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Cronicas-->O mistério por trás dos olhos verdes -- 06/11/2001 - 01:14 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Minha avó sempre me disse para eu não confiar em ninguém que tivesse olhos verdes. "Olhos de gato" - dizia. Olhos traiçoeiros. Cachorros não traem. Gatos sim. Felinos em geral. E, por uma dessas circunstàncias da vida, nunca gostei de gatos. Mas não tenho nada contra as mulheres com olhos cor de relva. O único verde que abomino é o do Palmeiras. O resto, passa batido, e não tenho porque ficar preso às previsões catastróficas da minha avó. Perdoe, vovó. Sou produtor musical. Do tipo que aproveita o ritmo do momento e sua onda passageira. Não me envergonho de falar. A crítica me odeia. Quer que eu produza novos Betos Guedes e Almires Sateres. Nenhum dos críticos, porém, se propós a pagar minhas contas. Pago duas pensões para mulheres diferentes. A atual não sai dos shoppings. Além disso tem aquela minha avó que não gosta de gatos, que sustento. Sem falar na minha coleção de cds. Uma porrada. Uma fortuna. Afinal, tenho direito a usufruir de algo. Também tenho que ter minhas coisas. É assim que penso. E, se eu dependesse da crítica, estaria enjaulado, porque os juizes não perdoam quem não paga pensão. É uma merda!

Um contato me ligou do Piauí. "Tem aqui uma cantora - linda que só vendo! - que vai estourar aí no Sul. Pode acreditar, amigo. A bichinha é porreta!". Raimundo me apresentou umas duzentas cantoras porretas, fora as bandas de fundo de quintal. Nenhuma emplacou. No máximo, ganhei alguns trocados para fornecer a aparelhagem para shows nas cidades em que os fenómenos surgiam. Quis saber o nome dela. "Rosilaine. Rosilaine Silva. Um estouro, rapaz!" . Tá bom. O nome não quer dizer muita coisa. Se fosse pelo nome de cartório também não tinha chegado a lugar nenhum, mas o que esperar de uma cantora chamada Rosilaine? Prometi que, em minha próxima estada em Teresina, ouviria a moça. Com todo prazer, Mundinho!

A crise tinha batido em cheio na minha produtora. Nada vendia. Quer dizer, nada rendia. Nem forró, nem brega, nem axé, nem sertanejo, nem brega. Arrisquei uns conjuntos de rock do Sul. Estrepei-me. Suponho que até o empresário do Roberto Carlos estivesse passando apuros, exceto se tivesse feito um pé-de-meia razoável. Nunca guardei dinheiro. "Quem guarda dinheiro é banco" - era o lema do meu finado pai. E segui suas instruções à risca. Mesmo quando cheguei ao fundo do poço não abri mão dos carros, dos apartamentos nem dos cds. Já fui muito pobre e não gostei dessa experiência. Prefiro o luxo. Não sei viver sem uísque importado. E já não consigo tomar água mineral de procedência nativa. As francesas são muito melhores! Já vivi alguns tempos difíceis. Dona Zélia me f... em 90. Pena que, na época, não havia ainda a inspiração do ataque ao WTC... Brasília me caçaria nas montanhas de Minas, tenho certeza. Porém, me recuperei. Garimpei pelo Norte um novo ritmo para trazer ao Sul. Descobri Robério Feitosa, no Pará. Poucos sabem, mas fui em quem lançou a lambada para o mundo! Pena um impostor ter se aproveitado do meu feeling para ganhar muito mais dinheiro do que Robério - e, de quebra, euzinho da silva. Mas foi o suficiente para eu me reerguer. Daí em diante foi só alegria. Fiz de São Paulo a terra do pagode, lançando dezenas de conjuntos que hoje se estapeiam para se separar. Popularizei o funk e o forró. Ganhei mais dinheiro. Fiquei rico de novo. Fui a Las Vegas. Me f...

Sou conhecido no meio como o fdp que tem faro para descobrir novos talentos. Justamente quando a minha última esposa - a dama do shopping - resolveu se separar de mim e abocanhar mais um punhado da minha então pequena fortuna, fui a uma pequena casa de shows em Florianópolis. Cheguei bem tarde, perto da meia-noite, a apresentação já tinha começado. As mesas estavam vazias. Quase todos tinham ido para a pista de dança central. O som era realmente alucinante. Estranhei ver aquilo sendo tocado no Sul. Era uma mistura de axé com maracatu. Algumas músicas lembravam o xote, mas tinha um som diferente. O fato é que ninguém conseguia ficar parado. Mesmo os homens - normalmente mais arredios à dança - se empoleiravam diante do palco, eufóricos, requebrantes, alucinados. No intervalo de uma das músicas a cantora se apresentou. Ivonete Vangato. Era loira. Aparentemente autêntica - era o que suas sobrancelhas denunciavam. Um corpo escultural. Um figurino de bom gosto. Um leve sotaque nordestino. A voz variando entre o grave, o agudo e o intermediário. Solos acústicos dignos de álbuns produzidos pela MTV. Uma pintura de cantora. Uma pintura de mulher. Não via a hora de o show terminar. Tinha de falar com aquela deusa loira. De olhos verdes. Um verde insuspeito, magnífico. Pista lotada. Homens enlouquecidos. Som de arrepiar. Pressenti que a apresentação estava prestes a terminar. Procurei um dos seguranças e mostrei-lhe meu cartão. "Ronnie, produtor musical". Ele levou meu cartão para uma sala. Voltou minutos depois. Autorizou-me a ir ao camarim, assim que ela encerrasse seu show. Esperei ansiosamente. Os minutos pareciam não ter fim. Os frequentadores pediram bis. Mais meia-hora. Ivonete desfilando seu talento. Musical e corporal. Era tarde quando bati à porta de seu camarim.

. . .

- Ivonete?!...

- Oi. Então é você o empresário?

- Você tem um talento incrível! Não quer ir ao meu escritório depois de amanhã?

- Combinado.

- Ok, combinado. Às 10 horas. Está bom pra você?

Ivonete chegou às 11. Estava bem maquiada, elegante, sorriso franco. Sentou-se na poltrona em frente à minha mesa. Cruzou as pernas roliças. Havia algo diferente, eu não sabia precisar. Continuava linda, mas senti falta de algo. Dei o desconto pelo fato de eu ter bebido umas a mais. E, afinal, ela era quase tão estupenda na poltrona quanto no palco. Conversamos por quase duas horas. Além de sua beleza, eu vislumbrava mais um lançamento de sucesso. Expliquei-lhe as condições de nosso futuro contrato. Seus olhos brilharam. Foi então que percebi que seus olhos não eram verdes. Na verdade, eram cor de mel. Essas lentes de contato nos enganam, é uma bosta! Acertada a minuta do contrato, pediu licença para ligar para o empresário. Dei-lhe permissão para usar o telefone. O advogado e o empresário chegariam em uma hora. Depois, ligou para o pai.

- Paizinho?... É Rosilaine...
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