Meus antes, estão distantes; mas são presentes, porque constantes. Em minha mente, passam freqüentes, à minha frente, ali pertinho, logo adiante. São meus caminhos. Caminhos percorridos e marcados pelo tempo. Caminhos repisados por presentes e futuros, que em pouco tempo transformaram-se em passados. Mistura de tempos. Caminhos conhecidos. Caminhos relembrados.
Idas e vindas; partidas e chegadas. O choro dividido entre a alegria, a tristeza e a saudade. A lágrima com diferentes significados. Atalhos escolhidos pela pressa. De chegar ou voltar. Atalhos numerosos. Alguns dos quais enganosos. Outros, até que generosos. Tempos e contratempos. Ali no chão, desenhado. O risco por entre o verde do gramado. Tantas vezes pisado. Na esperança de encontrar, do outro lado, o inusitado.
O mesmo caminhar do retirante. Agora me lembro. Sol escaldante. O nordestino forte e indefeso, fugiu da seca, delirante. Embalado pela miragem de seus sonhos futuristas. De um futuro imediato, de quem tem pressa. De um futuro pragmático. De sobrevivência. De um futuro que interessa. E assim seguiu no tempo, adiante. Até que chegou ao presente. Ao seu futuro tão sonhado.
Ali na pista, esfumaçava o bafo quente de um novo sol escaldante; que do chão exalava o cheiro forte da gasolina. E o barulho dos que competem: os autores. Rufam, rosnam, rugem os motores. Todos ao seu tempo. A corrida do presente, do passado e do futuro recomeça, em sua mente. O desafio de sempre. Implacável. Interminável. Pouco provável. Como as cores do futuro: indecifrável.
Chegam todos ao final. Os últimos e os primeiros. Silenciam os motores. Esfriam os radiadores. Param as esferas e as correias. Sorrisos e choros se misturam. Vencedores e perdedores. Todos levantam suas taças. Todos comemoram as alegrias e as desgraças. A vida desacelera por um instante. É domingo. Dia de viver intensamente. Dia de pipoca, doce ou salgada. Branca, azul ou rosada. Por vezes, caramelada.
A tosse e a garganta irritada. A palha da pipoca engasgada. Amanhã é segunda-feira. O retirante desliga a televisão. E adormece, profundamente. No estofado daquele instante.