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Artigos-->BIOGRAFIAS E BIÓGRAFOS(Enéas Athanázio) -- 12/11/2004 - 11:03 (Mário Ribeiro Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
BIOGRAFIAS E BIÓGRAFOS





Enéas Athanázio





Como biógrafo do mineiro Godofredo Rangel e do catarinense Crispim Mira, sei de experiência própria quão difícil é rastrear com segurança os passos de alguém em sua vida terrena. Preencher lacunas misteriosas, eliminar hiatos indesejáveis, explicar posições e atitudes. Ainda mais quando se trata de um escritor arredio às entrevistas e confissões pessoais, como foi o mineiro, ou cuja existência recuada no tempo não permite contatos com contemporâneos, como ocorreu com meu conterrâneo, assassinado em seu jornal no distante ano de 1927, na capital do Estado. Não foram poucas, em ambos os casos, as dúvidas inquietantes que tive de enfrentar, procurando resolvê-las deduzindo fatos de simples indícios ou apelando a amigos distantes para que me socorressem com suas luzes.

Por razões dessa ordem é que grandes biografias, bafejadas pelos leitores e pela crítica, apresentam lacunas que só os dedicados estudiosos do biografado acabam percebendo. Assim ocorre, por exemplo, na excelente biografia de Monteiro Lobato, até hoje insuperada, escrita por Edgard Cavalheiro- “Monteiro Lobato-Vida e Obra”(2 vols). Nessa obra ímpar, o autor passa como gato sobre brasas pela descrição das atividades forenses de Lobato, deixando de fora seu pensamento como jurista a respeito de temas palpitantes como o crime e a pena, os juízes e a justiça, as prisões e seus efeitos, o juri e seus quesitos, as escolas penais e assim por diante. Embora Lobato não sentisse amor pelo Direito, tinha um pensamento jurídico nítido e firme, exposto no correr de sua obra, como procurei demonstrar em um ensaio.

Também a biografia “Chatô, o rei do Brasil”, de Fernando Moraes, silencia a respeito do pensamento de Assis Chateaubriand como jurista, uma vez que foi professor universitário na área do Direito e exerceu a advocacia. Em ambos os casos, porém, os biógrafos, embora escritores atilados, não tinham formação jurídica, dificultando-lhes sobremaneira a penetração nesse intrincado terreno, fato perfeitamente compreensível.



Diante de fatos assim, é de grande importância a investigação realizada sobre um ou alguns aspectos da vida/obra de uma personalidade, ainda que se trate de alguém que sempre viveu exposto à mídia e não se furtava a falar de si próprio, como foi o caso de Gilberto Freyre.



Refiro-me ao pequeno e substancioso livro “GILBERTO FREYRE, O EX-PROTESTANTE”, de autoria de Mário Ribeiro Martins, publicado em 1973, pela Imprensa Metodista, de São Paulo e que tem o esclarecedor subtítulo de “uma contribuição biográfica”. Embora se trate de obra esgotada, é interessante comentá-la em face do ineditismo do tema e as consequências para o biografado.



Nessas páginas, o autor mergulha fundo no tema, rebuscando papéis e variadas fontes em laboriosas pesquisas. Mostra ele que o Dr. Alfredo Freyre, pai do Mestre de Apipucos, manteve estreitas relações com os batistas de Pernambuco, com eles colaborando(tendo sido Diretor do Colégio Americano Batista Gilreath) e professando sua fé, embora nunca batizado.



Gilberto, o filho, foi mais longe, chegando a ser “menino-pregador”(como dizia) com 17 anos de idade, aqui e nos Estados Unidos, para onde havia se transferido para estudos universitários. Aliás, seguiu para os Estados Unidos, em 1918, após ter recebido a passagem do velho missionário norte-americano L. L. Johnson, que vendeu o seu piano, para ajudá-lo na viagem à América do Norte.



Passou, como seminarista, pelo Seminário Teológico Batista de Fort Worth, no Texas e foi para a Universidade Batista de Baylor, onde, como EVANGÉLICO PROTESTANTE, tornou-se membro da SEVENTH & JAMES BAPTIST CHURCH(Igreja Batista da Rua Setenta, com Rua James) e um de seus pregadores.



Meu evangelismo “nesses dias-afirmava-era de caráter o mais popular. O mais antiburguês. O mais antieclesiástico. Com muito de tolstoiano, portanto”(pag.53). Esses contatos e tendências, escreveu mais adiante, “duraram ano e meio. Mas ano e meio que me enriqueceram a vida e o conhecimento da natureza humana, no sentido de relações dos homens com Deus e com o Cristo, que é um sentido de que ainda hoje guardo comigo parte nada insignificante”(pag.54). Diversos fatores, porém, interferiram e o levaram por outros caminhos na luta ingente pela realização de sua obra científica e, principalmente, de escritor, condição a que aspirou acima de tudo. Sua vivência nos Estados Unidos, onde observou o tratamento cruel dedicado aos negros, contribuiu de forma decisiva para esse afastamento.



Embora o sociólogo aparentasse “negar qualquer influência protestante sobre sua formação ou pelo menos não a tomasse em consideração”, como escreve o autor do ensaio(pag.31), é fora de dúvida que o evangelismo deixou marcas profundas em GILBERTO FREYRE, temperando seu caráter, humanizando suas conclusões, apurando sua sensibilidade e embelezando seu estilo.

Ninguém vive uma experiência religiosa de ano e meio, com tal intensidade, no período das graves crises espirituais, sem que ela deixe suas marcas. Os elementos que se juntam na formação do escritor e como eles se entrelaçam na sua cabeça são mistérios até hoje inexplicáveis. É por isso que se afirma que para o escritor não existem experiências e conhecimentos inúteis. Ainda que de forma indireta, o próprio escritor Gilberto Freyre reconheceu essa influência “EM CONTATOS E TENDÊNCIAS DE QUE ME ORGULHO”(pag.53).

Por tudo isso, o ensaio de Mário Ribeiro Martins intitulado “GILBERTO FREYRE, O EX-PROTESTANTE” é merecedor de atenção e se constitui em mais um elemento importante a ser levado em consideração nos estudos sobre Gilberto Freyre e sua valiosa obra.

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