Delfos continha, provavelmente, somente a representação da entrada do templo de Apolo. O cenário de Atenas utilizava certamente a mesma pintura, com a adição de uma estátua de Atena à sua frente; o Areópago pode ter sido simbolizado simplesmente pela presença dos juízes em um dos lados da orquestra.

As Eumênides é um dos mais antigos exemplos de movimento e descontinuidade de ação numa tragédia. Com a mudança de cenário, pela primeira vez o coro tem de sair de cena antes do êxodos e, após um novo e breve prólogo, fazer nova entrada (epipárodos).

O protagonista fazia o papel de Orestes; o deuteragonista, o de Apolo; e o tritagonista, todos os demais; os figurantes eram numerosos. O coro das Erínias vestia roupas negras, e suas máscaras se assemelhavam às pinturas das górgonas.







Resumo da Peça



Antigos espíritos da terra ou deusas associados à fertilidade, mas também tendo certas funções sociais e morais. Tradicionalmente em número de três, as Eumênides eram adoradas em Atenas e em terras fora da Ática. Embora seu nome por vezes queira dizer "as benevolentes", "as graciosas" e "as veneráveis", as deusas eram normalmente retratadas como as Górgonas, criaturas com cobras ao invés de cabelos e olhos injetados de sangue. Sua aparência vai de encontro com sua identificação, em outras lendas, com as Erínias , três deusas vingativas do mundo inferior. Na sua peça "As Eumênides", o dramaturgo ateniense Ésquilo contou a perseguição de Orestes pelas Erínias, depois que aquele matou sua mãe, Clitemnestra, para se vingar da morte de seu pai, Agamenon, o qual Clitemnestra havia assassinado. Sem se importarem com os motivos que o levaram a cometer o crime, as Erínias perseguiram Orestes por toda a parte, até Atenas. Aí Orestes

apelou à deusa Atena, que presidiu seu julgamento e lançou o voto decisivo a favor de sua absolvição. Depois deste julgamento, as Erínias aceitaram um novo papel como guardiãs da justiça e tornaram-se conhecidas como as Eumênides.



Desenvolvimento



Temos caracteres de um conflito muito bem construído entre as portadoras da execução da sentença, as Erínias, e a personagem principal, Orestes, visto que as primeiras passam a maior parte do tempo em busca da vingança preestabelecida culturalmente pela época. No fim, o desfecho a caba sendo a vitória de Orestes e a conversão das personagens más em boas personalidades, protetoras da nova ordem, pois o que ocorre é uma transformação na mentalidade da época, ou como diria Hegel, uma atualização superadora do contexto.



É digno de nota que os elementos da tragédia grega tenham como pano de fundo a teia mitológica que referia a maldição das infelizes famílias dos Atridas, dos Labidácidas e dos Tindáridas com os recorrentes elementos do parricídio e do incesto. Além do mais, o tempo em que aportou na história da Hélade, foi justamente o tempo de seu esplendor, onde pareciam reconhecidas por este povo as nuances de seu valor e os maiores paradoxos a sustentar, como era enfim, o apreço ardoroso e respeitoso pelo sublime e o patético no humano. A representação deste teor da Tragédia Grega está sobremodo circunscrita ao triunvirato já mencionado, tendo em sua sucessão o declínio deste gênero, que será então substituído em magnitude por sua filosofia. Reencontraremos os horrores patéticos destas inscrições na tragédia medieval shackesperiana, e adiante, neste irreverente francês do século passado, Paul Claudel. Sem dúvida que não se esgotam nestas letras as abordagens da tragédia do desejo humano, mas é possível dar a estes últimos, um merecido acento à herança do texto grego.



Ainda o conflito se estende em relação aos deuses, pois no início da peça há uma preocupação em demonstrar que é o deus Apolo quem está à frente da defesa de Orestes, visto que o Corifeu (intérprete das Erínias) se posiciona como dever seu: cumprir a expelição do lar todos os matricidas. (Eumênides, p. 152). Parece haver uma disputa pelo poder no sentido que leva-nos a pensar que as Erínias representavam a cultura antiga, o modo de pensar antigo, e que Apolo , mesmo que representando Zeus, apresentasse postura de novidade, que requeria para si a superação das épocas culturais que estavam ficando para trás. Também há a crítica que a justiça era lenta em pensar e decidida para executar (Eumênides, p. 159), talvez uma alusão à falta de reflexão que acompanhava as decisões “judiciárias” da época; ou mesmo a passagem de uma parte da mentalidade mítica para uma mais racional e reflexiva.

