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Artigos-->A harmonia ética presente entre Estoicismo e Cristianismo 10 -- 31/12/2004 - 21:08 (Rodrigo Moreira Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A harmonia ética presente entre Estoicismo e Cristianismo 100403



1- Resumo



A noção de harmonia está presente tanto no estoicismo quanto no cristianismo em virtude de o desenvolvimento contextual das duas correntes se darem em épocas contemporâneas; além de que o cristianismo sofre influências greco-romanas do estoicismo por causa da tendência estóica em harmonizar o homem, agora como concepção de mundo cósmica, e a natureza, que é provinda de Deus. O conceito de religião é harmonizado entre as diversas culturas como sendo determinado por essa natureza, que para os cristãos vai chamar-se Deus Único e Criador de todas as coisas. Desta junção vão seguir-se algumas das formulações éticas que o cristianismo pregou no decorrer dos séculos de sua existência, podendo ser sentidas ainda hoje. Ou seja, o viver conforme a Natureza dos estóicos, metamorfoseou-se me Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8, 12).



2- Palavras-chave



Estoicismo; Cristianismo; Harmonia; Natureza



3- Introdução



As quatro grandes escolas filosóficas do Período Helenístico (1) foram a Academia e o Liceu, que já existiam no período anterior, e mais o Estoicismo e o Epicurismo, fundadas no final do século -IV. A "Escola Estóica", fundada por Zênon de Cítion em Atenas, durou cerca de 500 anos e grande foi a sua influência entre gregos e romanos. A doutrina estóica ajudou a moldar, por exemplo, o direito romano, pilar de muitas das doutrinas legais modernas.

O estoicismo é uma doutrina eclética, e incorpora muitos conceitos dos filósofos anteriores e contemporâneos: Heráclito, Platão e Aristóteles, os cínicos. Desde Zênon o estoicismo dividia a filosofia em três partes, como o epicurismo: lógica, física e ética. Tal como Sócrates havia ensinado, a virtude é o único bem e o homem virtuoso aquele que atingiu a felicidade através do conhecimento. O homem virtuoso encontra a felicidade dentro de si e é imune ao meio exterior, que conseguiu superar dominando-se a si, às suas paixões e emoções. No que respeita à concepção estóica do universo como um todo, a doutrina é panteísta. Todas as coisas e todas as leis naturais ocorrem devido a uma determinação consciente da Razão do Mundo, que é fundamental. E é de acordo com esta ordem racional que, segundo o estoicismo, o homem sábio procura regular sua vida, como o seu mais alto dever.

A regulagem da vida, segundo a noção de interioridade estóica, também está presente no cristianismo, através da ação do Espírito Santo, que é o “regulador oficial da trindade”, visto que tem a função de orientar a pessoa que se coloca no caminho rumo ao “varão perfeito” paulino. É através de uma harmonia muito fina entre vida suportável e abstinência de vícios que as duas correntes se interpõem. Queremos precisar estas nossa suspeitas e assim contribuir para um maior esclarecimento da ética hodierna vigente.



4- Objetivos



Detectar quais as influências do estoicismo no cristianismo primitivo e suas possíveis relações com a noção de harmonia presente nas duas correntes é nosso objetivo principal. Contudo, para isso temos que aprofundar conhecimentos nas áreas éticas das duas “escolas” e verificar os seus desenvolvimentos chegando enfim à harmonia que resultou deste encontro de pensamentos. Enfim, verificar as influências que esta hamonia ética tece e tem nas relações intersubjetivas, tanto em relação à amizade, quanto em relação à política, visto que são temas intimamente ligados às concepções religiosas que se desenvolveram a partir dos conceitos elaborados pelas duas correntes de pensamento.



5- Justificativa



A escola estóica foi fundada por Zenão de Cício (336-264 aC). O estoicismo grego propõe uma imagem do universo segundo a qual tudo o que é corpóreo é semelhante a um ser vivo, no qual existiria um sopro viral (pneuma), cuja tensão explicaria a junção e interdependência das partes. No seu conjunto, o universo seria igualmente um corpo vivo provido de um sopro ígneo (sua alma), que reteria as partes e garantiria a coesão do todo. Essa alma é identificada por Zenão como sendo a razão e, assim sendo, o mundo seria inteiramente racional. A Razão Universal ou Logos, penetra em tudo e comanda tudo, tendendo a eliminar todo tipo de irracionalidade, tanto na natureza, quanto na conduta humana, não havendo lugar no universo para o acaso ou a desordem. A racionalidade do processo cósmico se manifesta na idéia de ciclo, que os estóicos adotam e defendem com rigor.

