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Artigos-->IOGA: RELIGIÃO OU TERAPIA? -- 31/10/2004 - 16:14 (Mário Ribeiro Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
IOGA: RELIGIÃO OU TERAPIA?

(REPRODUÇÃO PERMITIDA, DESDE QUE CITADOS ESTE AUTOR E O TÍTULO).

Mário Ribeiro Martins*





Posta em prática pelos iogues, a Ioga consiste numa concentração espiritual extraordinariamente fabulosa, sendo a forma de união com Deus através da contemplação e da austeridade ascética. Pela concentração, o iogue atinge o êxtase religioso e nele fica imerso. Alheio a tudo que possa acontecer, permanece imóvel, chegando a um estado especial de transe através de uma série de exercícios.



Vivendo praticamente de esmolas, os iogues perambulavam pela Índia e na época filosófica da Religião hindu, entregavam-se à meditação à sombra das árvores. Colocavam-se em posição estática, cruzavam suas pernas e fixavam o olhar em contemplação, habitando de preferências as florestas. Talvez, por isso, muitos tenham sido devorados pelas feras, enquanto outros morreram de fome.



Conta-se até que Alexandre Magno, ao invadir a Índia, com os seus exércitos, foi surpreendido pela indiferença dos iogues que, apesar dos horrores da guerra, permaneciam imóveis e de olhar fixo. De modo geral, os iogues dos dias atuais continuam usando a mesma contemplação e as mesmas posições, não se devendo confundí-los com os faquires, pois estes são muçulmanos, enquanto aqueles são hindus.



Conforme aquilo que os iogues praticam e ensinam, a Ioga não é ser nem realidade. Não é ser absoluto, nem é ser relativo. Não é essência, nem existência. Não é pensamento e não raciocina. Não julga, não apresenta erros e não promove verdade. O iogue não se aceita a si mesmo como nasceu.



A Ioga, portanto, é uma prática, uma preparação para o que podemos vir a ser por obra própria; uma carreira, ao mesmo tempo campo de ação e tarefa; uma audácia, isto é uma temeridade por entre riscos temíveis; uma ginástica, muito mais do que um culto.



O iogue é voluntariamente um desportista ascético. Não é libertino, mas também não é um beato. Nada espera de ninguém e por isso a sociedade para ele, não constitui nem perigo e nem ajuda.



Vontade e vida é a Ioga. Nela se deve considerar não a verdade, mas a autenticidade. A verdade é lógica; a autenticidade é critério supremo. Não é nem o verdadeiro, nem o real, mas sim o espontâneo, que sendo explorado e praticado, torna-se teórico e clássico.



A ioga explora e determina comportamentos sendo extremamente psicofisiológica. A própria raiz da palavra - YUJ - quer dizer juntar. Ioga é junção. Então, o iogue é junto, mas junto não ao primitivo, mas em si absolutamente. Nada há de social na Ioga, embora no hinduismo social a parte da Ioga seja tão grande e tão constante que muitos chegam a pensar ser a Ioga o fundo da cultura hindu.



Enquanto o Jainismo e o Budismo, por exemplo, são sistemas religiosos, a Ioga é um sistema de treinamento. Continua o jainismo no seu local de origem preservando as reminiscencias do Zoroastrismo após vinte e cinco séculos. O Budismo, por outro lado, está não muito distante do jainismo, daí a afinidade entre as posições iogues, budistas e jainistas.



A Ioga reconhece que não há redenção sem esforço e sem ela mesma. Sua teologia é individual e não coletiva. É fervor da seita, mas não é a tradição da casta. Modela o indivíduo, enquanto a seita, com sua teologia, arranca a pessoa do seu meio. A Ioga fez o misticismo da Índia, porém a teologia dos brâmanes fez a vida religiosa. A casta, com sua teologia, é uma colmeia, enquanto a seita é um partido.



A Ioga, no entanto não é seita nem casta. O Dharme regula a casta, mas a ioga é a inspiradora da seita. À medida que o individuo se aproxima da ioga esquece sua casta. O emprego da ioga pelos brâmanes fez surgir o Bramanismo, mas este existe sem ioga e ela sem ele.



A ioga indu está ligada à seita e não à casta, daí ser desbramanizada, enquanto a ioga brâmane é bramanizada. Apresenta-se diferente da Sankhya, pois se esta é mais teoria, aquele é sobretudo prática. O budista só se aproxima da ioga para se tornar lúcido, pois considera a ioga um meio e não um fim.



A Ioga Tântrica, por exemplo, apresenta aspectos interessantes. Os Tantras eram tratados sectários de ritual e liturgia. Eram chamados Samhita no culto Visnu e Agama no culto Shiva. Tratavam de Ioga sexual, sem a intenção de corromper.



A Ioga, na sua relação com a teologia do ocidente, representa o desconcerto ocidental por ser este racionalista. Embora o ocidente tenha feito muitas críticas ao mistério iogue, a ioga revelou à ciência ocidental fatos insuspeitos. Perante uma Junta Médica de Paris, por exemplo, ficou provado pelos iogues que as duas vias de evacuação de que dispõe o corpo humano podem ser utilizados como meio de absorção.



