Zero Vírgula Qualquer Coisa

(Por Domingos Oliveira Medeiros)



A imprensa não costuma mentir, notadamente quando o assunto envolve números e cita as respectivas fontes. É o caso das recentes pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Segundo o Instituto, os brasileiros, em 2003, ficaram mais pobres: a renda per capta levou um tombo e ficou menor em 1,5%.



É a maior retração já verificada pelo IBGE, desde 1992.



O PIB encolheu 0,2% e a economia do primeiro ano do governo Lula teve seu pior desempenho desde 1992, ano do impeachment do presidente Collor.



Resultado, segundo os especialistas, de um ano marcado pela constante queda da renda da população, agravado pela política de juros altos, escassez na oferta de crédito e nível do desemprego, tendo como pano de fundo a desaceleração da indústria e a queda recorde do consumo.



Sem falar no aumento da dívida externa, por conta da política suicida que prioriza a subserviência ao capital estrangeiro e às normas ditadas pelo Fundo Monetário Internacional, que dificultam os investimentos em áreas produtivas e de cunho social e que já deram provas de que não trazem resultados condizentes com os sacrifícios exigidos.



Enquanto isso, o dólar fica variando zero vírgula qualquer coisa, sempre com valor próximo ao triplo do que vale a nossa moeda. Os bancos, ao contrário, acumulam riquezas. Praticam juros elevados e ganham na cobrança de serviços antes gratuitos.



Apesar de a inflação registrar relativo controle, variando zero vírgula qualquer coisa, os bancos e as financeiras emprestam dinheiro cobrando juros de 10 pontos percentuais/mês, em média. Mas a poupança, inexplicavelmente, continua remunerando o capital nela investido em torno de zero vírgula qualquer coisa.



Mas o governo fala em milagre do crescimento, sem citar o nome do santo. Divulga, para breve, o maior programa social do mundo. Sem fazer alusão ao Fome Zero. Que, se não me falha a memória, anda por volta de zero vírgula qualquer coisa, quase parando.



E o governo continua com seu discurso vazio. Disse que veio para fazer o que precisa ser feito. Que não há crises. Que está convicto disso. Que nunca nesse país se fez tanta coisa. Que as reformas estão a pleno vapor. A despeito de a nossa economia continuar crescendo para baixo, e já ocupa a décima sétima posição. E, em termos de corrupção estamos bem cotados. Também para baixo. Nosso conceito é I de insuficiente; com nota em nota em torno de 3,5. Ou seja, nesses casos, muitos zeros vírgulas quaisquer coisas à esquerda, e para baixo.



Acho que a credibilidade do governo também caiu em torno de zero vírgula qualquer coisa. Considerando, evidentemente, que já estava em zero vírgula alguma coisa.



Com o caso Waldomiro, e sem que o Zé Dirceu deixe o cargo para que a comissão interna, criada pelo governo, fique à vontade nas suas investigações, com vistas à apuração de eventuais irregularidades praticadas no interior da Casa Civil, estamos cientes de que tudo, ao final, não se resolverá mais do que zero vírgula qualquer coisa.



A notícia boa, para alguns setores privilegiados, é que o Banco Central aumentou a taxa de juros em zero vírgula cinqüenta pontos percentuais; o que já é zero vírgula alguma coisa. Com isso, a Bolsa de Valores manteve alta de zero vírgula qualquer coisa. E o país dará um tempo no seu crescimento de zero vírgula qualquer coisa.



Somados todos esses zeros vírgulas, qualquer coisa que acontecer de ruim para a população, não terá sido por falta de aviso.