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Artigos-->A frustração nacional -- 09/11/2004 - 21:15 (ƒ.; ®.; ane©.; o) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Correio Braziliense



Publicado em: 07/11/2004



A frustração nacional

Editorial





As bases do sistema democrático de governo têm os seus alicerces na Grécia antiga, sobretudo em Aristóteles. Foi, entretanto, Abraão Lincoln, em 1863, em seu famoso discurso de Gettysburg, quem cunhou a expressão de que ela é o governo do povo, para o povo e pelo povo. É essa democracia, do povo e para o povo — que se aguarda consolidar-se cada vez mais em nosso país —, que permitiu a Lula chegar à Presidência da República, depois de reiteradas e fracassadas tentativas no passado. Prova a obstinácia, a persistência e o inegável valor pessoal do candidato vitorioso.



Depois de toda essa caminhada, esperava-se que o conteúdo programático que animou a campanha petista, que teve os seus refrões cantarolados nas eleições de 2002, se concretizasse no exercício do cargo a que galgou o eleito. Nada mais equivocado e surpreendente. Sem dúvida mais surpreendente do que equivocado. Aliás, a surpresa maior está no estamento do elitismo dos que assomaram a direção do país — a começar pelo seu comandante-em-chefe —, que se aburguesou com tamanha avidez e voracidade que até os mais notáveis e retrógrados direitistas patrícios de carteirinha assinada se benzeram, corados, ante a extraordinária e inusitada metamorfose jamais vista nos cenários da política nacional.



Nunca alguém falou tanto em programas e metas de governo e nunca alguém se desmentiu tanto em tão pouco tempo. O pior é que já sabiam esses senhores, hoje os donos do poder, o que estava a acontecer no mundo da economia globalizada — portanto cientes da falácia das promessas que anunciavam — e mesmo assim persistiram nessa mesma surrada tecla para, depois, instalados nas poltronas do Planalto, negá-las com a maior cara-de-pau. Foram para a cesta de lixo, em conseqüência, todas as ações sociais em benefício do trabalhador, massacrantemente badaladas o dia inteiro e cantadas em prosa e verso, e por isso mesmo se viram no constrangimento de lutar — para situar apenas um tema — por um salário mínimo que é a antítese da discurseira entonada pelos barítonos do núcleo ideológido do petismo desde a sua fundação.



O que mais me assusta, contudo, não é essa virada de 360 graus, mas o estilo de governo que os seus agentes, arraigadamente, continuaram a perseguir. Não mudou, porém, o que mais tinha que mudar: a postura no exercício do poder. O aprendizado que uma boa parcela deles teve nos tempos da mais persistente ideologização marxista-leninista ou stalinista remanesce em seus atos e ações no quotidiano da vida administrativa.



As atitudes que incrementam as ações governamentais se alimentam, ora de uma recôndita, ora de uma ostensiva inspiração marcadamente autoritária, imperativa, prenhe de mandonismo, para não dizer coisa muito mais grave, acerca de propósitos que só não se materializam, ou não se materializaram, graças às manifestações e protestos da opinião pública, especialmente da grita das entidades organizadas e da imprensa. Disso dá conta o empenho direto do presidente da República na aprovação da reforma do Poder Judiciário, com a criação do Conselho Nacional de Justiça, o Conselhão, de modelo petista, para que se mitigue a autonomia e independência do poder encarregado de julgar; na criação do Conselho Nacional do Ministério Público e o incentivo à aprovação da lei da mordaça; na criação do famigerado Conselho Federal de Jornalista, felizmente já submergido, e na instituição da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual — Ancinav, agora, mercê das reações apresentadas, reformulado com redação mais digna. Fica para outra oportunidade o que se teria a acrescer dessa melancólica amostragem.



No primeiro turno das eleições municipais para prefeito, o governo comemorou os resultados. Não entendi a razão. Vejamos. Pinçados somente os partidos declaradamente de oposição como o PSDB, PFL e PDT, os resultados não desmentem: obtiveram, juntos, 32.552.971 sufrágios, enquanto o PT, 16.326.047. No segundo turno diminuiu a euforia. Nem era para menos. Consultemos os resultados. Novamente o PSDB, PFL e PDT, somados, segundo dados apurados junto ao TSE, contabilizaram 9.441.824 votos, enquanto o PT obteve 6.912.038. Isso quer dizer que, com toda a máquina petista posta a serviço de seus candidatos, o governo perdeu feio. Nos estados do sul, uma surra completa. Em São Paulo idem. Em Porto Alegre Fogaça derrubou a hegemonia de 16 anos de governo petista. É a resposta do povo aos atuais mandatários controladores do poder federal. Como resta um tempinho para se corrigir, quem sabe baixa sobre eles um pouco de humildade e diminua o facho da prepotência.



No mais, quanto àquele mundo de promessas feitas pelo candidato vitorioso no pleito nacional de 2002, o que se sabe é que nada ainda se cumpriu. Até mesmo as bolsas vindas do passado para amenizar o infortúnio dos excluídos, como gosta de chamar o pessoal do governo, virou essa bagunça, de gente que não tem direito recebê-las e de gente que precisa não recebê-las. No mais é o que Giuseppe Tommasi di Lampedusa, em romance póstumo publicado em 1958, conclamou: é preciso mudar tudo para que nada mude. Pelo que vejo não só nada mudou, como nada do que se prometeu se cumpriu.



Maurício Corrêa - Advogado



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