O ANIVERSÁRIO DO MUNDO
Francisco Miguel de Moura*
Ah, que bela descoberta! Agora sei que o mundo teve início no dia 23 de outubro de 4004, da era antes de Cristo. É que passeando pela internet, topo com curioso artigo de 19-10 do corrente, de autoria de Carlos Luiz de Jesus Pompe, ironicamente anunciando que dali a 4 dias o mundo estaria de aniversário, se se baseasse em pesquisas feitas por um certo arcebispo James Ussher (1581-1656), da Irlanda, que andava em busca, talvez, do que ninguém ainda encontrou (e dificilmente encontrará) – nossa origem, como e quando aparecemos na terra. Ussher diz que sua verdade é baseada em longas pesquisas estatísticas e equações matemáticas, levantando gerações e gerações, do nascimento de Cristo para traz, na qual, entre outros achados, precisou que Adão e Eva teriam sido expulsos do Paraíso (Éden), em 10 de novembro de 4004, antes de Cristo, precisando até a hora: 14 horas e 30 minutos de um domingo, não completando, assim, um mês de gozo no paraíso.
Se essas datas estão corretas, provadas como ele garante, e tomando-se o casal-embrião como símbolo de nossa vida no mundo, chega-se à verdade de que o céu é muito curto e o inferno dura eternamente.
Complementando, isto é, sem desmentir o pensamento do arcebispo irlandês, um seu amigo e contemporâneo, o dr. John Ligthtfoot, da Universidade de Cambridge, chegou à conclusão de que “o céu e a terra, centro e circunferência foram criados juntos, no mesmo instante, com nuvens cheias de água”.
Como a lógica científica atual seria a de que muitos anos se passaram antes de acontecer o povoamento da terra pelos nossos primeiros pais, então, alguém ironicamente achou de inquirir o arcebispo:
- E o que é que Deus estava fazendo antes de criar o universo?
Ele respondeu, furiosamente:
- Estava criando o inferno para os que fazem perguntas como essa.
Na verdade, se todos acreditassem que a Bíblia, especialmente o Velho Testamento, o Gênesis em especial, fosse tão real como narrado supostamente por Moisés, ao arcebispo, ao doutor inglês e a quem mais acreditasse que o mundo foi criado em seis dias e que Deus foi descansar depois, seria de se perguntar também, agora:
- Por que Deus ficou tanto tempo fazendo o inferno, tão pouco tempo fazendo o mundo (seis dias) e tanto tempo descansando?
O arcebispo quis derrubar o valor da filosofia de Aristóteles, segundo o qual a glória de Deus foi especificamente sua Criação, consignando em seguida que nenhuma tarefa a mais tomou para si, além da movimentação das esferas às quais ele se prende mais como servo do que como senhor. E esse pensamento aristotélico ainda continua a ter algum valor entre os cientistas.
Assim, sem o trabalho de Deus, que se mandou para as alturas, nos deixando órfãos, ganhamos o inferno, a confusão, guerras, etc. E, então, por que nos alegrarmos pelo aniversário do mundo?
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, PI.
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