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Artigos-->Abrindo os Arquivos do Mundo -- 30/12/2004 - 21:56 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


ABRINDO OS ARQUIVOS DO MUNDO

(Por Domingos Oliveira Medeiros)



A questão dos arquivos secretos não é recente. E está dando o que falar. Todavia, há outros arquivos bem mais interessantes, que ainda precisam ser abertos totalmente.



Refiro-me ao arquivo do início do mundo. Logo após a sua inauguração. Quando a nossa terra era um verdadeiro paraíso. Pelo menos foi essa a promessa da época. Creio que a primeira delas. Que, por sinal, não demorou muito tempo para cair por terra. Tal qual, como nos tempos modernos, acontece com os programas assistencialistas de vários governos.



E tudo por culpa dele: o homem, esse estúpido. Sempre ele, que não consegue compreender a grandeza da criação; a beleza da natureza. Que prefere fazer uso da má-fé, para atingir seu desiderato; e, em casos raros, abusa da ingenuidade. Homem que transformou o paraíso num verdadeiro inferno. Segundo informações que vieram a público.



Tudo teria começado com Adão. Adão e, logo em seguida, Eva. E aqui surgem as primeiras dúvidas: Adão de quê? Sem sobrenome e sem família, que, junto com Eva, formavam o primeiro casal a ter seus nomes registrados nos arquivos secretos como comunistas. Com a anotação de que viviam em comum, reunidos no mato, suspeitos de tramarem algo contra o sistema.



Afinal, de que acusaram Adão? De ter comido o fruto proibido? A maçã, no caso. Péssimo gosto! Ao que me consta, a goiaba, o caju e tantas outras frutas têm muito mais aroma do que uma simples maçã.



Essa história continua mal contada. Até porque, no mundo moderno do terceiro milênio, comer maçã não se configura crime. Desde que o ato não seja praticado junto com bebida alcoólica. Hoje, excluída a bebida, vale tudo: alisar, cheirar, morder e até chupar, para os mais esfomeados e, principalmente, os desdentados. Que não são poucos.



Mas, vamos aos fatos: Adão, vale lembrar, segundo consta de seus arquivos, estava desempregado. O primeiro, diga-se de passagem, de uma série que iria multiplicar-se por centena de milhares. Tudo em nome do crescimento sustentado. Do milagre do crescimento.



Adão jamais iria imaginar tamanha legião de homens sem ter o que fazer. E, o que é pior, sem ter o que comer. Nem um pedacinho de maçã; ainda que podre e amassada, encontrada na rua, na lata do lixo, próximo a um motel qualquer. Nem um pedacinho de bolo de maçã: aquele que continua no forno, e que, tão logo cresça, será repartido, democraticamente, entre todos os habitantes do planeta, em especial do Brasil, o país que, já naquele tempo, era conhecido como o país do futuro.



Adão, justiça seja feita, era analfabeto. Sem lápis, sem lenço e sem documento. Muito mal vestido. Quase nu. Não possuía, ao menos, curso de introdução à informática. Só falava, muito mal, uma língua. Provavelmente, por isso, tenha encontrado tanta dificuldade para arranjar um emprego. Mesmo no governo, pois no seu tempo não havia fartura de ministérios e de cargos públicos, notadamente os comissionados, nem tantas prefeituras espalhadas pela selva desse imenso país.



Adão, a bem da verdade, estava nom mato sem cachorro. (Não havia cachorros naquela época). Nem salsicha, por mais apetitosa que fosse, que pudesse despertar o interesse de Eva em conquistar Adão.



Por isso, fica a dúvida no ar. Não há comprovação de que Eva fosse virgem. Ou que tivesse o que os especialistas chamam de “himem flexível”. Não existe laudo pericial a respeito. Fala-se, apenas, em inquérito mal conduzido pela polícia.



A favor de adão, vale lembrar que não havia, a época, preservativos e comprimidos que evitassem a gravidez. E Eva, ao que se sabe, não ficou grávida, foi o que constatou o laudo pericial emitido logo após a deflagração da Operação Maçã, pela Polícia Florestal.



Não se dá notícia, também, da existência de sangue colhido no local do suposto evento sexual proibido. O que confunde os policiais. E, desse modo, a dúvida persiste. Afinal, Eva era ou não era virgem? Se não era, quem teria sido o mandante do crime? Ou o seu mentor? Quem teria feito o primeiro serviço? Haveria mais pessoas envolvidas? O crime teria motivações políticas? Ou se tratava de mero estupro consentido? Ou, então, Adão enganou todo mundo: fez que comeu, para não perder a moral, mastigou dentro da boca, a maçã, e, sorrateiramente, longe dos olhos da imprensa, cuspiu tudo fora. Nesse caso, a conclusão poderia ser a de que Adão não gostava do fruto proibido. Só de bananas. Se for assim, a história de Adão e Eva, para ser mais verdadeira, terá que ser invertida, contada ao contrário, ou seja, a história de Eva e Adão.



Não consta, dos registros abertos, o relatório da CPI. Tudo indica que o Adão tinha algum prestígio. Ou muito dinheiro. Pois sempre alegou que o assunto não passava de perseguição política. Que ele nunca possuiu conta-corrente em banco de qualquer natureza, em qualquer paraíso: selvagem ou fiscal.



A favor ce Adão, é forçoso concluir: não há provas contundentes de que ele, Adão, tenha sido o único culpado. Talvez tenha começado, nesse ponto, o primeiro caso de bode expiatório da história política desse país. História que não se sustenta diante dos fatos: nem candidato ele era. Não havia eleições na época. Pelo menos na quantidade de nossos tempos. Nem para síndico e nem para vereador.



Desse modo, não havia distribuição de verbas para programas assistencialistas do governo, que pudesse despertar o pecado, vale dizer, o desejo de desvia-las para outros fins. Talvez, quem sabe, montar uma quitanda onde Adão pudesse negociar com todo tipo de frutas, como forma de lavar o dinheiro retirado da boca do povo. desde a banana, para dar ao seu eleitorado, até os abacaxis, que seriam usados nas próximas campanhas, onde ele, por certo, iria prometer descascá-los, em benefício do eleitorado.



Pelo visto, há muita coisa nos escaninhos dos arquivos secretos de Adão e Eva que precisa vir ao conhecimento do público.



O único temor dessa abertura total dos arquivos secretos é o de que, decorridos tantos anos, os esclarecimentos não sirvam para mais nada, pois se, realmente, ainda existe algum resquício de leite, já terá sido derramado e devidamente evaporado.



De outro lado, há o perigo de que tanta insistência para revelar o conteúdo dos arquivos secretos, sirvam, apenas, para esconder inúmeros escândalos mais recentes, que grassam neste país, desviando a atenção do povo para as CPIs que continuam em “banho-Maria”, à espera do esquecimento, para então serem arquivadas, até que alguém, num futuro qualquer, possas retornar com o assunto, sempre com interesses escusos.



Respeitem a memória de Adão. Não alimentem a discórdia. Deixem dormir em paz os arquivos mortos.



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