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cronicas-->Mulheres que paqueram -- 12/11/2001 - 23:00 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ninguém contestava a beleza quase divina de Samir. Mesmo os homens reconheciam-na. Diziam, porém, que ele era bicha. Para os homens, a beleza unànime de um semelhante é sinónimo de boiolice. As mulheres, contudo, achavam-no o máximo. De todas as idades, crenças e credos. Loiras, morenas, negras, orientais. Todas elas. Ele perdera a conta das cantadas que recebeu enquanto trabalhou num charmoso restaurante dos Jardins. Resistiu a muitas delas. Queria vencer na vida. Conquistar sua independência com o suor do trabalho honesto. Foram três anos no emprego. Juntou umas quinquilharias. Fez um book - sugestão de uma das clientes, que era uma espécie de caça-talentos de uma importante agência de modelos. Ela se encarregou de indicar o estúdio, recomendou o fotógrafo. Escolheu as roupas e poses. Ofereceu-se para pagar a conta, mas Samir recusou. Uma das sócias da agência, Marta Galhardi, encantou-se com o ensaio. Pediu para sua assistente marcar uma entrevista com o rapaz. Era uma quinta-feira, dia de grande movimento no restaurante, e dificilmente Samir conseguiria uma folga. Aristides, o gerente, já estava pegando no seu pé. Marta ligou para Dom Spozzito, o proprietário. Veio a ordem para liberar Samir. Aristides ficou puto. Mas, enfim, era o patrão. Ordem de patrão se cumpre, não se questiona.

Samir chegou à agência quinze minutos antes do horário marcado. Apresentou-se na recepção. Gisele, a recepcionista, ofereceu-lhe chá. Ele recusou. Café? Água? Não, obrigado. Se quiser vou lá fora buscar um refrigerante. Nada, Samir não queria nada. Apenas a entrevista, quanto mais breve melhor. Era sua chance de ouro. Se não desse certo Aristides não sairia mais da sua cola. E tinha torrado todas as suas economias. Se sua mãe soubesse, o mataria. Viu uma mulher elegante entrar apressada na sala da diretoria. Gisele a cumprimentou: - Boa tarde, Dona Marta! Não ouviu resposta alguma. Samir tremeu. Devia ser uma cascavel, a tal da Marta. Perguntou-se o quê estava fazendo ali. Era tarde para se arrepender, entretanto. Gisele deu um sorriso sem graça. Fingiu anotar alguma coisa no papel. Seu telefone tocou. Por distração ou nervosismo, deixou o viva-voz ligado. "Ele já chegou? Ótimo. Mande ele entrar!" Gisele viu o corpo de 1,95m se erguer do sofá alaranjado. Suspirou. Acompanhou-a até a porta. Abriu-a. "Pode entrar!"

- Então você é o Samir... muito prazer, Marta Galhardi, sócia-diretora da Stylus Models.

- O prazer é todo meu, Dona Marta.

- Pode me chamar de Marta, não sou tão velha assim.

- Desculpe, Marta. É que estou um pouco nervoso.

Marta explicou-lhe como funcionava sua agência. Samir estava maravilhado. Ela só não disse porque o ar-condicionado não funcionava. Um verdadeiro inferno, ele suava. Ao presenciar o traçado de uma gota de suor que escorreu desde a testa do rapaz até seu tórax peludo, a dona da agência não conseguiu disfarçar seu encantamento. Fez um movimento sensual com a língua comprida, afagando os próprios lábios finos. Ficou paralisada. Muda. Deixou o rapaz ainda mais sem jeito. Sugeriu que ele abrisse os botões da camisa branca, ao que ele respondeu que não era preciso, que se sentia bem. A proposta para estrelar uma campanha de moda masculina era bastante atraente. Mas exigia que ele largasse o emprego. Teria de viajar até Fernando de Noronha. Se tudo corresse bem, em seguida participaria de uma propaganda de chocolate. As gravações seriam em Paris.

- Paris?

- É. Paris. Conhece?

- Não senhora. Perdão. Queria dizer, não Marta. Mas será o maior prazer.

- O prazer será todo meu, filho. Tenho de ir a Paris na mesma época.

Mais uma vez o jovem Samir não sabia aonde enfiar a cara. Outra cantada. Não bastasse a moça da recepção. Pediu um tempo para pensar. Todo tempo do mundo - ela respondeu. Ele olhou para o relógio. Tinha de ir. Assumira o compromisso de chegar o quanto antes no restaurante. Estendeu a mão para Marta. Ela não retribuiu. Levantou-se da cadeira, contornou sua imensa mesa de vidro, deu-lhe um abraço forte e um beijo suave, porém demorado, em seu rosto barbeado. Disse que era para dar sorte, o beijo. Antes de se dirigir à rua, pediu água para Gisele. A moça foi buscar. Trouxe bandeja e tudo. Ela reparou a marca do batom. Samir saiu apressado. Gisele ligou rapidamente para Estela. Comentou que a velha era mesmo uma piranha. "Magina?! Beijar o bonitão assim, em plena luz do dia. Aquilo não era papel de uma mulher casada. Já pensou se o doutor Albuquerque fica sabendo de uma coisa dessas? Tem mulher que não se enxerga mesmo...!" A outra linha piscou. Era o marido, querendo saber a que horas teria de pegá-la. "Sei lá, Claudio Roberto! Vai ter um coquetel hoje à noite e a vagabunda da Dona Marta quer que eu fique. Pode ficar sossegado que eu vou de táxi. Não era hoje que iria ao estádio?"

Samir chegou ao Rodolfos e foi correndo para o vestiário. Lavou o rosto, abriu seu armário de aço, procurou o desodorante e, antes de tirar a roupa, encontrou um papel no paletó. Era um papel pequeno com o timbre da Stylus. A letra, quase indecifrável, revelou-se um convite. "Te espero às 9:00, em frente ao restaurante. Beijos apaixonados, Gi."
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