Herdeiros do pensamento de Heráclito de Éfeso (séc. VI aC), os estóicos concebem a história do mundo como sendo feita por uma sucessão periódica de fases, culminando na absorção de todas as coisas pelo Logos, que é Fogo e Zeus. Completado um ciclo, começa tudo de novo: após a conflagração universal, o eterno retorno. Tudo o que existe é corpóreo e a própria razão identifica-se com algo material, o fogo. O incorpóreo reduz-se a meios inativos e impassíveis, como o espaço e o vazio; ou então àquilo que se pode pensar sobre as coisas, a idéia, mas não às próprias coisas. Nesse universo corpóreo e dirigido pelo fatalismo dos ciclos sempre idênticos, tudo existe e acontece segundo predeterminação rigorosa, porque racional. Governada pelo Logos, a natureza é por isso justa e divina e os estóicos identificam a virtude moral com o acordo profundo do homem consigo mesmo e, através disso, com a própria natureza, a qual é intrinsecamente razão.

Esse acordo consigo mesmo é o que Zenão chama "prudência" e dela decorrem todas as demais virtudes, como simples aspectos ou modalidades. As paixões são consideradas pelos estóicos como desobediências à razão e podem ser explicadas como resultantes de causas externas às raízes do próprio indivíduo; seriam, como já haviam mostrado os cínicos, devidas a hábitos de pensar adquiridos pela influência do meio e da educação. É necessário ao homem desfazer-se de tudo isso e seguir a natureza, ou seja, seguir a Deus e à razão Universal, aceitando o destino e conservando a

serenidade em qualquer circunstância, mesmo na dor e na adversidade.



A visão estóica da natureza era tecnicamente materialista. O mundo é finito em extensão, e para agir ou ser objeto de ação, todas as coisas (objetos) existentes, mesmo um deus, a alma e qualidades abstratas como a bondade são dotadas de corpo. Os corpos são mais tênues ou mais sólidos conforme a noção que transmitem. A matéria total do mundo é infinitamente divisível e tudo preenche sem deixar vazios. As matérias mais finas e ativas são formadas de fogo e ar que misturados produzem um "espírito" ou "sopro ígneo" que nutre o mundo de dentro para fora. Assim, o mundo é produto de um princípio ativo que permeia o mundo físico e dele faz parte, que modelou e modela os elementos materiais passivos para formarem o mundo ordenado de objetos separados, porém organicamente conectados entre si e mutuamente influentes. Deus não é extenso, faz parte do mundo que modelou, e foi um artífice competente, pois há ordem e desígnio nos aspectos significativos da realidade (o mundo é um cosmo).



Quando se fala de cristianismo tem-se que falar de teologia e de um uso da linguagem religiosa, assim, partiremos deste ponto para aludirmos às questões introdutórias sobre o pensamento cristão.

A base da Ética Cristã não pode ser outra além da (Bíblia) Palavra de Deus. Como tudo que diz respeito à vida cristã, também a ética é regida e regulamentada pela Palavra. No ensino do Antigo e do Novo Testamentos prevalece uma continuidade fundamental. Por esse motivo é indispensável uma compreensão da ética hebraica para se entender adequadamente a ética de Jesus e do Novo Testamento em geral. A ética cristã requer, portanto, um estudo da moralidade do Antigo Testamento. A ética hebraica baseia-se fundamentalmente na Pessoa de Deus. Deus é a fonte de toda exigência moral, e é o supremo bem. Quem é esse Deus?

- O único criador, soberano governador e Pai (Dt 6.4; Is 40.28;Ml 2.10).

- Em contraste com os ídolos do paganismo, "o Senhor é o verdadeiro Deus; Ele é o Deus vivo e o Rei eterno" (Jr 10.10).

- É o Deus santo, que requer santidade de seu povo (Lv 19.2).

- É o Deus justo, que requer justiça de seus filhos (Is 45.21; Am5.24).

Comunhão com esse Deus soberano, vivo, santo e justo é inseparável de uma vida irrepreensível, da parte de seus adoradores: "Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que o que o Senhor requer de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benevolência, e andes humildemente com teu Deus?"(Mq 6.8). Essa conduta, pois, está no conteúdo da vontade divina, que é princípio básico da ética do Antigo Testamento. A realização dessa vontade deve ser motivada pelo amor a Deus.

Os evangelhos põem em relevo certos conceitos chaves a respeito da ética cristã que não podemos jamais ignorar, sob risco de vivermos uma vida totalmente fora dos padrões estabelecidos por Deus.

