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Artigos-->UM SEQÜESTRO DE MIL DIAS -- 28/11/2004 - 12:25 (Vitor Gomes Pinto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Em fevereiro de 2003 o governo liberal de Andrés Pastrana decidiu colocar fim a um processo de inúteis negociações de paz com as guerrilhas das Forças Armadas da Colômbia, as Farc, ordenando às Forças Armadas a retomada de San Vicente del Caguán, uma área de tamanho equivalente ao estado do Rio de Janeiro que fora cedida aos rebeldes. Foi, acima de tudo, uma desesperada tentativa de reverter as pesquisas eleitorais que davam como certa a derrota do candidato oficial Ernesto Samper para o também liberal mas oposicionista Álvaro Uribe nas eleições nacionais. Uma semana depois, quando a lei ainda era a da selva na região, a candidata do Partido Verde Oxigeno, a jovem Ingrid Betancourt (tem, hoje, 42 anos) acompanhada por sua vice Clara Rojas decidiu visitar El Caguán para fazer campanha. As autoridades avisaram-na de que não tinham como dar-lhe proteção e aconselharam-na a não ir. No dia 23 as duas mulheres caíram prisioneiras, transformando-se desde então no mais significativo troféu e na melhor moeda de troca dos guerrilheiros em suas negociações com o estado colombiano.

Quando se completam mil dias de cativeiro, não há qualquer sinal concreto de que ela possa voltar ao convívio com a família. Sua mãe, Yolanda Pulecio diz que não sabe qual o estado de saúde de Ingrid e se queixa de uma terrível intransigência da parte do presidente que não a recebe há um ano apesar dos reiterados pedidos de audiência. Em julho do ano passado seu ex-professor (estudou no Instituto de Ciências Políticas de Paris em 1986) e ministro das relações exteriores da França, Dominique de Villepin, tentou libertá-la de maneira desastrada. Enviou a Manaus um Hércules C-130 da Força Aérea francesa, com dinheiro e armas a serem trocados por Ingrid na pequena cidade de Santo Antônio do Içá, próxima a Tabatinga e junto à fronteira. Os guerrilheiros não apareceram e o governo brasileiro deixou o avião ir embora sem examinar o que continha. A vasta divisa com o Brasil, na floresta amazônica, é uma terra de ninguém, mas Ingrid não ficou ai, prosseguindo em sua rotina de mudança regular de cativeiro por óbvios motivos de segurança.

As Farc colocaram-na numa lista de políticos e personalidades em seu poder para troca com guerrilheiros que estão nas prisões colombianas. As negociações com o governo de Uribe, contudo, não avançam. No momento há um evidente impasse, pois enquanto a proposta oficial é de troca espontânea de 15 prisioneiros seguida de reuniões bilaterais em Bogotá numa embaixada ou na Nunciatura Apostólica, as Farc exigem a volta da situação vigente no governo anterior (desmilitarizar Caguán e Cartagena Del Chairá no estado de Caquetá), denunciando a proposta governamental como demagógica e irresponsável.

Ao mesmo tempo em que promove, com forte apoio norte-americano, uma caça às guerrilhas de esquerda que dominam grande parte do país, Uribe abre as portas e os braços para as Autodefesas Unidas da Colômbia, as AUC, grupo de extrema direita acusado das maiores atrocidades cometidas ao longo dos mais de 40 anos da interminável guerra que sacode a nação. Até 15 de dezembro está prevista a desmobilização de mais 3000 paramilitares, atraídos pela “Lei do Perdão, Esquecimento e Reparação” e por ofertas como a de um ordenado de 120 dólares mensais (o salário-mínimo é de 140 dólares) num país onde há 2,8 milhões de desempregados aos quais nada se oferece. Análises independentes indicam que o paramilitarismo colombiano é hoje um sinônimo da máfia das drogas e o acordo com o governo pode dar-lhe o mais desejado prêmio: evitar a extradição para os EUA. O Bloco Catatumbo, com 1400 homens, o primeiro a apresentar-se, passará por atentos exames de saúde, receberá aulas de cidadania e depois será enviado para o campo a fim de erradicar plantações de coca, produto que até agora os têm sustentado. Os que ficarem nas cidades poderão formar empresas privadas de segurança com subsídio financeiro governamental. Espera-se, assim, que ao invés de atacarem e extorquirem a população, passem ordeiramente a protegê-la. Convencido de que esses caminhos são corretos, G. W. Bush decidiu fazer à Colômbia a primeira visita ao exterior depois de reeleito.



Vitor Gomes

Escritor, analista internacional

Autor do livro Guerra nos Andes

Vitor.gp@persocom.com.br

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