Sim, Contrera, Jango me obceca um pouco. Allende é uma figura que me atrai bastante.
Minha posição a respeito deles: eram reformistas, contemporizadores. Nunca aceitariam tomar com violência os bens dos burgueses em meio a revoluções socialistas. Allende deixou para o dia do golpe o anúncio do plebiscito a que se submeteria.
Paulo Francis dizia que se Jango lutasse, pelo "caráter brasileiro" (como se Francis entendesse disso alguma cosita) Castelo faria a paz e em 1965 teríamos JK versus Lacerda na eleição presidencial. Acho isso um equívoco.
E que vale para Allende. Ambos, se lutassem, seria para fazerem do Brasil e do Chile um, dois, três Vietnãs, nada menos. Essa barra não aguentaram segurar. Não acho que seja questão de cojones. Era questão de ir contra a própria natureza, a própria índole mesmo.
Mesmo assim, prefiro a atitude final de Allende, afundando com o barco. Dizem que Jango se arrependeu de ter deixado o barco sem luta. Desapareceu na memória popular. Como a peça de Glauber: Jango, o Presidente que o Povo Comeu.
Glauber se comparava com Jango: "todo mundo me traiu!" Realmente, Jango foi traído por Deus e mundo.
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O Chile perdeu uma grande coisa com o Allende. Não perdeu grande coisa em não aceitar o show do Iron Maiden. E o quê representava o regime militar brasileiro, senão a tomada do poder por uma mentalidade provinciana e conservadora? Modernizante, ok, mas retrógrada em termos de
arte, em relação a Getúlio (que em 1952 comemorou a Semana de Arte Moderna) e JK (que deu a um arquiteto vanguardista e comunista a construção da capital).
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