Disciplina - Mateus 16.24 é um dos vários textos que nos falam da necessidade da disciplina. Há necessidade de esforço, de autonegação de persistência para se alcançar uma vida de acordo com a vontade de Deus. Observância de preceitos e normas e submissão não são naturais a certos temperamentos, mas podem ser alcançadas através da disciplina.

Interioridade - Segundo os evangelhos, Jesus demonstra uma especial preocupação com a conduta interior de um indivíduo. Veja Mateus 15.17-20. A ética cristã deve ser profunda; deve exteriorizar uma atitude interior. Não apenas conformar-se exterior e aparentemente a certos princípios morais ou éticos, mas desenvolver interiormente essas verdades e atitudes.

Perfeição - Perfeição é o alvo da ética de Cristo (Mt 5.48; Jo 15.12; Mt 18.21-22; Fl3.12-14). A maior mentira que se prega nas igrejas hoje é esta: "Ninguém é perfeito. Ninguém pode ser perfeito". A ética cristã visa a perfeição. Cristo convida cada crente a ser perfeito, não em si mesmo, mas nele. Com a ajuda do Espírito Santo podemos buscar uma vida tão elevada que pecado, quando acontecer, será um acidente de percurso e não uma prática repetitiva e costumeira.

Coerência - Verifica-se uma perfeita coerência entre o que Cristo ensinava e exigia e a sua própria vida. Isso ele exige de nós ainda hoje. Paulo podia dizer "sede meus imitadores" por ter uma vida coerente com sua pregação. Na ética cristã a coerência é fundamental.

Como vimos, o cristão tem diante de si altos ideais estabelecidos por seu Mestre. Sozinho ele não realizará a elevada moral cristã, por isso Jesus providenciou o “poder” necessário para realizá-la. É o poder do Espírito Santo. O Espírito mostra-nos o caminho da verdade e dá-nos o poder para palmilhá-lo. Confere poder para fazer coisas além das nossas forças. Sem poder espiritual não há vida moral. Não há sequer vontade para fazer o bem, nem interesse para seguir os ensinos éticos do Evangelho. Sem poder espiritual, o Evangelho seria apenas outra religião. “A despeito da perversão de suas faculdades primitivas, que não lhe permite reconhecer claramente a vontade de Deus, o homem tem nele uma lei natural que exprime esta vontade”. O cristianismo, entretanto, não procura desenvolver apenas uma ética universal aceitável e indispensável, mas também oferece o Espírito de Deus, por meio do qual a ética torna-se praticável.



“Entre as constantes doutrinas que podem encontrar-se em nossos autores (os padres apostólicos) deve-se mencionar o rechaço do legalismo que caracteriza numerosas correntes do judaísmo. O centro se coloca na substancia interior da religião autentica, no vinculo essencial entre a fé e a moral. A ética é preferencialmente religiosa, não se faz porém a análise da natureza humana; a moral é teocêntrica ou cristológica, e consiste em querer fazer o que Deus quer. Porém esse autores sabem bem que, se a palavra é o fundamento da moral, contudo é necessário o dom da graça, o qual exclui toda forma de farisaísmo (L. Vereecke, op. cit., p. 817). Por sua parte, os Padres Alexandrinos ‘tentam dar ao ensinamento da fé e da moral um fundamento não apenas escriturístico, mas também filosófico, quer estóico, quer platônico. Baseando-se nestes pressupostos, a moral consiste na imitação de Cristo, que é o pedagogo nas circunstancias concreta da vida cotidiana’ (idem). [...] A cultura cristã se nutre da moral helenística, estóica e neoplatonica; porém com a mediação e o estudo da Escritura, confere a essa moral um importante e novo vigor.”



Enfim, temos as duas concepções de pensamento desenvolvidas primeiramente no decorrer dos primeiros séculos da era cristã. Vemos também que a noção de interioridade é presente nas duas correntes e que a harmonia entre a vida externa e interna é pressuposto para a ética das duas. Ora, há muito que pesquisar neste terreno que se mostra muito fértil e atual.



9- Bibliografia Básica



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http://www.warj.med.br/txt/estoicos.asp GA 0121 :: O estoicismo [I]Grécia Antiga, 23/03/03



http://sites.uol.com.br/gballone/hlp/seneca.html Ballone GJ - Sêneca, in. PsiqWeb - Psiquiatria Geral - Geraldo J. Ballone, Internet, 10/08/01.

BibleWorks 3.5

Bíblia On Line 2.01



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