Em todos esses caminhos e descaminhos da existência humana, haviam sempre os deuses a decidirem pela proteção ou pelo abandono. No mundo épico o homem é colocado face aos deuses e estes, para bem dimensionarem a vaidade de tudo que é humano, podiam, quando bem lhes aprouvessem, estender a mão protetora para o pobre mortal, como também, a qualquer momento, voltar-lhe as costas jogando-o ao abandono, fazendo-o ver o enorme abismo a separá-los: de um lado os pobres mortais, do outro os bem aventurados imortais.

Ainda nesse mundo fantasioso, Ésquilo apresenta o fantasma de Clitemnestra como coadjuvante na tensão entre o crime e o castigo desenvolvidos na peça, visto que é uma personagem viva na Coéforas, e decadentemente morta, mostra-se nas Eumênides como detentora de espírito vingativo, representando a cultura da época, incitando e dando início, assim, a mentalidade para a continuidade da punição pelo “crime” de Orestes, visto que já era costume. Contudo, esse costume já estava sendo revisto, e a peça vem abordar de modo instrutivo a noção de justiça que agora imperava nas mentes mais reflexivas da época, deixando-nos a bela instrução que aquele povo viveu.

O coro porta-se como vozes das Erínias, gerenciando e debatendo as várias situações apresentadas na peça com quase todos as personagens, dando-nos a impressão de que sua mentalidade exprime bem a noção de conflito interno apresentada pela personagem Orestes, visto que a situação em que foi colocado, questão de culpa por ter matado um familiar, se desenrola com várias facetas, por isso mesmo um coro de várias vozes lhe cobra a consciência, não só de si mesmo, mas também de toda uma cultura presente contextual.

No fim, como foi apresentado no resumo acima, há a transformação das más Erínias nas boas Eumênides, nome que leva a peça. A deusa Atena teve importante papel nesta transformação, designando que é com poderes fora do ambiente comum que a mentalidade geral, que é regida pelos deuses, pode mudar de situação. Ora, só um deus pode mudar outro deus, visto que era Deusa guerreira e ao mesmo tempo símbolo da sabedoria e protetora das artes e trabalhos manuais urbanos, era respeitada e possuía a necessária autoridade para tal mudança de paradigma.

Essa transformação apresenta-se como a oposição entre trevas e luz, pois como já dissemos, parecia haver uma mudança de mentalidade na época, e as questões de justiça que eram desenvolvidas pelos tribunais estavam sendo revistas, passando por processo de transformação e reflexão. Ficando as leis antigas nas trevas, e as novas posturas como luz de chegada de fim de túnel. Tudo isso não acontece sem as devidas turbulências, e isto é demonstrado de forma magistral pelas tragédias da época, o que não deixa de ser uma espécie de tragédia essa passagem, pois parece não ter solução. Tragédia que é classificada como uma situação trágica, visto que neste caso o corre um conflito, mesmo que intersubjetivo, terrível, que é vivido por Orestes e a mentalidade antiga da época, como sem solução, ou melhor, como uma solução já posta, terrível, pois levaria à morte Orestes. Entretanto o desfecho se dará de forma serena, sendo reincorporada a paz na cidade, surgindo uma solução pacifica, onde Orestes é absolvido pelo tribunal, que envolve deuses e humanos, e onde as divindades vingativas transformam-se em promovedoras do bem.

Enfim, temos caracterizado a peça Eumênides como uma tragédia que apresenta um mundo em que a essência entra em conflito com a vida, e, para que a essência se mantenha é necessário negar a vida, visto haver a superação dessa negação, apresenta uma possível solução, bem humana, para que a justiça possa seguir desenvolvendo-se. Também é detectável uma grande ênfase na linguagem que exprime paixão, até mesmo fora do normal, fato bem próprio da situação contextual das peças no período em que foi desenvolvida, pois precisavam despertar um sentimento emocional forte em quem estava ouvindo, causando assim o impulso necessário para a aprendizagem da nova passagem cultural.





Referências Bibliográficas



ÉSQUILO. Trad. KURY, Mário da Gama. Oréstia. Rio de Janeiro: JZE, 2000.

DURANT, Will. Nossa Herança Clássica II. São Paulo: Record, 1999.

VERNANT, Jean-Pierre; NAQUET, Pierre Vidal. Mito e Tragedia na Grécia Antiga, vol II. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1991.

http://www.warj.med.br/n/n082.asp 230303

http://www.torodepsicanalise.hpg.ig.com.br/eco_n5.htm 230303

http://web.eep.br/~habdalla/eumeni.htm 230303

http://www.nucleodoteatrodebrecht.hpg.ig.com.br/historia02.htm 230303

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