Foi na segunda metade do século XIX que surgiu o mais poderoso iogue que merece a consideração universal. Trata-se de Ramakrisma, senhor do seu pensamento, cheio de audácia e desafio. Gandhi, não sendo de casta elevada, foi iogue pela insuperabilidade da sua virtude e pelo seu devotamento. Sofreu pelo gênero humano e pelos adversários. Não era, portanto, um hindu típico e integral. Tinha sobre si a cultura ocidental, mas era iogue da Pátria, como só se vê em Joana d’Arc.



Aurobindo Ghesh, o sábio de Pendicherry, foi o último iogue de reputação universal. Ampliou a palavra Ioga ao campo dos excessos. Chegou a declarar que toda especulação, mesmo desinteressada, como também todo dever, é ioga. Veda e o Bramanismo, valores bem indianos, deveriam ser como que exteriores ao domínio dos próprios iogues.



Assim como a Índia teve os seus iogues, o Irã teve os seus derviches. Eram os místicos do Irã muçulmanizado. Os derviches, conforme alguns, tratam de superar a consciência por frenética rotação. É uma espécie de embriaguês obtida por torvelinho. A consciência se recusa a pensar, antes exulta, enlouquece e o corpo se abate, vítima de uma crise nervosa. O Cufismo, por outro lado, é uma mística do amor divino, completo devotamento a Deus, não como cadáver, mas como Dasa, escravo, pois a escravidão é a renúncia alegre de si próprio.



O iogue não se interessa nem pela natureza nem pela sociedade. Seu mundo é seu corpo. Não emite nem postula qualquer juízo. O Taoismo, distintamente da ioga, alimenta seu vigor com elementos naturais. Vive na claridade, medita sobre a modéstia absoluta. A ioga, porém, dá ênfase à respiração, enquanto no Taonismo prepondera a meditação.



O método iogue apresenta duas faces: exercício assíduo e desapego. O primeiro torna permanentes as disposições para a imobilidade; o segundo é o domínio consciente daquilo que se desembaraçou de toda a concupiscência. A disciplina interior, por sua vez, compreende a fixação da atividade mental sobre um determinado lugar, como, umbigo, ponta do nariz; o recolhimento do pensamento por colocação nesse lugar escolhido e fixado da representação de um objeto a contemplar; concentração perfeita do pensamento por absorção na intenção objetiva, o que se dá esvaziando a consciência subjetiva.



Entre as posturas da meditação, destacam-se: Atmam, o Ser, a centelha da vida; Ahisma, não violência, uma das virtudes; Asana, postura para meditação, terceiro grau da ioga; Ananda, felicidade absoluta; Avidya, o véu da ignorância; Bhujangasana, flexões dorsais movendo a cabeça; Sandan, árvore do Sândalo; Dhanurasana, postura do arco; Dharana, concentração, sexto grau da ioga; Dharma, destino; Dhyana, meditação sétimo grau da ioga.



Somente depois de estudar a Ioga quanto à história, desenvolvimento, aplicação e diferenças é que se pode responder à pergunta: Religião ou Terapia? A ioga não é crença, mas poder. Não se recusa a associar-se a um culto para fortalecê-lo. É frenesi vital condicionado por um bloqueio de pensamento. A eficiência proporcionada pela ioga recompensa o esforço confiante, robusto e heróico do místico. A ioga não é fé, mas fornece critério de positividade na eficiência. Não é uma religião idônea para uma certa camada da sociedade, mas é uma vocação, um esporte severo onde abundam os terríveis critérios de incansável energia. Na ioga nada há para crer, nem para saber, mas há provações na solidão absoluta.



Ocasionalmente a ioga tem sido devoção e tem incitado devoção por toda parte. Nunca teve o prestígio do sagrado, porque também nunca foi rotina. Seu prestígio está situado na inovação indefinida. Decide a sorte do individuo, sem instigação social. É uma engenharia de biologia individual e não fanatismo social. O passado da ioga é bastante rico e por isto não pode ser confundida com as práticas bárbaras dos povos considerados primitivos. A ioga apresenta interesse para a Antropologia, mas pertence à História e tem localização Geográfica. É um exercício e como tal, visa a terapia física e espiritual. Como milenar ciência da Índia, não é meramente uma ginástica, em termos ocidentais, que consiste num treino sistemático do aparelho locomotor. A ioga atua sobre o aparelho locomotor, age sobre o sistema endócrino, estimulando a conexão do sistema nervoso central com o nervoso vegetativo.



Embora tivesse chegado na Índia impregnada de Hinduismo, a Ioga, contudo, não é uma religião. No entanto, qualquer que seja o credo é vitalizado e dinamizado pela ioga. O individuo ou o iogue é conduzido a um notável grau de conhecimento de si mesmo e ao domínio da própria personalidade, através da prática da ioga. Há dois aspectos apresentados pela ioga: o aspecto científico, de técnicas, de exercícios físicos, psiquicos e os resultados deles provenientes; o aspecto especulativo, de explicações, de interpretações de fatos e de experiências. É pelo lado do aspecto especulativo que se encontram as divergências entre a Filosofia Cristã e a Ioga. E esta divergência ainda é mais ascentuada pela diferença de lingua e tradição cultural que constituem o berço do sistema ioguístico. De qualquer modo, a ioga promove a união de duas civilizações completamente diversas.(Este texto foi publicado no jornal O POPULAR, de Goiânia, em 06.03.1977).







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*Mário Ribeiro Martins

é Procurador de Justiça e Escritor.

(mariormartins@hotmail.com)

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Fones: (063) 215 4496 e (063) 99779311.

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