COM VONTADE DE EXPERIMENTAR
Lá no Lycée, todo ano, no mês de agosto, chegavam novos alunos vindos da França ou de algum país do hemisfério norte, onde o calendário escolar é diferente do nosso. E no meio deles, uma vez, veio um brasileiro de seus nove anos, que foi para a classe da terceira série.
Como desde pequeno ele tinha vivido na França, nos primeiros dias comportou-se como verdadeiro francesinho, calado e quietinho em seu lugar. Mas não demorou muito a botar as manguinhas de fora. Em poucas semanas, começou a se transformar em capeta. Não parava sentado e falava feito matraca. Tampouco queria me obedecer.
Um dia, cansada de chamar sua atenção, eu disse que apostava que lá na outra escola ele não fazia nada disso, pois as professoras são muito bravas. E o desafiei: como é que ele se comportava?
O pestinha não perdeu o rebolado. De cabeça erguida perante a classe curiosa, disse que fazia as mesmas coisas. A mim você não engana, seu danado, lá na França?!... Soltei um sonoro du-vi-de-o-dó!
Pensei que ele fosse titubear, ficar meio encabulado, mas não foi isso que aconteceu. Ele permaneceu impassível, como se tivesse dito a verdade verdadeira. Então eu quis saber: o que é que sua “maîtresse” fazia, que castigo dava a você?
Foi então que veio o inesperado, jamais imaginado. Com a cara mais lavada, ele respondeu: ela me trancava no armário!...
Eu tive que me segurar pra não dar risada, mas a garotada não se conteve, caiu na gargalhada.
A partir de então, todos os dias tinha um gaiato que pedia pra ser castigado. Daquele jeito...
Beatriz Cruz
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