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Artigos-->NOSSA ESCAPATÓRIA NORTE-AMERICANA -- 13/11/2004 - 23:20 (ƒ.; ®.; ane©.; o) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NOSSA ESCAPATÓRIA NORTE-AMERICANA



por Maria Lucia Victor Barbosa, socióloga



Terminadas as eleições municipais ficou clara a erosão havida no poderio do PT, o que gerou incerteza, e não mais certeza, com relação à reeleição do presidente Luiz Inácio. Sem os temas palpitantes de campanha, a mídia tratou de concentrar mentes e corações nas eleições presidências dos Estados Unidos, e a maioria dos brasileiros torceu pelo democrata John Kerry, como se votasse naquele país. Acrescente-se que a vitória de Kerry seria para o mandarinato petista uma espécie de prêmio de consolação internacional, de efeito mais moral do que prático, depois das duras derrotas municipais.



A explicação para o favoritismo do democrata (apesar do nosso antiamericanismo que, diga-se de passagem, nunca foi tão exacerbado) baseou-se na romântica concepção de um Kerry que representa a “esquerda americana”, portanto um “progressista” pronto a se curvar aos desejos do Brasil e a promover a paz mundial. George W. Bush é o sujeito mau, que faz guerra, tropeça nos discursos (algo que já deveríamos estar bem acostumados por aqui) e é apoiado por conservadores e fundamentalistas religiosos (no Brasil, só se aprecia os seguidores do hiper fundamentalismo de Bin Laden).



Em que pese, contudo, a torcida brasileira, Bush venceu Kerry com uma ampla diferença de 3,5 milhões de votos. Além de triunfar através do voto popular (sem os atrasos que nossos analistas pediam a Deus que acontecessem), o Partido Republicano foi vitorioso no Colégio Eleitoral, na Câmara de Deputados e no Senado, o que significa que vai controlar a maioria dos 50 Estados norte-americanos.



Depois desse resultado, caiu rapidamente o pano, e nossa mídia partiu ao encalço de furacões e acidentes, tendo vindo a calhar a morte de Arafat para incrementar notícias. De qualquer forma, permaneceu o xenofobismo que se encarrega de responsabilizar os Estados Unidos pelos maus governos que elegemos, por nossas mazelas, por nossos erros. É mais cômodo e serve como bálsamo ao nosso nacionalismo exacerbado e contraditório, que nos faz odiar os norte-americanos, amar antigos colonizadores europeus e idolatrar déspotas como Fidel Castro.



Concretamente os Estados Unidos nos possibilitam oportunidades de trabalho que não encontramos em nosso país, nos permitem tratamentos de saúde em centros de excelência médica, nos oferecem valorização para nossos talentos artísticos e intelectuais, nos ofertam bons cursos e nos deliciam com turismo e lazer de primeiro mundo. Ideologicamente, porém, os Estados Unidos funcionam como escapatória.



Como analisou Jean-François Revel, referindo-se aos europeus, mas de modo a ilustrar também a mentalidade latino-americana, o que inclui a nossa: “vê-se bem para que nos servem os Estados Unidos (como escapatória): para nos consolar de nossos fracassos, alimentando a fábula que o que fazem é pior do que fazemos, e todo o mal aqui existente tem neles tem sua origem. São, portanto, responsáveis por tudo que não anda bem no mundo”.



Com relação à reeleição de Bush, fruto da livre escolha de seu povo ainda traumatizado pelos atentados de 11 de setembro de 2001, seria interessante repensarmos nossos valores ou antivalores. Afirmo isso porque muitas críticas foram feitas com relação ao conservadorismo do presidente Bush e de seus eleitores que seriam excessivamente moralistas.



Nesse sentido, recordo o Índice de Corrupção de 2004, divulgado em Londres em 20 de outubro deste ano, pela organização não-governamental (ONG) Transparência Internacional. Segundo a ONG, a corrupção no Brasil permanece elevada e ocupamos o 59º lugar no ranking de corrupção num total de 146 países pesquisados.



Isso não significa que não exista corrupção em outras partes do mundo, inclusive, nos Estados Unidos, mas a diferença está no fato de que os norte-americanos possuem mecanismos mais eficientes para combater embustes e falcatruas, enquanto que, no Brasil, existe uma infinita complacência com deslizes, especialmente os cometidos pelos que deviam dar o exemplo por estarem na condição de autoridades governamentais.



Ainda quanto a aspectos morais, vejamos o que afirma Carlos Rangel: “a sociedade latino-americana (católica) se satisfaz facilmente com as aparências: aparência de boa conduta, aparência de responsabilidade familiar e paterna, aparência de talento, aparência de probidade, aparência de erudição, aparência de patriotismo, aparência de radicalismo revolucionário, aparência de heterossexualidade, aparência de religiosidade”.



Enquanto continuarmos a viver no mundo das aparências e na aceitação pronta do que nos fazem os governos por nós eleitos precisaremos de escapatórias, mas não resolveremos nossos problemas. Lembremos disso em 2006.



DIEGOCASAGRANDE

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