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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->55. PESQUISA FRUTÍFERA -- 17/07/2002 - 07:45 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Os três amigos sentiam-se aliviados com as revelações. Do jeito como os fatos se dispuseram, tudo lhes estava sendo facilitado. É bem verdade que reconheciam o horror da situação. Entretanto, o grau de responsabilidade que os envolvia, principalmente a Leonel, tinha sido muitíssimo atenuado.

Fernando acreditava que o pedido de Jeremias, quanto a cuidar dos filhos, poderia obter sucesso. Passou-lhe pela idéia chamar o afilhado para tomar conta de seus negócios, ajudando-o a carregar a pesada carga. Quem sabe o velho Correia aceitasse participar da sociedade, comprando parte para os netos?

— Leonel, que acha de se tornar meu sócio? Quero abrir o capital da empresa. Se você topar, estabeleceremos sociedade anônima. Talvez Maria ou o pai queiram entrar, encaminhando tudo para os rapazes. Eu não tenho herdeiros e deixar para pessoas desinteressadas pela manutenção do patrimônio, não faz o meu gênero. Trabalhei muito para...

— De jeito nenhum. Nem eu, nem meu sogro, nem minha cunhada. Você vai ter de agüentar a mão firme no leme. Não concordo.

— Sinto-me tremendamente cansado. Esta última semana mostrou-me a fragilidade dos meus hábitos de vida.

— Mude os hábitos, mas conserve esta fonte de rendas.

— Como você sabe, tenho propriedades alugadas. Dão bom dinheiro. Não preciso alquebrar-me...

— Alquebrar-se?... Falando desse jeito, até dá a impressão de que está carregando tremenda cruz.

— Gostaria de fazer outras coisas.

— Pois faça. Mas não desfaça o que já tem. Nesta vida, o que há de melhor é a capacidade de realização. Trabalhe sem esmorecimentos. Você vai tirar proveito de tudo. Só não pode é fazê-lo sem entusiasmo. Alquebrar-se?! Era só o que faltava...

João gostou do discernimento de Leonel:

— Era o que ia dizer-lhe. O que estou temeroso é que tenha recebido um jato muito forte de espiritismo e agora queira santificar todas as atitudes. Eu mesmo levei vários anos para aceitar os princípios da doutrina de Kardec. Para assimilar os conhecimentos básicos, estagiei em todos os setores do Centro. E li dezenas de volumes. E fiz milhares de exercícios. E atuei junto aos necessitados dos dois planos da realidade, para conhecer-lhes todas as reações. Garanto que minha convicção não se fez de um momento para outro. Houve hesitações. O que me pôs mais conforme foram as notícias de parentes mortos. Especialmente de minha mulher. Aliás, o fato de ter os filhos educados, independentes, e de ser viúvo, sem compromissos familiares, é que me dá a vantagem de tamanha dedicação. Tenho visto que as pessoas que têm família não se dão integralmente. No caso de o cônjuge seguir outra religião, aí a participação fica muito acidentada. Vejam que preparei o meu discurso. Quero só concluir, solicitando que o amigo deixe passar, no mínimo, um ano. Muita coisa pode acontecer. Se a disposição da vontade continuar inalterável, recomendo que voltemos a discutir o assunto.

— Vou conversar com Dolores. Não decidirei sozinho. Mas que estou cansado, estou. E com muita vontade de conhecer outras atividades. Mesmo que dê algumas cabeçadas.

Leonel percebeu que arrefecera o entusiasmo do amigo:

— Se vocês não se incomodarem, pretendo mudar de assunto, que está ficando muito tarde. Que acham que devemos fazer a partir das informações do querubim, digo, Joaquim?

