A Fonte Juditi
(Ricardo França)
Quem for a Teresópolis
e não beber dessa fonte
sofrerá para sempre de desejo,
de falta de beijo e de outras esquisitices.
Por isso, visitante,
ouça e obedeça o que alguém já me disse:
"beba a água da dona Juditi".
O líquido que jorra dos faunos é abençoado.
Já existia antes mesmo de nascermos.
Água sementeira que refresca e a sede mata,
basta unir as mãos, amortecê-la,
juntar a quantidade necessária a ser bebida
como se as mãos fossem uma cesta
e a água farta comida.
Não conheço a dona Juditi que em Terê é muito falada,
gente rica e gente pobre vem de longe
para beber da sua água.
A saúde está no líquido que brota de dentro da terra,
nasce com a força das raízes
das matas lá da serra.
Entender o milagre da fonte seria decifrar
os motivos da sede.
Não há de se desbaratar tal necessidade,
mas simplesmente beber
e sentir da água a temperatura,
beber dessa fonte é renascer,
renovar a criatura
do ser:
tem gente que jura.
Dona Juditi cuida da fonte
desde os tempos de menina.
Hoje uma santa há no lugar
onde Juditi brincava, pequenina.
A água da fonte não seca nunca,
existe um mar guardado nela.
Vou navegar no mar da fonte
e, em meio aos montes, içar as velas.
Dona Juditi sabe que lá, secretamente,
casais praticam deliciosos pecados.
Mas a fonte purifica os desejos salientes
dos adolescentes apaixonados.
No amanhecer da fonte o murmúrio d`água,
é uma reza que vem das veredas,
vozes que chegam da natureza
para acordar o povo de Teresópolis.
A noite na fonte é sempre misteriosa
com perfumes de flores desconhecidas,
essências que inspiram doidos poetas
que na fonte caçam raras rimas.
A dona da fonte, conhecidíssima na região,
é proprietária também de bom coração
e não aproveita da fama para almejar cargo público.
Dar de beber a quem tem sede é seu júbilo,
missão de santa que sacia o espírito.
Por isso, visitante, para não pegar esquisitice,
ouça e obedeça o que alguém já me disse:
"beba a água da dona Juditi".
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