Era um cão muito feio, daqueles que o dono não consegue vender, tampouco dar.
Vivia pela rua da Figueira, chamavam-no de CHEID ("chei-de-pulga", "chei-de-pereba"), mas era um cachorro simpático, que ao contrário dos demais, não corria atrás dos carros, não mordia os carteiros, nem pulava com as patas cheias de lama nos seus conhecidos vizinhos.
Todos adotaram um pouco o CHEID. Um dia D. Maria lhe dava os restos do almoço; Seu João, o carroceiro, sempre dividia seu sanduíche consigo e as crianças o enchiam de restos de chocolates, picolés. Não havia dúvidas! CHEID era o vira-latas oficial da rua da Figueira.
Mas CHEID, um dia, apaixonou-se pela bela Poodle da casa nova 412. Chamava-se SUSI. Adestrada, educadíssima e só comia ração. Tentou de todas as formas aproximar-se dela e esta, como era de esperar-se, jamais daria trela para o tal vagabundo.
SUSI, um dia entrou no cio, e CHEID, matreiro como um cão à caça da cadela ao cio, deu o seu jeito. Foi então que a paixão ocorreu, e SUSI correspondeu, finalmente, àquela doçura de vira-lata.
Os filhotes já estavam próximos de nascer. CHEID, sempre rondava a casa a busca de notícias de SUSI, até que um dia, um carro grande, vindo não se sabe de onde, com homens grandes e feios pararam na rua, e com um laço apertaram o pescoço de CHEID, como se fora este o mais perigoso de todos os animais. CHEID nunca havia ouvido falar de "carrocinha", mas a dona de SUSI sim e esta que havia encomendado o despacho de CHEID.
Depois daquele dia, nunca mais ouviu-se falar de CHEID, e SUSI agora anda pelas ruas com quatro filhotes, meio poodles, meio vira-latas, com aqueles olhinhos de pidona como a que perguntar a todos que pasavam: Vocês viram o CHEID por aí? |
