APENAS UM POEMA
J.B.Xavier
Jamais sequer conhecerás minhas dores,
Nem meus desamparos serão o teu prelúdio!
Nada sabes de beijos apaixonados
Como nada sabes de cicatrizes...
Precisas ir à guerra do amor,
E amar verdadeiramente,
Para conhecer seus matizes...
Precisas ir
Lá onde a alma não é apenas arranhada,
Mas despedaçada numa elegia triste e inevitável!
Não concluas nada por mim,
Nem me fales de saudade, ainda que breve!
Não desterres teu coração,
Acusando-me de deserção,
Antes, atenta para o perfume de um beijo
Incendiado de desejo
Por sentir-me em ti,
Te possuindo a alma, te triturando a vontade
De resistir...
Nada há de cruel em amar intensamente,
Como ama um brinquedo o menino,
Nada há a ignorar, menos ainda o destino
De uma espera que irá ao fim da eternidade,
E que, sim, sobreviverá aos sentidos!
Não há trilhas erradas,
O que há, são trilhas mal trilhadas,
Que soterram passos vacilantes
Entre o amor liberto e o angustiante...
Não renunciarei jamais ao prazer que renuncias
O de me batizar em outras pias
Onde a benta água é á renúncia que repudias...
Trago dores, sim, mas trago amores fiéis,
Cultivados com vínculos de sangue
Não me peças um amor que não sei dar,
Nem desejo que encontres minhas saídas
Dos labirintos em que prazerosamente me embrenho,
Prefiro formas menos estranhas de sentir,
A discursar sobre o que não posso cumprir
Nunca me foi dado desistir,
E eu já persistia, antes do teu existir.
Nunca soube pedir clemência, por isso,
Exorcizo a impotência da vontade,
O discurso patético,
Vazio, por ser apenas um exercício dialético...
Não tenho palavras porejando, à espreita...
Ainda que seja este um grito confinado
Nem caminho por subterrâneos do coração,
Sou ação! E sou também fidelidade
A um sonho que teu sentir não alcança
Talvez, porque quando sonhado
Tu eras apenas uma criança...!
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