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Artigos-->O exemplo de Agenor -- 27/10/2004 - 09:27 (Paulo Milhomens) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Quero falar de Cazuza





O filho único. O mérito reservado, cria suspeita. O vício dos pais. O jovem Agenor de Araújo Filho não se resume aos clichês de um bom filhinho de papai, membro da elite artística carioca, mas extremamente insubordinado ao seu meio. Assisti ao filme “Cazuza – o tempo não pára”, e cofesso que fiquei decepcionado. Talvez porque eu esperasse um enfoque mais político da vida desse grande poeta, mas percebo que sua boemia ( que aliás, todos adoramos, independente de classe social ) foi focada como um estandarte. Afinal, ele era o Cazuza! Era o cara, its man, ponto final. Você pode ser instável, usuário de drogas, bissexual assumido e ser aceito, desde que tenha dinheiro e status. Não que Agenor pregasse isso, aliás, ele ironizava constantemente sua posição social. Era filho de um empresário da música, diretor artístico da Som Livre. Cresceu rodeado de nomes consagrados da música popular brasileira, adorava as canções dor de cotovelo de Dolores Duran e Cartola. Era um pássaro bem sucedido, nasceu de ovos dourados, mas era contraditório, talvez por isso, sua vida tenha sido tão desvairada. Mas eu pergunto ao leitor: até que ponto essa possibilidade de experimentar o mundo – a arte pela arte de Oscar Wilde – torna-se um exemplo de transformação política da realidade. É verdade, o jovem ator Daniel Oliveira se transformou em Cazuza mesmo. As semelhanças físicas e psicológicas do ator – cousa que lembra muito as técnicas naturalistas de Stanislavski – e sua perene emotividade instável de poeta à semelhança da personagem que interpreta surpreende. A grande verdade é que o teatro da vida não costuma reservar coisas boas para a grande maioria dos brasileiros, uma maioria de famintos e desempregados, pessoas que não conhecem sequer a realidade benemérita utópica de um outro Brasil.

Mas aí faço um questionamento: o jovem Daniel encarnou uma pessoa polêmica, apesar de cometer atitudes de marginal, não era tratado como tal. Era um burguês satírico, incomodado. Assisti a um outro filme nacional brilhante, “Madame Satã”, onde um ator negro, Lazáro Ramos, interpreta um marginal capoeirista e homossexual no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. São protagonistas diferentes entre si, mas levemente semelhantes no estouro dos parâmetros sociais. O filme de Cazuza teve repercussão maior. O cantor João Antônio ( Satã ), apesar de admirar a performance de cantoras francesas e ter um predisposição à arte dos malditos, não teve a mesma notoriedade. Até as cenas de sexo de Cazuza não chegam a ser tão satânicas como as suas, coisas que ainda incomodam hipocritamente o espectador. Mas isso é uma outra história... Desde quando posicionamentos subversivos são refletidos como realmente deveriam ser em suas épocas distintas ? Ser um poeta e criticar o seu tempo é louvável. Agora, expor a vida como uma cadeia de vícios e cuspir na cara do mundo que eu “era gente boa, isso eu tinha direito”, nos torna tão prolixos quanto nossa memória histórica. O problema é conhecer tão bem nossos artistas e suas reais intenções quando tentaram mudar o mundo.





Paulo Milhomens

Artista e estudante de História da UFT



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