Fernando estava na ponta dos cascos, como gostava de dizer lá no hipódromo:

— Sigam o meu pensamento. Se os padres estavam creditando a Timóteo a responsabilidade de uma diocese, nesta altura terão ouvido a sua confissão. “Se alguém souber de algum impedimento...” Não é essa a condição da bênção matrimonial? Pois para cargo eclesiástico tão importante, os cuidados são redobrados. Se tomaram conhecimento dos casos amorosos e, mais ainda, da AIDS, vão afastá-lo definitivamente da paróquia. O padre que vi no lugar dele na missa...

João esticou um olhar de muita curiosidade.

— Sim. Estive na igreja domingo. Queria encontrar-me com Dolores. Foi lá que fiquei sabendo que Timóteo seria bispo. Não penso que freqüentar a igreja seja pecado...

— Esteja à vontade. O que manda na consciência é a qualidade das ações praticadas. Faça o bem e ninguém jamais cometerá erro algum.

— Muito obrigado, caro diretor espiritual!

Leonel queria pressa:

— Não vamos começar a rasgar sedas. Se bem estou entendendo, resumindo, o velho sacerdote substituto está encarregado de confessar as mulheres listadas pelo grande pecador. Aí não teremos nada mais para fazer, pois cada qual deverá cuidar de si mesmo. Mas como ter a certeza de que as providências estão encaminhadas nesse sentido?

Os três juntos:

— Conversando com o padre!

— Será que nos atenderá por telefone? — Leonel estava realmente querendo liquidar logo o assunto.

— Vou ligar para a igreja. A telefonia...

— Sabe o número?

— De cor e salteado. Como você pensa que conversava com Timóteo? Alô! Com quem falo? — João e Leonel aguçavam a curiosidade. — É o Senhor, Padre, quem está no lugar do Padre Timóteo? [...] Poderia dar-me uns minutos de sua atenção? [...] É muito importante. [...] Falo em nome de Dona Maria, esposa do paroquiano Jeremias, falecido na semana passada, muito amigo do... [...] Pessoalmente? Quando? [...] Já estamos indo para aí. [...] Em quinze minutos. Até logo!

— Então?

— O nome Jeremias fez o homem pular. Queria vir até aqui. Não seria justo. Vamos nós lá. Todos podem?

— Na verdade, companheiro, eu não poderia. Mas como perder essa oportunidade? Vamos já.

João, contudo, não quis afastar-se por mais tempo do escritório. Conversariam à tarde. Passava das onze.

Antes de saírem, ligaram para as respectivas esposas, avisando de provável demora para o almoço. Explicariam os motivos mais tarde.



O velho pároco esperava-os à porta da igreja. Fê-los entrar imediatamente. A nave estava deserta. Duas mulheres idosas, cabeças cobertas, rezavam junto ao altar. Dirigiram-se à sacristia.

— Que infelicidade, meus filhos, a morte precoce de tão generosa criatura. Deus há de reservar-lhe bom lugar na eternidade. Sentem-se, por favor. Soube que foi levado por este mal de fim de século. Timóteo me contou.

Dava sugestões. Não se decidira a falar diretamente. Sondava as almas. Apresentaram-se como amigo e cunhado do defunto. Naquele campo, Fernando se sentia bem mais à vontade:

— Padre...

— Donizetti, meu filho. Como aquele dos milagres de Tambaú.

— Padre Donizetti, vamos diretamente ao assunto. Temos seguras informações de que Timóteo foi o gerador da desgraça de Jeremias, através da esposa. Foi ela mesma quem nos contou. Está com medo de que o amante (desculpe a expressão grosseira) tenha contraído a doença em seus... relacionamentos. Este assunto é muito desagradável.

Leonel interferiu:

— Queremos saber o que o Senhor está fazendo para avisar as outras mulheres do perigo que correram. Se estão prevenidas quanto à doença e se estão fazendo os competentes exames de sangue. Senão, vai haver uma epidemia na paróquia. Maridos...

Donizetti ergueu a mão, solicitando silêncio. Enquanto os recém-chegados falavam, orava em silêncio. Pedia proteção ao anjo da guarda. O perdão de Deus. A assistência de Nossa Senhora.

