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Artigos-->O REI E SUAS ESPOSAS -- 03/12/2004 - 23:17 (Vitor Gomes Pinto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quarenta mil mulheres desfilaram este ano, saias coloridas e os bustos à mostra, na Cerimônia da Dança do Junco para que o rei Mswati III da Suazilândia pudesse selecionar uma nova esposa, adicionando-a às onze já existentes. Todas comprovadamente solteiras e virgens. A escolhida tornar-se-á uma esposa quando engravidar. Até então será considerada como uma noiva, a exemplo de outras duas que já estão na fila. A cerimônia, que é anual, não se realiza em Mbabane, a capital, e sim em Ludzidzine, quinze quilômetros a leste, na residência oficial da rainha-mãe. A poligamia é um costume ao qual se dedicam os suazis do sexo masculino, acumulando mulheres sempre que suas posses o permitirem.

Não por acaso o relatório 2004 da Unaids, agência da ONU dedicada ao combate das doenças sexualmente transmissíveis e da Aids, apontou a Suazilândia como líder nas estatísticas mundiais, com 39% da população adulta (de 15 anos e mais) contaminada pelo HIV. A chance de um jovem de 15 anos chegar aos 35 é de apenas 10%. O país, com 1,1 milhão de habitantes, tem 220 mil portadores da doença que é considerada o mal do século e produziu cerca de cem mil órfãos que já não podem ser absorvidas pelos parentes, quebrando uma prática que é tradicional na África subsahariana (região que reúne 50 países e 733 milhões de pessoas, pouco mais de 11% da população mundial). Nesta trágica estatística, Botsuana ficou em segundo com 37%; seguida por Lesotho, Zimbábue, Namíbia e África do Sul, esta com 21%. O Brasil, onde as campanhas anti-Aids são eficientes, tem 0,6% dos adultos infectados.

A Suazilândia, um antigo protetorado inglês que ainda é membro da Comunidade Britânica de Nações, obteve sua independência em 1968 e de imediato instalou a monarquia que hoje se mantém como o derradeiro reino absolutista da região. Mswati III está com 36 anos e sucedeu no trono a seu pai, o Rei Sobhuza II que casou pelo menos setenta vezes. Embora o Parlamento tenha sido restaurado, não há eleições e o 1º Ministro é nomeado pelo Rei. Ao invés dos partidos políticos, o poder é repartido entre as principais famílias de onde se originam as noivas e esposas do rei que são identificadas pelo clã ao qual pertencem. A primeira e a segunda são sempre indicadas por uma espécie de Conselho de Estado e devem pertencer aos dois clãs mais tradicionais, tornando-se conhecidas pelo sobrenome como La Matsebula e La Motsa. Depois, o Rei pode escolher e assim vieram, entre outras, La Nganganza, La Mbikiza e, em 2003, La Ntentesa, raptada da escola em que estudava pela polícia real. Os pais da moça ameaçaram ir à justiça e afinal receberam um dote de cinco vacas para que sua filha, como ocorreu sem maiores problemas, se resignasse ao seu destino.

A mais recente das eleitas é a Miss Adolescente da Suazilândia, de 16 anos, identificada quando o rei revisava o tape da Dança do Junco (bambu) e por ela se apaixonou ao ponto de desobedecer o decreto por ele mesmo emitido e que, para combater a epidemia de Aids, proíbe a prática do sexo, o uso de calças compridas e andar de mãos dadas em público para quem tem menos de 18 anos. Os grupos de ativistas da área da saúde e os defensores dos direitos das mulheres estão fazendo muito barulho, acusando o rei de dar um péssimo exemplo para o povo, mas as mudanças previsíveis não devem afetar nem o estado monárquico nem o poder de Mswati de indicar congressistas e nomear o chefe do governo. Discute-se uma nova Constituição que, pelo menos, deve permitir às mulheres registrar seus filhos e herdar terras e propriedades. Segundo Nomsa Ndumiso, uma jovem enfermeira que reside na capital, ”ninguém está obedecendo a lei da castidade porque nem o Rei a cumpre”,

O país, um forte produtor de açúcar, está entre os mais miseráveis do mundo, mas o Rei trata bem suas consortes, presenteando-as com carros BMW e colocando-as em palácios que no momento deseja modernizar para torná-los mais confortáveis. Apesar disso, enfrenta dificuldades domésticas. Duas rainhas, La Hwale e La Magwaza, ambas de 30 anos, o estão abandonando e vão embora, uma para a África do Sul e a outra para a Inglaterra, supostamente por insatisfação conjugal. Numa tentativa de conseguir espaço para as novas esposas, pois os clãs exigem que providencie duas por ano para reequilibrar o balanço político do reino, Mswati decidiu liberar a menos atrativa e mais inútil de suas mulheres, presenteando-a a um parente. Ele é adorado pela maioria dos súditos e também por suas rainhas. Entrevistada em seu palácio, La Magongo, a nona do harém, de 19 anos, mesmo preocupada com a possibilidade de a Aids entrar no palácio real, declarou preferir ficar porque acredita em Deus e em seu marido. “Se eu viver com medo, a confiança entre nós nunca mais será a mesma”.



Vitor Gomes

Escritor, Analista internacional, Doutor em Saúde Pública

Vitor.Gomes@persocom.com.br
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