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Artigos-->Aposentadoria Virtual -- 13/12/2004 - 11:42 (Ivan Guerrini) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Não há verdadeira liberdade sem limites auto-impostos” (Immanuel Kant)



Asas à imaginação. O futebol B do Brasil se esforça para manter o empate diante de uma forte Argentina A, necessitada de vitória. Para o Brasil, a ida para os pênaltis já é uma vitória, visto que acaba o sufoco e as chances se igualam. Faltando alguns minutos para o final, o árbitro conversa com os auxiliares e decide mudar a regra do jogo: no caso de empate, haverá uma prorrogação de trinta minutos! Motivos? Diante de um grande público de vários países com olhares fixos no jogo, uma prorrogação viria em boa hora e certamente aumentaria a arrecadação com os patrocínios, podendo promover grandes melhorias no futebol sul-americano e mundial. Com a decisão, o jogo terá um acréscimo de um terço de seu tempo contratado inicialmente. Para muitos torcedores da Argentina e até para muitos outros neutros, o bom jogo merece uma prorrogação para se curtir um pouco mais o domingo. Árbitro e auxiliares, portanto, foram até mesmo convenientemente democráticos, pois a maioria ficou satisfeita. Se os torcedores brasileiros gostaram da decisão, é outra conversa. Menos interessa ainda a opinião dos próprios jogadores do Brasil. Jogo empatado, lá vão eles para o tempo extra oficializado pelo trio de poder no final do jogo. Os jogadores brasileiros reclamam: os argumentos podem até ser socialmente válidos e legais, mas não são morais para esta final em curso. Coloque-se em prática nos próximos jogos, dizem eles, já que nos preparamos para noventa e não para cento e vinte minutos. Mas, nada! Os juizes têm poder de decisão e até mesmo de mudar as regras do jogo em seu final, conforme consta do manual. Amarre-se o Zagallo no banco e, de alguma forma, crie-se vontade, garra e gás para mais tempo! Ou seja, para ser educado, se virem!

Esse evento hipotético merece um paralelo com um caso real e semelhante. Imagine-se um professor X que ingressou numa universidade pública paulista como docente em 1975, portanto, há quase trinta anos. Muitos outros o fizeram no mesmo ano, fazendo de X o modelo de um grande conjunto real de professores. Regras do jogo? Várias, dentre elas o intervalo de tempo do jogo: trinta anos em regime exclusivo de docência e pesquisa para se aposentar. X leu, releu e assinou embaixo, sacramentando o contrato. Depois de muito “trampo”, nos últimos anos veio a discussão da mudança previdenciária que, aliás, já tardava. Mude-se isto, mais isto, mais aquilo e mais aquilo. Até aí, ótimo. Porém, ooops! Mudar as regras de quem já está no final do jogo também??? Nos últimos “minutos” também pode? Quer dizer que X e todos os seus companheiros “dançaram”? Como? Não se tem mais garantia de nada que se contratou legalmente no início do jogo? A democracia nessas horas significa dar ouvidos à maioria que está fora e nem participa diretamente do jogo? Altera-se o que é legal, mesmo que seja imoral? Sem dramas de consciência? X reflete: primeiro foi a equipe do FHC que nos enfiou um tempo extra goela abaixo. Depois, a equipe do Lula promoveu uma prorrogação da prorrogação. Sem falar na significativa fatia do salário dos funcionários públicos subitamente confiscada pelo governo do estado para aumentar a já “tão pequena” contribuição. Uma perguntinha idiota brota na cabeça de X: por acaso, para resolver questões sociais, também se mexeu nos salários daqueles que tomaram essas decisões de última hora? Ou no tempo de aposentadoria deles? Ou em suas tantas e tantas mordomias?

No papel de colega de X, convido, pois, todos os demais colegas do mesmo conjunto, aqueles que também ingressaram na universidade pública em 1975 para comemorarmos no próximo ano a nossa aposentadoria virtual. A real, só daqui a vários anos. Brindaremos aos governantes, deputados e senadores que se equiparam ao nosso árbitro imaginário do jogo Brasil x Argentina. Tudo para um bem maior, claro. E sobre ética, o que dizer? Neste caso, longe de Kant, a ética soa talvez como um jogo de conveniências de poderosos que decidem, sob a égide e o brasão de resolver o problema social que eles mesmos ajudam a perpetuar, sempre mexer naquilo que é do outro. Para nós, pobres mortais, sobra a mensagem oculta que Eric Berne da Análise Transacional ajuda a decifrar: vão reclamar com o bispo!



(texto publicado inicialmente no Jornal de Piracicaba)



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