— Vejo que os irmãos estão preocupados, com razão. A mesma preocupação agitou o arcebispado, tanto que afastou Timóteo da paróquia. Coincidentemente, havia sido escolhido como o futuro bispo da diocese. Agora está a caminho de Roma.

— Soubemos que estava no mosteiro de...

— Sim, queridos. Ontem estava em Itaici. Hoje está viajando para o Vaticano.

— Assim, de repente, sem passaporte?...
— A Igreja tem o amparo do Senhor e a compreensão das autoridades. — Leonel pensava: “E muito dinheiro!” — Agora irá responder judicialmente, perante as supremas autoridades eclesiásticas. Mas não podemos agitar as almas. Jesus paira acima dos erros e defeitos humanos e os sacerdotes somos falíveis, como qualquer criatura. Como gostariam que a Igreja agisse? Digam francamente. Acham que deveríamos tornar pública a desgraça íntima de diversas pessoas? Seria falta de comiseração, falta de piedade, falta de caridade. Devemos agir com prudência, para honra e glória do Senhor. A Igreja não quer perder as ovelhas pela intemperança de um pastor.

Leonel não perdeu a deixa:

— Foi bom que perguntasse, Padre. Nós achamos que deveria haver retratação perante as senhoras e famílias ofendidas.

— Jesus nos tem inspirado nesse sentido. Vejo que o Senhor não está plenamente confiante em que vamos ressarcir os prejuízos morais...

— Penso que seja muito mais do que isso. Trata-se da vida de diversas pessoas.

— Vidas importantíssimas. Mas a salvação de suas almas é que conta.

— Se isso as satisfaz...

Fernando contemporizou:

— Vamos ouvir o Padre Donizetti, que me parece está sofrendo muito com a situação causada pelo antecessor. Afinal de contas, ele não tem nada com isso. Ao contrário, está tentando remediar os problemas. Na verdade, foi colocado numa enrascada em que eu não gostaria de estar.

— Deus o abençoe, meu filho! Se todos tiverem a sua compreensão, superaremos o drama das vidas que se perderam e recobraremos a fé e a esperança que ameaçam ruir. Acima da Igreja, está o Pai, que vela por todos nós. Confiem neste velho. A extensão dos pecados não é tão grande. A lista das paroquianas foi rigorosamente aquilatada pela Cúria Metropolitana. Peço-lhes o sigilo da confissão. Irei avisar uma a uma, chamando-as a partir de hoje mesmo. Se for possível não fazer escândalo, todos ganharemos. Contudo, se alguém resolver executar denúncia pública, indo às barras dos tribunais dos homens, fugirá de minhas mãos a providência de defesa da instituição. Que pensam vocês fazer?

Leonel e Fernando trocaram olhares, cada qual passando a deixa ao outro. Foi Fernando quem assumiu a responsabilidade de avisar a comadre. Prosseguiu daí:

— Caso o pai ou a mãe resolverem contra o Padre Timóteo, não poderemos responder por eles. Quanto a nós, fique tranqüilo, pois desejamos apenas a harmonia dos lares. Não seremos nós quem vai atirar a primeira nem nenhuma pedra. A nossa investigação termina aqui. E pedimos perdão por vir perturbá-lo nesta grave conjuntura. Creia que o Senhor tem a nossa estima e admiração.

— Deus os abençoe! Deus os abençoe! — E fazia no ar amplo sinal da cruz, aguardando que se ajoelhassem e se persignassem. Mas os amigos não estavam suficientemente emocionados para se submeterem à autoridade religiosa. Davam a entender a Donizetti que deveria agir com o máximo de lisura, na vigilância que empreenderiam a respeito das atitudes do arcebispado.



À uma da tarde, cada qual chegava a sua casa para almoçar. Chegavam compenetrados de que a luta não terminara.

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