Parece que a sina da Usina é transformar-se e manter-se (como já o faz) como Usina Fescenina. Pois é o tom que prevalece. Dado o fato de a maior parte dos escritores ter abandonado este local, agora só nos resta o que está aí. Entre os grandes valores literários que atravessavam as seções, poucos ficaram. Muito poucos.
Neste espaço, onde se destacavam bons escritores, incipientes e veteranos, agora se salientam pessoas que mostram ter uma certa urgência - quase fecal - de divulgar suas frustrações psicológicas, incrustrações psíquicas, vácuos mentais e falhas pessoais. Isto o fazem através de escritos que pretendem que sejam criações literárias - por se encaixarem neste recanto eletrônico a que alguém, em súbita e efêmera inspiração, deu o nome de Usina de Letras.
Sim, as letras estão aqui. Mas está a literatura? Creio que não, a menos que minha percepção seja tão falha que eu não consiga mais distinguir "letras" - sinais gráficos entendidos dentro de uma convencionalismo tácito - de "literatura" - criação coerente a um código imaginário, referente a situações ficcionais ou movidas pela memória, transmitíveis pela palavra escrita, sob diversas categorias, da prosa à poesia, da crônica ao discurso, do conto a peças teatrais e roteiros cinematográficos.
Seria esta a função da Usina de Letras, cooperando com a nossa literatura nacional. A imagem pelas letras, a escrita que aqui habitava foi sempre uma descoberta, um incentivo, uma revelação de valores, um lugar para que a tradição e a renovação caminhassem juntas. E agora, o que aconteceu com a Usina? Desde que estabeleceu o seu guichê de pagamento, mostrando que seus donos são incapazes de criarem um apoio publicitário (como tantos e tantos outros "sites"), a Usina passou a ser isto: um local desprovido de seus tradicionais colaboradores (Randap, Leila Silva, Sal, entre tantos outros).
Aqui está a Usina, limitada a imagens fotográficas sem a menor ambição artística, blogs de parentes e aderentes, desenhos animados para voyeurs preguiçosos ... Aqui fazem ponto - entre alguns valores permanentes que, felizmente, não abandonaram o lugar - aqui fazem ponto, e se esbaldam, elementos que pouco ou nada têm a ver com arte literária, com o que seria uma verdadeira usina de letras.
Transformou-se, a Usina de Letras, numa fábrica que emana produtos pouco criativos, pouco convidativos, pouco atraentes. As exceções são reconhecíveis. Mas...
Com o afastamento das pessoas acima citadas -entre tantas outras cujos nomes estão na memória dos que me lêem e cada um tem suas saudades particulares - com o afastamento das ditas pessoas, a Usina passou a ser uma coisa qualquer. Usina de Letras já não é. Talvez seja, com um pouco de boa vontade, uma tina. Uma tina de água... você preenche o resto, se lhe aprouver: - água conspurcada, água parada, água encalhada. ...
Quando antes havia também água límpida, transparente, corrente - era quando podíamos escolher onde beber.
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Érica Eye |